Apolo: diferenças entre revisões
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O santuário délfico mais recente, quando já era presidido por Apolo, foi construído no fim do {{AC|século VI|x}}, em uma série de terraços interligados por uma Via Sacra, que era usada como caminho de procissões, culminando no terraço do templo propriamente dito, uma estrutura [[ordem dórica|dórica]] erguida a mando de [[Clístenes]], que foi destruída por uma avalanche no {{AC|século IV|x}}s Foi então reconstruído no mesmo local uma estrutura idêntica à anterior, financiado por toda a Grécia. Ao longo da Via Sacra foram com o tempo erguidas várias capelas, chamadas de tesouros, por cada cidade grega, e serviam como depósitos das oferendas para Apolo. Algumas eram ricamente ornamentadas, como os tesouros de Sifnos e de Atenas. Também foi erguido um muro em torno de toda a área, além de oratórios menores, um estádio, um teatro, casas para os sacerdotes e para as pitonisas, memoriais e outras estruturas.<ref name="Tomlinsonb"/>
Os registros históricos relatam que depois da consolidação da presença apolínea as [[pitonisa]]s - profetisas cujo nome celebrava a vitória de Apolo sobre Píton - eram escolhidas entre as virgens de Delfos, e deviam ter uma reputação imaculada, permanecendo toda a vida consagradas ao deus. Algumas parecem ter sido casadas, mas depois de assumirem sua função rompiam todos os laços familiares e perdiam sua identidade privada. No período de apogeu do oráculo as pitonisas eram de famílias distinguidas, e eram todas possuidoras de uma cultura ampla e refinada. Eram ricas, possuindo grandes propriedades isentas de impostos, podiam assistir cerimônias profanas e usavam coroas de ouro, elementos indicativos de seu imenso prestígio. Nas fases finais de sua atividade o nível cultural e social das pitonisas decaiu muito.<ref name="Hale">Hale, John. [http://www.abc.net.au/rn/relig/ark/stories/s1266794.htm ''The Delphic Oracle'']. Entrevista para a ABC Radio National, 8/8/2004</ref> As pitonisas proferiam seus oráculos em um estado de [[transe]], sentadas sobre uma [[tripé|trípode]] que ficava sobre uma fenda rochosa no solo de onde saíam vapores subterrâneos, depois de mascarem folhas de loureiro e beberem água da fonte sagrada. Só profetizavam nove vezes por ano, no sétimo dia após a lua nova. [[Aristófanes]] disse que quando a pitonisa proferia o oráculo o loureiro sagrado era agitado em uma encenação [[orgia|orgiástica]], e [[Diodoro]] mencionou o sacrifício de bodes, cuja presença é documentada por moedas cunhadas em Delfos. Essa forma de [[divinação]] não era típica de deuses solares mas era comum a outras divindades ctônicas, e isso parece indicar sua ligação com os cultos primitivos dedicados a Gaia e outras deidades da terra e do mundo subterrâneo. Também foi sugerido que isso indica uma origem cretense ou oriental para o rito.<ref name="De Boer"/><ref>[http://books.google.com/books?id=-U3vAULBH10C&printsec=frontcover&dq=apollo&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=1960&as_maxm_is=0&as_maxy_is=2009&as_brr=3&hl=pt-BR&cd=58#v=onepage&q=&f=false Swindler, pp. 15-22]</ref> Estudos recentes têm sugerido que certos gases tóxicos emanados de fissuras subterrâneas exatamente no local do templo podem ser uma explicação para a origem do estado alterado de consciência das pitonisas.<ref name="De Boer"/><ref name="Hale"/> Elas eram assistidas por uma equipe de sacerdotes e funcionários, que organizavam o funcionamento do templo, recebiam os peregrinos e as embaixadas, interpretavam as palavras muitas vezes obscuras das pitonisas, realizavam sacrifícios e conduziam o canto de hinos e outras cerimônias.<ref>Bowden, Hugh. ''Classical Athens and the Delphic Oracle: Divination and Democracy''. Cambridge University Press, 2005. pp. 15-16</ref> Em anos recentes foi desenvolvida uma técnica de estimação de
[[Imagem:Tetradrachm Cyzicus 300BC reverse CdM Paris.jpg|thumb|[[Tetradracma]] de prata cunhada em [[Cízico]] em c. {{AC|300|x}}, em que aparece Apolo sentado sobre o ônfalo de Delfos, verdadeiro trono de seu império. [[Gabinete de Medalhas]].]]
Delfos era considerada o centro do mundo e o umbigo da Terra estava dentro do templo, simbolizado pela pedra do ônfalo (umbigo). Desta forma Delfos era uma imagem de estabilidade numa cultura definida por um aglomerado de cidades e grupos étnicos independentes, e estruturava toda a [[cosmografia]] grega num plano de círculos concêntricos de graus decrescentes de civilização que era reproduzido em escala menor em cada [[pólis]]. Os gregos viviam no círculo central, e para eles além viviam os estrangeiros, seguidos pelos bárbaros, os selvagens e finalmente os monstros. Envolvendo o mundo conhecido havia um círculo cósmico formado pelas águas infinitas do oceano, de onde se originavam os quatro ventos e onde residiam os povos míticos. A cada inverno Apolo viajava até os país dos [[Hiperbóreos]], que segundo algumas lendas haviam ajudado o deus na fundação de Delfos, um povo eterno e não sujeito aos males da humanidade e que Heródoto considerava todo composto por sacerdotes de Apolo. Esta peregrinação mítica era um símbolo da sucessão das [[Estação do ano|estações]], regidas pelo deus através do deslocamento aparente da posição do sol no céu ao longo do ano, e criava um elo entre o mundo dos homens e as forças dos mundos superiores.<ref>[http://books.google.com/books?id=2ZvoAdFjBtIC&pg=PA72&dq=apollo&lr=&as_drrb_is=b&as_minm_is=0&as_miny_is=1970&as_maxm_is=0&as_maxy_is=2009&as_brr=3&hl=pt-BR&cd=62#v=onepage&q=apollo&f=false Cole, pp. 75-76]</ref>
O Oráculo de Delfos se tornou o grande árbitro e legislador de toda a Grécia. Não tomava a iniciativa de impor regras ou políticas, mas quando surgia alguma questão delicada as cidades frequentemente o consultavam, para resolver disputas e guerras, quando desejavam criar legislação ou fundar colônias, e quando precisavam instrução sobre saúde e bem-estar coletivos na emergência de pragas e outras calamidades, quando o deus informava sobre os ritos purificatórios e sacrifícios necessários para afastar o mal. Também impunha penalidades para maus governantes e regulava os requisitos para admissão em cargos públicos. Suas decisões eram geralmente acatadas, e quando não o eram, desastres imprevistos podiam suceder. O oráculo adquiriu tamanha autoridade e o respeito de todos os gregos não apenas porque era a voz de um deus, mas porque conseguiu se manter relativamente neutro em todos os conflitos públicos que administrou. Para os indivíduos, suas respostas incentivavam a reflexão e o
[[Imagem:Delphichymn.jpg|thumb|esquerda|Inscrição com o ''Segundo Hino Délfico''.]]
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