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'''Felisberto Caldeira Brant''' ([[São João del Rei]], início do século XVIII - [[Caldas da Rainha]], [[1756]]) foi o terceiro e um dos mais famosos contratadores de diamantes de [[Diamantina]], antecedendo, nesta posição, a [[João Fernandes de Oliveira]].
#REDIRECT [[marquês de Barbacena]]
 
Filho de Antônio Ambrósio Caldeira Brant e de Josepha de Souza e Silva, casados em [[São Paulo]], capital, Felisberto Caldeira Brant pretence, como seu nome indica, à nobre família [[Caldeira Brant]]. Com sua esposa, Branca de Almeira Lara, foi, também, avô de importantes personagens históricos, os primos [[Felisberto Gomes Caldeira]] e [[Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira Horta]], o Marquês de Barbacena.
 
Felisberto Caldeira Brant, mineiro audacioso, foi riquíssimo. Começou a acumular sua fortuna por volta de [[1735]], nas minas recém-descobertas de [[Goiás]]. Em [[1744]], ao abraçar a causa popular e participar de motins contra o quinto, os Caldeira não tiveram outra escolha senão abandonar Goiás. Transferiram-se para [[Paracatu]], onde minas acabavam de ser descobertas. Nesse local, Felisberto foi bem-sucedido, tendo encontrado riquezas grandíssimas, mas, descontente com as dezessete oitavas de [[ouro]] que cada um de seus homens conseguia mineirar por dia, mudou-se novamente, desta vez para o Tijuco (antigo nome da cidade de Diamantina), já com a intenção de arrematar o terceiro contrato de diamantes.
 
Arrematou o terceiro contrato para a extração de [[diamante]]s para o período de [[1 de janeiro]] de [[1749]] a [[31 de dezembro]] de [[1752]], tendo tido como parceiros informais seus irmãos mais novos, Joaquim, Sebastião e Conrado. Durante o tempo da administração da família Caldeira, aumentou a população e, com ela, o bem-estar dos tijuquenses. O intendente enfermo foi substituído por outro de saúde tão frágil quanto, nomeado interinamente. Assim, a população possuía certa liberdade. Além disso, o contratador Felisberto Caldeira Brant não era tão duro com os garimpeiros e tolerava o contrabando até certo ponto - maneira que os garimpeiros possuíam para ficar com uma maior parte da riqueza para si, havendo muitos enriquecido, podendo levar uma vida de opulência.
 
Esta foi a fase áurea e verdadeiramente barroca de [[Diamantina]]. Seguindo o espírito do [[século XVIII]], em que reinavam a elegância dos trajes, o requinte das maneiras e as regras do bom tom, a ordem dominante era imitar a [[Rio de Janeiro|côrte]], de onde vinham contratados até [[professor]]es de [[civilidade]].
 
No entanto, ao tomar conhecimento do que acontecia no local, principalmente quanto ao contrabando de diamantes, o governador tentou intervir no Tijuco, emitindo ordens severas, as quais foram descumpridas. Trocou o intendente por [[Sancho de Andrade Castro e Lanções]] em [[1751]], o qual, afirmando estar munido de ordens secretas, intensificou a vigilância e não deu descanso aos colonos, perseguindo particularmente os Caldeira.
 
Os negócios da companhia de Felisberto Caldeira Brant e seus irmãos prosperavam. A renda permitia arcar com as despesas do contrato, saldar dívidas com a [[Coroa]] e, ainda, havia lucro para ser distribuído em dividendos. No entanto, em 1752 os sócios sofreram grande prejuízo com o misterioso roubo do cofre da intendência, onde se encontrava guardada grande quantidade de ouro e diamantes relativa ao contrato. Foi o começo da decadência do contratador. Simultaneamente, a mineração em Goiás também passava por um momento de declínio. Naquela província, os Caldeira ainda possuíam [[escravo]]s a trabalhar, os quais Felisberto Caldeira Brant e sua família não tiveram alternativa senão trazer para o Tijuco, de acordo com a concessão de novo ajuste. Somado a tudo isso, o início da administração do [[Marquês de Pombal]] trouxe a derrocada a amigos e protetores dos Caldeira. Por esse tempo, deu-se um episódio que ia desencadear as perseguições que trouxeram a ruína de Felisberto Caldeira Brant.
 
Às celebrações da [[Semana Santa]] de 1752, compareceu o ouvidor da [[Vila do Príncipe]], o Dr. [[José Pinto de Morais Bacelar]], o qual, influenciado pelo [[filosofismo]] dominante à época, comportou-se na igreja de maneira inconveniente, o que causou escândalo entre a população local. Ele, então, na tentativa de atrair a atenção de uma jovem, parenta dos Caldeira, jogou no colo dela uma flor, a qual ela recusou para preservar sua dignidade. Na igreja, houve um murmúrio de revolta. Aumentou a indignação de Felisberto, o qual, segredando palavras no ouvido de José Pinto de Morais Bacelar, foi esperar por ele à porta da igreja. Ao fim da festa, Felisberto Caldeira Brant exigiu do ouvidor que se explicasse e, no meio de uma discussão, deu-lhe uma punhalada, a qual não feriu Morais Bacelar por ter atingido um botão de metal de sua casaca. Nesse momento, chegou ao local a tropa que o intendente Sancho de Andrade Castro e Lanções mandara chamar. O povo, do lado da família Caldeira, estava disposto a resistir. A intervenção de amigos e de padre Cambraia evitou que houvesse um confronto entre os dois lados.
 
O intendente, que defendia o ouvidor, não cessou, no entanto, de perseguir Felisberto de todas as maneiras possíveis, formando contra ele processos injustos e criando empecilhos a seus trabalhos de mineração. Ao mesmo tempo que [[el-Rei]] se informava de parte do ocorrido, Felisberto Caldeira Brant enviou a [[Gomes Freire de Andrade]] sua queixa contra o procedimento do intendente. Gomes Freire, por sua vez, determinou que viesse ao Tijuco o governador interino, [[José Antônio Freire de Andrade]]. Este, embora investigasse a procedência do que era alegado, não conseguiu a colaboração de Sancho de Andrade Castro e Lanções, insistente em seus propósitos e sempre disposto a preservar sua autoridade.
 
Reclamações contra os Caldeira, ouriçadas pelo ouvidor José Pinto de Morais Bacelar, eram enviadas aos montes ao governo em Lisboa. Comentava-se mesmo que, com o grande poder que aquela família possuía, queriam os Caldeira tornar o Tijuco independente, entregando as minas ao povo como franquia. De qualquer maneira, para que se tomasse uma atitude mais drástica contra Felisberto Caldeira Brant, era necessário provas concretas, de forma a que uma possível prisão deste pudesse ocorrer sem irritar ainda mais a população com violências sem justificativas por parte do governo.
 
Para os inimigos de Felisberto Caldeira Brant, entretanto, não foi difícil encontrar esse pretexto. Devido ao roubo de seu ouro e diamantes do cofre da intendência, o contratador não podia imediatamente quitar sua dívida com a Coroa. Sacou uma letra de setecentos mil cruzados contra os caixas de sociedade em Lisboa em favor da fazenda real, prometendo-lhes na primeira ocasião remeter os diamantes que já haviam sido extraídos. Mas, uma vez que, por falta de fundos suficientes, os caixas não puderam ou não quiseram aceitar a letra, a mesma foi recambiada ao Tijuco. Assim, Felisberto Caldeira Brant foi preso e sequestraram-lhe os bens como estivesse ele falido.
 
Felisberto foi acusado de ter arrombado o cofre em que os diamantes da intendência eram mantidos, forjando, dessa forma, um roubo a si próprio também. Essa acusação foi, desde o início, baseada em um argumento absurdo, ficando claro que Felisberto Caldeira Brant era alvo de uma armação por parte da Coroa, a quem ele se tornara uma pedra no sapato por sua popularidade, riqueza e poder. O cofre da intendência possuía seis fechaduras; duas chaves estavam em poder do intendente do distrito, uma em poder do contratador, e as outras três em poder dos empregados do intendente. Dessa forma, se tal cofre havia sido aberto, a responsabilidade pelo ocorrido era a mesma entre os seis guardiões de cada uma das chaves.
 
Entre as acusações do ouvidor José Pinto de Morais Bacelar a Felisberto Caldeira Brant, figura o que segue: "... finalmente, que a família dos Caldeiras tinha-se tornado aqui muito poderosa e temida, e que todos lhe obedeciam cegamente; e, assim, eles procuravam subtrair-se do domínio real, e queriam tornar o Tijuco independente, para o que tinham prometido franquear aos povos as lavras diamantinas: o que era um mau exemplo para os outros povos do Brasil." Uma vez que Felisberto Caldeira Brant havia sido cautelosamente preso, foi enviado para o Rio de Janeiro, de onde foi transferido para o Limoeiro, em Lisboa.
 
Com o advento do terremoto de [[1 de novembro]] de [[1755]], muitos detentos do [[Limoeiro]] fugiram. Felisberto Caldeira Brant, no entanto, colocou-se diante do Marques de Pombal, inquirindo-o sobre aonde devia ir. O ministro de [[Dom José I]] surpreendeu-se, e logo comunicou a situação aos brasileiros [[João Pereira Ramos]], ao bispo de [[Coimbra]] e ao [[General Godinho]], que procuraram comprovar que o antigo contratador era inocente e vítima de intrigas e perfídias. Mesmo assim, o Marquês de Pombal deu-lhe a liberdade, mas ordenou que continuasse a liquidação das contas de Felisberto Caldeira Brant e o exame do sequestro de seus bens.
 
Gravemente enfermo, Felisberto Caldeira Brant, que estivera preso por quase cinco anos, retirou-se para Caldas da Rainha, onde faleceu.
 
A família Caldeira Brant move, desde a [[década de 1960]], uma ação judicial de indenização no [[Tribunal Internacional de Haia]] contra [[Portugal]]. O valor confiscado da família Caldeira Brant foi de 30 toneladas de ouro e a casa onde hoje funciona o palácio do Arcebispado de Diamantina. O valor atual seria de 390 milhões de dólares.
 
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título=[[Contratador de diamantes do Tijuco]] |
anos=[[1749]] — [[1752]] |
antes=-|
depois=[[João Fernandes de Oliveira]]
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[[Categoria:Família Caldeira Brant]]
[[Categoria:Diamantina]]