Ponto (região): diferenças entre revisões

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{{Ver desambig||Ponto}}
{{EmMais traduçãonotas|:en:Pontus|geo-eu|hist-eu|data=janeiromaio de 2013}}
{{Sem-fontes||hist-mo|geo-mo|data=janeiro de 2013}}
{{Info/Assentamento
|nome =Ponto
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|imagem_mapa =Pontus.png
|mapa_legenda =Mapa da "República do Ponto", um estado independente para os gregos pônticos proposto no início do {{séc|XX}}, após a [[Primeira Guerra Mundial]], o qual corresponde a uma definição moderna do Ponto
|imagem_mapa1 =1stMithritadicwar89BC-pt.svg
|mapa_legenda1 =Mapa político do [[Levante (Mediterrâneo)|Levante]] em {{AC|89|x}}, com o [[Reino do Ponto]] de [[Mitrídates VI do Ponto|Mitrídates VI, o Grande]] a amarelo esverdeado
|mapa_alfinete =Turquia
|mapa_alfinete_legenda =Localização do Ponto na atual Turquia
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|líder_título =Principais grupos étnicos
|líder_nome =[[gregos pônticos]], [[lazes]], [[hemichis]], {{ilc|chepnis|Çepniler|Chepni (povo)|Chepni}} e [[turcos]]
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}}
O '''Ponto''' ou '''Pontus''' ({{langx|el|Πόντος||Pontos}}; "mar"){{Harvy|lid|Liddell & Scott|1940|loc=πόντος}} é uma designação histórica para a região na costa [[Sul|meridional]] do [[mar Negro]], que atualmente se situa no nordeste da [[Turquia]]. O nome foi dado à região na [[Antiguidade]] pelos [[Grécia Antiga|Gregos]] que [[Colonização|colonizaram]] a área, e deriva do nome grego para o mar Negro: {{lang|el|Πόντος Εύξεινος}}, ''Pontos Euxeinos'' ("mar hospitaleiro"),{{HarvRef|Slater|1969|loc=Εὔξεινος}} ou simplesmente ''Pontos''.
 
Não existindo nome específico para a região a oriente do [[Rio Kızılırmak|rio Hális]], era usada a designação de "país {{lang|el|εν Πόντοι}}", transl: ''en Pontoi'', no Pontos [Euxeinos], o que acabou por dar origem a "Ponto", um termo cujo registo mais antigo se encontra na [[Anábase]] de [[Xenofonte]] ({{séc|IV a.C.}}). A extensão da região variou ao longo da história, mas geralmente ia desde as fronteiras da [[Cólquida]] (a [[Geórgia]] da atualidade) até ao interior da [[Paflagónia]], com áreas variáveis entre esses dois extremos. Existiram diversos [[País|estados]] e [[província]]s com o nome de Ponto ou suas variantes, fundadas nos períodos [[Período helenístico|helenístico]], [[Roma Antiga|romano]] e [[Império Bizantino|bizantino]]. O Ponto é também o local onde viviam as lendárias [[Amazonas (mitologia)|Amazonas]] da [[mitologia grega]]. O nome [[Amasya]] (Amaseia), supostamente derivado do nome de Amasis, uma rainha das amazonas, é não só o nome duma cidade que ainda existe atualmente, mas também uma designação grega para todo o Ponto.
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Segundo a mitologia grega, o Ponto era o país das Amazonas, uma [[tribo]] de mulheres guerreiras, embora algumas também vivessem na [[Táurida]] ([[Crimeia]]), outra região importante onde viviam muitos [[gregos pônticos]]. Ponto tornou-se a área de residência das Amazonas, que ali fundaram um reino. O nome de Amasya tem origem numa mulher amazona lendária.
 
===Habitantes prmitivosprimitivos===
Devido à sua posição geográfica estratégica, é provável que o Ponto tenha sido habitado por tribos conhecidas e desconhecidas de várias espécies e grupos étnicos ao longo da sua história. As [[línguas caucasianas]] [[Línguas caucasianas meridionais|kartulianas]], como [[Língua laz|laz]], provavelmente representam as línguas dos habitantes mais antigos que se conhecem na região. Segundo alguns estudiosos, uma das tribos pônticas primitivas foi a dos [[leucosyri]].{{HarvRef|Peck|1898|loc=Pontus}} Outros nomes de povos antigos que habitaram a região incluem os ''moskhianos'', ''mares'', [[macrones]], ''{{ilc|mossineci||mossynoeci|Mossynoikoi}}'', {{ilc|tibarenos||Tibarenoi|Tiberenos}},{{HarvRef|Hewsen|2009|p=40-41}} ''tzans'' ({{langx|hy|chaniuk}}),{{HarvRef|name=hew43|Hewsen|2009|p=43}}{{
NotaNT|
1=''Tzans'' é provavelmente outra designação para os [[lazes]],<ref name=hew43 /> {{ilc|zans||Zan (povo)|Tchans|Tzanni}} ou [[macrones]].
}} e os [[cálibes]] ({{Langx|hy|''khaghtik''|nomept}};{{HarvRef|name=hew46|Hewsen|2009|p=46}} ou cáldios, ou ''chaldoi'', sem relação com os [[caldeus]] do sul da [[Mesopotâmia]]). Tendo em conta que há fortes probabilidades que as [[línguas indo-europeias]] tiveram origem na península anatólica,{{Harvy|bou|Bouckaert et al|2012}} tribos que falavam línguas indo-europeias como o arménio, [[Língua hitita|hitita]] e outras [[línguas anatólicas]] podem ter habitado na região mais ou menos na mesma altura que tribos que falavam [[línguas caucasianas]]. Independentemente dessa possibilidade, os registos históricos deixam claro que navegadores [[gregos]], que falavam uma língua indo-europeia diferente, começaram a colonizar a área numa época posterior, expulsando as tribos [[Cáucaso|caucasianas]] nesse processo.
 
===Colonização grega===
[[Imagem:Sinop-tarihi-resim.jpg|thumb|esquerda|Postal antigo de [[Sinop (Turquia)|Sinop]], sucessora do que talvez tenha sido a primeira colónia grega no Ponto]]
As primeiras viagens de mercadores gregos e aventureiros à região pôntica ocorreram provavelmente ''[[circa]]'' {{AC|1000|x}}, mas os primeiros assentamentos só se tornariam mais permanentes e cidades sólidas cerca dos séculos VIII e {{AC|VII|x}}, como demonstram os achados [[Arqueologia|arqueológicos]]. Estes dados são coerentes com a data de fundação de {{AC|731|x}} relatada por [[Eusébio de Cesareia]] para [[Sinop (Turquia)|Sinop]], talvez a mais antiga das colónia gregas do que depois se chamaria o Ponto. As narrativas épicas relacionadas com as viagens de [[Jasão]] e os [[Argonautas]] à [[Cólquida]], as histórias de [[Héracles]] navegando no mar Negro e as andanças de [[Odisseu]] na terra dos [[Cimérios]], bem como o [[mito]] de [[Zeus]] aprisionando [[Prometeu]] nas montanhas do [[Cáucaso]] como punição por ele querer ser mais que os deuses, podem ser entendidas como reflexos de contactos passados entre colonos gregos primitivos e povos locais, provavelmente caucasianoss. A descrição mais antiga que se conhece do Ponto é, porém, a de [[Escílax de Carianda]], que descreveu os povoados gregos da região no {{séc|VII a.C.}}
 
As primeiras viagens de mercadores gregos e aventureiros à região pôntica ocorreram provavelmente ''[[circa]]'' {{AC|1000|x}}, mas os primeiros assentamentos só se tornariam mais permanentes e cidades sólidas cerca dos séculos VIII e {{AC|VII|x}}, como demonstram os achados [[Arqueologia|arqueológicos]]. Estes dados são coerentes com a data de fundação de {{AC|731|x}} relatada por [[Eusébio de Cesareia]] para [[Sinop (Turquia)|Sinop]], talvez a mais antiga das colónia gregas do que depois se chamaria o Ponto.{{HarvRef|Hewsen|2009|p=39-40}} As narrativas épicas relacionadas com as viagens de [[Jasão]] e os [[Argonautas]] à [[Cólquida]], as histórias de [[Héracles]] navegando no mar Negro e as andanças de [[Odisseu]] na terra dos [[Cimérios]], bem como o [[mito]] de [[Zeus]] aprisionando [[Prometeu]] nas montanhas do [[Cáucaso]] como punição por ele querer ser mais que os deuses, podem ser entendidas como reflexos de contactos passados entre colonos gregos primitivos e povos locais, provavelmente caucasianoss. A descrição mais antiga que se conhece do Ponto é, porém, a de [[Escílax de Carianda]], que descreveu os povoados gregos da região no {{séc|VII a.C.}}{{HarvRef|Hewsen|2009|p=39}}
 
===Expansão do Império Persa===
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Cerca do século VI ou {{AC|V|x}}, o Ponto tinha-se oficialmente tornado uma parte do [[Império Aqueménida]], o que provavelmente significava que as colónias gregas locais pagavam [[tributo]] aos persas. Quando o comandante [[Atenas Antiga|ateniense]] [[Xenofonte]] passou pelo Ponto cerca de um século depois, em 401 ou {{AC|400|x}}, não encontrou lá quaisquer persas. A região saiu do domínio persa quando o {{Ilink condicional|Reino da Capadócia||Reino da [[Capadócia]]}} se separou do Império Aqueménida, tomando-se o Ponto uma das suas províncias. Subsequentemente, o Ponto separou-se do Reino da Capadócia com [[Mitrídates I do Ponto|Mitrídates&nbsp;I Ktistes]] ("ktistes", {{lang|el|Κτίστης}}, significa "o fundador" ou "o construtor" em grego) em {{AC|302|x}} e tornou-se independente. Como a maior parte do reino que Mitrídates acabaria por estabelecer fazia parte da imensa região da [[Capadócia]], que primitivamente se estendia desdes as fronteiras da [[Cilícia]], a sul, até ao Euxino (mar Negro), o Reino do Ponto como um todo começou por se chamar {{NT|Cappadocia towards the Pontus|"Capadócia em direção ao Ponto"}}, mas depois simplesmente "Ponto", passando a chamar-se Capadócia apenas à metade sul da região que antes tinha esse nome.
[[Imagem:Xenophon.jpg|thumb|upright|O general e historiador ateniense [[Xenofonte]] passou pelo Ponto em 401 ou {{AC|400|x}}]]
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Cerca do século VI ou {{AC|V|x}}, o Ponto tinha-se oficialmente tornado uma parte do [[Império Aqueménida]], o que provavelmente significava que as colónias gregas locais pagavam [[tributo]] aos persas. Quando o comandante [[Atenas Antiga|ateniense]] [[Xenofonte]] passou pelo Ponto cerca de um século depois, em 401 ou {{AC|400|x}}, não encontrou lá quaisquer persas.{{HarvRef|Hewsen|2009|p=40}} A região saiu do domínio persa quando o {{Ilink condicional|Reino da Capadócia||Reino da [[Capadócia]]}} se separou do Império Aqueménida, tomando-se o Ponto uma das suas províncias. Subsequentemente, o Ponto separou-se do Reino da Capadócia com [[Mitrídates I do Ponto|Mitrídates&nbsp;I Ktistes]] ("ktistes", {{lang|el|Κτίστης}}, significa "o fundador" ou "o construtor" em grego) em {{AC|302|x}} e tornou-se independente.{{HarvRef|Hewsen|2009|p=41}} Como a maior parte do reino que Mitrídates acabaria por estabelecer fazia parte da imensa região da [[Capadócia]], que primitivamente se estendia desdes as fronteiras da [[Cilícia]], a sul, até ao Euxino (mar Negro), o Reino do Ponto como um todo começou por se chamar {{NT|Cappadocia towards the Pontus|"Capadócia em direção ao Ponto"}}, mas depois simplesmente "Ponto", passando a chamar-se Capadócia apenas à metade sul da região que antes tinha esse nome.
 
===Reino do Ponto===
{{Artigo principal|Reino do Ponto}}
 
[[Imagem:1stMithritadicwar89BC-pt.svg|mapa_legenda1 upright=1.2|thumb|Mapa político do [[Levante (Mediterrâneo)|Levante]] em {{AC|89|x}}, com o [[Reino do Ponto]] de [[Mitrídates VI do Ponto|Mitrídates&nbsp;VI, o&nbsp;Grande]] a amarelo esverdeado]]
 
O Reino do Ponto estendeu-se geralmente a leste do rio Hális. A dinastia persa que fundaria o reino tinha governado a cidade grega de [[Cio (cidade)|Cio]], na [[Mísia]]. O primeiro membro conhecido dessa dinastia foi {{Lknb|Ariobarzanes|I||de Cio}} (ou da [[Frígia]]) e o último governante que teve a sua capital em Cio foi {{Lknb|Mitrídates|II||de Cio}}. O filho deste, tornar-se-ia Mitrídates&nbsp;I Ktistes do Ponto.
 
Durante o período atribulado que se seguiu à morte de [[Alexandre, o Grande]], Mitrídates Ktistes esteve durante algum tempo ao serviço de [[Antígono Monoftalmo]], um dos [[diádocos]] (sucessores de Alexandre) e logrou aproveitar-se das conturbações políticas desses tempos incertos para fundar o Reino do Ponto, que seria governado pelos seus descendentes, quase todos ostentando o mesmo nome, até {{AC|64|x}} A dinastia persa dos Mitrídates conseguiu assim sobreviver e prosperar no [[Período helenístico|mundo helenístico]] quando o Império Persa já tinha caído.
 
O reino atingiu o seu zénite durante o reinado de {{Lknb|Mitrídates|VI|do Ponto}} (Mitrídates Eupátor ou Mitrídates, o Grande) {{nwrap|r.|120|65 a.C.}}, que durante muitos anos esteve em guerra com os [[República Romana|romanos]]. Durante o seu governo, o reino incluía não só a Capadócia Pôntica, mas também as regiões costeiras desde a Bitínia, a ocidente, até à [[Cólquida]], parte do interior da [[Paflagónia]] e a [[Arménia Inferior]]. Não obstante governar a Arménia Inferior (ou Pequena Arménia), Mitrídates&nbsp;VI era aliado do [[Reino da Armênia (Antiguidade)|rei arménio]] da Grande Arménia [[Tigranes, o Grande]], com quem casou a sua filha Cleópatra.{{HarvRef|Hewsen|2009|p=41-42}} Contudo, os romanos acabariam por derrotar Mitrídates e o seu genro Tigranes durante a {{Ilink condicional|Terceira Guerra Mitridática||[[Terceira Guerra Mitridática|Terceira Guerra]] [[Guerras Mitridáticas|Mitridática]]}}, o que levou a que o Ponto ficasse sob o domínio romano.{{HarvRef|name=hew37x|Hewsen|2009|p=37-66}}
 
===Província romana===
{{Artigo principal|Ponto (província romana){{!}}Bitínia e Ponto}}
A conquista do Reino do Ponto por [[Pompeu]] em {{AC|64|x}} trouxe poucas mudanças à vida da região, quer às [[oligarquia]]s que controlavam as cidades, quer às pessoas comuns das cidades ou dos campos. No entanto, o significado do nome Ponto mudou, pois a maior parte do reino extinto foi integrado na [[província romana]] [[Galácia (província romana)|província da Galácia]]. A parte restante, a chamada Ora Pontica, constituída pelas áreas costeiras entre [[Heracleia Pôntica]] (atual [[Karadeniz Ereğli]]) e Amiso (atual [[Samsun]]), passou a fazer parte da província dupla da Bitínia e Ponto. A partir de então, o nome Ponto ou Pontus simples, sem outra qualificação, passou a ser usado regularmente para designar metade dessa província, sobretudo pelos romanos e pelas pessoas falando do ponto de vista dos romanos. É quase sempre nessa aceção que o Ponto é mencionado no [[Novo Testamento]]. A metade oriental do antigo reino passou a ser administrada como o [[Estado satélite|reino satélite]] do [[Império Romano]] juntamente com a Cólquida. O último monarca deste reino foi {{Lknb|Polemon|II}} {{nowrap|(m. 74 d.C.)}}
 
[[Imagem:Roman East 50-en.svg|thumb|upright=1.2|Mapa político do nordeste da Anatólia e do sul do [[Cáucaso]] {{ca.|{{DC|50|x}}|nl}}, onde aparece o reino do Ponto cliente do [[Império Romano]], unido com a [[Cólquida]]]]
Em {{DC|62|x}}, a região foi transformada por [[Nero]] numa província romana, que foi dividida em três distritos: '''Pontus Galaticus''' a ocidente, fazendo fronteira com a Galácia; '''Pontus Polemoniacus''' no centro, assim chamada devido à sua capital ser Polemonium (atual [[Fatsa]], na {{il-suf|província|de|Ordu}}); e '''Pontus Cappadocicus''', a oriente, com fronteiras com a ''Cappadocia'' (''Armenia Minor''). Subsequentemente, o imperador [[Trajano]] integrou o Ponto na província da Capadócia no início do {{séc|II d.C.}} Após um [[raide]] dos [[godos]] a [[Trebizonda]], o imperador [[Diocleciano]] {{nwrap|r.|285|305}} decidiu dividir a área em províncias mais pequenas com governos mais localizados. Com a [[Reforma de Diocleciano|reorganização do sistema provincial]] de Diocleciano {{ca.|295}}, os três distritos pônticos passaram a ser pequenas províncias integradas na {{ilc|Dioecesis Pontica||Diocese do Ponto|Diocese Pôntica}} ([[Diocese romana|Diocese]] do Ponto):
 
[[Imagem:Dioecesis Pontica 400 AD.png|thumb|upright=1.2|Mapa da {{ilc|diocese romana do Ponto|Diocese do Ponto|Dioecesis Pontica|Diocese Pôntica}} {{ca.|400|nl}}]]
 
A conquista do Reino do Ponto por [[Pompeu]] em {{AC|64|x}} trouxe poucas mudanças à vida da região, quer às [[oligarquia]]s que controlavam as cidades, quer às pessoas comuns das cidades ou dos campos. No entanto, o significado do nome Ponto mudou, pois a maior parte do reino extinto foi integrado na [[província romana]] [[Galácia (província romana)|província da Galácia]]. A parte restante, a chamada Ora Pontica, constituída pelas áreas costeiras entre [[Heracleia Pôntica]] (atual [[Karadeniz Ereğli]]) e Amiso (atual [[Samsun]]), passou a fazer parte da província dupla da Bitínia e Ponto. A partir de então, o nome Ponto ou Pontus simples, sem outra qualificação, passou a ser usado regularmente para designar metade dessa província, sobretudo pelos romanos e pelas pessoas falando do ponto de vista dos romanos. É quase sempre nessa aceção que o Ponto é mencionado no [[Novo Testamento]]. A metade oriental do antigo reino passou a ser administrada como o [[Estado satélite|reino satélite]] do [[Império Romano]] juntamente com a Cólquida. O último monarca deste reino foi {{Lknb|Polemon|II}} {{nowrap|(m. 74 d.C.)}}<ref name=hew37x />
 
Em {{DC|62|x}}, a região foi transformada por [[Nero]] numa província romana, que foi dividida em três distritos: '''Pontus Galaticus''' a ocidente, fazendo fronteira com a Galácia; '''Pontus Polemoniacus''' no centro, assim chamada devido à sua capital ser Polemonium (atual [[Fatsa]], na {{il-suf|província|de|Ordu}}); e '''Pontus Cappadocicus''', a oriente, com fronteiras com a ''Cappadocia'' (''Armenia Minor''). Subsequentemente, o imperador [[Trajano]] integrou o Ponto na província da Capadócia no início do {{séc|II d.C.}} Após um [[raide]] dos [[godos]] a [[Trebizonda]], o imperador [[Diocleciano]] {{nwrap|r.|285|305}} decidiu dividir a área em províncias mais pequenas com governos mais localizados.<ref name=hew37x /> Com a [[Reforma de Diocleciano|reorganização do sistema provincial]] de Diocleciano {{ca.|295}}, os três distritos pônticos passaram a ser pequenas províncias integradas na {{ilc|Dioecesis Pontica||Diocese do Ponto|Diocese Pôntica}} ([[Diocese romana|Diocese]] do Ponto):<ref name=hew43 />
 
*'''Galatia Pontus''', também chamada '''Diospontus''', depois rebatizada '''Helenopontus''' por [[Constantino]] , o Grande {{nwrap|r.|306|337}} em honra da [[Helena de Constantinopla|sua mãe]]. A capital era [[Amiso]] e incluía também as cidades de [[Sinop (Turquia)|Sinope]], [[Amaseia]], Andres, [[Ibora]] e [[Zile|Zela]].
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}} e incluindo as cidades de [[Niksar|Neocesareia]], {{ilc|Argiropólis||Argyroupolis|Gümüşhane}}, {{ilc|Comana|Comana do Ponto|Comana (ponto)|Comana Pontica}} e [[Giresun|Ceraso]].
 
*'''Cappadocia Pontus''', com capital em [[Trebizonda]] e incluindo os pequenos portos de [[Pazar|Athanae]] e [[Rize{{ilc|Rhizaeon]]||Rize (cidade)|Rize (Turquia)|lk=Rize (província)}}; estendia-se até à Cólquida.
 
===Província bizantina e ''thema''===
[[Imagem:Asia Minor ca 842 AD.svg|thumb|upright=1.2|Mapa da Ásia Menor em 842]]
O imperador bizantino {{Lknb|Justiniano|I}} voltou a reorganizar a região em 536. Pontus Polemoniacus foi dissolvida, com a parte ocidental (Polemonium e Neocesareia) passando a fazer parte de Helenopontus, Comana passando a fazer parte da nova província da {{ilc|Arménia&nbsp;II|Arménia II|Armênia II}} e o resto (Trebizonda e Ceraso) juntou-se à nova província da {{ilc|Arménia&nbsp;I Magna|Arménia I Magna|Armênia I Magna|Arménia I}}, cuja capital era Justinianopólis. Zela deixou de fazer parte de Helenopontus e foi integrada na Arménia&nbsp;II e o seu governador provincial foi relegado para o posto de ''moderador''. Por sua vez, a província de Honorias passou a integrar a Paflagónia, que passou a ser governada por um [[pretor]].
 
O imperador bizantino {{Lknb|Justiniano|I}} voltou a reorganizar a região em 536. Pontus Polemoniacus foi dissolvida, com a parte ocidental (Polemonium e Neocesareia) passando a fazer parte de Helenopontus, Comana passando a fazer parte da nova província da {{ilc|Arménia&nbsp;II|Arménia II|Armênia II}} e o resto (Trebizonda e Ceraso) juntou-se à nova província da {{ilc|Arménia&nbsp;I Magna|Arménia I Magna|Armênia I Magna|Arménia I}}, cuja capital era Justinianopólis.<ref name=hew43 /> Zela deixou de fazer parte de Helenopontus e foi integrada na Arménia&nbsp;II e o seu governador provincial foi relegado para o posto de ''moderador''. Por sua vez, a província de Honorias passou a integrar a Paflagónia, que passou a ser governada por um [[pretor]].
Nos primeiros tempos do [[Império Bizantino]], Trebizonda tornou-se um centro de cultura e ciência. No {{séc|VII}}, um indivíduo de nome Tychicus foi de [[Constantinopla]] para lá estabelecer uma escola. Um dos seus alunos foi o académico arménio [[Anania Shirakatsi]].
 
Nos primeiros tempos do [[Império Bizantino]], Trebizonda tornou-se um centro de cultura e ciência. No {{séc|VII}}, um indivíduo de nome Tychicus foi de [[Constantinopla]] para lá estabelecer uma escola. Um dos seus alunos foi o académico arménio [[Anania Shirakatsi]].{{HarvRef|name=hew47|Hewsen|2009|p=47}}
Quando foram criados os ''[[thema]]ta'', no {{séc|VII}}, o Ponto passou a fazer parte do [[Thema Armeníaco]]. No século seguinte, a parte ocidental (Paflagónia) passou a integrar o [[Thema Bucelário]]. Estes dois grandes ''themata'' foram depois gradualmente divididos noutros mais pequenos, pelo que no final do {{séc|X}} o Ponto estava dividido nos ''themata'' da [[Thema de Coloneia|Coloneia]] e da [[Thema da Cáldia|Cáldia]], este último governado pela família {{ilc|Gabrades||Gabras}} (ou Gabras). Depois do {{séc|VIII}}, a área viveu um período de prosperidade, que só terminou com a conquista [[Império Seljúcida|seljúcida]] da Ásia Menor nas décadas de 1070 e 1080. Tendo voltado ao domínio bizantino durante o reinado de {{Lknb|Aleixo|I||Comneno}}, o Ponto foi governado por governantes que na prática eram semi-autónomos, como os Gabras de Trebizonda.
 
Quando foram criados os ''[[thema]]ta'', no {{séc|VII}}, o Ponto passou a fazer parte do [[Thema Armeníaco]]. No século seguinte, a parte ocidental (Paflagónia) passou a integrar o [[Thema Bucelário]]. Estes dois grandes ''themata'' foram depois gradualmente divididos noutros mais pequenos, pelo que no final do {{séc|X}} o Ponto estava dividido nos ''themata'' da [[Thema de Coloneia|Coloneia]] e da [[Thema da Cáldia|Cáldia]], este último governado pela família {{ilc|Gabrades||Gabras}} (ou Gabras).<ref name=hew47 /> Depois do {{séc|VIII}}, a área viveu um período de prosperidade, que só terminou com a conquista [[Império Seljúcida|seljúcida]] da Ásia Menor nas décadas de 1070 e 1080. Tendo voltado ao domínio bizantino durante o reinado de {{Lknb|Aleixo|I||Comneno}}, o Ponto foi governado por governantes que na prática eram semi-autónomos, como os Gabras de Trebizonda.
 
===Império de Trebizonda===
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[[Imagem:Trabzon,citadel1.jpg|thumb|[[Cidadela]] de [[Trebizonda]]]]
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[[Imagem:Empire of Trebizond.JPG|thumb|upright=1.2|Mapa do Império de Trebizonda]]
 
{{Artigo principal|Império de Trebizonda}}
 
Após a [[Cerco de Constantinopla (1204)|conquista de Constantinopla]] pela [[Quarta Cruzada]] em 1204, o Ponto manteve-se independente como Império de Trebizonda sob os [[[[Dinastia Comneno|comnenos]]. Graças à situação geográfica remota e a uma diplomacia hábil, esse império logrou sobreviver até ser conquistado pelos [[Império Otomano|otomanos]] em 1461, nove anos depois da [[queda de Constantinopla]].{{HarvRef|Hewsen|2009|p=49}} A habilidade diplomática passou por ter-se tornado um estado [[Vassalagem|vassalo]] em várias ocasiões, tanto da [[Geórgia]] como de vários líderes túrquicos do interior. O Império de Trebizonda foi um centro de cultura sob o reinado da dinastia Comnena.{{HarvRef|Hewsen|2009|p=48}}
 
===Vilaiete otomano===
[[Imagem:Christians in the Black Sea region (1896).JPG|thumb|upright=1.2|Mapa das populações cristãs no vilaiete de Trebizonda e suas vizinhanças em 1896]]
Com o domínio otomano que foi iniciado com a queda do Império de Trebizonda, parte dos gregos pônticos da região converteram-se ao [[islão]] através do sistema do ''[[Devşirme]]'', duma forma mais ou menos forçada, principalmente a partir do {{séc|XVII}}. Mas ao mesmo tempo, também houve alguns gregos que habitavam em vales que se converteram de livre vontade, nomeadamente os do {{ilc|vale de Of||Of (Turquia)|Of (Trebizonda)}}, e grande parte dos gregos pônticos cristãos manteve-se na região e em áreas vizinhas, que iam até ao Cáucaso [[Rússia|russo]], até à década de 1920, quando constituíam cerca de 25% da população. Em partes da Geórgia e da [[Arménia]] viveram gregos pônticos até à década de 1990, preservando os seus costumes e [[grego pôntico|dialeto do grego]]. Um dos grupos de gregos islamizados eram os chamados ''kromli'', dos quais se suspeitava terem permanecido cristãos secretamente; viviam nas aldeias de Krom, Imera, Livadia, Prdi, Alitinos, Mokhora e Ligosti, entre outras e o seu número ascendia a 12 a 15 mil.
 
Com o domínio otomano que foi iniciado com a queda do Império de Trebizonda, parte dos gregos pônticos da região converteram-se ao [[islão]] através do sistema do ''[[Devşirme]]'', duma forma mais ou menos forçada, principalmente a partir do {{séc|XVII}}. Mas ao mesmo tempo, também houve alguns gregos que habitavam em vales que se converteram de livre vontade, nomeadamente os do {{ilc|vale de Of||Of (Turquia)|Of (Trebizonda)}}, e grande parte dos gregos pônticos cristãos manteve-se na região e em áreas vizinhas, que iam até ao Cáucaso [[Rússia|russo]], até à década de 1920, quando constituíam cerca de 25% da população. Em partes da Geórgia e da [[Arménia]] viveram gregos pônticos até à década de 1990, preservando os seus costumes e [[grego pôntico|dialeto do grego]]. Um dos grupos de gregos islamizados eram os chamados ''kromli'', dos quais se suspeitava terem permanecido cristãos secretamente; viviam nas aldeias de Krom, Imera, Livadia, Prdi, Alitinos, Mokhora e Ligosti, entre outras e o seu número ascendia a 12 a 15 mil.{{HarvRef|Hewsen|2009|p=54}}
Durante os últimos anos do Império Otomano foi proposta a criação da "República do Ponto" e da "Federação Pôntico-Arménia", que não se chegaram a concretizar-se. Segundo algumas fontes, a intenção da criação desse ou desses estados independentes esteve na origem do que ficou conhecido por [[genocídio grego]], que alegadamente teria ocorrido ao mesmo tempo do [[genocídio arménio]], durante a [[Primeira Guerra Mundial]] (meados da década de 1910) e no qual teria sido mortas entre 300 e 400 mil pessoas, na sua maioria naturais do Ponto. A existência de tal massacre, da sua classificação como genocídio e do número de vítimas são temas controversos.
 
Durante os últimos anos do Império Otomano foi proposta a criação da "República do Ponto" e da "Federação Pôntico-Arménia", que não se chegaram a concretizar-se. Segundo algumas fontes, a intenção da criação desse ou desses estados independentes esteve na origem do que ficou conhecido por [[genocídio grego]], que alegadamente teria ocorrido ao mesmo tempo do [[genocídio arménio]], durante a [[Primeira Guerra Mundial]] (meados da década de 1910) e no qual teria sido mortas entre 300 e 400 mil pessoas, na sua maioria naturais do Ponto. A existência de tal massacre, da sua classificação como genocídio e do número de vítimas são temas controversos.
{| class=wikitable {{style-center}}
! colspan=5 | Etnias no Vilaiete de Trebizonda {{nobold|{{HarvRef|Pentzopoulos|2002|p=29-30}}}}
|-
! style="text-align:left;" | Fonte
! [[Turcos]] !! [[Gregos]] !! [[Arménios]] !! Total
|-
|Estatísticas oficiais otomanas<br />em 1910
{{Td fmtn|1047889}}<br />72,6%
{{Td fmtn|351104}}<br />24,3%
{{Td fmtn|45094}}<br />3,1%
{{Td fmtn|1444087}}
|-
|Estatísticas do [[Patriarcado Ecumênico de Constantinopla|Patriarcado<br />Ecuménico]] em 1912
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==Religião==
O Ponto é mencionado três vezes no [[Novo Testamento]] e os seus habitantes encontram-se entre os primeiros convertidos ao [[cristianismo]]. Os [[Atos dos Apóstolos|Atos]] 2:9 mencionam a presença de pônticos durante o dia de [[Pentecostes]]. Os Atos 18:2 mencionam um casal de [[judeus]] do Ponto que se tinha convertido ao cristianismo. E em 1. Pedro 1:1, o apóstolo [[São Pedro]] dirige-se aos pônticos numa carta como "os eleitos" e os "escolhidos". Trebizonda teve o seu próprio antes do [[Primeiro Concílio de Niceia]] (325). Subsequentemente, o bispo de Trebizonda passou a estar subordinado ao [[metropolita]] de [[Poti]]. Posteriormente, no {{séc|IX}}, Trebizonda passou a ser a sede do metropolita de [[Lazica]].<ref name=hew46 />
 
==Notas e referências==
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==Referências==
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*{{Britannica}} Diponível em linha em: {{Citar 1911encyclopedia.org|Pontus||1 de maio de 2013}}
 
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*{{Citation|last1=Bouckaert|first1=Remco|first2=Lemey, Philippe; Dunn, Michael; Greenhill, Simon J.; Alekseyenko, Alexander V.; Drummond, Alexei J.; Gray, Russell D.; Suchard, Marc A.; Atkinson, Quentin D.|date=24 de agosto de 2012|title=Mapping the Origins and Expansion of the Indo-European Language Family|lingua3=en|journal=Science|volume=337|number=6097|pages=957-960|doi=10.1126/science.1219669|issn=0036-8075|ref=bou}}
*{{Citation|last1=Bryer|first1=Anthony A. M.|year=1980|title=The Empire of Trebizond and the Pontos|publisher=Variorum Reprints|lingua3=en|location=Londres|isbn=0-86078-062-7}}
 
*{{Citation|last1=Bryer|first1=Anthony A. M.|year=1980|title=The Empire of Trebizond and the Pontos|publisher=Variorum Reprints|lingua3=en|location=Londres|pages=350|isbn=0-86078-062-79780860780625|url=http://books.google.pt/books?id=9YcJAQAAIAAJ|accessdate=1 de maio de 2013}}
 
*{{Citation|last1=Hewsen|first1=Robert H.|year=2009|title=Armenians on the Black Sea: The Province of Trebizond|publisher=Mazda Publishers|lingua3=en|location=Costa Mesa|editor-last=Hovannisian|editor-first=Richard G.|journal=Armenian Pontus: The Trebizond-Black Sea Communities|pages=453|isbn=9781568591551}}
 
*{{Citation|last1=Liddell|first1=Henry George|year=1940|title=πόντος|last2=Scott|first2=Robert|journal=A Greek-English Lexicon|publisher=Perseus|lingua3=en|url=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.04.0057%3Aentry%3Dpo%2Fntos|accessdate=20 de abril de 2013|ref=lid}}
 
*{{Citation|last1=MacMullen|first1=Ramsay|year=2000|authorlink=Ramsay MacMullen|title=Romanization in the time of Augustus|publisher=Yale University Press|lingua3=en|isbn=9780300137538}}
 
*{{Citation|last1=LiddellPeck|first1=HenryHarry GeorgeThurston|year=19401898|titleauthorlink=πόντος|last2=Scott|first2=RobertHarry Thurston Peck|title=|journal=AHarpers Greek-EnglishDictionary Lexiconof Classical Antiquities|publisher=Perseus Harper and Brothers|lingua3=en|location=Nova Iorque|url=http://www.perseus.tuftsmpiwg-berlin.edumpg.de/hoppercgi-bin/textptext?doc=Perseus%3Atext3atext%3A19993a1999.04.0057%3Aentry%3Dpo0062&query=id%2Fntos3dpontus#id,pontus|accessdate=201 de abrilmaio de 2013}}
 
*{{Citation|last1=MacMullenPentzopoulos|first1=RamsayDimitri|year=20002002|title=RomanizationThe inBalkan the TimeExchange of AugustusMinorities and Its Impact on Greece|publisher=YaleC. UniversityHurst Press& Co.|lingua3=en|edition=2ª|pages=300|isbn=9781850657026|url=http://books.google.pt/books?id=PDc-WW6YhqEC&pg=PA28|accessdate=1 de maio de 2013}}
 
*{{Citation|last1=Slater|first1=William J.|year=1969|title=Εὔξεινος|journal=Lexicon to Pindar|publisher=Perseus|lingua3=en|url=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.04.0072%3Aentry%3D*eu%29%2Fceinos|accessdate=20 de abril de 2013|ref=}}
 
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