Cultura: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m Removeu a proteção de "Cultura": testando a desprotecção, após implementação do bloqueio de IPs
Etiquetas: Provável parcialidade Referências removidas Editor Visual
Linha 58:
 
== Cultura em animais ==
[[Imagem:Schimpanse_Zoo_Leipzig.jpg|thumb|left|De acordo com a definição de cultura de Tylor, o [[Chimpanzé]] é um primata que possui cultura.]]Como visto anteriormente, o conceito de cultura sofre constantes mudanças ao longo do tempo conforme discussões entre os especialistas, principalmente das humanidades, são feitas e paradigmas são quebrados. A definição de cultura, portanto, está intimamente atrelada à episteme vigente, assim como no movimento de quebra de preconceitos e centralização, ou exaltação, da cultura para determinados grupos. A definição de cultura em si já é complexa e problemática nos grupos humanos, uma vez que por muito tempo a cultura era utilizada como um jogo de poder. Segundo Marilena Chauí, foi a partir do século XVIII que o sentido da cultura passou a ser intimamente ligado com a formação que os indivíduos recebiam, ou seja, um acúmulo de experiências socialmente validadas, como o acúmulo do saber escolar, o aprendizado histórico-artístico, relação com a música ou literatura erudita, entre outros. Essa definição implicava, necessariamente, que alguns indivíduos possuíam ou detinham certa cultura, ao passo que outros não, tudo isso sujeito às condições sociais impostas para valorizar certa parcela da população dominante sobre os dominados, bárbaros [ref 1]. Felizmente, para a espécie humana, este discurso, apesar de ainda persistente e utilizado por alguns, caiu em desuso e, a partir do século XX, uma visão antropológica de cultura ganhou espaço, passando a ver cultura como o modo de viver de uma comunidade, um grupo, uma sociedade, e é decorrente das relações materiais e simbólicas que as pessoas desenvolvem entre si, em um determinado território.
[[Imagem:Schimpanse_Zoo_Leipzig.jpg|thumb|left|De acordo com a definição de cultura de Tylor, o [[Chimpanzé]] é um primata que possui cultura.]]
Entretanto, a discussão e definição sobre cultura está longe de chegar a um fim. Com a discussão sobre a cultura atingindo um discurso mais antropológico, buscando valorizar todos os grupos humanos, enquanto também age como uma característica que define a espécie, surge uma nova problemática que é definir cultura em outros grupos animais. Afinal, como os estudos até então realizados partem de uma perspectiva antropocêntrica e definidora dos grupos humanos, caso o conceito de cultura se aplicasse a outras espécies de animais, o que nos definiria como humanos? Qual seria nossa característica única? Sendo assim a discussão sobre as definições de cultura passaram de uma esfera de definição e soberania de grupos humanos, de popular versus erudito, para humanos versus outros animais.
É possível, na opinião de alguns cientistas, identificar uma "espécie de cultura" em alguns animais superiores, especialmente mamíferos (e dentro destes, especialmente primatas). De acordo com Andrew Whiten, Kathy Schick e Nichobs Tolh, os chimpanzés possuem um rico repertório de ferramentas (clavas, perfuradores etc.).<ref>{{Citar web |url=http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6WJS-4X5YWKX-1&_user=10&_coverDate=10%2F31%2F2009&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=search&_origin=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_acct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=d7c7dd1bcbd025d5d23459b1f2f04b55&searchtype=a|título= "The evolution and cultural transmission of percussive technology: integrating evidence from paleoanthropology and primatology"; Journal of Human Evolution; 57:420-435 |língua= |autor= A Whiten, Kathy Schick, Nicholas Toth |obra= |data= |acessodata=}}</ref> A técnica de produção de ferramentas, além de sua forma de uso, é ensinada de geração em geração entre os chimpanzés. Algo semelhante ocorre com os primatas [[Bonobos]].<ref>Andrew Whiten; "Primate social learning, traditions and culture"; The Evolution of Primate Societies; J Mitani, J Call, P Kappeler, R Palombit, J Silk (ed); Chicago University Press, Chicago, USA</ref>
Esta discussão não é trivial, uma vez que o fenômeno da cultura está intimamente ligado com o conceito abstrato de "inteligência", também muito caro para a espécie humana. Segundo a versão ontogenética do MIH (Inteligência Maquiavélica Hypothesis) [ref 2]., a cultura é o meio pelo qual pode-se tornar um indivíduo inteligente, ou seja, um ser que é criado e se desenvolve em um meio com cultura acumulada pode enriquecer e aprimorar as maneiras com que lida com o mundo ao seu redor. Como exemplo tem-se que, se for comparada uma pessoa que foi educada contemporaneamente com outra que foi educada cerca de 20 milênios atrás, porém com capacidade cerebral equivalente, teremos que o primeiro indivíduo poderia ser considerado mais inteligente devido ao acúmulo do conhecimento e cultura acerca das técnicas existentes atualmente [ref 3]. Sendo assim, as espécies dotadas de cultura possuiriam meios capazes de selecionar características específicas de inteligência, formando associações indissociáveis entre cultura e desenvolvimento de inteligência. Sendo assim, reconhecer a cultura em espécies não-humanas exige reconhecer também a inteligência dessas espécies, admitindo que características antes consideradas como exclusivas do Homo sapiens não são assim tão exclusivas e não os tornam tão especiais. Essa visão será alvo de intensa discussão e resistência por parte de muitos pesquisadores por muito tempo.
 
 
 
 
 
 
 
 
A existência da produção de cultura material e transmissão desta cultura socialmente é, dentro de algumas concepções de cultura, suficiente para afirmar que primatas possuem cultura. No entanto, percebem-se diferenças na forma como a cultura existe entre os primatas. É consenso entre os antropólogos que caracterizar culturas entre "superiores" e "inferiores" é uma impropriedade científica, já que não existem critérios objetivos para realizar esta diferenciação. Portanto, a diferença entre a cultura humana e a cultura dos primatas deve ser entendida em outros termos. A grande diferença, do ponto de vista antropológico, entre essas duas manifestações culturais, é que, entre os primatas, não ocorre o chamado "efeito catraca", isto é, os primatas não somam inovações tecnológicas para produzir produtos tecnologicamente mais complexos. O processo de difusão da cultura entre primatas ainda está sendo estudado.<ref>A Whiten; "Social learning in apes"; Encyclopedia of Animal Behaviour; M Breed, J Moore (ed); Elsevier Academic Press</ref>
 
Além da produção de ferramentas, os chimpanzés apresentam comportamentos diferentes conforme as sociedades estudadas. O famoso ''grooming'', por exemplo, é diferente de sociedade para sociedade. É comprovado, também, que diferentes sociedades de chimpanzés apresentam formas de vocalização únicas às suas populações.<ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=N8-tRAAACAAJ&dq=our+origins&hl=pt-br&ei=nQ__TPCfNYX6lwebzcmdCA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCIQ6AEwAA|título=Acquiring resources and transmitting Knwoledge: got culture? |língua= |autor= Clark Spencer Larsen|obra= |data= |acessodata=}}</ref>
 
{{Referências|col=2}}