Paideia: diferenças entre revisões

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Aparentemente os jovens recebiam a educação em dois espaços distintos: um para a ginástica e outro para a música, mas a princípio qualquer lugar podia ser aproveitado. Contudo, a formação em ginástica exigia equipamentos especiais, encontrados em geral nas [[palestra]]s, que eram simples "escolas de luta", mantidas por privados e existentes em grande número, ao passo que os [[ginásio]]s públicos eram poucos, mas mais estruturados, e em geral destinados à prática esportiva de adultos, ao preparo dos atletas que deveriam participar dos Jogos, e ao treinamento dos [[efebo]]s que ingressavam na vida militar, ministrado por oficiais do governo. Este treinamento também fazia parte da paideia, uma vez o exercício militar era obrigatório e parte importante na vida da Grécia Antiga, embora pouco se saiba com segurança sobre ele.<ref>Lynch, pp. 35-36</ref> Depois da fixação literária da poesia homérica, de início transmitida oralmente, a instrução na leitura e escrita também passou a fazer parte da educação da juventude, a qual passou em boa parte a depender da [[alfabetização]]. Contudo, esse desenvolvimento aconteceu lentamente, e até o século V a.C. a [[literacia]] permaneceu baixíssima mesmo entre a elite.<ref>Robb, pp. 183-185</ref>
 
[[Image:Plato's Academy mosaic from Pompeii.jpg|thumb|left|''A Academia de Platão em Atenas''. Mosaico em [[Pompeia]], ca. séc. I]]
 
Mas, se até então o objetivo fundamental da educação era a formação [[aristocaracia|aristocrática]] do homem individual como ''[[kalokagathia|kalos agathos]]'' ("Belo e Bom"), a partir do século V a.C., exige-se algo mais da educação. O Sistema Antigo, baseado na ginástica e na música, deixava de ser suficiente. Mas um ideal de maior amplitude somente se cristalizaria após a popularização do [[Sofismo]]. Muitos sofistas estrangeiros se fixaram em Atenas, exercendo profundo impacto no sistema educativo, minimizando os aspectos ginásticos e enfatizando os intelectuais e literários. Ao mesmo tempo, eles objetivaram atuar não tanto no preparo dos infantes, mas instituíram como que um "segundo grau" na educação, criando cursos de aperfeiçoamento que antes não eram facilmente acessíveis nem eram sistematizados. Eles divulgaram suas ideias agressivamente com uma intensa propaganda, centrada nos locais de maior visibilidade, como a [[ágora]] e os ginásios públicos, e contribuíram para a profissionalização dos professores. Apesar disso, seus esforços não foram coordenados. Os mestres agiam independentemente, itineravam por várias cidades e locais ministrando aulas privadas em assuntos que elegiam ao seu critério individual, e não instituíram verdadeiras escolas no sentido moderno, instituições estáveis com currículo fixo. Sua influência, por outro lado, se fez sentir nas instituições tradicionais de Atenas, como o [[Liceu]] e a [[Academia]], que a partir do século IV a.C., no período Clássico, se tornaram centros importantes de ensino avançado.<ref>Lynch, pp. 39-41</ref> Platão daria uma contribuição fundamental ao transformar o sistema anárquico dos sofistas em uma escola permanente de nível superior na sua [[Academia Platônica]], colocando a transmissão da paideia na dependência da instrução literária, jurídica e filosófica.<ref>Robb, p. 232-238</ref>
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==A paideia no cristianismo==
[[Ficheiro:Good.Shepherd.Vatican.Museum.jpg|thumb|Estatueta do [[Bom Pastor]], uma imagem recorrente nos primeiros tempos do cristianismo, alusiva ao papel de Jesus como o mestre perfeito. Século III, [[Museu Pio-Cristão]].]]
 
A fama da cultura grega fez com que os romanos adotassem muitos dos seus princípios e se inspirassem no sistema da paideia para organizar seu próprio sistema educativo, difundindo-o por toda a volta do [[Mediterrâneo]], inclusive na [[Palestina]], onde há evidências do estabelecimento de escolas gregas desde o século III a.C. Porém, não foi sem resistência que os palestinos aceitaram os costumes estrangeiros, e registra-se diversos episódios de protestos, principalmente por parte dos sacerdotes judeus, que não aprovavam a competição que essas escolas faziam com as escolas das [[sinagoga]]s e para quem a nudez praticada nos ginásios constituía grave ofensa às leis de sua religião. No entanto, a frequentação das escolas gregas acarretava distinção social, numa fase em que esta região era dominada pelos romanos.<ref name="Torres">Torres, Milton Luiz. "O cuidado da criança nos primórdios da educação grega: semelhanças e contrastes com a educação hebreia". In: ''Protestantismo em Revista'', 2011; (24) </ref>