Mineração no Brasil: diferenças entre revisões

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=== Mineração marinha ===
A nova fronteira da exploração mineral é a [[mineração marinha]]. Em 2015, o Brasil passou a integrar o grupo de vanguarda das pesquisas minerais oceânicas junto à Autoridade Internacional de Fundos Marinhos (ISA).<ref>{{citar livro|url=https://www.marinha.mil.br/sites/default/files/valor-do-mar.pdf|título=O Valor do mar: uma visão integrada dos recursos do oceano do Brasil|ultimo=BEIRÃO; MARQUES; RUSCHEL|editora=Essential Idea Editora Ltda.|ano=2020|local=São Paulo|página=62|isbn=978-65-86394-00-9}}</ref>
 
==Impactos sociais e ambientais==
{{AP|Problemas ambientais do Brasil}}
 
Desde a década de 1990 a mineração de grande escala tem crescido no Brasil e em todo o mundo, mas ao mesmo tempo esse crescimento tem encontrado crescente oposição das populações afetadas pelos seus efeitos negativos na qualidade de vida, sendo registrados inúmeros conflitos violentos.<ref name="Eliane">Araujo, Eliane R. & Fernandes, Francisco R. Chaves. [http://mineralis.cetem.gov.br/bitstream/cetem/1909/1/conflitos_ambientais_cap.2%20p65.pdf "Mineração no Brasil: crescimento econômico e conflitos ambientais"]. In: Guimarães, Paulo Eduardo & Perez, Juan Diego (eds.). ''Conflitos Ambientais na Indústria Mineira e Metalúrgica: o passado e o presente''. Centro de Tecnologia Mineral / Centro de Investigação em Ciência Política, 2016, pp. 65-88</ref><ref>[https://climainfo.org.br/2022/09/13/os-labirintos-da-mineracao-no-brasil-em-tempos-de-crise-ambiental-e-climatica/ "Os labirintos da mineração no Brasil em tempos de crise ambiental e climática"]. ''ClimaInfo'', 13/09/2022</ref> Um amplo estudo publicado em 2014 por pesquisadores do Centro de Tecnologia Mineral, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, analisando 105 áreas mineradores em 22 estados, apontou uma série de problemas sociais e ambientais diretos e indiretos associados a esta atividade.<ref name="Gandra"/> O [[BNDES]] também disse que "as atividades de mineração e metalurgia são, reconhecidamente, de elevado impacto ambiental. No caso da mineração, o enorme tamanho de algumas operações, a quantidade de carga movimentada e os rejeitos gerados têm representado riscos para diversas regiões e populações".<ref name="BNDES">[https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/conhecimento/noticias/noticia/inovacao-tecnologia-mineracao-metais "Desafios da mineração: desenvolvimento e inovação para redução dos impactos ambientais e sociais"]. BNDES, 07/08/2017 </ref>
 
Muitos outros estudos corroboram esses dados. Um dos problemas é o sistema de licenciamento das empresas, considerado inconsistente e pouco fiscalizado, dando margem a abusos e ilegalidade. Isso é agravado com as recorrentes mudanças na legislação para facilitar os licenciamentos e afrouxar as regras de fiscalização e compensação de danos.<ref name="Gandra"/><ref name="Mechi">Mechi, Andréa & Sanches, Djalma Luiz. [https://www.scielo.br/j/ea/a/TNzjZ3HD8K6rCvSSWPtsZgC/?lang=pt "Impactos ambientais da mineração no Estado de São Paulo"]. In: ''Estudos Avançados'', 2010; 24 (68) </ref><ref name="Rezende"/><ref name="Potter"/> Frequentemente os projetos são aprovados sem uma avaliação técnica sólida, e os danos muitas vezes não são compensados ou o são apenas parcialmente.<ref name="Mechi"/><ref name="Rezende"/><ref name="Eliane"/>
 
Outro problema é o uso de água, que em certas modalidades de exploração é muito elevado e dá origem a conflitos para o abastecimento de comunidades do entorno, rebaixando o [[lençol freático]], alterando o regime hidrológico da bacia e comprometendo a recarga dos aquíferos. A maioria das minerações no Brasil faz uso ou tem como subproduto substâncias tóxicas como detergentes, óleos, graxas, sais, ácidos ou [[metais pesados]], que poluem os rios e o solo, ameaçando espécies e provocando doenças na população pela água de consumo doméstico contaminada.<ref name="Gandra"/><ref name="Milanez"/><ref name="Mechi"/><ref name="Rezende"/><ref name="Eliane"/> A água rejeitada também pode conter sólidos suspensos, que podem causar aumento de sua turbidez e mudança de sua cor e [[assoreamento]] dos rios onde é despejada.<ref name="Rezende"/>
[[Ficheiro:-2019-01-30- Brumadinho 008 Romerito Pontes (47012578712).jpg|thumb|left|Rio Paraopeba contaminado com os rejeitos de Brumadinho]]
[[File:Rompimento de Barragem em Mariana (MG) 2015.jpg|thumb|left|Distrito de Bento Rodrigues destruído no desastre de Mariana]]
 
Existem sistemas de contenção de rejeitos e águas contaminadas, mas eles nem sempre funcionam adequadamente. Entre os casos mais noticiados estão os rompimentos das barragens [[rompimento de barragem em Mariana|de Mariana]] em 2015 e [[Rompimento de barragem em Brumadinho|de Brumadinho]] em 2019, que causaram muitas mortes e desestruturaram comunidades.<ref name="Freitas">Freitas, Carlos Machado de et al. [https://www.scielo.br/j/csp/a/5p9ZRBrGkftrmtPBtSLcs9j/ "Da Samarco em Mariana à Vale em Brumadinho: desastres em barragens de mineração e Saúde Coletiva"]. In: ''Cadernos de Saúde Pública'', 2019; 35 (5)</ref> O desastre de Brumadinho despejou mais de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos na bacia do [[rio Paraopeba]], afetou 18 municípios, e mais de 600 mil pessoas tiveram o abastecimento de água comprometido,<ref>[https://www.andes.org.br/conteudos/noticia/tres-anos-apos-o-rompimento-da-barragem-de-brumadinho-mG-atingidos-ainda-cobram-justica1 "Três anos após o rompimento da barragem de Brumadinho (MG), atingidos ainda cobram justiça"]. Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, 25/01/2022</ref><ref>Rodrigues, Sabrina. [https://oeco.org.br/noticias/rompimento-da-barragem-de-brumadinho-e-a-primeira-grande-tragedia-ambiental-do-ano/ "Retrospectiva: Rompimento da barragem de Brumadinho foi a primeira grande tragédia ambiental do ano"]. ''O Eco'', 16/12/2019</ref> e o de Mariana afetou 36 municípios, desencadeou um surto de várias doenças, arruinou o [[ecossistema]] do [[Rio Doce]] com 34 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos, além de destruir 1.469 hectares de Áreas de Preservação Permanente.<ref name="Freitas"/><ref>[http://www.ibama.gov.br/recuperacao-ambiental/rompimento-da-barragem-de-fundao-desastre-da-samarco/documentos-relacionados-ao-desastre-da-samarco-em-mariana-mg "Rompimento da Barragem de Fundão: Documentos relacionados ao desastre da Samarco em Mariana/MG"]. IBAMA, 16/03/2016</ref> Seis anos depois a população local ainda estava à espera de compensação pelos danos. Nesta altura 85 mil ações judiciais sobre o caso estavam em tramitação.<ref>Almeida, Enaile. [https://ufmg.br/comunicacao/noticias/seis-anos-apos-rompimento-de-barragem-da-samarco-populacao-de-mariana-ainda-aguarda-reparacao "Seis anos após rompimento de barragem da Samarco, população de Mariana ainda aguarda reparação"]. ''Notícias UFMG'', 05/11/2021</ref> Apenas no estado de Minas Gerais entre 1986 e 2015 ocorreram oito rompimentos de barragens.<ref name="Milanez"/> No Brasil existem mais de 760 barragens de mineração,<ref name="Freitas"/> e segundo Malu Ribeiro, coordenadora da fundação [[SOS Mata Atlântica]], cerca de 230 barragens representam risco socioambiental. "É uma bomba-relógio".<ref>"Turquia oferece condolências ao Brasil devido ao colapso da barragem". ''Agência Anadolu'', 27/01/2019</ref> Segundo Freitas et al., "desastres nas atividades de mineração, seus impactos socioambientais e efeitos sobre a saúde não constituem excepcionalidade, mas fazem parte dos custos ambientais e sociais [[Externalidades|externalizados]] (que ficam nos territórios e para as pessoas que vivem nos mesmos) para a venda de ''[[commodities]]'' pelo menor preço no mercado global e lucros maiores dos acionistas no mercado financeiro".<ref name="Freitas"/>
[[File:Itabira MG Brasil - Mineração da Vale - panoramio.jpg|thumb|Mineração a céu aberto em Itabira, Minas Gerais, evidenciando a extensa transformação da paisagem]]
 
A [[mineração a céu aberto]], o modelo mais comum no Brasil, provoca grandes transformações na paisagem pela remoção da terra, demolindo morros inteiros e abrindo vastas crateras, pois a concentração dos minérios no solo tipicamente é baixa e por isso é necessário a remoção de imensas quantidades de solo para obter quantidades economicamente viáveis de minerais.<ref name="Milanez">Milanez, Bruno. [https://www.ufjf.br/poemas/files/2014/07/Milanez-2017-Minera%C3%A7%C3%A3o-ambiente-e-sociedade.pdf "Mineração, ambiente e sociedade: impactos complexos e simplificação da legislação"]. In: ''Boletim Regional, Urbano e Ambiental'', 2017 (16): 93-101 </ref> A alteração da área minerada também desencadeia significativo [[desmatamento no Brasil|desmatamento]] e perda de [[biodiversidade]].<ref name="Gandra"/><ref name="Milanez"/> Por mais bem realizada tecnicamente que seja esse tipo de exploração, os danos são inevitáveis devido à desfiguração em larga escala da paisagem.<ref name="Milanez"/><ref name="Rezende"/> Em diversos casos isso impactou áreas urbanas próximas, obrigando à remoção de vilas inteiras, como ocorreu em Congonhas e Itabira.<ref name="Milanez"/> Não apenas a mina em si é o problema, pois a operação envolve a construção de outras infraestruturas de apoio, como estradas de acesso e vilas para os trabalhadores.<ref name="Eliane"/>
[[Ficheiro:Carajas Mine.jpg|thumb|Vista de satélite de uma mina de ferro em Carajás, julho de 2009. A foto mostra uma área de cerca de 40 km<sup>2</sup> ]]
 
A infraestrutura das regiões mineradoras também muitas vezes é afetada negativamente com um inchaço súbito das cidades do entorno, que não conseguem acompanhar as necessidades de uma população atraída pela perspectiva de trabalho ou de enriquecimento fácil, aumentando os índices de prostituição, pobreza e violência e piorando serviços básicos como saneamento e habitação. [[Eldorado do Carajás]], município nascido em função do [[Projeto Grande Carajás]], o maior empreendimento minerador do país, é um exemplo clássico, tendo aumentado sua população em 300% em dez anos e apresentando baixos indicadores sociais.<ref name="Gandra"/> Segundo Cândido Grzybowski, diretor do [[Ibase]], o projeto, que hoje está privatizado, seguiu a lógica da [[acumulação de capital]] contra os interesses da população local e seu território, deixando um legado de poluição, destruição ambiental e pobreza: "A extração de minério produz uma valiosa ''commodity'' para investidores de fora, nada ou quase nada de útil para a população local".<ref>Grzybowski, Cândido. [https://www.ufjf.br/poemas/files/2014/07/Coelho-2014-Projeto-Grande-Caraj%C3%A1s.pdf "Apresentação"]. In: Coelho, Tádzio Peters. ''Projeto Grade Carajás: Trinta anos de desenvolvimento frustrado''. Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, 2014, p. 9</ref> Outro exemplo é Itaituba, que antes da exploração do ouro tinha cerca de dois mil habitantes, mas em dez anos atingiu a marca de cem mil e ficou repleta de prostíbulos.<ref name="IMAZON"/> Em [[Serra Pelada]], o maior [[garimpo]] a céu aberto do mundo na década de 1980, onde de oitenta a cem mil trabalhadores abriram uma cratera de 180 metros de profundidade, os problemas estruturais foram os mesmos. Tanto em Serra Pelada como em Carajás ocorreram diversos conflitos violentos, incluindo massacres de trabalhadores pela polícia.<ref name="Observatório"/><ref>[https://radios.ebc.com.br/revista-brasil/2022/08/saiba-qual-e-o-atual-retrato-de-serra-pelada "Saiba qual é o atual retrato de Serra Pelada"]. ''Revista Brasil'', 19/08/2022</ref><ref>Coelho, Tádzio Peters. [https://www.ufjf.br/poemas/files/2014/07/Coelho-2014-Projeto-Grande-Caraj%C3%A1s.pdf ''Projeto Grade Carajás: Trinta anos de desenvolvimento frustrado'']. Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, 2014, pp. 37-41</ref> Outros problemas para cidades localizadas próximas de minas são a desvalorização dos imóveis e o barulho e trepidação provocados por explosões e pelo contínuo trânsito de veículos pesados, que causam desconforto nas pessoas, rachaduras em edificações e estresse em animais de criação. A [[poluição do ar]] também afetas as comunidades pela poeira originada na lavra, beneficiamento e transporte, ou por gases emitidos da queima de combustível.<ref name="Mechi"/><ref name="Rezende">Rezende, Vanessa Leite. [https://www.scielo.br/j/sn/a/t88hDp8F66Rpt5FjQBDQFdn/ "A mineração em Minas Gerais: uma análise de sua expansão e os impactos ambientais e sociais causados por décadas de exploração"]. In: ''Sociedade & Natureza'', 2016; 28 (3) </ref><ref name="Eliane"/> Estudos mostram que a poluição do ar derivada de minas está associada a aumento na incidência de doenças respiratórias entre crianças e adolescentes e doenças cardiovasculares entre adultos.<ref name="Rezende"/>
 
Para Tádzio Coelho, "a mineração, quando envolvida pela ideologia do [[livre mercado]], não apenas mantém as estruturas [[subdesenvolvimento|subdesenvolvidas]] como as reproduz. Isso facilita a criação de circuitos econômicos exclusivos e, por isso, excludentes das populações locais, principalmente de grupos de baixa renda e minorias étnicas".<ref>Coelho, p. 31</ref> Segundo Hariessa Villas Bôas, um estudo em dez cidades mineradoras nordestinas mostrou que, ao contrário do que se poderia esperar (um [[PIB]] em expansão e investimentos em educação e saúde), elas apresentam "grande carência, grande subdesenvolvimento, bem longe de um almejado bem-estar e de um bom padrão de desenvolvimento humano. Também o nível de retorno da atividade mineral para cada Município [...] está muito longe de um padrão de justiça socioambiental".<ref>Villas Bôas, Hariessa Cristina. [http://mineralis.cetem.gov.br/bitstream/cetem/470/1/industria-extrativa-transicao-sustentavel.pdf ''A indústria extrativa mineral e a transição para o desenvolvimento sustentável'']. CETEM/MCT/CNPq, 2011, p. 21</ref> Mesmo quando as cidades aumentam sua arrecadação, diz Coelho que as formas de vida e cultura do local são radicalmente transformadas, os trabalhadores da mina tipicamente são superexplorados, a [[distribuição de renda]] é muito desigual entre as diferentes camadas e grupos da população, os grupos mais pobres são desproporcionalmente penalizados pelos prejuízos sociais e ambientais, a absorção dos benefícios técnicos é pequena, e a maior parte dos lucros gerados pela mineração não é investida nos municípios.<ref>Coelho, pp. 68-76</ref>
[[File:Terra Indígena Kayapó, Pará (41216118620).jpg|thumb|left|Mineração ilegal na Terra Indígena Kayapó, Pará, 2017]]
 
Também opera no Brasil uma grande quantidade de [[garimpo]]s ilegais, que invadem [[terras indígenas do Brasil|terras indígenas]], [[quilombo]]s e reservas naturais protegidas, causando muitos estragos, além de frequentemente causarem disputas em conflitos violentos.<ref name="Gandra">Gandra, Alana. [https://agenciabrasil.ebc.com.br/pesquisa-e-inovacao/noticia/2014-12/estudo-do-cetem-confirma-impactos-da-mineracao-no-pais "Estudo confirma impactos da mineração no país"]. ''Agência Brasil'', 22/12/2014</ref><ref name="Eliane"/> Os garimpeiros usualmente dispõem de armas, o poder público tem sido muito ineficiente no controle da atividade ilegal, e as populações residentes não têm capacidade de combater os invasores sem risco de vida. O contato com os invasores também pode disseminar doenças e interferir nas culturas tradicionais.<ref name="Geiser"/><ref name="IMAZON"/><ref name="CIMI"/><ref name="Damasio"/> Segundo o sub-procurador geral da República, [[Mario Luiz Bonsaglia]], "é notória a existência de inúmeros garimpos em terras indígenas, sem que o Estado venha ser eficaz na erradicação. [...] Há aspectos criminais sérios. Além da questão ambiental e da violação dos direitos indígenas, nós temos crimes graves sendo perpetrados – organização criminosa, evasão de divisas".<ref name="Damasio"/>
[[File:Terra Indígena Tenharim do Igarapé Preto, Amazonas (40652686920).jpg|thumb|Paisagem extensamente alterada e rio poluído por garimpo ilegal na Terra Indígena Tenharim do Igarapé Preto, Amazonas, 2018]]
 
De 2017 a 2020 o desmatamento fruto de mineração ilegal cresceu 90% em relação ao período anterior.<ref>[https://jornal.usp.br/ciencias/pesquisa-premiada-mostra-o-impacto-da-mineracao-em-terras-indigenas/ "Pesquisa premiada mostra o impacto da mineração em terras indígenas"]. ''Jornal da USP'', 29/03/2022</ref> Na Terra Indígena Roosevelt havia cerca de dois mil garimpeiros em atividade em 2001, e no ano seguinte esse número dobrou. Em 2005 na [[Terra Indígena Raposa Serra do Sol]] havia 26 áreas ativas de garimpo ilegal.<ref name="Eliane"/> Em 2021 mais de 16 mil indígenas da [[Terra Indígena Yanomami]] estavam sendo afetados pelo garimpo. De 2016 a 2020 o garimpo na Terra Yanomami cresceu 3.350%.<ref name="CIMI"/> O garimpo procura principalmente ouro e pedras preciosas, e por regra não tem nenhum planejamento, fiscalização ou manejo de rejeitos. As populações ribeirinhas e indígenas nos anos recentes vêm apresentando níveis de contaminação por mercúrio (usado no garimpo do ouro) muito acima do tolerável, um dos principais problemas associados ao garimpo.<ref name="Geiser">Geiser, Gustavo. [https://oeco.org.br/colunas/mineracao-de-pequena-escala-impacto-ambiental-de-grande-escala/ "Mineração de pequena escala, impacto ambiental de grande escala"]. In: ''Revista Perícia Federal'', 2019; XV (44): 18-23</ref> Um estudo do [[Imazon]] mostrou que através do garimpo "a morfologia dos rios pode ser gravemente alterada pela escavação de trincheiras e labirintos. Os sítios abandonados assemelham-se a paisagens lunares. [...] Há uma estimativa de que para cada 1 kg de ouro produzido, 1,3 kg de mercúrio é emitido para o ambiente". Os garimpeiros usualmente conseguem reunir algum capital, e dois terços dele são gastos nas cidades do entorno com bebidas alcoólicas e prostitutas. Boa parte do ouro obtido não entra no mercado regular e é contrabandeado.<ref name="IMAZON">[https://imazon.org.br/impactos-da-garimpagem-de-ouro-na-amazonia-n-2/ "Impactos da Garimpagem de Ouro na Amazônia (n° 2)"]. IMAZON — Série Amazônia, 02/07/2013 </ref>
 
Segundo a líder indígena Milena Mura, "a mineração em terras indígenas é um [[Genocídio dos povos indígenas no Brasil|genocídio para nós]], porque nos afeta diretamente, trazendo impactos ambientais, sociais, pesando em nossas tradições, nossa cultura e nossos costumes".<ref name="CIMI">[https://cimi.org.br/2022/04/a-mineracao-em-terras-indigenas-e-um-genocidio-para-nos-afirma-lideranca-indigena-em-forum-permanente-da-onu-sobre-questoes-indigenas/ "A mineração em terras indígenas é um genocídio para nós, afirma liderança indígena em Fórum Permanente da ONU sobre questões indígenas"]. ''Notícias CIMI'', 27/04/2022</ref> Para o advogado indígena Tito Menezes, "o garimpo é uma sentença de morte para o índio. Com o garimpo vem a pressão populacional, e isso traz violência, alcoolismo e uma série de outros problemas".<ref name="Potter"/> Há uma grande pressão para que seja liberada a mineração nas terras indígenas, sendo propostos vários projetos legislativos. Até dezembro de 2019 a Agência Nacional de Mineração registrou cerca de 4 mil requerimentos para exploração dentro de terras indígenas da Amazônia.<ref name="Potter">Potter, Hyury & Hofmeister, Naira. [https://www.dw.com/pt-br/minera%C3%A7%C3%A3o-em-terras-ind%C3%ADgenas-pode-causar-preju%C3%ADzo-anual-de-us-5-bi-diz-estudo/a-55051409 "Mineração em terras indígenas pode causar perdas bilionárias"]. ''Deutsche Welle'', 25/09/2020</ref><ref name="Damasio">Damasio, Kevin. [https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2019/11/entenda-polemica-em-torno-da-mineracao-em-terras-indigenas "Entenda a polêmica em torno da mineração em terras indígenas"]. ''National Geographic Brasil'', 05/11/2020</ref><ref>[https://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/mpf-reafirma-inconstitucionalidade-de-mineracao-em-terras-indigenas "MPF reafirma inconstitucionalidade de mineração em terras indígenas"]. Procuradoria-Geral da República, 24/06/2021</ref>
 
Outras formas de mineração que causam muitos danos são a extração de areia em leito de rio, de areia e de argila em áreas de várzea ou nas margens de rios, e de pedras usadas na construção civil em topos de morro ou encostas íngremes.<ref name="Mechi"/> Não menos relevantes são os danos ambientais nascidos ao longo da cadeia de transformação industrial dos minérios. Em geral a transformação dos minérios metálicos emite grandes quantidades de [[gás carbônico]], um dos principais [[gases do efeito estufa]], que causam o [[aquecimento global]]. O setor metalúrgico, segundo dados do BNDES, é um dos maiores emissores industriais de gases estufa,<ref name="BNDES"/> contribuindo para que o Brasil seja atualmente o quarto maior emissor global desses gases, tendo produzido desde 1850 cerca de 100 bilhões de toneladas.<ref name="Passarinho">Passarinho, Nathalia. [https://www.bbc.com/portuguese/geral-59065359 "Brasil é 4º no mundo em ranking de emissão de gases poluentes desde 1850"]. ''BBC'', 27/10/2021 </ref>
 
Para Palheta et al., "a expansão do mercado de minérios por parte do capital privado nacional e internacional, não vem sendo acompanhado como deveria ser pelo Estado brasileiro, preparando as suas sociedades para serem atores de suas próprias histórias, entregando a sorte dos locais nas mãos do capital, principalmente o internacional, sem nenhum compromisso com as localidades e com Estado brasileiro. [...] A mineração, embora pese na balança comercial brasileira, contribuindo significativamente na economia, ainda está longe de ser uma economia de justiça social nos locais onde ocorre a exploração mineral".<ref>Palheta, João Marcio et al. [https://ppg.revistas.uema.br/index.php/cienciageografica/article/view/2927 "Impactos territoriais do Plano Nacional da Mineração do Brasil"]. In: ''Ciência Geográfica'', 2022; 26 (2)</ref> Na análise de Maurício Angelo, do Observatório da Mineração, a história da mineração no Brasil é marcada por "um genocídio estrutural e [[ecocídio]] permanente. Há um lastro sem fim de violações de direitos humanos e crimes socioambientais. Há a desigualdade violentíssima, milícias de latifundiários, [...] perseguição, ameaças e assassinatos de trabalhadores rurais, políticos que são parte da engrenagem, lobistas, impunidade desenfreada".<ref name="Observatório">[https://observatoriodamineracao.com.br/serra-pelada-e-carajas-dois-massacres-que-ajudam-a-contar-a-historia-da-mineracao-no-brasil/ "Serra Pelada e Carajás: dois massacres que ajudam a contar a história da mineração no Brasil"]. Observatório da Mineração, 15/05/2021</ref>
 
== Ver também ==