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A [[hipótese de ergodicidade]] é um princípio fundamental na [[teoria ergódica]] que afirma que, em certos sistemas dinâmicos, a média temporal de uma função ao longo das trajetórias é igual à média espacial da função. Em outras palavras, a hipótese afirma que, para certos sistemas dinâmicos, a média temporal de uma função é igual à média espacial da função, independentemente do ponto inicial. A hipótese de ergodicidade tem implicações importantes para a física e a matemática, e é um exemplo de como a teoria matemática pode ser usada para entender o comportamento de sistemas complexos.
<ref>{{Citar periódico|titulo=Teoria Ergótica UFAL|url=https://im.ufal.br/pt-br/pos-graduacao/matematica/doutorado/disciplinas-1/matd31-teoria-ergodica}}</ref>
 
== Friedrich Nietzsche ==
[[File:Friederich_Nietzsche.jpg|ligação=https://en.wikipedia.org/wiki/File:Friederich_Nietzsche.jpg|alt=|esquerda|miniaturadaimagem|[[Friedrich Nietzsche]] por [[Edvard Munch]]]]
Mais tarde, [[Friedrich Nietzsche]] também define esse conceito em sua obra. em alemão o termo é ''Ewige Wiederkunft''. A "eterna recorrência" é central nos escritos de [[Friedrich Nietzsche]].<ref>{{Citar web|url=http://myweb.lmu.build/|titulo=LMU Build|obra=myweb.lmu.build}}</ref> Como [[Martin Heidegger|Heidegger]] aponta em suas palestras sobre Nietzsche, a primeira menção de Nietzsche à recorrência eterna, no aforismo 341 de [[A Gaia Ciência]] (citado abaixo), apresenta esse conceito como uma [[Experimento mental|questão hipotética]], em vez de postulá-lo como um fato. Segundo Heidegger, é o ônus imposto pela questão da recorrência eterna - se uma tal coisa pode ou não ser verdade - que é tão significativo no pensamento moderno: "A maneira como Nietzsche aqui padroniza a primeira comunicação do pensamento do 'maior fardo' [da recorrência eterna] deixa claro que esse 'pensamento dos pensamentos' é ao mesmo tempo 'o pensamento mais oneroso'."<ref>See Heidegger ''Nietzsche. Volume II: The Eternal Recurrence of the Same'' trans. [[David Farrell Krell]]. New York: Harper and Row, 1984. 25.</ref>
 
O pensamento de recorrência eterna aparece em algumas de suas obras, em particular nos parágrafos 285 e 341 da ''A Gaia Ciência'' e depois em ''[[Assim Falou Zaratustra]]''. O tratamento mais completo do assunto aparece na obra intitulada ''Notes on the Eternal Recurrence'', uma obra publicada em 2007, ao lado da versão do eterno retorno de [[Søren Kierkegaard]], que ele chama de "repetição". Nietzsche resume seu pensamento de maneira mais sucinta quando se dirige ao leitor com: "Tudo tem retornado. Sírius, e a aranha, e teus pensamentos neste momento, e este último pensamento teu, de que todas as coisas retornarão". No entanto, ele também expressa seu pensamento mais detalhadamente quando diz ao leitor: {{quote|"Quem quer que tu sejas, amado estranho, a quem eu encontro aqui pela primeira vez, aproveita esta hora feliz e a quietude que nos rodeia e acima de nós, e deixa-me dizer-te algo do pensamento que subitamente surgiu diante de mim como uma estrela que fracamente lançaria raios sobre ti e sobre cada um, como convém à natureza da luz. – Companheiro! Toda a sua vida, como uma ampulheta, sempre será revertida e se esgotará novamente - um longo minuto transcorrerá até que todas as condições das quais você evoluiu retornem na roda do processo cósmico. E então você encontrará toda dor e todo prazer, todo amigo e todo inimigo, toda esperança e todo erro, toda folha de grama e todo raio de sol mais uma vez, e todo o tecido das coisas que compõem sua vida. Esse anel em que você é apenas um grão brilhará novamente para sempre. E em todos esses ciclos da vida humana, haverá uma hora em que, pela primeira vez, um homem, e então muitos, perceberão o poderoso pensamento da eterna recorrência de todas as coisas: – e para a humanidade, essa é sempre a hora do Meio-dia".<ref>''Notes on the Eternal Recurrence'' – Vol. 16 of Oscar Levy Edition of Nietzsche's Complete Works (in English)</ref> }}Esse pensamento também é observado em um fragmento póstumo.<ref>1881 (11 [143])</ref> A origem dele é datada pelo próprio Nietzsche, através de fragmentos póstumos, a agosto de 1881, em [[Sils im Engadin/Segl|Sils-Maria]]. Em ''[[Ecce homo (livro)|Ecce Homo]]'' (1888), ele escreveu que pensava no eterno retorno como a "concepção fundamental" de ''Assim Falou Zaratustra''.<ref>Nietzsche, [[Ecce Homo (book)|Ecce Homo]], "Why I Write Such Good Books", "Thus Spoke Zarathustra", §1</ref>
[[Ficheiro:Am_Stein_der_Ewigen_Wiederkunft.JPG|miniaturadaimagem|Cena da inspiração de Nietzsche: "junto a um bloco maciço, piramidalmente empilhado, não muito longe de [[ Surlej|Surlei]]". ]]
Vários autores apontaram outras ocorrências dessa hipótese no pensamento contemporâneo. [[Rudolf Steiner]], que revisou o primeiro catálogo da biblioteca pessoal de Nietzsche em janeiro de 1896, apontou que Nietzsche teria lido algo semelhante nos ''Cursos de filosofia de'' [[Karl Eugen Dühring|Eugen Dühring]] (1875), que Nietzsche prontamente criticou. [[Lou Andreas-Salomé]] apontou que Nietzsche se referia a antigas concepções cíclicas do tempo, em particular pelos [[Escola pitagórica|pitagóricos]], nas ''Meditações Inoportunas''. [[Henri Lichtenberger]] e [[Charles Andler]] identificaram três obras contemporâneas de Nietzsche que sustentavam a mesma hipótese: J. G. Vogt, ''Die Kraft.'' ''Eine real-monistische Weltanschauung'' (1878), [[Louis Auguste Blanqui|Auguste Blanqui]], ''L'Eternité par les astres''<ref>{{Citar web|url=http://classiques.uqac.ca/classiques/blanqui_louis_auguste/eternite_par_les_astres/eternite_.html|titulo=Louis-Auguste Blanqui, (1805-1881), L'éternité par les astres. (1872)|último =Tremblay|obra=texte|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=Jean-Marie}}</ref> (1872) e [[Gustave Le Bon]], ''L'homme et les sociétés'' (1881). [[Walter Benjamin]] justapõe a discussão de Blanqui e Nietzsche sobre a eterna recorrência em sua obra inacabada e monumental ''[[ O Projeto Arcades|The Arcades Project]]''.<ref>[[Walter Benjamin]]. ''The Arcades Project''. Trans. Howard Eiland and Kevin McLaughlin. Cambridge: Belknap-Harvard, 2002. See chapter D, "Boredom Eternal Return," pp. 101-119.</ref> No entanto, Gustave Le Bon não é citado em nenhum lugar dos manuscritos de Nietzsche; e Auguste Blanqui foi nomeado apenas em 1883. O trabalho de Vogt, por outro lado, foi lido por Nietzsche durante o verão de 1881 em Sils-Maria.<ref>{{Citar web|url=http://www.item.ens.fr/nietzsche/bn.html|titulo=La bibliothèque de Nietzsche}} and {{Citar web|url=http://www.item.ens.fr/nietzsche/bn/catalogues.html|titulo=revision of previous catalogues|arquivourl=https://web.archive.org/web/20061116050211/http://www.item.ens.fr/nietzsche/bn/catalogues.html|arquivodata=2006-11-16}} on the [[Escola Normal Superior de Paris|École Normale Supérieure]]'s website</ref> Blanqui é mencionado por [[Friedrich Albert Lange|Albert Lange]] em seu ''[[Geschichte des Materialismus]]'' (História do Materialismo), um livro lido minuciosamente por Nietzsche.<ref name="Fouillee">Alfred Fouillée, [http://fr.wikisource.org/wiki/Note_sur_Nietzsche_et_Lange_:_%C2%AB_le_retour_%C3%A9ternel_%C2%BB "Note sur Nietzsche et Lange: le "retour éternel"], in ''Revue philosophique de la France et de l'étranger''. An. 34. Paris 1909. T. 67, S. 519-525 {{fr}}</ref> A eterna recorrência também é mencionada de passagem pelo Diabo na Parte Quatro, Livro XI, Capítulo 9 de ''[[Os Irmãos Karamazov]]'', de ''[[Os Irmãos Karamazov|Dostoiévski]]'', que é outra fonte possível à qual Nietzsche pode ter recorrido.
 
[[Walter Kaufmann]] sugere que Nietzsche pode ter encontrado essa ideia nos trabalhos de [[Heinrich Heine]], que escreveu uma vez:{{quote|O tempo é infinito, mas as coisas no tempo, os corpos concretos, são finitas. Elas podem de fato se dispersar nas menores partículas; mas essas partículas, os átomos, têm seus números determinados, e também é determinado o número das configurações que são formadas a partir delas. Agora, por mais que o tempo possa passar, de acordo com as leis eternas que governam as combinações desse jogo eterno de repetição, todas as configurações que existiam anteriormente nesta terra devem ainda se encontrar, atrair, repelir, beijar e corromper novamente...<ref>Kaufmann, Walter. ''Nietzsche; Philosopher, Psychologist, Antichrist.'' 1959, page 376.</ref> }}Nietzsche chama a ideia de "horrível e paralisante", referindo-se a ela como um fardo do "peso mais pesado" ("''das schwerste Gewicht''")<ref>Kundera, Milan. ''The Unbearable Lightness of Being''. 1999, page 5.</ref> imaginável. Ele professa que o desejo pelo eterno retorno de todos os eventos marcaria a afirmação final da vida, como na síntese encontrada em [[A Gaia Ciência]]:{{quote|E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela? [A Gaia Ciência, §341]}}Para compreender a eterna recorrência em seu pensamento, e não apenas ter paz com ela, mas abraçá-la, requer ''[[amor fati]]'', "amor ao destino":<ref name="dudl">Dudley, Will. ''Hegel, Nietzsche, and Philosophy: Thinking Freedom''. 2002, page 201.</ref> {{quote|Minha fórmula para a grandeza humana é ''amor fati'': que alguém não queira ter nada diferente, nem para a frente, nem para trás, nem para toda a eternidade. Não meramente suportar o necessário, muito menos escondê-lo - todo idealismo é uma mentira ante o necessário - mas ''amá-''lo.<ref name="dudl" />}}Laurent e Selous identificam no pensamento de Nietzsche as influências do conceito entre os persas e gregos antigos, relacionado a um círculo temporal de algumas interpretações tradicionais em que Zaratustra ou Dionísio, como primeiro profeta/deus, fariam retorno escatológico ao final - como na analogia do retorno de Zaratustra em ''Assim Falou Zaratustra'', mas que para Nietzsche não ocorre essa completude de um objetivo final de todas as coisas.{{Sfn|Laurent|Selous|2015|pp=85-87}}
 
Nietzsche também o relaciona ao problema grego do [[Um (filosofia)|Um]] e do múltiplo, e a questão do [[voluntarismo]] e da [[Fenomenologia (psicologia)|fenomenologia psicológica]] no [[idealismo alemão]], como no trecho em que Nietzsche o associa à [[vontade de potência]]:{{quote|"sem início, sem fim, uma firme, brônzea grandeza de força, que não se torna maior, nem menor, que não se consome, mas apenas se transmuda, inalteravelmente grande em seu todo, uma economia sem despesas e perdas, mas também sem acréscimo, ou rendimentos, cercada de "nada" como de seu limite, nada de evanescente, de desperdiçado, nada de infinitamente extenso, mas como força determinada posta em um determinado espaço, e não em um espaço que em alguma parte estivesse "vazio", mas antes como força por toda parte, como jogo de forças e ondas de força ao mesmo tempo um e múltiplo, aqui acumulando-se e ao mesmo tempo ali minguando, um mar de forças tempestuando e ondulando em si próprias, eternamente mudando, eternamente recorrentes, com descomunais atos de retorno, com uma vazante e enchente de suas configurações, partindo das mais simples às mais múltiplas ... e depois outra vez voltando da plenitude ao simples, do jogo de contradições de volta ao prazer da consonância, afirmando a si próprio, nessa igualdade de suas trilhas e anos, abençoando a si próprio como Aquilo que eternamente tem de retornar, como um vir-a-ser que não conhece nenhuma saciedade, nenhum fastio, nenhum cansaço."<ref>Edição crítica alemã dos fragmentos póstumos de Nietzsche. KS 11, 38(12), 610-611. Tradução por R. R. Torres Filho.</ref>
<br/><br/>"esse meu mundo dionisíaco do eternamente-criar-a-si-próprio, que eternamente destrói a si próprio, esse mundo secreto da dupla volúpia, esse meu "para além de bem e mal", sem alvo, a menos que um alvo esteja no prazer do círculo, sem vontade, a menos que um anel esteja cheio de vontade para seguir seu próprio velho curso antigo, para sempre em torno de si e somente em torno de si: esse é o meu mundo - quem é suficientemente claro para olhá-lo sem desejar cegueira? Forte o suficiente para manter sua alma contra esse espelho? Seu próprio espelho frente ao espelho de Dionísio? Sua própria solução para o enigma de Dionísio? E aquele que fosse capaz de fazer isso, não precisaria fazer mais ainda? Se comprometer com o "Anel dos Anéis"? Com o voto de sua própria recorrência? Com o anel da eterna auto-bênção, auto-afirmação? Com vontade de querer tudo de novo e de novo? Querer voltar todas as coisas que já foram? Querer adiante tudo o que deverá ser sempre? Sabe você agora, o que o mundo é para mim? E o que eu desejo, quando eu desejo este mundo?"<ref>Nieztsche (1901). Vontade de Poder. In ''The Will to Power'', II, 385. tradução de Arthur Harold John Knight (1933). "This, my Dyonisiac world which eternally creates itself, eternally destroys itself, this mystery-world of doubled desires, this my "Beyond good and evil", without goal, unless a goal lies in the pleasure of the circle, without will, unless a ring is full of will to turn on its own old course for ever around itself and only around itself: this my world - who is clear enough to look at it without wishing himself blindness? Strong enough, to hold his soul up to this mirror? His own mirror to the mirror of Dionysus? His own solution to the riddle of Dionysus? And he who should be able to do this, would he not then have to do still more? Betroth himself to the "Ring of Rings"? With the vow of his own recurrence? With the ring of eternal self-blessing, self-asseveration? With the will to will it all again and yet again? To will back all things which have ever been? To will forwards to everything which must ever be? Know ye now, what the world is for me? And what I desire, when I - desire this world?". Citado em Laurent, Régis; Selous, Trista (2015). ''[https://books.google.com.br/books?id=K1HhCgAAQBAJ&pg=PA87 An Introduction to Aristotle's Metaphysics of Time: Historical research into the mythological and astronomical conceptions that preceded Aristotle’s philosophy]'' (em inglês). Villegagnons-plaisance Ed. [[International Standard Book Number|ISBN]]&nbsp;[[Especial:Fontes de livros/978-2-9533846-1-1|978-2-9533846-1-1]]. p. 87.</ref>}}No seminário de [[Carl Jung]] sobre ''[[Assim Falou Zaratustra]]'', Jung considera o anel do Eterno Retorno descrito por Nietzsche como um símbolo psíquico, significando a [[individuação]] no processo que rodeia o [[Self na psicologia junguiana|Self]].<ref name=":02">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=vPqlDwAAQBAJ&pg=PA178&lpg=PA178|título=Jung's Nietzsche: Zarathustra, The Red Book, and "Visionary" Works|ultimo=Domenici|primeiro=Gaia|data=2019|editora=Springer|ano=|local=|páginas=|lingua=en|isbn=978-3-030-17670-9|acessodata=}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=sk7Av8XowCAC&pg=PA341|título=The Dionysian Self: C.G. Jung's Reception of Friedrich Nietzsche|ultimo=Bishop|primeiro=Paul|data=2010-11-05|editora=Walter de Gruyter|lingua=en|isbn=978-3-11-081170-4}}</ref> Ele afirma que no livro de Nietzsche o anão declara a ideia do eterno retorno antes que Zaratustra termine seu argumento sobre ele quando o anão diz: "'Tudo permanece reto', murmurou o anão com desdém. 'Toda verdade é torta, o próprio tempo é um círculo.'" No entanto, Zaratustra rejeita o anão no parágrafo seguinte, alertando-o contra simplificações excessivas.<ref>Gildersleeve, M. (2015). The Gay Science and the Rosarium Philosophorum. Agathos, 6(2), 37.</ref> Jung interpreta esse conceito como uma tentativa de conferir significado profundo à temporalidade e responsabilidade nas ações, dando peso à decisão, que passa a ser considerada como escolhida para sempre e eternamente realizada inúmeras vezes.<ref name=":02" />
 
== Albert Camus ==
O filósofo e escritor [[Albert Camus]] explora a noção de "eterno retorno" em seu ensaio "[[O Mito de Sísifo]]", no qual a natureza repetitiva da existência representa o absurdo da vida, algo que o herói procura suportar ao manifestar o que [[Paul Tillich]] chamou "A Coragem de Ser". Embora a tarefa de rolar a pedra repetidamente subindo a colina sem fim seja inerentemente sem sentido, o desafio enfrentado por Sísifo é abster-se do desespero. Por isso, Camus conclui que "é preciso imaginar Sísifo feliz".<ref>Camus, Albert. O Mito de Sísifo.</ref>
 
== Antiguidade clássica ==
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[[Ficheiro:Sera Monastery Lhasa Tibet China 西藏 拉萨 色拉寺 - panoramio (3).jpg|miniaturadaimagem|[[Bhavacakra|Círculo da vida]] no [[Vajrayana]]]]
O conceito de padrões cíclicos é proeminente nas [[religiões indianas]], como [[jainismo]], [[hinduísmo]], [[siquismo]] e [[budismo]], entre outras. A distinção importante é que os eventos não se repetem infinitamente, mas as almas nascem até que alcancem a salvação. A [[ Bhavacakra|roda da vida]] representa um ciclo interminável de nascimento, vida e morte, do qual se busca a libertação. No [[Vajrayana|budismo tântrico]], um conceito de [[roda do tempo]] conhecido como [[Kalachakra]] expressa a ideia de um ciclo interminável de existência e conhecimento.
 
== Friedrich Nietzsche ==
[[File:Friederich_Nietzsche.jpg|ligação=https://en.wikipedia.org/wiki/File:Friederich_Nietzsche.jpg|alt=|esquerda|miniaturadaimagem|[[Friedrich Nietzsche]] por [[Edvard Munch]]]]
Mais tarde, [[Friedrich Nietzsche]] também define esse conceito em sua obra. em alemão o termo é ''Ewige Wiederkunft''. A "eterna recorrência" é central nos escritos de [[Friedrich Nietzsche]].<ref>{{Citar web|url=http://myweb.lmu.build/|titulo=LMU Build|obra=myweb.lmu.build}}</ref> Como [[Martin Heidegger|Heidegger]] aponta em suas palestras sobre Nietzsche, a primeira menção de Nietzsche à recorrência eterna, no aforismo 341 de [[A Gaia Ciência]] (citado abaixo), apresenta esse conceito como uma [[Experimento mental|questão hipotética]], em vez de postulá-lo como um fato. Segundo Heidegger, é o ônus imposto pela questão da recorrência eterna - se uma tal coisa pode ou não ser verdade - que é tão significativo no pensamento moderno: "A maneira como Nietzsche aqui padroniza a primeira comunicação do pensamento do 'maior fardo' [da recorrência eterna] deixa claro que esse 'pensamento dos pensamentos' é ao mesmo tempo 'o pensamento mais oneroso'."<ref>See Heidegger ''Nietzsche. Volume II: The Eternal Recurrence of the Same'' trans. [[David Farrell Krell]]. New York: Harper and Row, 1984. 25.</ref>
 
O pensamento de recorrência eterna aparece em algumas de suas obras, em particular nos parágrafos 285 e 341 da ''A Gaia Ciência'' e depois em ''[[Assim Falou Zaratustra]]''. O tratamento mais completo do assunto aparece na obra intitulada ''Notes on the Eternal Recurrence'', uma obra publicada em 2007, ao lado da versão do eterno retorno de [[Søren Kierkegaard]], que ele chama de "repetição". Nietzsche resume seu pensamento de maneira mais sucinta quando se dirige ao leitor com: "Tudo tem retornado. Sírius, e a aranha, e teus pensamentos neste momento, e este último pensamento teu, de que todas as coisas retornarão". No entanto, ele também expressa seu pensamento mais detalhadamente quando diz ao leitor: {{quote|"Quem quer que tu sejas, amado estranho, a quem eu encontro aqui pela primeira vez, aproveita esta hora feliz e a quietude que nos rodeia e acima de nós, e deixa-me dizer-te algo do pensamento que subitamente surgiu diante de mim como uma estrela que fracamente lançaria raios sobre ti e sobre cada um, como convém à natureza da luz. – Companheiro! Toda a sua vida, como uma ampulheta, sempre será revertida e se esgotará novamente - um longo minuto transcorrerá até que todas as condições das quais você evoluiu retornem na roda do processo cósmico. E então você encontrará toda dor e todo prazer, todo amigo e todo inimigo, toda esperança e todo erro, toda folha de grama e todo raio de sol mais uma vez, e todo o tecido das coisas que compõem sua vida. Esse anel em que você é apenas um grão brilhará novamente para sempre. E em todos esses ciclos da vida humana, haverá uma hora em que, pela primeira vez, um homem, e então muitos, perceberão o poderoso pensamento da eterna recorrência de todas as coisas: – e para a humanidade, essa é sempre a hora do Meio-dia".<ref>''Notes on the Eternal Recurrence'' – Vol. 16 of Oscar Levy Edition of Nietzsche's Complete Works (in English)</ref> }}Esse pensamento também é observado em um fragmento póstumo.<ref>1881 (11 [143])</ref> A origem dele é datada pelo próprio Nietzsche, através de fragmentos póstumos, a agosto de 1881, em [[Sils im Engadin/Segl|Sils-Maria]]. Em ''[[Ecce homo (livro)|Ecce Homo]]'' (1888), ele escreveu que pensava no eterno retorno como a "concepção fundamental" de ''Assim Falou Zaratustra''.<ref>Nietzsche, [[Ecce Homo (book)|Ecce Homo]], "Why I Write Such Good Books", "Thus Spoke Zarathustra", §1</ref>
[[Ficheiro:Am_Stein_der_Ewigen_Wiederkunft.JPG|miniaturadaimagem|Cena da inspiração de Nietzsche: "junto a um bloco maciço, piramidalmente empilhado, não muito longe de [[ Surlej|Surlei]]". ]]
Vários autores apontaram outras ocorrências dessa hipótese no pensamento contemporâneo. [[Rudolf Steiner]], que revisou o primeiro catálogo da biblioteca pessoal de Nietzsche em janeiro de 1896, apontou que Nietzsche teria lido algo semelhante nos ''Cursos de filosofia de'' [[Karl Eugen Dühring|Eugen Dühring]] (1875), que Nietzsche prontamente criticou. [[Lou Andreas-Salomé]] apontou que Nietzsche se referia a antigas concepções cíclicas do tempo, em particular pelos [[Escola pitagórica|pitagóricos]], nas ''Meditações Inoportunas''. [[Henri Lichtenberger]] e [[Charles Andler]] identificaram três obras contemporâneas de Nietzsche que sustentavam a mesma hipótese: J. G. Vogt, ''Die Kraft.'' ''Eine real-monistische Weltanschauung'' (1878), [[Louis Auguste Blanqui|Auguste Blanqui]], ''L'Eternité par les astres''<ref>{{Citar web|url=http://classiques.uqac.ca/classiques/blanqui_louis_auguste/eternite_par_les_astres/eternite_.html|titulo=Louis-Auguste Blanqui, (1805-1881), L'éternité par les astres. (1872)|último =Tremblay|obra=texte|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=Jean-Marie}}</ref> (1872) e [[Gustave Le Bon]], ''L'homme et les sociétés'' (1881). [[Walter Benjamin]] justapõe a discussão de Blanqui e Nietzsche sobre a eterna recorrência em sua obra inacabada e monumental ''[[ O Projeto Arcades|The Arcades Project]]''.<ref>[[Walter Benjamin]]. ''The Arcades Project''. Trans. Howard Eiland and Kevin McLaughlin. Cambridge: Belknap-Harvard, 2002. See chapter D, "Boredom Eternal Return," pp. 101-119.</ref> No entanto, Gustave Le Bon não é citado em nenhum lugar dos manuscritos de Nietzsche; e Auguste Blanqui foi nomeado apenas em 1883. O trabalho de Vogt, por outro lado, foi lido por Nietzsche durante o verão de 1881 em Sils-Maria.<ref>{{Citar web|url=http://www.item.ens.fr/nietzsche/bn.html|titulo=La bibliothèque de Nietzsche}} and {{Citar web|url=http://www.item.ens.fr/nietzsche/bn/catalogues.html|titulo=revision of previous catalogues|arquivourl=https://web.archive.org/web/20061116050211/http://www.item.ens.fr/nietzsche/bn/catalogues.html|arquivodata=2006-11-16}} on the [[Escola Normal Superior de Paris|École Normale Supérieure]]'s website</ref> Blanqui é mencionado por [[Friedrich Albert Lange|Albert Lange]] em seu ''[[Geschichte des Materialismus]]'' (História do Materialismo), um livro lido minuciosamente por Nietzsche.<ref name="Fouillee">Alfred Fouillée, [http://fr.wikisource.org/wiki/Note_sur_Nietzsche_et_Lange_:_%C2%AB_le_retour_%C3%A9ternel_%C2%BB "Note sur Nietzsche et Lange: le "retour éternel"], in ''Revue philosophique de la France et de l'étranger''. An. 34. Paris 1909. T. 67, S. 519-525 {{fr}}</ref> A eterna recorrência também é mencionada de passagem pelo Diabo na Parte Quatro, Livro XI, Capítulo 9 de ''[[Os Irmãos Karamazov]]'', de ''[[Os Irmãos Karamazov|Dostoiévski]]'', que é outra fonte possível à qual Nietzsche pode ter recorrido.
 
[[Walter Kaufmann]] sugere que Nietzsche pode ter encontrado essa ideia nos trabalhos de [[Heinrich Heine]], que escreveu uma vez:{{quote|O tempo é infinito, mas as coisas no tempo, os corpos concretos, são finitas. Elas podem de fato se dispersar nas menores partículas; mas essas partículas, os átomos, têm seus números determinados, e também é determinado o número das configurações que são formadas a partir delas. Agora, por mais que o tempo possa passar, de acordo com as leis eternas que governam as combinações desse jogo eterno de repetição, todas as configurações que existiam anteriormente nesta terra devem ainda se encontrar, atrair, repelir, beijar e corromper novamente...<ref>Kaufmann, Walter. ''Nietzsche; Philosopher, Psychologist, Antichrist.'' 1959, page 376.</ref> }}Nietzsche chama a ideia de "horrível e paralisante", referindo-se a ela como um fardo do "peso mais pesado" ("''das schwerste Gewicht''")<ref>Kundera, Milan. ''The Unbearable Lightness of Being''. 1999, page 5.</ref> imaginável. Ele professa que o desejo pelo eterno retorno de todos os eventos marcaria a afirmação final da vida, como na síntese encontrada em [[A Gaia Ciência]]:{{quote|E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela? [A Gaia Ciência, §341]}}Para compreender a eterna recorrência em seu pensamento, e não apenas ter paz com ela, mas abraçá-la, requer ''[[amor fati]]'', "amor ao destino":<ref name="dudl">Dudley, Will. ''Hegel, Nietzsche, and Philosophy: Thinking Freedom''. 2002, page 201.</ref> {{quote|Minha fórmula para a grandeza humana é ''amor fati'': que alguém não queira ter nada diferente, nem para a frente, nem para trás, nem para toda a eternidade. Não meramente suportar o necessário, muito menos escondê-lo - todo idealismo é uma mentira ante o necessário - mas ''amá-''lo.<ref name="dudl" />}}Laurent e Selous identificam no pensamento de Nietzsche as influências do conceito entre os persas e gregos antigos, relacionado a um círculo temporal de algumas interpretações tradicionais em que Zaratustra ou Dionísio, como primeiro profeta/deus, fariam retorno escatológico ao final - como na analogia do retorno de Zaratustra em ''Assim Falou Zaratustra'', mas que para Nietzsche não ocorre essa completude de um objetivo final de todas as coisas.{{Sfn|Laurent|Selous|2015|pp=85-87}}
 
Nietzsche também o relaciona ao problema grego do [[Um (filosofia)|Um]] e do múltiplo, e a questão do [[voluntarismo]] e da [[Fenomenologia (psicologia)|fenomenologia psicológica]] no [[idealismo alemão]], como no trecho em que Nietzsche o associa à [[vontade de potência]]:{{quote|"sem início, sem fim, uma firme, brônzea grandeza de força, que não se torna maior, nem menor, que não se consome, mas apenas se transmuda, inalteravelmente grande em seu todo, uma economia sem despesas e perdas, mas também sem acréscimo, ou rendimentos, cercada de "nada" como de seu limite, nada de evanescente, de desperdiçado, nada de infinitamente extenso, mas como força determinada posta em um determinado espaço, e não em um espaço que em alguma parte estivesse "vazio", mas antes como força por toda parte, como jogo de forças e ondas de força ao mesmo tempo um e múltiplo, aqui acumulando-se e ao mesmo tempo ali minguando, um mar de forças tempestuando e ondulando em si próprias, eternamente mudando, eternamente recorrentes, com descomunais atos de retorno, com uma vazante e enchente de suas configurações, partindo das mais simples às mais múltiplas ... e depois outra vez voltando da plenitude ao simples, do jogo de contradições de volta ao prazer da consonância, afirmando a si próprio, nessa igualdade de suas trilhas e anos, abençoando a si próprio como Aquilo que eternamente tem de retornar, como um vir-a-ser que não conhece nenhuma saciedade, nenhum fastio, nenhum cansaço."<ref>Edição crítica alemã dos fragmentos póstumos de Nietzsche. KS 11, 38(12), 610-611. Tradução por R. R. Torres Filho.</ref>
<br/><br/>"esse meu mundo dionisíaco do eternamente-criar-a-si-próprio, que eternamente destrói a si próprio, esse mundo secreto da dupla volúpia, esse meu "para além de bem e mal", sem alvo, a menos que um alvo esteja no prazer do círculo, sem vontade, a menos que um anel esteja cheio de vontade para seguir seu próprio velho curso antigo, para sempre em torno de si e somente em torno de si: esse é o meu mundo - quem é suficientemente claro para olhá-lo sem desejar cegueira? Forte o suficiente para manter sua alma contra esse espelho? Seu próprio espelho frente ao espelho de Dionísio? Sua própria solução para o enigma de Dionísio? E aquele que fosse capaz de fazer isso, não precisaria fazer mais ainda? Se comprometer com o "Anel dos Anéis"? Com o voto de sua própria recorrência? Com o anel da eterna auto-bênção, auto-afirmação? Com vontade de querer tudo de novo e de novo? Querer voltar todas as coisas que já foram? Querer adiante tudo o que deverá ser sempre? Sabe você agora, o que o mundo é para mim? E o que eu desejo, quando eu desejo este mundo?"<ref>Nieztsche (1901). Vontade de Poder. In ''The Will to Power'', II, 385. tradução de Arthur Harold John Knight (1933). "This, my Dyonisiac world which eternally creates itself, eternally destroys itself, this mystery-world of doubled desires, this my "Beyond good and evil", without goal, unless a goal lies in the pleasure of the circle, without will, unless a ring is full of will to turn on its own old course for ever around itself and only around itself: this my world - who is clear enough to look at it without wishing himself blindness? Strong enough, to hold his soul up to this mirror? His own mirror to the mirror of Dionysus? His own solution to the riddle of Dionysus? And he who should be able to do this, would he not then have to do still more? Betroth himself to the "Ring of Rings"? With the vow of his own recurrence? With the ring of eternal self-blessing, self-asseveration? With the will to will it all again and yet again? To will back all things which have ever been? To will forwards to everything which must ever be? Know ye now, what the world is for me? And what I desire, when I - desire this world?". Citado em Laurent, Régis; Selous, Trista (2015). ''[https://books.google.com.br/books?id=K1HhCgAAQBAJ&pg=PA87 An Introduction to Aristotle's Metaphysics of Time: Historical research into the mythological and astronomical conceptions that preceded Aristotle’s philosophy]'' (em inglês). Villegagnons-plaisance Ed. [[International Standard Book Number|ISBN]]&nbsp;[[Especial:Fontes de livros/978-2-9533846-1-1|978-2-9533846-1-1]]. p. 87.</ref>}}No seminário de [[Carl Jung]] sobre ''[[Assim Falou Zaratustra]]'', Jung considera o anel do Eterno Retorno descrito por Nietzsche como um símbolo psíquico, significando a [[individuação]] no processo que rodeia o [[Self na psicologia junguiana|Self]].<ref name=":02">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=vPqlDwAAQBAJ&pg=PA178&lpg=PA178|título=Jung's Nietzsche: Zarathustra, The Red Book, and "Visionary" Works|ultimo=Domenici|primeiro=Gaia|data=2019|editora=Springer|ano=|local=|páginas=|lingua=en|isbn=978-3-030-17670-9|acessodata=}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=sk7Av8XowCAC&pg=PA341|título=The Dionysian Self: C.G. Jung's Reception of Friedrich Nietzsche|ultimo=Bishop|primeiro=Paul|data=2010-11-05|editora=Walter de Gruyter|lingua=en|isbn=978-3-11-081170-4}}</ref> Ele afirma que no livro de Nietzsche o anão declara a ideia do eterno retorno antes que Zaratustra termine seu argumento sobre ele quando o anão diz: "'Tudo permanece reto', murmurou o anão com desdém. 'Toda verdade é torta, o próprio tempo é um círculo.'" No entanto, Zaratustra rejeita o anão no parágrafo seguinte, alertando-o contra simplificações excessivas.<ref>Gildersleeve, M. (2015). The Gay Science and the Rosarium Philosophorum. Agathos, 6(2), 37.</ref> Jung interpreta esse conceito como uma tentativa de conferir significado profundo à temporalidade e responsabilidade nas ações, dando peso à decisão, que passa a ser considerada como escolhida para sempre e eternamente realizada inúmeras vezes.<ref name=":02" />
 
== Albert Camus ==
O filósofo e escritor [[Albert Camus]] explora a noção de "eterno retorno" em seu ensaio "[[O Mito de Sísifo]]", no qual a natureza repetitiva da existência representa o absurdo da vida, algo que o herói procura suportar ao manifestar o que [[Paul Tillich]] chamou "A Coragem de Ser". Embora a tarefa de rolar a pedra repetidamente subindo a colina sem fim seja inerentemente sem sentido, o desafio enfrentado por Sísifo é abster-se do desespero. Por isso, Camus conclui que "é preciso imaginar Sísifo feliz".<ref>Camus, Albert. O Mito de Sísifo.</ref>
 
== Ver também ==