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{{Em tradução|data=Dezembro de 2011}}
 
Na [[sociologia]], '''racionalização''' se refere a um processo no qual um númernúmero crescente de [[ação social|ações sociais]] se baseia em considerações de eficiência teleológica ou de cálculo, em vez de motivações derivadas da [[moral]], da [[emoção]], do [[costume]] ou da [[tradição]]. Muitos sociólogos consideram a racionalização como um aspecto central da [[modernidade]], que se manifesta especialmente na [[sociedade ocidental]], em aspectos como o comportamento no mercado capitalista, a administração racional do Estado e a expansão da ciência e tecnologia modernas.
 
Muitos sociólogos, [[Teoria crítica da sociedade|teóricos críticos]] e [[filósofos]] contemporâneos têm argumentado que a racionalização, falsamente assumida como progresso, tem um impacto negativo de desumanização da sociedade, distanciando a modernidade dos princípios centrais do [[Iluminismo]].<ref name="Habermas, Jürgen 1985 p2">Habermas, Jürgen. ''The Philosophical Discourse of Modernity'', Polity Press (1985), ISBN 0-7456-0830-2, p. 2.</ref> Os fundadores da sociologia atuavam como uma reação crítica à racionalização:
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{{Quotation|Marx e Engels associavam o surgimento da sociedade moderna, sobretudo, com o desenvolvimento do capitalismo; para Durkheim, estava conectado em particular com a industrialização e com a nova divisão social do trabalho que ela trouxe; para Weber, tinha a ver com o surgimento de uma distinta maneira de pensar, o cálculo racional que ele associou com a ética protestante (mais ou menos o que Marx e Engels falam em termos da "água gelada do cálculo egoísta"<ref group="nota">A expressão "água gelada do cálculo egoísta", mencionada por John Harris, foi extraída do ''[[Manifesto Comunista|Manifesto do Partido Comunista]]'', de 1848.</ref>).|John Harriss ''The Second Great Transformation? Capitalism at the End of the Twentieth Century'' 1992<ref>Harriss, John. ''The Second Great Transformation? Capitalism at the End of the Twentieth Century'' in Allen, T. and Thomas, Alan (eds). ''Poverty and Development in the 21st Century'', Oxford University Press, Oxford, p. 325.</ref>}}
 
==Racionalização e Socialismocapitalismo==
A racionalização formou um conceito central na fundação da sociologia clássica, especialmente no que diz respeito à ênfase que a disciplina colocou - por contraste com a [[antropologia]] - sobre a natureza das sociedades ocidentais modernas. O termo foi apresentado pelo influente [[antipositivismo|antipositivista]] alemão, [[Max Weber]], e seus temas tiveram paralelo nas críticas da modernidade estabelecidas por numerosos estudiosos. Uma rejeição da [[materialismo dialético|filosofia dialética da história]] e do [[evolucionismo social|evolucionismo sociocultural]] informa o conceito.
 
Weber demonstrou um exemplo de racionalização em ''[[A ética protestante e o espírito do capitalismo|A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo]]'', obra na qual aponta que certas [[denominação religiosa|denominações]] [[Protestantismo|protestantes]], principalmente o [[calvinismo]], adotaram uma forma de lidar com a "ansiedade de salvação" através de meios racionais de ganho econômico. As conseqüências racionais dessa doutrina, segundo o autor, logo se tornaram incompatíveis com suas raízes religiosas, e assim estas últimas acabaram por ser descartadas. Weber continua sua investigação sobre esse assunto em trabalhos posteriores, nomeadamente nos seus estudos sobre a [[burocracia]] e as classificações de [[autoridade]] (ou dominação). Nesses trabalhos, ele faz alusão a um movimento inevitável para a racionalização.
 
Weber acreditava que um movimento no sentido da [[autoridade racional-legal]] era inevitável. Na [[autoridade carismática]], a morte de um líder encerra o poder dessa autoridade e só através de uma base racionalizada e burocrática pode essa autoridade ser passada adiante. As [[Autoridade tradicional|autoridades tradicionais]], nas sociedades racionalizadas, também tendem a desenvolver uma base racional-legal para melhor garantir uma adesão estáveuestável.
 
{{Quotation|O que Weber retratou não foi apenas a secularização da ''cultura'' ocidental, mas também e sobretudo o desenvolvimento das ''sociedades'' modernas do ponto de vista da racionalização. As novas estruturas da sociedade foram marcados pela diferenciação dos dois sistemas funcionalmente entrelaçados que tinham tomado forma em torno dos núcleos organizacionais da empresa capitalista e do aparelho burocrático estatal. Weber entendeu este processo como a institucionalização da ação racional quanto a fins nas esferas econômica e administrativa. Na medida em que a vida cotidiana foi afetada por essa racionalização cultural e social, as formas tradicionais de vida - que no início do período moderno foram diferenciadas principalmente de acordo com as ocupações - foram dissolvidas.|[[Jürgen Habermas]] ''Modernity's Consciousness of Time''<ref name="Habermas, Jürgen 1985 p2"/>}}
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{{Quotation|Está claro que, em ''A Teoria da Ação Comunicativa''<ref group="nota">''A Teoria da Ação Comunicativa'' é uma obra de [[Jürgen Habermas]], datada de 1981, não possuindo tradução em português. Verificado em dezembro de 2011.</ref>, Weber figura em algo parecido com o papel que Hegel desempenhou para Marx. Weber, para Habermas, não deve tanto ser virado de ponta-cabeça (ou colocado de pé) como persuadido a ficar sobre duas pernas, em vez de uma, a sustentar sua teoria da modernidade com análises mais sistemáticas e estruturais do que as da racionalização (quanto a fins) da ação ... Weber "se desvia de uma teoria da ação comunicativa", quando ele define a ação em termos do sentido subjetivo a esta atribuído pelo ator. Ele não elucida "sentido" em conexão com o modelo do discurso, ele não o relaciona ao meio lingüístico do entendimento possível, mas às crenças e intenções de um sujeito que age, tomado de forma isolada. Isso o leva a sua conhecida distinção entre ação racional quanto a valores, racional quanto a fins, tradicional e afetiva. O que Weber deveria ter feito, em vez disso, era ter se concentrado não sobre as orientações de ação, mas nas estruturas gerais do mundo da vida a que pertencem os sujeitos atuantes. |[[William Outhwaite]] ''Habermas: Key Contemporary Thinkers'' 1988<ref>Outhwaite, William. 1988, ''Habermas: Key Contemporary Thinkers'', Polity Press (Second Edition 2009), ISBN 978-0-7456-4328-1, p. 76.</ref>}}
 
===O Holocausto: modernidade e locomotivaambivalência===
[[Image:Rail leading to Auschwitz II (Birkenau).jpg|thumb|A linha de trem que conduzia ao campo de extermínio de [[Auschwitz]] II (Birkenau).]]
Para [[Zygmunt Bauman]], a racionalização como uma manifestação da modernidade pode estar intimamente associada com os acontecimentos do [[Holocausto]]. Em ''Modernidade e Ambivalência'', Bauman objetivou oferecer uma exposição das diferentes abordagens que a sociedade moderna adota em face do estrangeiro. Ele argumentou que, por um lado, em uma economia orientada para o consumidor, o estranho e o desconhecido são sempre sedutores. Em diferentes estilos de comida, diferentes modas e no turismo, é possível experimentar o fascínio do que é desconhecido. No entanto, esse fato de ser estranho também tem um lado mais negativo. O estranho ou estrangeiro, por não poder ser controlado e ordenado, é sempre objeto de temor. Ele é o assaltante em potencial, a pessoa fora das fronteiras da sociedade que está constantemente ameaçando.
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O caso da [[Walmart]], rede varejista multinacional, é um exemplo que demonstra fortemente essa transição. Apesar de as lojas da Walmart atraírem críticas por estarem deslocando lojas mais tradicionais, o ponto de vista das vantagens subjetivas e do valor social destas últimas lojas obteve efeitos irrisórios no sentido de limitar a expansão daquela empresa, devido às preferências do público por preços mais baixos em detrimento das vantagens subjetivas mencionadas.<ref>Boaz, David. 8 de novembro de 1996, ''[http://www.cato.org/dailys/11-08-96.html Chrysler, Microsoft, and Industrial Policy]'', Cato Institute. Acessado em 17 de agosto de 2006.</ref>
 
O sociólogo [[George Ritzer]] tem usado o termo [[McDonaldização|McPikachu]] para se referir não apenas às ações observadas nos restaurantes fast-food, mas também ao processo geral de racionalização. Ritzer distingue quatro componentes primários de McDonaldização:<ref name="book">{{cite book
| last = Ritzer
| first = George