Hispânia Tarraconense: diferenças entre revisões

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== Geografia e organização político-administrativa da província Tarraconense ==
=== Limites e extensão ===
A província Hispânia Citerior Tarraconense, no seu momento de maior extensão, abrangia as duas terceiras partes da [[península Ibérica]], e compreendia as regiões a norte e a sul do [[rio Ebro]], dos [[Pirenéus]] a norte até [[Sagunto]] a sul, o [[Rio Douro|vale do Douro]], exceto a zona da sua margem meridional entre o [[rio Tormes]] e a sua desembocadura em ''[[Cale (cidade)|Cale]]'' ([[Vila Nova de Gaia]], Portugal), os vales do [[Rio Tejo|Tejo]] e do [[Rio Guadiana|Guadiana]] até aos limites com a Lusitânia, e o extremo oriental da [[Andaluzia]], a leste da fronteira da Bética que discorria de [[Cástulo]] ([[Linares (Jaén)|Linares]]), passando por [[Acci]] ([[Guadix]]) até a baía de [[Almeria]], ficando estas zonas (que durante vários anos pertenceram à Bética) em território tarraconense; a leste limitava com o ''mare Nostrum'' — [[mar Mediterrâneo]], — a oeste com o [[Oceano Atlântico]] e a norte com o [[Golfo da Biscaia]] e a cordilheira dos Pirenéus, que a separava do sul da [[Gália]], ou seja, das províncias romanas da [[Aquitânia]] e [[Gália Narbonense]].
 
A [[Galécia]] e a [[Cartaginensis]] foram cindidas posteriormente da Tarraconense, ambas no {{séc|III}}, e a [[Baleares|''Balearica'']] da ''Cartaginensis'', em finais do {{séc|IV}}, sendo transformadas em províncias independentes.
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Assim, em {{DC|74|x}}, [[Vespasiano]], mediante o [[Édito de Latinidade de Vespasiano|Édito de Latinidade]], outorgou a cidadania latina menor -''ius latii minor''- a todas os comunidades da Hispânia, o que permitia obterem a [[cidadania romana]] todas aquelas pessoas que desempenhassem magistraturas municipais -[[Duunvirato]] ou edilidade- na sua comunidade, uma vez que fora transformada em município por ordem imperial, enquanto o restante dos habitantes adquiriam a cidadania latina, que lhes permitia gozar legalmente do direito de fazer negócios de acordo com a lei romana -''ius comercii''- e de se casar à romana -''ius connubii''-, em ''iustae nuptiae''.
 
A concessão deste direito foi aproveitada por bastantes comunidades estipendiárias da Tarraconense para se tornarem em municípios, como é o caso de [[Nova Augusta]] ([[Lara de los Infantes]], [[província de Burgos|Burgos]]), [[Bergido Flávio]] ([[Torre del Bierzo]], [[El Bierzo]], [[província de Leão|Leão]]), [[Segóvia]], [[Duratón]] ([[província de Segóvia|Segóvia]], talvez ''Confluenta''?), ou ''Aqua Flaviae'' ([[Chaves (Portugal)|Chaves]], [[Portugal]]), por citar umas poucas. Os cidadãos romanos assim promovidos em todos estes novos municípios foram adscritos à tribo ''[[Quirina]]'', e assim o faziam constar na ''origo'' dentro do seu nome.
 
As principais cidades, de fundação romana ''ex novo'' ou com origem grega -as menos- ou pré-romano, da província Tarraconense foram:
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* [[Júlia Líbica]] ([[Llívia]], Gerona), Município de César
* ''[[Ausa]]'' ([[Vic]], [[Província de Barcelona|Barcelona]]), Município de Augusto
* ''[[BaetuloBétulo]]'' ([[Badalona]], Barcelona), Município de Augusto
* ''[[Iluro]]'' ([[Mataró]], Barcelona), Município de César
* [[Empórias]] (Ampúrias, [[Província de Gerona|Gerona]]), Colônia de César
* ''[[Gerunda]]'' ([[Gerona]]), MunicipoMunicipio de Augusto
* ''[[BaetuloBétulo]]'' ([[Badalona]], Barcelona), Colônia de Augusto
* ''[[Dertosa]]'' ([[Tortosa]], [[Província de Tarragona|Tarragona]]), Município de Augusto
* ''[[Osca]]'' ([[Huesca]]), Município de Augusto
* ''[[Iaca]]'' ([[Jaca (Huesca)|Jaca]], [[Província de Huesca|Osca]]), Município ?
* ''[[Labitosa]]'' ([[La Puebla de Castro]], Huesca), Município Flávio
[[Imagem:Teatro Romano Cesaraugusta-vista desde arriba-3.jpg|200px|thumb|[[Teatro de César Augusta]], capital de um ''conventus iuridicus', edificado sob [[Augusto]] e [[Tibério]] para dotar a cidade mais importante do [[vale do Ebro]]'.]]
* [[César Augusta]] ([[Saragoça]]), Colônia de Augusto
* ''[[Augusta Bílbilis]]'' ([[Calatayud]], [[Província de Saragoça|Saragoça]]), Município de Augusto
* ''[[Turiaso]]'' ([[Tarazona]], Saragoça), Município de Augusto
* ''[[Celsa]]'' ([[Velilla de Ebro]], Saragoça), Colônia triunviral
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* [[Cartago Nova]] ([[Cartagena (Espanha)|Cartagena]]), Colônia de César
* Valência ([[Valência (Espanha)|Valência]]), Colônia de Augusto
* ''[[SaguntumSagunto]]'' ([[Sagunto]], [[Província de Valência|Valência]]), Município cesariano
[[Imagem:Faro Torre Hércules La Coruña Galicia España.jpg|thumb|200px|[[Torre de Hércules]], farol romano construído no {{séc|II}} no Município Flávio Brigâncio na [[Corunha]].]]
* ''[[Saetabi]]'' ([[Játiva]], [[Província de Valência|Valência]]), Município de Augusto
Linha 102:
* ''[[Cascantum]]'' ([[Cascante]], Navarra), Município de Augusto
* ''[[Calagurris]]'' ([[Calahorra]], [[La Rioja (Espanha)|La Rioja]]), Município sob César
* ''[[Oiasso]]'' ([[IrúnIrun]], [[Guipúzcoa]]) Município?
[[Imagem:Vareia-detailed-view.jpg|thumb|200px|Restos de uma casa romana em ''Vareia'' ([[Logronho]]).]]
* ''[[Veleia]]'' ([[Iruña de Oca]], [[província de Álava]]), Município de Augusto
Linha 111:
* ''[[Gigia]]'' ([[Gijón]], [[Principado das Astúrias|Astúrias]]), Município Flávio?
* ''[[Lucus Asturum]]'' ([[Lugo de Llanera]], Astúrias)
* ''[[Flavionavia]]'' ([[Pravia]]?, Astúrias), Município Flávio?
* ''[[FlaviumFlávio BrigantiumBrigâncio]]'' ([[Corunha]]), Município Flávio
* ''[[Iria Flavia]]'' ([[Padrón]], [[Província da Corunha|A Corunha]]), Município Flávio
* ''[[Vico Spacorum]]'' ([[Vigo]], [[Província de Pontevedra|Pontevedra]]) Município Flávio
Linha 120:
* [[Bracara Augusta]] ([[Braga]], [[Portugal]]) Município de Augusto?
* ''[[Aquae Flaviae]]'' ([[Chaves (Portugal)|Chaves]], Portugal), Município Flávio
* ''[[Vila NovaCale de Gaia(cidade)|Cale]]'' e ''[[PortumPortus Cale]]'' ([[PortoVila (cidade)|Nova de Gaia]] e [[Porto]], Portugal), Município?
* [[Clúnia]] (Coruña del Conde, [[Província de Burgos|Burgos]]) Município de Tibério e colônia sob Vespasiano
* ''[[Occilis]]'' ([[Medinaceli]], [[Província de Sória|Sória]]), Município Flávio?
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* ''[[Tiermes]]'' ([[Montejo de Tiermes]], Sória), Município sob Tibério
* ''[[Uxama argaela]]'' ([[El Burgo de Osma]], Sória), Município sob Tibério
* ''[[AugustobrigaAugustóbriga]]'' ([[Muro de Ágreda]], Sória), Município Flávio?
* ''[[PalantiaPalância]]'' ([[Palência]]), Município Flávio?
* ''[[Pintia]]'' ([[Padilla de Duero]], [[Província de Valladolid|Valladolid]]),
[[Imagem:AcueductoSegovia edit1.jpg|thumb|200px|[[Aqueduto]] de Segóvia, edificado sob [[Domiciano]] e remoçado sob [[Trajano]], dentro do processo de municipalização flávio em toda Hispânia, proporcionou a este município um elemento singular ao mesmo tempo em que útil.]]
Linha 133:
* ''[[Albocela]]'' ([[Villalazán]], [[Província de Zamora|Zamora]]) Município Augusto?
* ''[[Septimanca]]'' ([[Simancas]], Valladolid)
* ''[[Rauda (Hispânia)|Rauda]]'' ([[Roa (Burgos)|Roa]], Burgos), Município Flávio?
* ''[[Deobrígula|Deobrigula]]'' ([[Tardajos]], [[Província de Burgos|Burgos]]), Município Flávio?
* ''[[Virovesca]]'' ([[Briviesca]], Burgos), Município?
* ''[[Deóbriga]]'' ([[Miranda de Ebro]], Burgos) Município de Augusto?
* [[Segisama Júlia]] ([[Sasamón]], Burgos), Município Flávio
* [[Nova Augusta]] ([[Lara de los Infantes]], Burgos), Município Flávio
* ''[[Cauca (cidade romana)|Cauca]]'' ([[Coca (Segóvia)|Coca]], [[Província de Segóvia|Segóvia]]), Município Flávio
* ''[[Confluenta]]'' ([[Duratón]], Segóvia), Município Flávio
* Segóvia ([[Segóvia]]), Município Flávio
* [[Brigeco]] (Dehesa de Morales de las Cuevas, [[Castro Gonzalo]], [[Província de Zamora|Zamora]]), Município Flávio
Linha 151:
* ''[[Interamnium Flavium]]'' ([[Bembibre]], Leão) Município Flávio
* [[Toleto]] ([[Toledo]]), Município de Augusto
* ''[[CaesarobrigaCesaróbriga]]'' ([[Talavera de la Reina]], [[Província de Toledo|Toledo]]), Município sob César
* ''[[Segóbriga|Segobriga]]'' ([[Saelices]], [[província de Cuenca]]), Município de Augusto
* ''[[Valeria]]'' (Valeria, Cuenca), Município de Augusto
* ''[[Ercávica|Ercavica]]'' ([[Cañaveruelas]], Cuenca), Município de Augusto
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* A [[Legio VI Victrix|VI ''Victrix'']] (até o seu translado à [[Germânia]] em 70 por ordem de [[Vespasiano]]) em ''[[Leão (Espanha)|Legio]]'' (atual Leão).
* A [[Legio X Gemina|Legio X ''Gemina'']] (até ser enviada à [[Panônia]] em 63 por [[Nero]]) em ''[[{{ilc|Petavônio||Petavonium]]''}} ([[Rosinos de Vidriales]], Zamora).
* A [[Legio IV Macedonica|IV ''Macedonica'']] (até ser transferida à ''Germania'' em 43 por ordem de [[Cláudio]]) em ''[[Herrera de Pisuerga|Pisoraca]]'' (Herrera de Pisuerga, Palência).
[[Imagem:LadrilloLVIIGFP.JPG|thumb|esquerda|250 px|Ladrilho com a ''figlina'' ''L(egio) VII G(emina) GORD(iana) P(ia) F(elix)'', procedente de ''Legio'', que indica a presença da VII Gemina em meados do {{séc|III}} na Tarraconense.]]
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Adscritas à Legio VII ''Gemina'', desde, ao menos, o último quartel do {{séc|I}}, estiveram cinco unidades auxiliares, uma ala de cavalaria, duas cortes ''equitatae'' e duas coortes ''peditatae'', que foram as seguintes:
 
* ''[[Ala II Flavia Hispanorum civium romanorum]]'', acantonada em ''Petavonium''Petavônio (Rosinos de Vidirales, Zamora).
* ''[[Cohors I Celtiberorum Equitata civium romanorum]]'', com base em ''[[Sobrado dos Monxes]]'' (Corunha), no território do ''MunicipumMunicípio Flavium[[Flávio Brigantia''Brigâncio]].
* ''[[Cohors I Galica Equitata civium romanorum]]'', acampada em ''Pisoraca'', (Herrera de Pisuerga, Palência).
* ''[[Cohors III Lucensium]]'', acampada em ''[[Luco Augusto]] (Lugo).
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A província, a partir da [[década de 1970]], na zona de [[La Rioja (Espanha)|La Rioja]], com centro no Município [[Tricio Magalo]] ([[Tricio]]), manteve um importantíssimo centro de produção oleira, que perduraria até bem entrado o {{séc|VI}}, fabricando a cerâmica de luxo ''[[terra sigillata]] Hispanica'', que foi distribuída por toda a península, o Norte da África, a [[Gália]], [[Britânia (província romana)|Britânia]] e o ''limes'' [[rio Reno|renano]]. O movimento econômico gerado foi tão importante que em Trício existiu um ''[[portorium]]'' para arrecadar o imposto chamado ''centessima rerum venalium''.
 
No capítulo da produção [[cerâmica]], vale a pena resenhar também os alfares de cerâmica comum de [[Melgar de Tera]] (Zamora), que começaram a funcionar no {{séc|I}} em relação a o abastecimento das tropas imperiais acantonadas em ''Petavonium''Petavônio, e com a venda de olaria à população civil do ambiente. As suas produções atingiram ''Legio'' e estiveram em funcionamento até o {{séc|IV}}. Também destacaram-se as instalações de produção de ''Terra Sigilata Hispana'' e cerâmica pintada de tradição celtibérica de ''[[Uxama argaela]]'' ([[Burgo de Osma]]-[[Osma]], [[Sória]]), cuja distribuição abarcou todo o Vale do Douro e a parte Oriental do vale do Ebro.
 
A agricultura de tipo mediterrâneo - olival, vinhedo e cereal - foi especialmente florescente em todas as comunidades da zona levantina, destacando-se a articulação de uma importante zona de regadio na parte média do vale do Ebro, entre ''Vareia'' e César Augusta, como provam o [[Bronze de Agón]] e os importantes vestígios de infra-estruturas hidráulicas documentadas em toda esta zona.
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* A via que unia Astúrica Augusta com ''Tarraco'', a capital provincial, pelo vale do [[Ebro]].
* A via [[Via Astúrica-Burdígala||via Ab Asturica Burdigalam]]}} que unia Astúrica Augusta com ''Burdigala''[[Burdígala]] ([[Bordéus]], [[França]]) por ''[[Oiasso]]'' ([[Irún]], [[Guipúscoa]]).
* A importante [[Via Augusta]], que começava nos [[Pirenéus]], em ''Iuncaria''Juncária ([[La Jonquera]], Gerunda), ligando com a [[Via Domícia]] da [[Gália Narbonense]] e descendia por toda a costa levantina em direção à [[Bética]].
 
Também destacavam um ramo da estrada de Astúrica a ''Tarraco'' que seguia o vale do [[Douro]] e buscava o do Ebro pela depressão do [[Jalón]], a calçada que comunicava ''Tarraco'' com [[Emerita Augusta]] através de ''[[Sítio arqueológico de Complutum|Complutum]]'', as três vias que comunicavam Astúrica Augusta com Bracara Augusta e com Luco Augusto, a estrada paralela à costa do [[golfo da Biscaia]], de ''Brigantium'' (A Corunha) até ''Oiasso'' (Irún), a via que unia César Augusta com ''Summo Pirianeo'' ([[Somport]], Huesca), e boa parte da [[Via da Prata]], da sua origem em Astúrica Augusta até o limite com a província ''Lusitânia''.
 
Pela sua vez, o importante comércio marítimo no ''Mare Nostrum'' - o Mediterrâneo - com direção à [[Gália Narbonense]], [[Itália (província romana)|Itália]] e o oriente do império, utilizou, primariamente, os seguintes portos: