Batalha de Versinícias: diferenças entre revisões

|legenda = Bulgária sob o khancã Krum incluindo suas mais importantes campanhas e batalhas.

A '''Batalha de Versinikia''' ({{langx|bg|Битката при Версиникия}}; {{langx|el|Μάχη της Βερσινικίας}}) foi um conflito travado em {{dtlink|22|6|813}} entre o [[Império Bizantino]] e o [[Primeiro Império Búlgaro]], próximo da cidade de [[Adrianópolis]], atualmente na [[Turquia]]. Apesar da clara desvantagem numérica os búlgaros se saíram vitoriosos, resultando no destronamento de [[Miguel I Rangabe]] ({{nwrap|r. |811-|813)}} por {{Lknb|Leão|V, o Armênio}}. Ela foi um grande sucesso e fortaleceu ainda mais a posição dos búlgaros após a vitória decisiva sob {{Lknb|Nicéforo|I, o Logóteta}} ({{nwrap|r. |802-|811)}} dois anos antes. ''[[De facto]]'', após o conflito eles tomaram controle de toda a [[Trácia (região)|Trácia]] oriental (até o [[tratado de 815]]) com a exceção de um poucos castelos que restaram em controle bizantino. Pela primeira vez na história búlgara, o caminho para [[Constantinopla]] estava aberto. Todavia, o grande khancã [[Krum da Bulgária|Krum]] faleceu durante os preparativos para o cerco final da capital bizantina em 13 de abril de 814.

Após a derrota bizantina na [[batalha de Pliska]], o império encontrava-se em uma situação difícil. O filho e legítimo herdeiro de Nicéforo I, [[Estaurácio]], que foi seriamente ferido na batalha, reinou até outubro do mesmo ano quando [[Abdicação|abdicou]] em nome seu cunhado, o [[curopalata]] Miguel I Rangabe ({{nwrap|r. |811-|813)}}. A Bulgária, que havia sofrido pesadas baixas e grande dano material durante a campanha de Nicéforo, necessitou de um ano para reorganizar seu exército e recursos para prosseguir em suas investidas. Seus ataques se concentraram principalmente na Trácia, no vale do [[Rio Estrimão|Estrimão]], onde muitas cidades foram sitiadas e suas populações foram enviadas para o norte da Bulgária através do [[Danúbio]]. O pânico generalizado se espalhou entre a população bizantina e muitas cidades, mesmo aquelas não afetadas pelos invasores, foram evacuadas. As tentativas de Miguel para deter os búlgaros foram infrutíferas e quando organizou um exército para atacá-lo, foi forçado a retornar para Constantinopla devido a uma conspiração encabeçada por Nicéforo.{{harvref|name=Kazh1363|Kazhdan|1991|p=1362}}{{harvref|Angelov|1981|p=138}}

Neste ínterim os búlgaros continuaram seus ataques até que no outono de 812 foi-lhes oferecida a paz. A delegação búlgara liderada por Dobromir{{harvref|ContinuatusContinuado|1863|p=12}}{{harvref|name=Genesius12|Genésio|1863|p=12}} não logrou resultados devido às "sugestões de seus assessores indignos", como diz [[Teófanes, o Confessor|Teófanes]]. Todavia a razão real foi mais provavelmente o item 3 do [[tratado de 716]] que diz "os refugiados [emigrantes, desertores] de ambos os lados devem ser mutuamente rendidos, se eles estão conspirando contra as autoridades".{{harvref|Teófanes, o Confessor|século IX|p=497}} Esse item foi importante no século {{séc|VIII}} para os bizantinos devido ao enfraquecimento da autoridade imperial, todavia, após a crise búlgara nos meados do século {{séc|VIII}}, tal item tornou-se inconveniente.{{harvref|Teófanes, o Confessor|século IX|p=499}} Além disso, [[Teodoro Estudita]], grande influência sobre o imperador, foi fundamental para que Miguel se recusasse a aceitar os termos búlgaros, pois considerava errado entregar os refugiados cristãos à mercê de [[bárbaro]]s.<ref name=Kazh1363 /> Em resposta à recusa, a Bulgária sitiou a [[Nessebar|MesêmbriaMesembria]]. Com aporte de excelentes [[arma de cerco|armas de cerco]] construídas por um imigrante [[árabes|árabe]], logo a cidade foi tomada e dentre o butim estavam 36 sifões de [[cobre]] usados para lançar o famoso [[fogo grego]] e uma grande quantidade de [[ouro]] e [[prata]].{{harvref|Teófanes, o Confessor|século IX|p=489-499}}

Apesar da perda da MesêmbriaMesembria, os bizantinos não estavam dispostos a firmar paz.<ref name=Genesius12 /> No inverno de 812-813 o [[khancã]] [[Krum da Bulgária|Krum]] começou intensos preparativos para um ataque contra o Império Bizantino e Miguel preparou suas defesas. Em fevereiro de 813 inúmeras investidas foram realizadas na Trácia, todavia, os búlgaros não conseguiram nenhuma vitória decisiva e foram forçados a se retirar. Esta retirada foi vista por Miguel como uma vitória "de acordo com a providência de Deus"{{harvref|name=Confessor500|Teófanes, o Confessor|século IX|p=500}} e encorajou-o a um contra-ataque. Um numeroso exército foi convocado em todos os ''[[thematema (distrito bizantino)|temas]]ta'', incluindo os guardas das passagens [[Síria|sírias]]. Devido a uma inquietação no exército, a campanha foi adiada até maio. A partida foi uma celebração e a população, incluindo a imperatriz, acompanharam as tropas para fora dos muros da cidade. Deram presentes aos comandantes militares e invocaram-nos para guardar o imperador e lutar pelos cristãos.{{harvref|name=Scriptor337|Scriptor Incertus|811|P=336-337}}

Cronógrafos bizantinos posteriores como [[José Genésio]]{{harvref|Genésio|1863|p=col. 992}} e ''[[TheophanesTeófanes ContinuatusContinuado]]''{{harvref|ContinuatusContinuado|1863|p=col. 28}} acusaram Leão, o Armênio como principal responsável pela derrota, alegando que deliberadamente ordenou a fuga das unidades que ainda não haviam combatido. Esta visão é aceita por um grande número de estudiosos ([[J. B. Bury]], [[Steven Runciman]], [[George Ostrogorsky]], [[Romilly Jenkins]], [[Warren Treadgold]] et al.), enquanto outros ([[Vasil Zlatarski]] e um grupo de estudiosos gregos) rejeita a responsabilidade de Leão,{{ref label2|a}} apontando para uma história alternativa daquela de Genésio{{harvref|Genésio|1863|p=col. 993}} e ''TheophanesTeófanes Continuatus''Continuado{{harvref|ContinuatusContinuado|1863|p=col. 29}} também inclusa em seus textos.

[[Imagem:53-manasses-chronicle.jpg|thumb|upright=1.2|A batalha de Versinikia em uma cópia búlgara do século {{séc|XIV}} da ''Crônica Manasses''.]]

A derrota em Versinikia agravou ainda mais a situação do Império Bizantino e deu ao khancã búlgaro uma oportunidade de lançar ataques nas cercanias da capital bizantina. Também selou o destino de Miguel I Rangabe, que foi forçado a abdicar e retirar-se para um [[mosteiro]]. O trono bizantino foi tomado por Leão, o Armênio ({{nwrap|r. |813-|820)}} que distinguiu-se de seu predecessor como um homem energético e de caráter forte. Imediatamente tomou rápidas precauções para a defesa da capital bizantina devido à expectativa de um assalto búlgaro.{{harvref|name=Confessor503|Teófanes, o Confessor|século IX|p=503}}

Leão aceitou as negociações mas ele pretendia matar traiçoeiramente Krum e eliminar a ameaça sobre o Império Bizantino. Durante as negociações, os bizantinos atiraram flechas na delegação búlgara matando alguns deles, incluindo o ''[[kavhan]]'' ou outro alto oficial, mas o khancã permaneceu ileso.{{harvref|Zlatarski|1971|p=271-272}} Enfurecido pela traição, Krum ordenou que todas as [[igreja]]s, mosteiros e [[palácio]]s fora de Constantinopla fossem destruídos, os bizantinos capturados fossem escravizados e as riquezas dos palácios fossem enviadas para a Bulgária em carrinhos. Após isso todas as fortalezas do império nos arredores da cidade e do [[mar de Mármara]] foram sitiadas e arrasadas. Os castelos e assentamentos no interior da [[Trácia Oriental]] foram saqueados e a região inteira, devastada.{{harvref|Scriptor Incertus|811|P=342-344}} Então Krum retornou para Adrianópolis e fortaleceu as forças sitiantes. Com a ajuda de [[manganela]]s e [[ariete]]s, forçou a [[Cerco de Adrianópolis (813)|cidade a se render]].{{harvref|Scriptor Incertus|811|P=344-345}} Os búlgaros capturaram 10 000 pessoas que foram realocadas na Bulgária através do Danúbio.{{harvref|Hamartolos|século IX|p=col. 981}} Textos litúrgicos e hagiográficos bizantinos comemoram o martírio de 377 cativos. No Inverno Krum retornou para a Bulgária onde começou a preparar seu exército para o assalto final ao império, todavia veio a falecer em 13 de abril de 814.{{harvref|Kazhdan|1991|p=1159}}

* {{Citar livro|sobrenome=ContinuatusContinuado|nome=TheophanesTeófanes|autorlink=TheophanesTeófanes ContinuatusContinuado|título=Patrologia GraecaGrega|capítulo=Chronographia|ano=1863|ref=harv}}