Milagre econômico brasileiro: diferenças entre revisões

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{{Anos de Chumbo}}
'''Milagre econômico brasileiro''' é a denominação dada à época de crescimento econômico elevado durante o [[Regime militar no Brasil (1964-1985)|Regime Militar]] no [[Brasil]], entre [[1969]] e [[1973]], também conhecido como "[[anos de chumbo]]". Nesse período do [[crescimento econômico|desenvolvimento]] [[brasileiro]], a taxa de crescimento do [[PIB]] saltou de 9,8% a.a. em 1968 para 14% a.a em 1973, e a [[inflação]] passou de 19,46% em 1968, para 34,55% em 1974.<ref>[http://almanaque.folha.uol.com.br/dinheiro70.htm Dinheiro: cronologia dos anos 70] - Almanaque Folha</ref><ref>Giambiagi, F., Villela, A., Barros de Castro, L., & Hermann, J. (orgs.) (2005). ''Economia Brasileira Contemporânea''. Campus, Rio de Janeiro. </ref> Paradoxalmente, houve aumento da [[concentração de renda]] e da [[desigualdade social|desigualdade]].<ref>HAMMOUD, Ricardo H. Nahra. Crescimento, desenvolvimento e desigualdade de renda: análise dos clássicos – Furtado, Cardoso e o “milagre” econômico. In: Anais do XI Encontro Regional de Economia – ANPEC-Sul 2008. Curitiba, Universidade Federal do Paraná.</ref>
 
Durante o milagre instaurou-se um pensamento [[Ufanismo|ufanista]] de "Brasil potência", que se evidenciou com a conquista da terceira [[Copa do Mundo FIFA de 1970|Copa do Mundo em 1970]] no [[México]], quando se criou o mote: "Brasil, ame-o ou deixe-o". Durante o milagre, a alta nas [[Bolsa de valores|bolsas de valores]] brasileiras iniciada ao final da [[década de 1960]]<ref>Azevedo, Simone/Barcellos, Marta "Histórias do Mercado de Capitais no Brasil" Elsevier Ed. Ltda 2011 ISBN 9788535239942 Capítulo 4 [http://books.google.com.br/books?id=pypqV4d_YcsC&pg=PA55&dq=bolsa+crash+1971&hl=pt-BR&sa=X&ei=jj69UeunN4zc8ATfwoD4Cg&ved=0CDEQ6AEwAA#v=onepage&q=bolsa%20crash%201971&f=false Visualização Google Livros]</ref> resultou em um clima de euforia generalizada – incentivado por canções como [[Pra frente Brasil (canção)|Pra frente Brasil]] –, apelidado pelo autor [[Elio Gaspari]] de ''"patriotada"''. Segundo Reinaldo Gonçalves, professor da [[Universidade Federal do Rio de Janeiro|UFRJ]] e economista, o período do [[milagre econômico]] foi o que gerou maior crescimento econômico desde a [[Proclamação da República (Brasil)|Proclamação da República]].<ref>{{citar web|último=Gomes|primeiro=Wagner|título=Lula fica na 19ª posição entre presidentes do país|url=http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/425561/complemento_2.htm|acessodata=23 de Dezembro de 2013|data=4 de Março de 2011|publicado=senado.leg.br|trabalho=[[O Globo]]}}</ref>
 
Foi, porém, um período [[Paradoxo|paradoxal]] da [[História do Brasil]]. Ainda de acordo com [[Elio Gaspari]], em sua obra ''[[A Ditadura Escancarada]]''<ref name="ELIO">GASPARI, Elio. ''A Ditadura Escancarada''. São Paulo:Cia. da Letras, 2002; ISBN 8535902996</ref>:
{{cquote|''O Milagre Brasileiro e os Anos de Chumbo foram simultâneos. Ambos reais, coexistiam negando-se. Passados mais de trinta anos, continuam negando-se. Quem acha que houve um, não acredita (ou não gosta de admitir) que houve o outro.''}}
 
== Inicio ==
No [[governo de [[Juscelino Kubitschek]], entre [[1956]] e [[1961]], o [[Brasil]] passou por um acelerado [[crescimento econômico]] baseado no [[Plano de Metas]], a partir do qual se pretendia dar conta de cinquenta anos de progresso em apenas cinco. O ideal [[Desenvolvimentismo|desenvolvimentista]] defendido por [[Juscelino Kubitschek|Kubitschek]] assentava-se na política de [[substituição de importações]] sob a inspiração da [[CEPAL]] e resultou, entre outras coisas, na construção de [[Brasília]]. Ao final do governo, uma forte pressão inflacionária começou a ser sentida no país, agravando-se [[Carta Renúncia de Jânio Quadros|com a renúncia]] de [[Jânio Quadros]] e com os impasses institucionais que marcaram o período de [[João Goulart]] (1961-[[1964]]). Tais fatos fizeram com que se elevassem os [[déficit]]s do governo de tal forma que o resultado foi uma forte [[inflação|inflação]] de [[demanda]].<ref>Kurt Rudolf Mirow, A ditadura dos cartéis, anatomia do subdesenvolvimento, p 203</ref>
 
Logo após o [[Golpe Militar]], que se seguiu em abril de 1964, no início do governo [[Humberto de Alencar Castelo Branco|Castelo Branco]], foi criado um primeiro Programa de Ação Econômica do Governo - PAEG,<ref name=PAEG>[http://www.geniodalampada.com/trabalhos_prontos/economia04_2.htm ''A Crise dos Anos 60 e o PAEG'' Gênio da Lâmpada.]</ref> com dois objetivos básicos: formular [[política econômica|políticas conjunturais]] de '''[[inflação|combate à inflação]]''', associadas a '''reformas estruturais''', que permitiram o equacionamento dos problemas inflacionários causados pela ''política de substituição de importações'' e das dificuldades que se colocavam ao crescimento econômico; o que requeria, agora, que fosse dado um segundo passo no processo: a expansão da então pequena '''indústria de base''' ([[siderurgia]], [[energia]], [[petroquímica]]) para evitar que o aumento da produção de bens industriais de consumo final, ampliada pela ''política de substituição de importações'', provocasse um aumento insustentável nas [[importações]] brasileiras de [[insumo|insumos básicos]], que a indústria nascente consumia de forma crescente.
 
Após um período de ajuste inicial recessivo, de março de 1964 até fins de [[1967]], marcado pela reorganização do [[sistema financeiro do Brasil]], pela recuperação da capacidade fiscal do Estado e maior estabilidade monetária, iniciou-se em [[1968]] um período de forte [[crescimento econômico|expansão econômica]] no Brasil.dos incentivos fiscais do Estado<ref>Kurt Rudolf Mirow, A ditadura dos cartéis, anatomia de um subdesenvolvimento, p 129; 185</ref>
 
De [[1968]] a [[1973]] o [[PIB]] brasileiro cresceu a uma taxa média acima de 10% ao ano, a inflação oscilou entre 15% e 20% ao ano e a [[construção civil]] cresceu, em média, 15% ao ano. [[Antônio Delfim Netto]] é considerado o principal arquiteto e executor das políticas econômicas dessa fase, reconhecido por alguns como "superministro". Foi o momento de formação de grandes [[Grupo empresarial|conglomerados]] no Brasil.<ref>POSSAS, Mario Luiz. Empresas Multinacionais e Industrialização no Brasil. In: Desenvolvimento</ref>
 
Em análises posteriores justifica-se esse grande crescimento afirmando que os [[mercado]]s em que os investimentos[[investimento]]s se concentraram eram todos (usando a expressão inglesa) ''Green Field Market'', ou seja, novas áreas para se investir{{Carece de fontes|br|hist|data=janeiro de 2014}}. O mesmo ocorre nos dias atuais na [[República Popular da China]]. Mais do que uma consequência de política econômica bem planejada, o crescimento chinês é fruto do fato de muitos novos setores estarem se abrindo, possibilitando um rápido e vertiginoso aumento da [[atividade econômica]].
 
== O papel das estatais nesse processo ==
{{Principal|Lista de empresas estatais do Brasil}}
[[Imagem:Delfim Netto.jpg|thumb|[[Delfim Netto]].]]
 
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== "Obras Faraônicas" ==
Durante o [[milagre econômico]], com intuito de romper a [[estagnação econômica|estagnação]] que se seguira ao governo [[Juscelino Kubitschek|Kubitschek]], e visando estimular o [[crescimento econômico]], além de promover a [[Integracionismo|integração nacional]], o governo militar tratou de implementar vários programas nas áreas de [[transporte]]s, [[energia]] e de [[estratégia militar]]..<ref>[http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/ditadura-militar/ditadura-militar-no-brasil-5.php]</ref> A [[imprensa]] na época, que, em razão da [[censura]] vigente, não podia criticar diretamente o governo, referiu-se a alguns desses projetos como "faraônicos",<ref>[http://www.jornallivre.com.br/27978/como-er-a-a-ditadura-militar-apos-o-golpe-de-1964.html]</ref> aludindo a [[infraestrutura (engenharia)|infraestruturas]] enormes e de pouca importância útil. Porém, ao longo dos anos, a maioria dessas obras, a exemplo da [[Usina Hidrelétrica de Itaipu|Itaipu]] e da [[Ponte Rio-Niterói]], revelou-se importante e necessária. A construção de [[Usina hidrelétrica|Usinas Hidrelétricas]] por todo o pais deu condições de desenvolvimento para uma serie de regiões brasileiras.<ref>{{citar web|url=https://repositorio.unesp.br/handle/11449/141457|titulo=Complexo Energético de Urubupungá|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>. No inicio da [[década de 701970]] o Brasil construía a [[Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira]] representando a maior Hidrelétrica do [[Mundo Ocidental]] que junto com a [[Usina Hidrelétrica Engenheiro Souza Dias|Usina de Jupiá]] e [[Barragem Três Irmãos|Três Irmãos]] formavam o [[Complexo de Urubupungá|complexo energético de Urubupungá]] com capacidade de 4.600.000 kW[[Kw]] o maior do planeta na época superando a maior usina americana a de [[Represa Grand Coulee|Grand Coulle]] com 1.975.000 kWKw e sendo quase o dobro da famosa [[Represa de Assuã]] no [[Egito]] com 2.160.000 kW, sendo superada apenas pelo complexo de Krasnojarsk[[Krasnoyarsk]] na [[URSS]] que também estava em construção na época com 6.000.000 kW.<ref>{{citar web|url=https://www.youtube.com/watch?v=J_ZwqkJp2SA|titulo=Construção UHE Ilha Solteira|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.museudaenergia.org.br/media/63162/14.pdf|titulo=Museu da Energia|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
 
O motor desse rápido crescimento foram os dois Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs). [[I Plano Nacional de Desenvolvimento|O primeiro era mais simples]] e visava a aproveitar a capacidade ociosa da indústria. [[II Plano Nacional de Desenvolvimento|O segundo (1974-1979)]] tinha uma visão mais estratégica do país. O objetivo era investir na fabricação de insumos básicos e bens de capital, "[[calcanhar de Aquiles]]" da industrialização brasileira, focada em bens de consumo.<ref>{{citar web|url=https://oglobo.globo.com/economia/obras-da-ditadura-do-brasil-grande-ao-brasil-do-ganho-de-eficiencia-11959341|titulo=Obras do Regime Militar|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref> Francisco Eduardo Pires de Souza lembra que o II PND e as grandes obras foram a forma de enfrentar a nova realidade internacional com oa choque[[crise do petróleo]].<ref>{{citar web|url=https://oglobo.globo.com/economia/obras-da-ditadura-do-brasil-grande-ao-brasil-do-ganho-de-eficiencia-11959341|titulo=Obras Regime Millitar|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
 
=== Programa nuclear brasileiro ===
{{Artigo principal|Programa nuclear brasileiro}}
 
Em [[1972]], é iniciada a construção de [[Angra 1]] através da aquisição de um [[reator nuclear]] dos [[Estados Unidos]].<ref>{{citar web|último=VASCONCELOS CRUZ|primeiro=Eduardo Lucas|título=ANTECEDENTES DO ACORDO NUCLEAR BRASIL-ALEMANHA|url=http://revista.unilus.edu.br/index.php/ruep/article/viewFile/374/u2015v12n27e374|publicado=Revista UNILUS Ensino e Pesquisa|acessodata=15 de novembro de 2017|data=junho de 2015}}</ref>. Para os militares da época, o domínio da [[tecnologia nuclear]] era indispensável para [[soberania nacional]], sendo que a construção da usina era o início para a obtenção de [[Brasil e as armas de destruição em massa|armas de destruição em massa]] secretamente, o que nunca foi provado por documentos.<ref>[http://www.nuctec.com.br/educacional/submarino.html]</ref>
 
=== Usina Hidrelétrica de Itaipu ===
{{Artigo principal|Usina Hidrelétrica de Itaipu}}
 
Por meio de negociações com o [[Paraguai]] no início da [[década de 1970]] que pretendia melhorar os laços de cooperação entre os dois países e o aumento da capacidade de [[geração de eletricidade]] do país, a [[usina hidrelétrica]] é iniciada em [[1975]] e finalizada em [[1982]], sendo a maior usina hidrelétrica do país até a atualidade.<ref>[http://www.estadao.com.br/especiais/itaipu-um-gigante-polemico,16440.htm]</ref>
 
=== Integração econômica da Região Norte ===
{{Artigo principal|Rodovia Transamazônica|Projeto Radambrasil|Zona Franca de Manaus}}
 
Visando a integração da [[Região Norte do Brasil]] com o resto do país, o governo tomou uma série de medidas que permitiriam sua ocupação e desenvolvimento.<ref>[http://empresasefinancas.hsw.uol.com.br/zona-franca-manaus.htm]</ref> Para isso, o antigo [[Projeto Radam]] fora retomado - cujo objetivo seria mapear e monitorar a vasta região amazônica - e uma zona especial de incentivo fiscal foi criada em Manaus ([[Zona Franca de Manaus]]), para romper com a estagnação econômica da cidade vivenciada na época. Também construiu-se uma extensa [[Rodovia Transamazônica|rodovia]] não pavimentada, que partia do [[Região Nordeste do Brasil|Nordeste]] e cruzava a maior parte da [[Amazônia Legal]]. A estrada hoje se resume a trechos isolados de terra, sendo que as dificuldades em se mantê-la em um [[Clima equatorial|ambiente equatorial]] e devido a maior praticidade do [[transporte hidroviário]] na área também colaboraram para tal.<ref>[http://www.amazonialegal.com.br/textos/Transamazonica.htm]</ref>
 
== Concentração de renda ==
Apesar do equilíbrio obtido nas contas externas, a dívida nacional cresceu exponencialmente nesse período, o que se tornou possível pelo elevado grau de [[liquidez]] internacional que então prevalecia. Os [[Lista de países por produção de petróleo|países produtores de [[petróleo]], com a elevação ocorrida em seu preço a partir de [[1971]] e, sobretudo, após a [[crise do petróleo]] em 1974, dispunham de grande liquidez e estavam acumulando bilhões de [[Dólar dos Estados Unidos|dólares]] em seus [[caixa]]s, que ofereciam, sob forma de [[empréstimo]]s a [[juro]]s relativamente baixos, aos países importadores de petróleo, seus clientes. O Brasil se utilizou amplamente desses financiamentos para consolidar seu crescimento e para aumentar suas reservas internacionais.
 
Como o Brasil necessitava - para crescer - de aumentar sua [[poupança]] interna, prevaleceu um conceito segundo o qual não se deveria adotar [[política econômica|políticas econômicas]] de [[distribuição de renda]] já que as classes de renda mais elevada poupavam mais que as de [[baixa renda]]. Assim, segundo essa teoria, se a renda nacional fosse dirigida aos mais pobres, a poupança interna cairia (baseado no princípio econômico de que a propensão para consumir é maior nas classes de renda mais baixa).
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Com isso adotou-se uma política salarial que os [[sindicato]]s apelidaram de "[[arrocho salarial]]" (''ver: [[Salário no Brasil]]''). O [[salário mínimo]] real, apesar de cair menos do que no período entre [[1964]] e [[1966]], quando sofreu uma diminuição de 25%, baixou mais 15% entre [[1967]] e [[1973]].
 
Dessa forma, as vantagens do crescimento econômico não foram igualmente distribuídas pelas diversas camadas da população e ficaram concentradas, principalmente, nos [[capitalista]]s e nas [[classes sociais]] de renda mais alta. O salário mínimo continuou a ser achatado; graças à situação de "pleno emprego", que havia no período, os operários mais especializados conseguiram, na sua maioria, ''"descolar"'' seus salários do [[salário mínimo]] oficial e foram, assim, parcialmente beneficiados pelo [[crescimento econômico]] ocorrido.
 
A [[Atualização monetária|correção monetária]] das poupanças protegia contra os efeitos da inflação a [[classe média]] e [[Classe média alta|média alta]] - que tinham contas bancárias -, mas não as classes baixas, que viam sua renda ser transferida para as [[Classe alta|classes altas]], aumentando a [[concentração de renda]].
 
Os dados de 1970 mostram que os 5% mais ricos da população aumentaram sua participação na renda nacional em 9% (em relação a 1960) e detinham 36,3% da renda nacional. Já a faixa dos 80% mais pobres diminuíra sua participação em 8,7% no período, e ficara com 36,8% da renda..<ref name=SINGER>SINGER, Paul. ''O Milagre Brasileiro - Causas e Conseqüências'', Caderno Cebrap, nº 6, 1972, São Paulo.</ref>
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Apesar do rápido crescimento econômico e da condição de [[pleno emprego]] que isso provocou, houve um ''"empobrecimento dos mais pobres"'': eles simplesmente não aumentaram sua renda, que era corroída em valor real pela inflação.
 
O [[crescimento econômico]] foi vigoroso: o consumo de [[energia elétrica]] crescia 10% ao ano,<ref name=ENERGIA>''Anuário Estatístico do Brasil - 1971'', Rio de Janeiro: Fundação IBGE, 1972.</ref> as [[Indústria automobilística no Brasil|montadoras de veículos]] produziram, em 1970, 307 mil carros de passeio, o triplo do número produzido em 1964.<ref name=MONTADORAS>SHAPIRO,Helen. ''A primeira migração das montadoras: 1956-1968'', em ''De JK a FHC''- a Reinvenção Dos Carros''; organizado por ARBIX, Glauco e ZILBOVICIUS, Mauro (orgs.). São Paulo: Scritta, 1997, p. 66</ref> Os trabalhadores tinham em casa 4,58 milhões de [[televisor]]es, contra 1,66 milhão em 1964..<ref name=TV>MATTOS, Sérgio. ''A Televisão No Brasil: 50 Anos de História'' Salvador: Editora Paz/Edições Ianamá, 2000, p. 95</ref>
 
Viveu-se um ciclo inédito de desenvolvimento no Brasil; o governo divulgava estes números pela [[publicidade]] na TV, que constituíam a viga mestra da política de [[Publicidade do regime militar de 1964|sustentação publicitária do governo militar]]; criavam-se motes de ''"Brasil Potência"'', ''"Brasil Grande"'' e o mais famoso deles, ''"Brasil, ame-o ou deixe-o"'' (''"[[slogan político]]"'' amplamente divulgado, sob o patrocínio do ''[[Centro de Informações do Exército]] (CIE)'', que distribuía gratuitamente os adesivos nas cores verde-amarela, para serem exibidos, com orgulho, nos para-choques de muitos carros particulares. Os opositores ao regime viam nesse mote mais uma ''"patriotada"'').
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Segundo dados divulgados pelo [[IPEA]]Data, o [[coeficiente de Gini]] brasileiro era de 50,0 em 1960, tendo piorado para 57,0 em 1970 e para 62,0 em 1977, oscilando em torno desses números até hoje ([[2008]]), quando atingiu 52,0, o que revela uma lenta melhora, não tendo retomado aos patamares da década de 60.
 
Contudo, há uma corrente de pesquisadores que aponta a comparação dos coeficientes de Gini do início e do fim do [[milagre econômico]] como método insuficiente para análise da distribuição de renda no período. Para eles, é preciso considerar outro fator. Na época de maior crescimento econômico do país, ocorreu um intenso [[Migração|fluxo migratório]] do campo para a cidade decorrente da expulsão dos trabalhadores rurais de suas propriedades amparada na promulgação do ''Estatuto do Trabalhador Rural'' de 1963, alterado em 1973.<ref name="RURAL">[http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1963/4214.htm Lei Nº 4.214 de 2 de março de 1963.MARÇO DE 1963 Dispõe sobre o "Estatuto do Trabalhador Rural" ]</ref>
 
Parte dessa imensa massa migratória foi absorvida pela [[indústria]], sobretudo, não só de construção civil, mas também pelas indústrias pesadas que não exigiam [[escolaridade]] e, em menor número, pelo [[comércio]]. Os migrantes foram habitar as [[favela]]s no entorno das grandes cidades, onde tiveram de lidar com uma série de novos encargos monetários aos quais não estavam habituados: [[aluguel]], [[água]], luz, gás, [[transporte coletivo]] etc. A situação social e econômica desse contingente migratório agravou-se devido à baixa escolaridade média, que os impedia de disputar melhores cargos no [[mercado de trabalho]], e à estrutura ineficiente de [[serviços públicos]].
 
{{cquote|''O trabalho regular, "com carteira assinada", chegou a cobrir mais de 2/3 da população de São Paulo. O ''[[subemprego]]'' - os que trabalham nas ocupações de menor produtividade - sofreu queda marcante ao longo daqueles anos de crescimento. A mera transferência de contingentes expressivos de mão-de-obra ocupada na agricultura para empregos na indústria, na construção civil e nos serviços funcionais teve impacto significativo no grau de pobreza''.<ref name=NOVO>SALM, Cláudio. ''Estagnação Econômica, Desemprego e Exclusão Social''. , in: SICSÚ, João; PAULA, Luiz Fernando; e RENAUT, Michel; organizadores. ''Novo-desenvolvimentismo: um projeto nacional de crescimento com eqüidade social''. Barueri:Manole; Rio de Janeiro:Fundação Konrad Adenauer, 2005. ISBN 85-98416-04-5 (Manole) pp. 200-201</ref>}}
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== Crash de 1971 ==
{{Artigo principal|Crash de 1971}}
O [[Crash (economia)|crash]] que se iniciou em junho de 1971, foi o "estouro" da segunda maior [[bolha especulativa]] da história brasileira em termos relativos, referente ao numero de participantes do processo, em relação à população total, e diversidade de [[classes sociais]], às quais pertenciam. Embora, nem de longe tenha causado os efeitos políticos, econômicos e sociais devastadores de [[Encilhamento|seu antecessor]], ocorrido 80 anos antes.
 
A alta ocorrida nas bolsas de valores brasileiras, notadamente as [[Bolsa de Valores do Rio de Janeiro|do Rio]] e a [[Bovespa|de São Paulo]], durante o final da [[década de 1960]], estava dentro do panorama de euforia econômica do período, não sendo portanto um fenômeno isolado. Ao final do ano de 1970 não havia indícios do estouro da bolha que ocorreria meses mais tarde. Mesmo ocorrendo altas de até 400% registradas em algumas [[Ação (finanças)|ações]] nas Bolsas, a euforia geral induzia a se acreditar que tais valorizações refletiriam à real situação e potencial das empresas. Poucos perceberam à época a iminência do crash que ocorreria.<ref>Ibidem Azevedo & Barcellos, 2011</ref>
 
Não houve um dia específico de queda. As condições presentes nos mercados de capitais no Brasil na época ajudaram a impulsionar a queda de [[liquidez]] que este então sofreu. Queda esta que prosseguiu até 1973, e cujos efeitos psicológicos se fariam sentir por muitos anos, para a grande massa que então começava a participar ativamente no [[mercado de capitais]] e que, a exemplo da geração do ''[[encilhamento]]'', foi pega na queda, tanto por não se encontrar preparada do ponto de vista [[Educação financeira|educacional-financeiro]], para atuar nos mercados, quanto pelo próprio mercado não estar preparado para recebê-la, já que não dispunha à época (para esta massa de pequenos [[Investidor#Investimento_financeiro|investidores]] e [[Especulação financeira|especuladores]]), de quaisquer [[Venda a descoberto|mecanismo de atuação em relação a um crash]].<ref>Ibidem Azevedo & Barcellos, 2011</ref>
 
Do sentimento de desconfiança que se gerou após sua ocorrência, agravado pelas [[Crise_do_petróleo#Segunda_fase|crises do petróleo]] na década de 1970, e [[Crise da dívida externa latino-americana|da dívida externa]] no início da década seguinte, o mercado brasileiro só iria se recuperar paulatinamente nos [[anos '801980]].<ref>Ibidem Azevedo & Barcellos, 2011</ref>
 
== O fim do milagre ==
Após a prolongada queda do Crash de 1971, a partir de [[1973]] o crescimento da economia brasileira diminuiu e em [[1974]] ocorreu o primeiro [[crise do petróleo|choque do petróleo]], quando seu preço foi elevado abruptamente de US$3,37 para US$11,25 por barril. A crise do petróleo provocou uma aceleração da taxa de inflação no mundo todo e principalmente no Brasil, onde passou de 15,5% em 1973 para 34,5% em 1974.<ref>Kurt Rudolf Mirow, A ditadura dos cartéis, anatomia do subdesenvolvimento, p 204</ref> O corte nas importações foi uma das medidas adotadas para a diminuição do gasto. Isso prejudicou o Brasil em dois sentidos: na perda de mercado externo e em não poder restringir suas próprias importações. O crescimento diminuiu no período 1974-1979 passando a 6,5% em média; na época do "milagre" as taxas de crescimento eram, em média, superiores a 10% anuais, tendo alcançado picos de 13% anuais.
 
A [[balança comercial]] brasileira, a partir de 1974,<ref>[[Celso Furtado]], Análise do "Modelo" Brasileiro, 1982, 7ª edição, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, "O verdadeiro milagre" -Trecho: ''"Em 1974 o volume físico das importações aumentou em 33,5 por cento, enquanto o das exportações declinava em 1,4 por cento. O saldo negativo da conta corrente da [[balança de pagamentos]] alcançou 7 por cento do [[PIB]] nesse ano"''.</ref> apresentou enormes [[défice]]s causados principalmente pela importação de petróleo, que ultrapassaram os 4 bilhões de dólares[[dólar]]es ao ano. A capacidade de geração de [[divisas]] tornou-se insuficiente para sustentar o ritmo do crescimento. Houve dois tipos de inflação, a oficial, que servia de índice, e a verdadeira, que se deduzia pela alta [[taxa de juros]], chegando a superar em 50% os índices governamentais. No final dessa década, a [[inflação]] chegou a 94,7% ao ano; em [[1980]] já era de aproximadamente 110% e em [[1983]] alcançou o patamar de 200%.
 
A chegada de [[Jimmy Carter]] à [[Casa Branca]] em [[1977]] também dificultou a sustentabilidade político-econômica da ditadura militar brasileira, visto que Carter foi o primeiro presidente desde o assassinato de [[John Kennedy]] em [[1963]] que não deu pleno apoio [[Estados Unidos|norte-americano]] a regimes [[Anticomunismo|anticomunistas]] e [[autoritário]]s na [[América Latina]].
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== Ver também ==
* [[Anos de chumbo (Brasil)]]
* [[Coeficiente de Gini]]
* [[Concentração de renda]]
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* [[Milagre econômico]]
* [[Modernização conservadora]]
* [[Pressão social sobre o Regime Militar de 1964]]
* ''[[Wirtschaftswunder]]''
* [[Anos de chumbo (Brasil)]]
 
{{Referências|col=2}}