Temperamento musical: diferenças entre revisões

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Quando um corpo está em vibração emite um som complexo cuja representação temporal pode ser decomposta na soma de um conjunto de curvas senoidais que contêm a frequência fundamental f<sub>0</sub> e um número variável de [[harmónico]]s com frequência n*f<sub>0</sub>, n=2,3…, que podem nem todos existir num dado som. É a presença ou não de cada um dos [[harmónico]]s - e a sua amplitude - que dá a cada instrumento musical o seu som peculiar - o seu timbre.
 
Por exemplo, quando uma corda de guitarra emite o som correspondente a um Dó (C, na notação não latina), para além do som fundamental correspondente a esse Dó, ouvem-se também, embora com menor intensidade sonora, os seus [[harmónico]]s. Os primeiros nove (n*f<sub>0</sub>, para n=2 a 10) correspondem às notas Dó (uma oitava acima), Sol ([[Quinta (música)|quinta]], da oitava acima), Dó (duas oitava acima), Mi, Sol, Sib, Dó, Ré e Mi. Não são exactamente as mesmas notas que usamos atualmenteactualmente no ocidente (no chamado temperamento igual) mas são notas muito parecidas com as da escala temperada.
 
A escala diatónica baseia-se exactamente nos sons [[harmónico]]s. Como os harmónicos principais correspondem ao intervalo de oitava e de [[Quinta (música)|quinta]], o que se pode tentar fazer é escolher as notas da escala de tal modo que cada intervalo de [[Quinta (música)|quinta]] e [[oitava]] seja o intervalo natural que aparece espontaneamente entre os sons [[harmónico]]s.
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É o caso do '''sistema pitagórico''', usado na [[Idade Média]], em que se encurtava só uma das [[Intervalo (música)|quintas]], a «quinta do lobo». Usava-se o ciclo de [[Intervalo (música)|quintas]] de Eb até G#, ficando com as [[oitava]]s afinadas e com todas as [[Quinta (música)|quintas]] perfeitamente afinadas excepto a última (G#-Eb), que ficava dissonante e cujo batimento «uivava» como um lobo porque ficava demasiado curta. Eram sobretudo as [[Quinta (música)|quintas]] e [[Intervalo (música)|quartas]] que eram apresentados na sua forma idealmente pura e simples porque eram os intervalos considerados estáveis no contexto estilístico da época. As terceiras e sextas tinham algum [[batimento]] (menos do dobro das do temperamento igual), assim como os meios tons diatónicos, que eram pequenos, mas tomava-se partido do seu poder expressivo que criava uma cor harmónica nas cadências que eram usadas na época.
 
No século XV, começou a surgir o gosto por terceiras naturais (terças) e os músicos começaram a experimentar usar formas modificadas da afinação pitagórica para obter terceiras (terças) mais perto do seu valor natural. O grande teórico da [[Renascença]], Gioseffo Zarlino (1517-1590), defendia um sistema de [[entonação justa]] baseado nas terceiras, e não nas [[Quinta (música)|quintas]], como no sistema pitagórico, já que as terceiras passaram a ser usados como pontos de resolução e as terceiras pitagóricas já não assentavam bem no contexto musical. O sistema que preconizava era o que se chama hoje o '''sistema ptolomaico''', um dos sistemas propostos por Ptolomeu, no século II D.C.</blockquote>
 
Os '''temperamentos mesotónicos''' - Pouco a pouco, as terceiras e sextas foram assumindo um papel mais relevante e, no início da Renascença, os músicos já desejavam encontrar novas afinações que tornassem um maior número delas naturais. Isso deu origem ao aparecimento dos temperamentos mesotónicos (ou do '''tom médio''') muito usados nos séculos XVI e XVIII. Enquanto os sistemas de afinação natural procuravam aproximar-se dos intervalos ideais, os sistemas de temperamento implicavam desvios deliberados, mas pequenos, desses valores. Procurando obter terças justas, encurtavam fortemente 11 [[Quinta (música)|quintas]], resultando uma delas demasiado grande (Mib-Lá, também chamada a «quinta do lobo»). Este sistema não é mau para as tonalidades mais clássicas mas gera uma gama cromática muito desigual. Não se pode tocar em algumas tonalidades. Mas já muitos teóricos da Renascença descreviam outras alternativas em que os intervalos não eram números racionais (razões de inteiros) e que correspondiam ao que se chama hoje o bom temperamento e o temperamento igual.