Cemitério dos Ingleses (Salvador): diferenças entre revisões

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== História ==
A história do anglicanismo no Brasil inicia-se no século XIX, no contexto da vinda da família real portuguesa para o país. A [[Marinha Real Britânica]] escoltou as embarcações portuguesas que partiram para o Brasil em 27 de novembro de 1807, ocasião da [[Primeira invasão francesa de Portugal|invasão napoleônica de Portugal]]. Assim sendo, muitos ingleses desembarcaram no país. Vários deles decidiram ficar e explorar a atividade comercial após a assinatura do [[Tratado de Comércio e Navegação]] em fevereiro de 1810, que garantia um imposto menor às mercadorias britânicas importadas para o Brasil, o que acabou garantindo aos ingleses uma vantagem competitiva que os levaram a dominar o mercado nacional e formar uma significativa comunidade em centros comerciais como Salvador, [[Recife]] e [[Rio de Janeiro]].
 
=== Chegada dos Ingleses ao Brasil ===
O Tratado de Comércio e Navegação também permitiu a construção de templos anglicanos no território brasileiro.<ref name="Oswaldo" /> No entanto, eles não poderiam ter a aparência de igrejas cristãs – ou seja, não poderiam ter torres ou sinos – e nem buscar a conversão de cristãos católicos brasileiros.<ref name="Calvani">Calvani, Carlos Eduardo. [http://www.usp.br/revistausp/67/04-calvani.pdf "Anglicanismo no Brasil"]. Revista USP. São Paulo: n.67, p. 36-47, setembro/novembro 2005. Página visitada em 6 de julho de 2015.</ref><ref>EVERY, Edward Francis. [http://anglicanhistory.org/sa/every1915/01.html The Anglican Church in South America], Chapter I. 1915. Em [http://anglicanhistory.org/ Project Cantuária]</ref> Segundo a tradição, o tratado teria sido assinado por [[D. João VI]] no local onde foi erguido o Cemitério dos Ingleses.<ref name=STF>[http://m.stf.gov.br/portal/noticia/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=89268 "STF decide que cemitério religioso sem fins lucrativos é imune à cobrança de IPTU"]. STF. 21 de maio de 2008. Página visitada em 7 de março de 2018.</ref> Há quem afirme, no entanto, que o cemitério foi inaugurado na década de 1830 e que, antes disso, os ingleses eram sepultados em [[Massaranduba (Salvador)|Massaranduba]], na [[Península de Itapagipe]], local destinado ao enterro de indigentes, [[Escravidão no Brasil|escravos]] e criminosos; entretanto, há registros de sepultamentos no cemitério datados de 1813.<ref name="Camara">Camara, Bernardo. "Novos baianos: Histórias do Cemitério dos Ingleses". ''Revista de História da Biblioteca Nacional''. Seção "Observatório". 25 de junho de 2009.</ref> Acredita-se que ele seja mais antigo do que o próprio [[Cemitério do Campo Santo]], o primeiro cemitério público da cidade.
A história do anglicanismo no Brasil inicia-se no século XIX, no contexto da vinda da família real portuguesa para o país. A [[Marinha Real Britânica]] escoltou as embarcações portuguesas que partiram para o Brasil em 27 de novembro de 1807, ocasião da [[Primeira invasão francesa de Portugal|invasão napoleônica de Portugal]]. Assim sendo, muitos ingleses desembarcaram no país.<ref name=":0">{{Citar web |url=https://www.artefunerariabrasil.com.br/camiterio/cemiterio-dos-ingleses/ |titulo=Cemitério dos Ingleses – Arte Funerária Brasil |acessodata=2021-08-19 |lingua=pt-br}}</ref><ref name=":1">{{Citar web |ultimo=Freitas |primeiro=por Caroline |url=http://www.saravacidade.com.br/chao/cemiterio-dos-ingleses-um-patrimonio-a-beira-mar/ |titulo=Cemitério dos Ingleses, um patrimônio à beira-mar |data=2018-05-03 |acessodata=2021-08-19 |website=Saravá – Memórias e afetos |lingua=pt-BR}}</ref>
 
A história do anglicanismo no Brasil inicia-se no século XIX, no contexto da vinda da família real portuguesa para o país. A [[Marinha Real Britânica]] escoltou as embarcações portuguesas que partiram para o Brasil em 27 de novembro de 1807, ocasião da [[Primeira invasão francesa de Portugal|invasão napoleônica de Portugal]]. Assim sendo, muitos ingleses desembarcaram no país. Vários deles decidiram ficar e explorar a atividade comercial após a assinatura do [[Tratado de Comércio e Navegação]] em fevereiro de 1810, que garantia um imposto menor às mercadorias britânicas importadas para o Brasil, o que acabou garantindo aos ingleses uma vantagem competitiva que os levaram a dominar o mercado nacional e formar uma significativa comunidade em centros comerciais como Salvador, [[Recife]] e [[Rio de Janeiro]].<ref name=":0" /><ref name=":1" />
 
=== Tempos Anglicanos no Brasil ===
O Tratado de Comércio e Navegação também permitiu a construção de templos anglicanos no território brasileiro.<ref name="Oswaldo" /> No entanto, eles não poderiam ter a aparência de igrejas cristãs – ou seja, não poderiam ter torres ou sinos – e nem buscar a conversão de cristãos católicos brasileiros.<ref name="Calvani">Calvani, Carlos Eduardo. [http://www.usp.br/revistausp/67/04-calvani.pdf "Anglicanismo no Brasil"]. Revista USP. São Paulo: n.67, p. 36-47, setembro/novembro 2005. Página visitada em 6 de julho de 2015.</ref><ref>EVERY, Edward Francis. [http://anglicanhistory.org/sa/every1915/01.html The Anglican Church in South America], Chapter I. 1915. Em [http://anglicanhistory.org/ Project Cantuária]</ref>.
 
O Tratado de Comércio e Navegação também permitiu a construção de templos anglicanos no território brasileiro.<ref name="Oswaldo" /> No entanto, eles não poderiam ter a aparência de igrejas cristãs – ou seja, não poderiam ter torres ou sinos – e nem buscar a conversão de cristãos católicos brasileiros.<ref name="Calvani">Calvani, Carlos Eduardo. [http://www.usp.br/revistausp/67/04-calvani.pdf "Anglicanismo no Brasil"]. Revista USP. São Paulo: n.67, p. 36-47, setembro/novembro 2005. Página visitada em 6 de julho de 2015.</ref><ref>EVERY, Edward Francis. [http://anglicanhistory.org/sa/every1915/01.html The Anglican Church in South America], Chapter I. 1915. Em [http://anglicanhistory.org/ Project Cantuária]</ref> Segundo a tradição, o tratado teria sido assinado por [[D. João VI]] no local onde foi erguido o Cemitério dos Ingleses.<ref name="STF">[http://m.stf.gov.br/portal/noticia/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=89268 "STF decide que cemitério religioso sem fins lucrativos é imune à cobrança de IPTU"]. STF. 21 de maio de 2008. Página visitada em 7 de março de 2018.</ref> Há quem afirme, no entanto, que o cemitério foi inaugurado na década de 1830 e que, antes disso, os ingleses eram sepultados em [[Massaranduba (Salvador)|Massaranduba]], na [[Península de Itapagipe]], local destinado ao enterro de indigentes, [[Escravidão no Brasil|escravos]] e criminosos; entretanto, há registros de sepultamentos no cemitério datados de 1813.<ref name="Camara">Camara, Bernardo. "Novos baianos: Histórias do Cemitério dos Ingleses". ''Revista de História da Biblioteca Nacional''. Seção "Observatório". 25 de junho de 2009.</ref> Acredita-se que ele seja mais antigo do que o próprio [[Cemitério do Campo Santo]], o primeiro cemitério público da cidade.<ref name=":1" />
 
Antes do Campo Santo, os baianos eram enterrados em igrejas. A exceção, no entanto, eram os "[[hereges]]", ou seja, os não-católicos. Eles eram proibidos de serem sepultados nas mesmas necrópoles que o restante da população pela Constituição do Arcebispado da Bahia.<ref name="JESUS">Jesus, Francisco de Paula Santana de. [http://www.pretosnovos.com.br/dropbox/textos/academicos/155-304-1-SM.pdf "Geografia da morte: a cultura fúnebre e os cemitérios de Salvador oitocentista (1860-1900)"]. Monções: Revista de História da UFMS/CPCX v. 1, n° 1, Setembro de 2014 – ISSN: 2358-6524.</ref> O Tratado de Comércio e Navegação veio para resolver essa situação para os ingleses, principais parceiros comerciais dos portugueses, que encontravam dificuldade em manter sua fé protestante num [[Estado confessional]] católico. Após a assinatura do tratado, começaram a ser realizados os primeiros [[culto]]s anglicanos do país ainda em 1810 – em [[língua inglesa]] e voltados exclusivamente para a comunidade britânica<ref name="Oswaldo">Kickhofel, Oswaldo. [http://www.centroestudosanglicanos.com.br/bancodetextos/historiadaigreja/apontamentos_de_historia_da_%20ieab.pdf "Apontamentos de História da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil"]. Centro de Estudos Anglicanos. s/d. Página visitada em 6 de julho de 2015.</ref><ref name=AnglComm>[http://www.anglicancommunion.org/structures/member-churches/member-church.aspx?church=brazil Member Church - Brazil]. [[Comunhão Anglicana|Anglican Communion]]. s/d. Página visitada em 5 de julho de 2015.</ref><ref name=AnglComm/> –, inicialmente em residências.<ref name="GGSSA">[http://www.bahia-turismo.com/salvador/igrejas/anglicana.htm Antiga Igreja Anglicana de Salvador]. Guia Geográfico - Antigas Igrejas do Brasil. s/d. Página visitada em 16 de novembro de 2017.</ref> Mas os ingleses ainda não tinham um lugar para realizar as cerimônias fúnebres e enterrar seus os mortos.
[[Ficheiro:Capela anglicana de Salvador.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|359x359px|Capella do Campo Grande - Fotografia do suíço Wilhelm Gaensly]]
Em 8 de fevereiro de 1811 o [[Conde dos Arcos]] [[Marcos de Noronha e Brito]], então [[Governador da Bahia]], autorizou a construção de um cemitério na capital baiana para a realização dos rituais de sepultamento dos membros da comunidade britânica da cidade.<ref name="bahia-turismo" />
 
Em 8 de fevereiro de 1811 o [[Conde dos Arcos]] [[Marcos de Noronha e Brito]], então [[Governador da Bahia]], autorizou a construção de um cemitério na capital baiana para a realização dos rituais de sepultamento dos membros da comunidade britânica da cidade.<ref name="bahia-turismo" /> Logo foi erguida uma pequena capela para a realização de [[funeral|funerais]] no local; seus primeiros registros datam de 1819.<ref name="capela">[http://www.bahia-turismo.com/salvador/barra/capela-cemiterio.htm Capela do Cemitério Britânico na Barra]. Bahia Turismo. Página visitada em 7 de março de 2018.</ref> Até a inauguração da [[Capela Anglicana de Salvador|Capela Anglicana do Campo Grande]] em outubro de 1853, esta capela, conhecida como Igreja de São Jorge (ou ''Saint George's Church''), foi o único templo não-católico romano de Salvador, sendo o local onde a comunidade anglicana da cidade organizava seus cultos. Após a inauguração do templo de Campo Grande, deixou de celebrar cultos regularmente e passou a ser utilizada apenas para a realização de funerais, como ainda ocorre nos dias de hoje.
 
Até a inauguração da [[Capela Anglicana de Salvador|Capela Anglicana do Campo Grande]] em outubro de 1853, esta capela, conhecida como Igreja de São Jorge (ou ''Saint George's Church''), foi o único templo não-católico romano de Salvador, sendo o local onde a comunidade anglicana da cidade organizava seus cultos. Após a inauguração do templo de Campo Grande, deixou de celebrar cultos regularmente e passou a ser utilizada apenas para a realização de funerais, como ainda ocorre nos dias de hoje.
A área em que o Cemitério dos Ingleses foi construído pertencia à [[Arquidiocese de São Salvador da Bahia|Arquidiocese de São Salvador]], mais especificamente à vizinha Igreja de Santo Antônio da Barra.<ref name="bahia-turismo" /> Tamanha era a influência dos britânicos na sociedade baiana da época que em 1814 o Conde dos Arcos expropriou o terreno da Igreja Católica e doou-o para a comunidade britânica da capital baiana, que fundou a Sociedade de São Jorge para organizar suas atividades.<ref name="bahia-turismo" /> Acredita-se que a Igreja de Santo Antônio da Barra e o Cemitério dos Ingleses eram conectados por um portal até meados do século XIX,<ref name="bahia-turismo" /> o que seria uma prova do relacionamento profícuo entre católicos e anglicanos. Segundo o pesquisador Francisco de Paula Santana de Jesus, o relacionamento entre os baianos e os protestantes alemães era bem mais hostil.<ref name="JESUS" /> Até a inauguração do Cemitério dos Alemães em 1851 no bairro da [[Federação (Salvador)|Federação]],<ref name="JESUS" /> estes também eram enterrados no Cemitério dos Ingleses devido à proibição do sepultamento de não-católicos nos cemitérios públicos.
 
=== O Cemitério ===
O Cemitério dos Ingleses foi considerado um sítio histórico pelo [[Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia]] em 1993, sendo tombado pelo órgão no mesmo ano.<ref name=bahia-turismo /> Após uma bem sucedida campanha iniciada pela pesquisadora inglesa Sabrina Gledhill, moradora de Salvador,<ref name="Camara" /> o local foi restaurado em 2006 com recursos do Estado e da Fundação Clemente Mariani.<ref name=bahia-turismo /> Desde a restauração do sítio, foi aberto no [[Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]] um processo para que seja tombado também por este órgão.<ref name=STF /> Em 2008, a Sociedade de São Jorge conseguiu, no [[Supremo Tribunal Federal]], o direito de não pagar uma dívida de R$ 41.831,70 em [[Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana|IPTUs]] atrasados.<ref name=STF /> Segundo o entendimento do plenário, cemitérios sem fins lucrativos são imunes à cobrança do imposto.<ref name=STF /> Em 2009 foi lançado, no Cemitério dos Ingleses, o projeto ''Darwin na Bahia'', que marcava o bicentenário do nascimento de [[Charles Darwin]], que esteve na capital baiana durante sua [[A Viagem do Beagle|expedição do ''Beagle'']]. Dois companheiros de viagem do cientista britânico na expedição estão enterrados no local.<ref name=bahia-turismo /> Em 2010 a Paróquia Anglicana do Bom Pastor se separou juridicamente da Sociedade de São Jorge, que desde então administra o Cemitério dos Ingleses de maneira independente como uma organização sem fins lucrativos.<ref name=bahia-turismo />
A área em que o Cemitério dos Ingleses foi construído pertencia à [[Arquidiocese de São Salvador da Bahia|Arquidiocese de São Salvador]], mais especificamente à vizinha Igreja de Santo Antônio da Barra.<ref name="bahia-turismo" /> Tamanha era a influência dos britânicos na sociedade baiana da época que em 1814 o Conde dos Arcos expropriou o terreno da Igreja Católica e doou-o para a comunidade britânica da capital baiana, que fundou a Sociedade de São Jorge para organizar suas atividades.<ref name="bahia-turismo" /> Acredita-se que a Igreja de Santo Antônio da Barra e o Cemitério dos Ingleses eram conectados por um portal até meados do século XIX,<ref name="bahia-turismo" /> o que seria uma prova do relacionamento profícuo entre católicos e anglicanos. Segundo o pesquisador Francisco de Paula Santana de Jesus, o relacionamento entre os baianos e os protestantes alemães era bem mais hostil.<ref name="JESUS" /><ref>{{Citar Até a inauguração do Cemitérioweb |url=http://www.ipatrimonio.org/salvador-cemiterio-dos-ingleses/ Alemães em 1851 no bairro da [[Federação (Salvador)|Federação]],<ref nametitulo="JESUS"Salvador /> estes também eram enterrados no- Cemitério dos Ingleses devido-ipatrimônio à|acessodata=2021-08-19 proibição do sepultamento de não|lingua=pt-católicosBR}}</ref> nos cemitérios públicos.
 
Até a inauguração do Cemitério dos Alemães em 1851 no bairro da [[Federação (Salvador)|Federação]],<ref name="JESUS" /> estes também eram enterrados no Cemitério dos Ingleses devido à proibição do sepultamento de não-católicos nos cemitérios públicos.
 
O Cemitério dos Ingleses foi considerado um sítio histórico pelo [[Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia]] em 1993, sendo tombado pelo órgão no mesmo ano.<ref name="bahia-turismo" /> Após uma bem sucedida campanha iniciada pela pesquisadora inglesa Sabrina Gledhill, moradora de Salvador,<ref name="Camara" /> o local foi restaurado em 2006 com recursos do Estado e da Fundação Clemente Mariani.<ref name="bahia-turismo" /> Desde a restauração do sítio, foi aberto no [[Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]] um processo para que seja tombado também por este órgão.<ref name="STF" />
 
Em 2008, a Sociedade de São Jorge conseguiu, no [[Supremo Tribunal Federal]], o direito de não pagar uma dívida de R$ 41.831,70 em [[Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana|IPTUs]] atrasados.<ref name="STF" /> Segundo o entendimento do plenário, cemitérios sem fins lucrativos são imunes à cobrança do imposto.<ref name="STF" />
 
Em 2009 foi lançado, no Cemitério dos Ingleses, o projeto ''Darwin na Bahia'', que marcava o bicentenário do nascimento de [[Charles Darwin]], que esteve na capital baiana durante sua [[A Viagem do Beagle|expedição do ''Beagle'']]. Dois companheiros de viagem do cientista britânico na expedição estão enterrados no local, Jones e Charles Musters. Ambos eram garotos e provavelmente a causa da morte foi malária.<ref name="bahia-turismo" /><ref>{{Citar web |url=http://friendsofdarwin.com/articles/poor-little-musters/ |titulo=19-May-1832: The untimely death of ‘Poor little Musters’ |acessodata=2021-08-19 |website=The Friends of Charles Darwin |lingua=en-GB}}</ref>
 
Em 2010 a Paróquia Anglicana do Bom Pastor se separou juridicamente da Sociedade de São Jorge, que desde então administra o Cemitério dos Ingleses de maneira independente como uma organização sem fins lucrativos.<ref name="bahia-turismo" />
 
== Estrutura ==
 
=== Localização ===
O Cemitério dos Ingleses está localizado na [[Avenida Sete de Setembro (Salvador)|Av. Sete de Setembro]], mais precisamente na ladeira da [[Barra (Salvador)|Barra]], entre a Igreja de Santo Antônio da Barra e o [[Yacht Clube da Bahia]]; é uma área nobre na região sul da cidade, com uma vista privilegiada da [[Baía de Todos-os-Santos]]. Tratava-se de uma área, quando de sua fundação, afastada do [[Centro Histórico de Salvador|Centro de Salvador]], embora não estivesse muito longe do então ascendente [[Largo do Campo Grande]], morada de estrangeiros, ricos negociantes e dignatários. Segundo João Reis, sua distância do centro da cidade era proposital, uma vez que o cemitério "estava adaptado à uma concepção de uma necrópole longe da cidade, integrada a um cenário rural, que estava em moda na Europa e nos Estados Unidos".<ref name="JESUS" />
 
=== Esculturas / Lápides ===
Segundo o jornal ''[[A Tarde]]'', o Cemitério dos Ingleses é um verdadeiro museu a céu aberto, graças às belas esculturas que fazem parte de suas lápides, muitas das quais adornadas com a [[cruz céltica]] e com a inscrição "IHS" ([[latim]] para ''Iesus Hominum Salvator'', que significa "Jesus, Salvador da Humanidade"). O cemitério possui dois níveis, sendo o inferior, esteticamente menos interessante, o principal local de sepultamento de [[judeus]], o que é facilmente identificado pela presença da [[estrela de Davi]] nos túmulos. Também há uma área onde teria ocorrido um sepultamento em massa de marinheiros, mas ela ainda não foi descoberta pelos pesquisadores.<ref name="Camara" /> Acredita-se que até meados do século XIX a estrutura do cemitério era um pouco diferente; teria existido um portal que ligava-o ao outeiro da Igreja de Santo Antônio da Barra.<ref name="bahia-turismo" />
Segundo o jornal ''[[A Tarde]]'', o Cemitério dos Ingleses é um verdadeiro museu a céu aberto, graças às belas esculturas que fazem parte de suas lápides, muitas das quais adornadas com a [[cruz céltica]] e com a inscrição "IHS" ([[latim]] para ''Iesus Hominum Salvator'', que significa "Jesus, Salvador da Humanidade").
 
Segundo o jornal ''[[A Tarde]]'', o Cemitério dos Ingleses é um verdadeiro museu a céu aberto, graças às belas esculturas que fazem parte de suas lápides, muitas das quais adornadas com a [[cruz céltica]] e com a inscrição "IHS" ([[latim]] para ''Iesus Hominum Salvator'', que significa "Jesus, Salvador da Humanidade"). O cemitério possui dois níveis, sendo o inferior, esteticamente menos interessante, o principal local de sepultamento de [[judeus]], o que é facilmente identificado pela presença da [[estrela de Davi]] nos túmulos. Também há uma área onde teria ocorrido um sepultamento em massa de marinheiros, mas ela ainda não foi descoberta pelos pesquisadores.<ref name="Camara" /> Acredita-se que até meados do século XIX a estrutura do cemitério era um pouco diferente; teria existido um portal que ligava-o ao outeiro da Igreja de Santo Antônio da Barra.<ref name="bahia-turismo" />
[[Ficheiro:Cemitério dos Ingleses Salvador Bahia 2019 Tombstone-1378.jpg|miniaturadaimagem|294x294px|Cemiterio dos Ingleses - Lápide em Hebraico]]
Além de judeus, é possível identificar túmulos de estrangeiros que não necessariamente eram anglicanos, como franceses e alemães. Dada a proibição de enterrar protestantes ao lado de católicos, logo pessoas de outras religiões, como [[Luteranismo|luteranos]], começaram a ser enterradas no local também.<ref name="GGSSA" /> A prática durou pelo menos até a inauguração do Cemitério dos Alemães em 1851 e pode ter persistido mesmo após essa data, visto que a resistência dos baianos católicos era maior aos alemães luteranos do que aos ingleses anglicanos.<ref name="JESUS" /> Segundo a historiadora Sabrina Gledhill, "o preconceito era mútuo" e, mesmo que lhes fossem permitido ser enterrados nos cemitérios públicos (o que se tornou permitido em 1889, com a [[Proclamação da República do Brasil|proclamação de uma República laica]]), os protestantes não iriam querer ser sepultados ao lado de católicos.<ref name="Camara" />
 
Seus túmulos são pequenos. Segundo Francisco de Paula Santana de Jesus, os ingleses eram enterrados em covas de 7 palmos de profundidade, sempre adornadas com pequenos mausoléus das mais modestas demonstrações.<ref name="JESUS" /> Isso devia-se ao fato de que, no século XIX os ingleses já haviam superado o culto aos mortos e aos túmulos, até então caros aos católicos.<ref name="JESUS" /> Era necessário então, "fazer desaparecer o corpo, com decência, evidentemente, mas também de modo rápido e completo, graças à [[cremação]]".<ref name="JESUS" />
Além de judeus, é possível identificar túmulos de estrangeiros que não necessariamente eram anglicanos, como franceses e alemães. Dada a proibição de enterrar protestantes ao lado de católicos, logo pessoas de outras religiões, como [[Luteranismo|luteranos]], começaram a ser enterradas no local também.<ref name="GGSSA"/> A prática durou pelo menos até a inauguração do Cemitério dos Alemães em 1851 e pode ter persistido mesmo após essa data, visto que a resistência dos baianos católicos era maior aos alemães luteranos do que aos ingleses anglicanos.<ref name="JESUS" /> Segundo a historiadora Sabrina Gledhill, "o preconceito era mútuo" e, mesmo que lhes fossem permitido ser enterrados nos cemitérios públicos (o que se tornou permitido em 1889, com a [[Proclamação da República do Brasil|proclamação de uma República laica]]), os protestantes não iriam querer ser sepultados ao lado de católicos.<ref name="Camara" />
 
Seus túmulos são pequenos. Segundo Francisco de Paula Santana de Jesus, os ingleses eram enterrados em covas de 7 palmos de profundidade, sempre adornadas com pequenos mausoléus das mais modestas demonstrações.<ref name="JESUS" /> Isso devia-se ao fato de que, no século XIX os ingleses já haviam superado o culto aos mortos e aos túmulos, até então caros aos católicos.<ref name="JESUS" /> Era necessário então, "fazer desaparecer o corpo, com decência, evidentemente, mas também de modo rápido e completo, graças à [[cremação]]".<ref name="JESUS" /> Segundo Elizete da Silva, essa atitude estava ancorada em três concepções que os anglicanos, em sua maioria, possuíam: "que a morte do cristão era uma morte bem-aventurada, pois morriam no Senhor; "que identificava a morte como um sono, um repouso dos fiéis no aguardo da ressurreição eterna"; "que [a morte] se constituía numa passagem, numa partida desta vida para a vida eterna".<ref name="JESUS" /> Isso explicaria a sobriedade dos túmulos presentes no Cemitério dos Ingleses.<ref name="JESUS" />
 
== Sepultados ilustres ==
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* [[Edward Pellew Wilson]], comerciante e fundador da empresa de navegação Wilson & Sons<ref name=bahia-turismo /><ref name="Camara" />
* Jones e Charles Musters, companheiros de [[Charles Darwin]] na [[A Viagem do Beagle|expedição do ''Beagle'']]<ref name=bahia-turismo />
*George Whitehill Chamberlain, fundador do colégio norte-americano que deu origem à Universidade Mackenzie em São Paulo<ref name=":1" />
*Maria Constancia d’Araújo Freitas Ogilvie, primeira mulher a ser sepultada no cemitério, era brasileira e esposa de Thomas Ogilve <ref name=":1" />
 
Alguns ex-cônsules britânicos e estadunidenses também foram sepultados no Cemitério dos Ingleses, assim como membros da comunidade judaica em Salvador.<ref name="bahia-turismo">[http://www.bahia-turismo.com/salvador/barra/cemiterio.htm Cemitério Inglês na Barra]. Bahia Turismo. Página visitada em 7 de março de 2018.</ref>