Richard Cantillon: diferenças entre revisões

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''Essai'' permanece como a única contribuição existente de Cantillon para a economia. Ele foi escrito por volta de 1730 e circulou amplamente na forma de manuscrito, não sendo publicado até 1755. Apesar de ter tido muita influência no desenvolvimento inicial das escolas [[economia clássica|clássica]] e [[fisiocracia|fisiocrata]] de pensamento, ''Essai'' foi deixado de lado até sua redescoberta por Jevons no final do século XIX.<ref name="Cantillon201015">Cantillon 2010, p. 15</ref> Cantillon foi influenciado por suas experiências como um banqueiro e especialmente pela [[bolha especulativa]] da Companhia do Mississippi de John Law. Ele também foi muito influenciado por economistas anteriores, especialmente por [[William Petty]].
 
''Essai'' é considerado o primeiro tratado completo sobre economia, com inúmerasmuitas contribuições para a ciência. Essas contribuições incluem: sua [[metodologia]] de causa e efeito, teorias monetárias, sua concepção de empreendedor como tomador de risco e o desenvolvimento da economia espacial. O ''Essai'' de Cantillon teve uma influência significativa no desenvolvimento inicial da economia política, incluindo as obras de [[Adam Smith]], [[Anne Robert Jacques Turgot|Anne Turgot]] e [[François Quesnay]].
 
==Biografia==
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Richard Cantillon acumulou uma grande fortuna a partir de sua especulação, comprando as ações da Companhia do Mississippi no início e as vendendo a preços inflacionados.<ref>Brewer 1992, p. 6; Brewer escreve, "Ele foi introduzido a Law no início... Mais importante, ele comprou ações no começo e as vendeu com um grande lucro, pensando que o esquema era infundado e fadado ao fracasso". Brewer também nota que Cantillon estava agindo como o banqueiro pessoal de John Law na época.</ref> O sucesso financeiro e a influência crescente de Cantillon causaram atrito em seu relacionamento com John Law, e algum tempo depois Law ameaçou prender Cantillon se ele não deixasse a França dentro de vinte e quatro horas.<ref name="Higgs1891276">Higgs 1891, 276; A resposta de Cantillon, segundo Higgs, que registra Law como se segue: "Seu grande crédito durante a Regência aumentou a inveja de John Law, que usava uma linguagem direta com ele: 'Eu posso lhe enviar para a Bastilha à noite se você não me der sua palavra que deixará o reino em vinte e quatro horas!'"</ref> Cantillon respondeu: "Eu não vou embora, mas vou fazer seu sistema ter sucesso".<ref name="Higgs1891276" /> Ao final, em 1718, Law, Cantillon e o rico especulador [[Joseph Gage]] formaram uma companhia privada voltada ao financiamento da especulação dos imóveis da América do Norte.<ref>Finegold {{Nowrap|Setembro de 2010}}; Rothbard 1995, p. 346</ref>
 
Em 1719, Cantillon deixou Paris e foi para [[Amsterdã]], retornando brevemente no começo de 1720. Realizando empréstimos em Paris, Cantillon tinha dívidas sendo quitadas em Londres e Amsterdã.<ref>Brewer 1992, p. 7; Brewer sugere que Cantillon guardou sua riqueza em Londres para evitar as altas taxas francesas que recaíam sobre aqueles que lucravam com a bolha especulativa. Hyse 1971, p. 815; Hyse escreve que os lucros era remetidos tanto para Londres como para Amsterdã, "Os registros ingleses indicam que Cantillon remetia seus lucros especulativos de Paris para Amsterdã e Londres".</ref> Com o colapso da "bolha do Mississippi", Cantillon foi capaz de exigir altas taxas de juros.<ref>Rothbard 1995, p. 346; Rothbard nota que essas altas taxas de juros incorporaram um adicional pela inflação.</ref> A maior parte de seus devedores tinhamtinha sofrido prejuízos financeiros no colapso da bolha e culpavam Cantillon até sua morte. Cantillon envolveu-se em incontáveis processos movidos por seus devedores, levando a um grande número de planos de assassinatos e acusações criminais.<ref>Brewer 1992, pp. 7–8; Rothbard 1995, pp. 346–347</ref>
 
Em 16 de fevereiro de 1722, Cantillon casou-se com Mary Mahony, filha do Conde Daniel O'Mahony - um rico mercador e ex-general irlandês - passando grande parte do restante da década de 1720 viajando pela Europa com sua esposa.<ref>Higgs 1891, pp. 282–283; Rothbard 1995, pp. 346–347</ref> Cantillon e Mary tiveram dois filhos, um menino que morreu precocemente e uma filha, Henrietta, que mais tarde se casaria com William Howard, o [[Barão Stafford]], em 1743.<ref>Higgs 1871, pp. 282, 288</ref> Embora ele frequentemente retornasse a Paris entre 1729 e 1733, sua residência permanente situava-se em Londres.<ref>Higgs 1891, p. 286; Spengler {{Nowrap|Agosto de 1954}}, p. 284</ref> Em maio de 1734, sua residência em Londres sofreu um incêndio devastador, e presume-se que Cantillon morreu no fogo.<ref name="multiauthordeathdate">Rothbard 1995, p. 347; Hayek 1991, p. 246; Higgs 1891, p. 290</ref> Apesar das causas do incêndio serem desconhecidas, a teoria mais aceita é de que Cantillon foi assassinado.<ref>Brewer 1992, p. 8</ref> Um dos biógrafos de Cantillon, Antoine Murphy, desenvolveu a teoria alternativa de que Cantillon forjou sua própria morte para escapar do assédio de seus devedores, surgindo em [[Suriname]] sob o nome de Chevalier de Louvigny.<ref>Brewer 1992, p. 8; Brewer reafirma o argumento de Murphy, em que Murphy cita o fato de que o célebre Chevalier de Louvigny possuía um grande número de documentos relacionados a Cantillon.</ref>
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No ''Essai'', Richard Cantillon forneceu uma versão melhorada da [[teoria quantitativa da moeda]] de John Locke, focando na inflação relativa e na [[velocidade da moeda]].<ref>Cantillon 2010, p. 148; "O Sr. Locke estabelece como máxima fundamental que a quantidade de bens em proporção à quantidade de moeda é um regulador dos preços de mercado. Eu tentei elucidar esta ideia nos capítulos anteriores: ele viu claramente que a abundância de moeda torna tudo mais caro, mas ele não explicou como isto acontece. A grande dificuldade desta questão consiste em saber de que maneira e em que proporção o crescimento da moeda aumenta os preços das coisas".</ref> Cantillon sugeriu que a inflação ocorria gradativamente e que a nova oferta de moeda tinha um efeito localizado na inflação, efetivamente originando o conceito de [[neutralidade da moeda|moeda não-neutra]].<ref>Rothbard 1995, p. 355</ref> Além disso, ele afirmou que os destinatários originais da nova moeda gozam de padrões de vida mais altos à custa dos indivíduos posteriores.<ref>Rothbard 1995, p. 356</ref> O conceito de inflação relativa, ou um aumento desproporcional nos preços dos diferentes bens em uma economia, é hoje conhecida como Efeito Cantillon.<ref>Cantillon 2010, p. 155; Bordo 1983, p. 242</ref> Cantillon também considerou que as mudanças na velocidade da moeda (quantidade de trocas feitas durante um período específico de tempo) influenciam os preços, embora não no mesmo nível que as mudanças na quantidade de moeda.<ref>Cantillon 2010, pp. 147–148</ref> Como ele acreditava que a oferta de moeda consistia apenas de dinheiro em espécie, ele admitiu que os aumentos nos substitutivos da moeda - ou notas bancárias - poderiam afetar os preços ao efetivamente aumentar a velocidade de circulação do dinheiro depositado.<ref>Bordo 1983, p. 237</ref> Além de distinguir a moeda dos substitutos de moeda, ele também distinguiu as notas bancárias oferecidas como representativas dos depósitos em espécie das notas bancárias circulando além da quantidade em espécie - ou meio fiduciário - sugerindo que o volume de meio fiduciário é estritamente limitado pela confiança das pessoas em seu resgate.<ref>Spengler {{Nowrap|Outubro de 1954}}, pp. 414–415</ref> Ele considerou o meio fiduciário uma ferramenta útil para diminuir a pressão negativa que a acumulação do dinheiro em espécie tem sobre a velocidade da moeda.<ref>Cantillon 2010, pp. 227–230</ref>
 
Abordando a crença mercantilista de que a intervenção monetária poderia causar uma balança comercial perpetuamente favorável, Cantillon desenvolveu um mecanismo de fluxo de espécie, antecipando as futuras teorias de equilíbrio monetário internacional.<ref name="Rothbard1995359">Rothbard 1995, p. 359</ref> Ele sugeriu que em países com uma grande quantidade de moeda em circulação, os preços irão aumentar e então tornar-se-ão menos competitivos em relação aos países onde há uma relativa escassez de moeda.<ref>Spengler, p. 418; Rothbard 1995, pp. 358–359</ref> Assim, Cantillon também defendia que aumentos na oferta de moeda, independente da fonte, causam aumentos no nível de preços e então reduzem a competitividade da indústria de uma nação em particular em relação a uma nação com preços menores.<ref>Bordo 1983, p. 244</ref> Entretanto, Cantillon não acreditava que os mercados internacionais tendiam ao equilíbrio e, aoem invésvez disso, sugeriu ao governo acumular moeda em espécie para evitar o aumento de preços e a queda da competitividade.<ref name="Rothbard1995359" /> Além disso, ele sugeriu que uma balança comercial favorável pode ser mantida oferecendo um melhor produto e mantendo a competitividade qualitativa.<ref>Brewer 1992, p. 114</ref> A preferência de Cantillon por uma balança comercial favorável possivelmente se originou da crença mercantilista de o comércio ser um jogo de [[soma-zero]], no qual uma parte ganha às custas de outra.<ref>Brewer 1992, pp. 117–118</ref>
 
Uma teoria relativamente avançada sobre juros também é apresentada.<ref>Hayek 1991, p. 265; Hayek nota que a teoria sobre juros de Cantillon foi negligenciada por [[Eugen von Böhm-Bawerk]], que escreveu ''Capital e Juros'' como uma crítica das teorias de juros existentes a fim de criar a introdução para sua própria teoria da preferência-tempo dos juros. Isso ilustra a obscuridade do ''Essai'' de Cantillon para a economia antes de sua "redescoberta" por Jevons.</ref> Cantillon acreditava que os juros originam da necessidade dos tomadores de capital e do medo de perda dos emprestadores, o que significa que os tomadores têm de recompensar os emprestadores pelo risco da possível insolvência do devedor.<ref>Cantillon 2010, pp. 169–170</ref> Por sua vez, os juros são pagos pelos lucros obtidos do retorno do capital investido.<ref>Cantillon 2010, pp. 170–171</ref> Embora anteriormente acreditava-se que a taxa de juros variava inversamente à quantidade de moeda, Cantillon afirmou que a taxa de juros era determinada pela oferta e demanda no mercado de fundos emprestáveis<ref>Bordo 1983, p. 247; Brewer 1992, p. 91</ref> - uma visão normalmente atribuída ao filósofo [[Escócia|escocês]] [[David Hume]].<ref>Hayek 1991, pp. 265–266</ref> Assim, embora o dinheiro economizado impactasse a taxa de juros, a nova moeda que é usada para o consumo não impacta. A teoria sobre os juros de Cantillon é, então, semelhante à teoria da [[preferência pela liquidez]] de [[John Maynard Keynes]].<ref>Bordo 1983, pp. 247–248, 253</ref>