Plano-sequência: diferenças entre revisões

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'''Plano-sequência''', em [[cinema]] e [[audiovisual]], é um [[plano (cinema)|plano ]] que registra a ação de uma [[sequência (cinema)|sequência]] inteira, sem [[corte (cinema)|cortes]].
 
== Conceito ==
Segundo o teórico [[Jacques Aumont]] ,<ref>"Dicionário teórico e crítico de cinema", de Jacques Aumont e Michel Marie, Papirus Editora, 2003, pp. 231-232</ref>, o que caracteriza o plano-sequência não é apenas a sua [[duração]], mas o fato de ele ser articulado para representar o equivalente de uma sequência. Conviria, portanto, distingui-lo do plano longo "onde nenhuma sucessão de acontecimentos é representada", tais como planos fixos de duração acima da média envolvendo diálogos ou simples localizações de [[personagem|personagens]] e [[cenário]]s.
 
Segundo o teórico [[Jacques Aumont]] <ref>"Dicionário teórico e crítico de cinema", de Jacques Aumont e Michel Marie, Papirus Editora, 2003, pp. 231-232</ref>, o que caracteriza o plano-sequência não é apenas a sua [[duração]], mas o fato de ele ser articulado para representar o equivalente de uma sequência. Conviria, portanto, distingui-lo do plano longo "onde nenhuma sucessão de acontecimentos é representada", tais como planos fixos de duração acima da média envolvendo diálogos ou simples localizações de [[personagem|personagens]] e [[cenário]]s.
 
Mas o próprio Aumont adverte que esta distinção é difícil e que por isso, muitas vezes, o conceito de plano-sequência é confundido com o de plano longo.
 
== Histórico ==
 
Se fosse considerada apenas a duração, seria forçoso concluir que os primeiros filmes dos [[irmãos Lumière]], já em 1895, eram formados por planos-sequência, uma vez que eram filmes inteiros rodados num único plano de 40 a 45 segundos de duração. Mas seria uma conclusão imprecisa, pois o próprio conceito de plano ainda não tinha sido formulado.
 
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Em "[[Ninotchka]]" (1939), de [[Ernst Lubitsch|Lubitsch]], há um longo plano em que o Conde d'Algout ([[Melvyn Douglas]]) tenta fazer rir a agente soviética representada por [[Greta Garbo]], contando-lhe piadas das quais ela não acha graça, mas que termina com o conde caindo da cadeira e, finalmente, provocando na moça uma gargalhada.
 
Em 1948, [[Alfred Hitchcock|Hitchcock]] tentou fazer um [[longa-metragem]] inteiro rodado num único plano-sequência, "[[Rope|Festim diabólico]]". Como os maiores rolos de [[Película cinematográfica|película]] fabricados eram (e continuam sendo) de 1000 pés (aproximadamente 11 minutos), o filme acabou sendo rodado em 12 planos, com durações entre 4 e 10 minutos cada, e com cortes "invisíveis" entre eles, dando a impressão de um único plano .<ref>"Hitchcock-Truffaut, entrevistas", editora Brasiliense, 1983, pp. 107-111</ref>.
 
[[Roberto Rossellini]] no cinema [[Itália|italiano]], [[Kenji Mizoguchi]] no [[Japão|japonês]] e [[Mikhaïl Kalatozov]] no [[União Soviética|soviético]] são exemplos de cineastas que utilizaram o plano-sequência em seus filmes rodados entre as décadas de [[1950]] e [[1960]].
 
== Discussão estética ==
 
Mas foi principalmente a partir dos longos e elaborados planos filmados por [[Orson Welles]] e seu fotógrafo [[Gregg Toland]] em "[[Citizen Kane|Cidadão Kane]]" (1941) que se desenvolveu a teoria do plano-sequência. O teórico [[André Bazin]], em vários artigos escritos para a revista [[Cahiers du Cinéma]] a partir de 1951, defendeu a ideia de que o plano-sequência e a [[profundidade de campo]] seriam os grandes instrumentos do [[realismo]] cinematográfico, evitando a fragmentação do real que ocorreria através da [[montagem]] e respeitando a realidade e a liberdade do espectador.
 
Apesar da importância histórica da reflexão de Bazin (reunida em "O que é o cinema", obra em 4 volumes publicada a partir de sua morte, em 1958), vários autores posteriores chamaram atenção para o fato de que esta concepção de realismo cinematográfico (do plano-sequência e da profundidade de campo) era apenas uma entre outras possibilidades. [[Jean-Louis Comolli]] afirmou inclusive que o plano-sequência não é tão "realista" quanto se chegou a acreditar, já que o seu valor depende das normas estéticas em vigor .<ref>"Ver e poder, a inocência perdida", de Jean-Louis Comolli, Editora da UFMG, 2008</ref>.
 
==No cinema atual==
 
== No cinema atual ==
O plano-sequência continua sendo usado no cinema contemporâneo, mas normalmente sem a defesa [[ideologia|ideológica]] que costumava acompanhá-lo nos anos 1960. Cineastas como [[Brian De Palma]], [[Stanley Kubrick]], [[Alfonso Cuarón]], [[Martin Scorsese]], [[Quentin Tarantino]], etc, souberam utilizar planos-sequências em momentos-chave de seus filmes, provocando no espectador a sensação de uma mudança na relação entre o tempo do filme e o tempo da história que ele conta, que normalmente é estabelecida pela [[decupagem]] e pela montagem. Já diretores como [[Theo Angelopoulos]], [[Jim Jarmusch]] e [[Andrei Tarkovski]] tornaram-se conhecidos por rodarem filmes inteiros estruturados em um pequeno número de longos planos-sequência.
 
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No Brasil, em 2008, [[Gustavo Spolidoro]] dirigiu "[[Ainda orangotangos]]", rodado em um único plano-sequência de 81 minutos.
 
== Referências ==
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<div class="references-small">
<references />
</div>
 
[[Categoria:Processos cinematográficos]]