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[[Imagem:ancientlibraryalex.jpg|thumb|right|250px|Interior da antiga biblioteca de Alexandria]]
 
A '''Biblioteca de Alexandria''' foi uma das mais célebres bibliotecas da história e um dos maiores centros do saber da [[Antiguidade]]. Ficava situada na região portuária da cidade de [[Alexandria]], no [[Egito]]. Nasceu durante o [[período helenístico]], tendo como propósito refletir os valores de sua época, ou seja, de apoio a difusão do saber grego clássico para o orienteOriente. Sua construção foi patrocinada pelo sátrapa do Egito, [[Ptolomeu]], que, sendo um apreciador da [[filosofia grega]] — tal como seu antecessor, [[Alexandre, o Grande]] — apoiou a criação de diversas escolas de pensamento sediadas na bibliotecaBiblioteca, além de museus e coleções permanentes, que acabaram atraindo diversas personalidades intelectuais de todo o mundo antigo para Alexandria.<ref>MEY, 2004, p.1</ref>
 
Sua fama moderna reside, contudo, no conhecimento popular de sua mítica destruição por um incêndio, tendo todos os seus artefatos — tais como papiros, livros, pinturas e peças arqueológicas — sido queimados. Poucas informações concretas sobre a datação e causas do incêndio chegaram até nós, sendo que há, inclusive, intenso debate sobre se o incêndio foi, de fato, a causa da ruína da bibliotecaBiblioteca. Muitos historiadores, nesse sentido, acreditam que a o incêndio foi provavelmente um fator, dentre vários, que levaram a sua destruição.<ref>CABRAL, 2010, p.10</ref>
 
Há pouco tempo o governo egípcio construiu uma nova biblioteca em Alexandria, próxima ao local da antiga, com o objetivo de rememorar o esplendor da biblioteca original. Foi inaugurada em 2002 e, embora alvaalvo de duras críticas decorrentes do seu alto custo, a nova biblioteca introduziu, como sua antecessora também o fez, uma nova era de apoio ao saber no norte da [[África]]. <ref>MEY 2004, pp.82-83</ref>
 
== Funcionamento e coleção da biblioteca ==
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BÁEZ, 2006, p.46</ref>
 
Junto da Biblioteca de Alexandria existia também o Museu de Alexandria, sobre o qual foram deixados maiores relatos, que funcionava como um instituto de pesquisa. <ref>{{citar web|URL = http://ldolphin.org/mouseion.html|título = The Mouseion Revisited }}</ref> Sabe-se que ele incluía um passeio (''peripatos''), uma galeria (''exedera''), jardins, paredes com pinturas coloridas, um zoológico e um santuário às Musas (''mouseion''), local onde os que ali frequentavam buscavam inspiração artística, científica e filosófica. Os intelectuais que estudavam na Biblioteca de Alexandria recebiam alojamento, alimentação, salários altos e isenção de impostos. Todo o conjunto era administrado por um sacerdote nomeado pelo rei.<ref>FLOWER, 2002, p.38 </ref>
 
===Coleção===
O objetivo da biblioteca era conter em sua coleção “os livros de todos os povos da terra”, ou seja, dispor 500 mil rolos de manuscritos.<ref>CANFORA, 1989. p.20 .</ref> [[Ptolomeu]] foi o precursor dessa ideia, quepois primava pela plena integração dos povos em torno do saber. Além de adquirir os maiores trabalhos intelectuais de sua época, a bibliotecaBiblioteca disponibilizava obras traduzidas para o grego e diversas outras línguas.<ref>CANFORA, 1989, pp.20 - 22 .</ref>
 
O instrumento utilizado para catalogar a gigantesca coleção era chamado de Pinakes (Lâminas), que continha 120 livros com análises e listas cronológicas.<ref>FLOWER, 2002. p.35.</ref> Todos os bibliotecários — [[matemáticos]], [[médicos]], [[historiadores]], [[poetas]], [[geólogos]], [[astrônomos]], [[filólogos]] e críticos textuais– contribuíram na composição da coleção da bibliotecaBiblioteca. Obras literárias de todos os tipos podiam ser encontradas nela, contudo, os livros sagrados ganharam maior destaque.<ref>CANFORA, 1989, p.23 </ref>
 
===Bibliotecários===
Na Biblioteca de Alexandria o cargo de bibliotecário chefe era nomeado pelos próprios reis. <ref>MEY, 2004, p.06</ref>
Um documento chamado ''Carta de Aristeu'', datado do século II a.C, cita [[Demétrio]] como o presidente da biblioteca do rei. A partir disso, alguns historiadores acreditam que ele detinha grande poder dentro do palácio de Alexandria e consequentemente da bibliotecaBiblioteca.<ref>ROSA, 2012, p.21</ref> Não há evidencias, contudo, que ele tenha exercido o cargo de primeiro bibliotecário chefe ou participado da direção da Biblioteca de Alexandria.<ref>FLOWER, 2002, p.32</ref> Tal classificação é mais comumente dada a [[Zenódoto de Éfeso]].<ref>FLOWER, 2002, p.20<br />
BÁEZ, 2006, p.47<br />
CANFORA, 1989, p.32 </ref>
 
Zenódoto (325 a.C. – 260 a.C.), foi um [[filólogo]] e [[gramático]] grego,<ref>BÁEZ, 2006, p.48</ref> nativo de [[Éfeso]], cidade jônica situada na atual Turquia. Especialista em Homero, produziu a primeira edição crítica da [[Ilíada|''Ilíada'']] e da [[Odisseia|''Odisseia'']] além da ''[[Teogonia]]'' de Hesíodo. Mesmo sendo criticado pela qualidade de suas produções, atribui-se a ele um papel fundamental na história dos estudos homéricos, uma vez que teve acesso a textos posteriormente desaparecidos. <ref>FLOWER, 2002, pp.32-33<br />
MEY, 2004, p. 6</ref>
 
[[Apolônio de Rodes]] (295 a.C. – 230 a.C.), discípulo de Zenótodo, foi quem o sucedeu no comando da bibliotecaBiblioteca. Entretanto, por ter ofendido seu mestre, foi destituído do cargo.<ref>BÁEZ, 2006, p.48</ref>
 
Em 245 a.C., sucedendo Apolônio, foi nomeado bibliotecário-chefe o poeta, filósofo, filólogo, [[matemático]], [[astrônomo]], [[cientista]], [[geógrafo]], crítico literário, gramático e inventor, [[Eratóstenes de Cirene]]. Ele permaneceu no cargo por quarenta anos.<ref>FLOWER, 2002, p.70<br />
BÁEZ, 2006, p.66</ref>
 
Não existe um consenso a respeito de [[Calímaco de Cirene]] (310 a.C. – 240 a.C.) ter sido outro importante bibliotecário da Biblioteca de Alexandria.<ref>ROSA, 2012, p.22</ref> No entanto, Calímaco ficou conhecido por catalogar toda a coleção de papiros da bibliotecaBiblioteca em 120 livros. <ref>FLOWER, 2002, p.36</ref>
 
Convidado ao cargo após a demissão de Eratóstenes, em 204 a.C assume [[Aristófanes de Bizâncio]]<ref>FLOWER, 2002, p.53</ref>. Ele ficou lembrado por produzir melhores adaptações de Homero, continuando o trabalho de Zenódoto bem como o de Calímaco, uma vez que atualizou as catalogações da bibliotecaBiblioteca.<ref>OLIVEIRA, 1985, p.109</ref>
 
[[Aristarco de Samotrácia]] assume o posto de bibliotecário em 174 a.C., ocupando-o por trinta anos, sendo o último bibliotecário que se tem notícia.<ref>ROSA, 2012, p.23</ref> Sua principal contribuição resultou nos fundamentos do que se tornou o texto moderno de Homero, uma vez que organizou a ''Ilíada'' e a ''Odisseia'' nos 24 livros que conhecemos. Além disso, seus estudos gramaticais sobre os poetas gregos antigos o tornaram fundador do que hoje chamamos de [[linguística]].<ref>FLOWER, 2002, p.64</ref>
 
==Destruição ==
{{AP|Destruição da Biblioteca de Alexandria}}
 
Ao longo da história, diversas narrações foram desenvolvidas para explicar o que aconteceu no primeiro grande incêndio que tomou conta da Biblioteca de Alexandria.<ref>FLOWER, 2002, p. 54</ref>Todas elas tomam como ponto de partida a perseguição que [[Júlio César]] operava sobre seu inimigo [[Pompeu]], em 48 a.C.<ref>FLOWER, 2002, p. 72</ref>A ordem de César para incendiar o porto, durante o embate com os [[egípcios]], é interpretada de diversas formas, entretanto elas não alteram o fato de que essa atitude resultou no incêndio da bibliotecaBiblioteca. Outro aspecto que colabora com a imprecisão dasobre marcaçãoa históricadestruição do que realmenteda aconteceuBiblioteca é a análise da relaçãocontribuição dos [[cristãos]] e [[muçulmanos]] com a sua destruição. Essa destruição, além de extinguir os recursos culturais da época, desestabilizou as escolas da cidade.<ref>FLOWER, 2002, p. 73</ref>
 
==Legado==
A Biblioteca de Alexandria, após momentos de ascensão e decadência, teve grande parte do material que compõe sua estrutura física destruído.<ref>FLOWER, 2002, p.138.</ref>Nas décadas finais do século XX, a memória começou a se tornar uma preocupação dominante na política dos países da região do Oriente médio, criando uma “Musealização da região” através de práticas que procuram recuperar o passado e dar um maior valor àquilo que tinha sido realizado.<ref>CABRAL, 2010, p.54.</ref>
 
Nesse contexto, o arqueólogo subaquático inglês [[Honor Frost]], em 1950, estava convencido de que vestígios do grande farol de Alexandria encontravam-se espalhados no leito oceânico ao redor do [[forte QaitBey]]. Consequentemente, começou a sua busca atrás de evidências. Desde então, os arqueólogos têm trazido à luz vestígios da Alexandria ptolemaica.<ref>FLOWER, 2002, p.138.</ref> A maior descoberta foi feita pela equipe de [[Jean Yves Empereur]], que encontraram enormes blocos de pedra nas águas do porto Oriental (certamente caíram no mar quando o farol desmoronou), além de estátuas e esculturas que adornariam a estrutura. Ao mesmo tempo, [[Franck Goddio]] mapeando parte da antiga Alexandria, afundada abaixo do nível do mar, trouxe à luz o que provavelmente era um palácio de Cleópatra na Ilha de Antirodes.<ref> FLOWER, 2002, p.139.</ref>
 
Mesmo com os esforços notáveis de diversas equipes, não há uma localização exata do museu e da biblioteca.Biblioteca, Havendohavendo uma margem de erro de cem metros.<ref>FLOWER, 2002, p.139.</ref>
 
Sobre os livros, pode-se afirmar que, durante o reinado de [[Teodósio]], mesmo que muitos destes foramtenham sido destruídos, os manuscritos mais preciosos formaformam levados para o Egito ou permaneceram escondidos em Alexandria.<ref>CABRAL, 2010, p.27.</ref> Ademais, é possível que manuscritos foramtenham sido acumulados e guardados por Amr, durante a dominação Muçulmana.<ref>CABRAL, 2010, p.27.</ref>
 
==A nova biblioteca==
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=== Bibliografia ===
*BÁEZ, Fernando. ''História Universal da Destruição dos Livros'': Das tábuas sumérias à guerra do Iraque. Trad. Léo Schlafman. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
*CABRAL, Rosimere Mendes. ''Bibliotecas de Alexandria'': construções políticas da memória. (Mestrado em Memória Social), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, 2010.
*CANFORA, Luciano. ''A biblioteca desaparecida'': histórias da Biblioteca de Alexandria. Trad. Frederico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
*FLOWER, Derek Adie. ''Biblioteca de Alexandria'': As histórias da maior biblioteca da Antiguidade. Trad. Otacílio Nunes e Valter Ponte. São Paulo: Editora Nova Alexandria, 2002.
*MANGUEL, Alberto. ''The Library at Night''. New Haven: Yale University Press, 2008.
*MEY, Eliane Serrão Alves. Bibliotheca Alexandrina. ''Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação'', Campinas, v. 1, n. 2, p.71-91, jan./jun. 2004. Disponível em <http://www.sbu.unicamp.br/seer/ojs/index.php/rbci/article/view/295/174> Acessado em 10 Junho. 2016.
*OLIVEIRA, José Teixeira de. ''A fascinante história do livro''. Volume II: Grécia e Roma. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos Editora, 1985.
*ROSA, Nicoll Siqueira da. ''Biblioteca Universal'': críticas de autores da Antiguidade sobre o ideal de acumulação do conhecimento na Biblioteca de Alexandria. 2012. 51 f. TCC (Graduação) - Curso de História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012
*SMITH, Helena. Old trouble at Alexandria's new library. ''The Guardian'', Londres, 16 out. 2002. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2002/oct/16/arts.education>. Acessado em: 10 jun. 2016.
*WALKIN, Daniel J. Successor to Ancient Alexandria Library Dedicated. ''The New York Times'', New York, 17 out. 2002. Disponível em: <http://www.nytimes.com/2002/10/17/world/successor-to-ancient-alexandria-library-dedicated.html>. Acessado em: 10 jun. 2016.
*[http://www.bibalex.org Bibliotheca Alexandrina - Acessado em: 10 jun. 2016]
*[http://www.archdaily.com Arch Daily - Acesssado em: 10 jun. 2016]