Língua caingangue: diferenças entre revisões

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As "ferramentas" linguísticas escritas, como dicionários e gramáticas, são raras. Dos dois trabalhos de algum fôlego, intitulados "Dicionários" (bilíngues), apenas o de Val Floriana (1920) merece essa designação, apesar de todas suas limitações. Esse, porém, é desconhecido da quase totalidade dos caingangues. O de Wiesemann (1971) é pouco mais que um vocabulário, ao qual se agregam informações sobre pronúncia (da ortografia caingangue) e sobre sintaxe, como um pequeno adendo gramatical.
 
Os materiais chamados "didáticos" produzidos em língua caingangue, seja pelo [[SIL International]], seja por iniciativas mais recentes, com recursos do [[Ministério da Educação (Brasil)|ministério da educação]] para "oficinas" e publicação, restringem-se a cartilhas e a coletâneas de textos. Estas últimas, embora cumpram uma função importante (a de suscitar material de leitura na língua – embora não possamos ainda falar em "literatura caingangue" ''stricto sensu''), não cobrem a lacuna da orientação de uma reflexão epilinguística e propriamente linguística no ensino escolar do caingangue, da mesma forma que não cobrem a lacuna igualmente enorme do não emprego da língua caingangue como língua de instrução nas disciplinas de história, geografia, matemática etc..
== Gramática ==
===Alfabeto===
A língua caingangue, como todas as demais [[Línguas indígenas do Brasil|línguas indígenas brasileiras]], era, originalmente, exclusivamente oral, não possuindo representação escrita. Foi somente na década de 1960 que uma pesquisadora do Summer Institute of Linguistics criou uma representação escrita para a língua. O alfabeto por ela criado possui as seguintes letras:
 
Vogais: A Á Ã E É Ẽ I Ĩ O Ó U Ũ Y Ỹ
 
Consoantes: F G H J K M N NH P R S T V ’
===Sintaxe===
Ao contrário do português, que possui [[Preposição|preposições]], o caingangue possui [[Posposição|posposições]], que, como o nome indica, vêm após o elemento a que se referem. Por exemplo: ''goj ki'' significa "na água" (''goj'' significa "água", ''ki'' significa "em").
 
Os [[verbo]]s caingangues tendem a ser invariáveis, ao contrário dos verbos portugueses, que variam conforme o sujeito. Exemplo: ''Ti rãgró krãn'' (ele plantou feijão), ''eng rãgró krãn'' (nós plantamos feijão). O verbo ''rãgró'' não muda, mesmo com a mudança do sujeito.
 
O caingangue possui elementos que sinalizam o [[sujeito]] de uma [[oração]], como ''tóg'' e ''vỹ''. Por exemplo: ''Mĩg vỹ venhvó tĩ'' (a onça corre). ''Vỹ'' vem após o sujeito da oração, ''mĩg'' (onça).
 
O [[objeto direto]] vem logo antes do verbo (ao contrário do português, que o posiciona, geralmente, após o verbo, como em "o menino atirou a pedra"). Exemplo: ''kofá tóg pỹn tãnh'' (o velho matou a cobra). ''Pỹn'' significa "cobra" e ''tãnh'', "matar".
 
O [[objeto direto]] é sinalizado pela posposição ''mỹ'', como em ''Maria mỹ'' (para Maria).
 
Os tempos dos verbos são indicados por posposições como ''mũ'' ([[gerúndio]]) e ''tĩ'' ([[Modo verbal|pretérito imperfeito]]).
[[File:Erechim.jpg|thumb|Portal de entrada da cidade de Erechim]]
 
== Influência na toponímia brasileira ==
A língua caingangue legou à [[toponímia]] brasileira alguns nomes de localidades, como [[Goioerê]] ("campina d'água"), [[Candói]] (nome de um líder caingangue), [[Goioxim]] ("rio pequeno"), Chagú, Dorim, Crim, [[Rio Cantu]], Cherê, [[Arena Condá]] ("Condá" era o nome de um líder caingangue), Jembrê, Pandói, Virí (nome de um líder caingangue), [[Cambé]], [[Chapecó]], [[Xanxerê]] ("campina da cascavel"), [[Xaxim (desambiguação)|Xaxim]], [[Anexo:Lista de Terras Indígenas do Brasil|Toldo Chimbangue]] ("Chimbangue" é o nome de um líder caingangue), [[Campo Erê]] ("campo da [[pulga]] ou do [[bicho-do-pé]]"), Goio-en, [[Erechim]] ("campo pequeno"), [[Erebango]] ("campo grande"), Nicafin (nome de um líder caingangue) e Ventarra<ref>D'ANGELIS, W. R. ''A língua kaingang''. Disponível em http://www.portalkaingang.org/Lgua_Kaingang.pdf. Acesso em 6 de março de 2013.</ref>.