Revolução Industrial: diferenças entre revisões

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A Revolução Industrial é um divisor de águas na história e quase todos os aspectos da vida cotidiana da época foram influenciados de alguma forma por esse processo. A população começou a experimentar um crescimento sustentado sem precedentes históricos, com uma boa renda média. Nas palavras de [[Robert E. Lucas Jr.]], ganhador do [[Prêmio Nobel]]: "Pela primeira vez na história o padrão de vida das pessoas comuns começou a se submeter a um crescimento sustentado ... Nada remotamente parecido com este comportamento econômico é mencionado por economistas clássicos, até mesmo como uma possibilidade teórica."<ref name="Lectures on Economic Growth">{{citar livro|sobrenome= Lucas |nome= Robert E., Jr. |título= Lectures on Economic Growth|língua=Inglês |editora= Harvard University Press |ano= 2002 |local= [[Cambridge]] |páginas= 109–10|isbn= 978-0-674-01601-9}}</ref>
 
O início e a duração da Revolução Industrial variam de acordo com diferentes historiadores. [[Eric Hobsbawm]] considera que a revolução "explodiu" na [[Grã-Bretanha]] na década de 1780 e não foi totalmente percebida até a década de 1830 ou de 1840,<ref name="revolution">Eric Hobsbawm, ''The Age of Revolution: Europe 1789–1848'', Weidenfeld & Nicolson Ltd. ISBN 0-349-10484-0</ref> enquanto [[T. S. Ashton]] considera que ela ocorreu aproximadamente entre 1760 e 1830.<ref name="google1">Joseph E Inikori. ''Africans and the Industrial Revolution in England'', Cambridge University Press. ISBN 0-521-01079-9 [http://books.google.com/books?ie=UTF-8&vid=ISBN0521010799&id=y7rhKYWhCyIC&pg=PA102&lpg=PA102&sig=zOPr9UkQv258KyhCkuFM0abERnI Read it]</ref> Alguns historiadores do século XX, como John Clapham e Nicholas Crafts, têm argumentado que o processo de mudança econômica e social ocorreu de forma gradual e que o termo "revolução" é equivocado. Este ainda é um assunto que está em debate entre os historiadores.<ref name="Rehabilitating the Industrial Revolution">{{cite journal |doi=10.2307/2598327 |title=Rehabilitating the Industrial Revolution |year=1992 |author=Berg, Maxine |journal=The Economic History Review |volume=45 |author2=Hudson, Pat |issue=1 |publisher=The Economic History Review, Vol. 45, No. 1 |jstor=2598327 |pages=24–50 |authorlink2=Pat Hudson}}</ref><ref name="lorenzen">[http://www.julielorenzen.net/berg.html Rehabilitating the Industrial Revolution] by Julie Lorenzen, Central Michigan University. Acessado em 15 de julho de 2013.</ref>
 
O [[PIB per capita]] manteve-se praticamente estável antes da Revolução Industrial e do surgimento da economia [[Capitalismo|capitalista]] moderna.<ref name="The Industrial Revolution">{{citecitar web |publisher= Federal Reserve Bank of Minneapolis |url= http://www.minneapolisfed.org/pubs/region/04-05/essay.cfm |title= The Industrial Revolution |accessdate= 14 de novembro de 2007 |author= [[Robert Lucas, Jr.]] |year= 2003}}</ref> A revolução impulsionou uma era de forte [[crescimento econômico]] nas economias capitalistas<ref name="The Industrial Revolution ''Past and Future''">{{citecitar web |url= http://www.minneapolisfed.org/pubs/region/04-05/essay.cfm |title= The Industrial Revolution ''Past and Future'' |first= Robert |last= Lucas |year= 2003}}</ref> e existe um consenso entre historiadores econômicos de que o início da Revolução Industrial é o evento mais importante na [[história da humanidade]] desde a [[domesticação]] de animais e a agricultura.<ref name="ReviewOfCambridge">{{citecitar web |url= http://deirdremccloskey.org/articles/floud.php |title= Review of The Cambridge Economic History of Modern Britain (edited by Roderick Floud and Paul Johnson), Times Higher Education Supplement, 15 de janeiro de 2004 |first= Deidre |last= McCloskey |year= 2004 |doi= |id= |isbn=}}</ref> A Primeira Revolução Industrial evoluiu para a [[Segunda Revolução Industrial]], nos anos de transição entre 1840 e 1870, quando o progresso tecnológico e econômico ganhou força com a adoção crescente de [[Barco a vapor|barcos a vapor]], navios, [[ferrovia]]s, fabricação em larga escala de máquinas e o aumento do uso de fábricas que utilizavam a energia a vapor.<ref name="Taylor 1951">
{{citecitar booklivro |title=The Transportation Revolution, 1815-1860 |last=Taylor |first= George Rogers |isbn= 978-0873321013|pages=}}</ref><ref>{{Harvnb|Hunter|1985|pp=}}</ref>
 
== Contexto histórico ==
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[[Imagem:37.Adam Smith.jpg|esquerda|thumb|upright|[[Adam Smith]].]]
 
As novidades da Revolução Industrial trouxeram muitas dúvidas. O pensador escocês [[Adam Smith]] procurou responder racionalmente às perguntas da época. Seu livro ''[[A Riqueza das Nações]]'' (1776) é considerado uma das obras fundadoras da [[ciência econômica]]. Ele dizia que o individualismo é útil para a sociedade. Seu raciocínio era este: quando uma pessoa busca o melhor para si, toda a sociedade é beneficiada. Exemplo: quando uma cozinheira prepara uma deliciosa carne assada, você saberia explicar quais os motivos dela? Será porque ama o seu patrão e quer vê-lo feliz ou porque está pensando, em primeiro lugar, nela mesma ou no pagamento que receberá no final do mês? De qualquer maneira, se a cozinheira pensa no salário dela, seu individualismo será benéfico para ela e para seu patrão. E por que um açougueiro vende uma carne muito boa para uma pessoa que nunca viu antes? Porque deseja que ela se alimente bem ou porque está olhando para o lucro que terá com futuras vendas? Graças ao individualismo dele o freguês pode comprar boa carne. Do mesmo jeito, os trabalhadores pensam neles mesmos. Trabalham bem para poder garantir seu salário e [[emprego]].
 
Nesta perspectiva, portanto, é correto afirmar que os capitalistas só pensam em seus lucros. No entanto, como para lucrar precisariam vender produtos bons e baratos, no fim, acabaria contribuindo com a sociedade.Como o individualismo seria bom para toda a sociedade, as pessoas deveriam viver de modo que pudessem atender livremente a seus interesses individuais.
 
Para Adam Smith, o Estado é quem atrapalhava a liberdade dos indivíduos. Para o autor escocês, "o Estado deveria intervir o mínimo possível sobre a economia". Se as forças do mercado agissem livremente, a economia poderia crescer com vigor. Desse modo, cada empresário faria o que bem entendesse com seu capital, sem ter de obedecer a nenhum regulamento criado pelo governo. Os investimentos e o comércio seriam totalmente liberados. Sem a intervenção do Estado, o mercado funcionaria automaticamente, como se houvesse uma "[[mão invisível]]" ajeitando tudo. Ou seja, o capitalismo e a liberdade individual promoveriam o progresso de forma harmoniosa.
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As máquinas a vapor bombeavam a água para fora das minas de carvão. Eram tão importantes quanto as máquinas que produziam tecidos.
 
As carruagens viajavam a 12 &nbsp;km/h e os cavalos, quando se cansavam, tinham de ser trocados durante o percurso. Um trem da época alcançava 45 &nbsp;km/h e podia seguir centenas de quilômetros. Assim, a Revolução Industrial tornou o mundo mais veloz. Como essas máquinas substituíam a força dos cavalos, convencionou-se em medir a potência desses motores em HP (do inglês [[horse power]] ou [[cavalo-força]]).
 
=== Ordem cronológica ===
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* [[1740]] - [[Benjamin Huntsman]], em [[Handsworth]], na Grã-Bretanha, descobre a técnica do uso de [[cadinho]] para fabricação de [[aço]].
* [[1761]] - Abertura do [[Canal de Bridgewater]], na Grã-Bretanha, primeira via aquática inteiramente artificial.
* [[1764]] - [[James Hargreaves]], na Grã-Bretanha, inventa a fiadora "''[[spinning Jenny]]''", uma máquina de fiar rotativa que permitia a um único artesão fiar oito fios de uma só vez.<ref>{{citar web |autor=Nick Harling | título=James Hargreaves c1720-1778 |data=[[7 de agosto]] de [[2008]] | trabalho= | url=http://www.cottontown.org/page.cfm?LANGUAGE=eng&pageID=506 | acessodata=[[24 de novembro]] de [[2008]] |língua2língua=eninglês }}</ref> * [[1765]] - [[James Watt]], na Grã-Bretanha, introduz o condensador na máquina de Newcomen, componente que aumenta consideravelmente a eficiência do motor a vapor.
* [[1765]] - [[James Watt]], na Grã-Bretanha, introduz o condensador na máquina de Newcomen, componente que aumenta consideravelmente a eficiência do motor a vapor.
* [[1768]] - [[Richard Arkwright]], na Grã-Bretanha, inventa a "''[[spinning-frame]]''", uma máquina de fiar mais avançada que a "''spinning jenny''".
* [[1771]] - Richard Arkwright, em [[Cromford]], [[Derbyshire]], na Grã-Bretanha, introduz o sistema fabril em sua tecelagem ao acionar a sua máquina - agora conhecida como "''water-frame''" - com a força de torrente de água nas pás de uma roda.
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* [[1865]] - O primeiro [[cabo telegráfico submarino]] é estendido através do leito do [[oceano Atlântico]], entre a [[Grã-Bretanha]] e os [[Estados Unidos]].
* [[1869]] - A abertura do [[Canal de Suez]] reduziu a viagem marítima entre a [[Europa]] e a [[Ásia]] para apenas seis semanas.
* [[1876]] - [[Alexander Graham Bell]] inventou o [[telefone]] nos Estados Unidos (em 2002 o congresso norte-americano reconheceu postumamente o italiano [[Antonio Meucci]] como legítimo invetor do telefone)<ref name="WDL">{{citecitar web |url = http://www.wdl.org/pt/item/11375/ |title = Caderno do laboratório de Alexander Graham Bell, 1875 a 1876 |website = [[World Digital Library]] |date = 1875-1876 |accessdate = 2013-07-23 }}</ref>
* [[1877]] - [[Thomas Alva Edison]] inventou o [[fonógrafo]] nos Estados Unidos.
* [[1879]] - A iluminação elétrica foi inaugurada em Mento Park, [[New Jersey]], nos Estados Unidos.
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Na esfera social, o principal desdobramento da Revolução Industrial foi a transformação nas condições de vida nos países industriais em relação aos outros países da época, havendo uma mudança progressiva das necessidades de [[consumo]] da população, à medida que novas [[mercadoria]]s foram sendo produzidas.
 
A Revolução Industrial alterou profundamente as [[condições de vida]] do trabalhador, provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades, criando enormes concentrações urbanas.<ref>{{Citar livro |sobrenome=Knapp |nome=Brian |coautor=Ross, Simon; McCrae, Duncan |título=Challenge of the human environment |subtítulo= |língua=eninglês |edição= |local= |editora=Longman |ano=1989 |página=77 |páginas= |isbn=0582016371 }}</ref> A população de [[Londres]] passou de 800.000 habitantes em 1780 para mais de 5 milhões em 1880, por exemplo. No início da Revolução Industrial, os [[operário]]s viviam em péssimas condições de vida e trabalho. O ambiente das fábricas era insalubre, assim como os cortiços onde muitos trabalhadores viviam. A [[jornada de trabalho|jornadas de trabalho]] chegava a 80 horas semanais, e os [[salário]]s variavam em torno de 2,5 vezes o nível de subsistência.{{Carece de fontes|ciência=sim|data=janeiro de 2013}} Para mulheres e crianças, submetidos ao mesmo número de horas e às mesmas condições de trabalho, os salários eram ainda mais baixos.
 
A produção em larga escala e dividida em etapas iria distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores passava a dominar apenas uma etapa da produção, mas sua [[produtividade]] ficava maior. Como a produtividade do trabalho aumentava os [[salário real|salários reais]] dos trabalhadores ingleses aumentaram em mais de 300% entre [[1800]] até [[1870]].{{Carece de fontes|ciência=sim|data=janeiro de 2013}} Devido ao progresso ocorrido nos primeiros 90 anos de industrialização, em [[1860]] a jornada de trabalho na [[Inglaterra]] já se reduzia para cerca de 50 horas semanais (10 horas diárias em cinco dias de trabalho por semana).
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[[Ficheiro:William Edward Kilburn - View of the Great Chartist Meeting on Kennington Common - Google Art Project.jpg|thumb|A Grande Assembleia [[Cartismo|Cartista]] de 1848, em Londres.]]
 
Os primeiros sindicatos nasceram na Inglaterra, após a Revolução Industrial, no século XVIII e se expandiram pelo século XIX. O capitalismo se consolidou e se tornou o modo de produção predominante. As mudanças tecnológicas causaram impacto no processo produtivo pela substituição da mão-de-obra. Para aumentar e manter o lucro máximo, a chamada [[mais-valia]], os donos do [[Capital (economia)|capital]], ou seja, a classe da [[burguesia]] impunha um ritmo de trabalho de 16 horas diárias, o trabalho infantil e das mulheres, sem direitos e péssimas condições nos locais. Para combater essa exploração, a classe operária criou os sindicatos, que atuaram de forma clandestina – [[Trade union|Trade-unions]] (uniões de ofícios).<ref>{{citar web|URLurl = http://memoria.quimicosunificados.com.br/projeto-memoria/movimento-sindical/|título = Movimento Sindical|data = |acessadoem = 12/06/2014|autor = |publicado = Regional Campinas}}</ref> Os empregados das fábricas formaram associações e [[sindicato]]s, a princípio proibidos e duramente reprimidos, durante a Primeira Revolução Industrial. Na segunda metade do século XIX, a organização dos trabalhadores assume um considerável nível de [[ideologia|ideologização]]. O sindicalismo na virada do século XX é caracterizado por veleidades revolucionárias e de independência em relação aos [[partidos políticos]].
 
Em 1837, os operários reivindicaram pelo direito a liberdade de atuação, inclusive pelo direito de voto para todos. Em 1864 é criada em [[Londres]] a [[Associação Internacional de Trabalhadores]], a ''Internacional'', primeira central sindical mundial da classe trabalhadora. No mesmo ano, na França, é reconhecido o direito de [[greve]]. As mobilizações continuaram e, em 1871, os trabalhadores conquistaram o poder político na França, por alguns dias, a ação ficou conhecida como a [[Comuna de Paris]].
 
Após a [[Primeira Guerra Mundial]], uma parte dos sindicatos se alinha ao ideário [[socialista]] e [[comunista]], enquanto outra parte se inclina para o [[reformismo]] ou para a [[tradição cristã]]. Em 1919 é criada a Organização Internacional do Trabalho, um dos mais antigos organismos internacionais, com direção tripartite, composta por representantes dos governos, dos trabalhadores e dos empregadores.
 
==== Movimento Ludista (1811-1812) ====
{{Artigo principal|Ludismo}}
Reclamações contra as [[máquinas]] inventadas após a revolução para poupar a mão-de-obra já eram normais. Mas foi em [[1811]] que o estopim estourou e surgiu o movimento ludista, ''uma forma mais radical de protesto''. O nome deriva de [[Ned Ludd]], um dos líderes do movimento. Os luditas chamaram muita atenção pelos seus atos. Invadiram fábricas e destruíram máquinas, que, segundo os luditas, por serem mais eficientes que os homens, tiravam seus trabalhos, requerendo, contudo, duras horas de jornada de trabalho. Os manifestantes sofreram uma violenta repressão, foram condenados à prisão, à deportação e até à [[forca]]. Os luditas ficaram lembrados como "os quebradores de máquinas".<ref>{{citecitar web|url=http://libcom.org/history/machine-breakers-eric-hobsbawm |title=Hobsbawm, Eric, 'The Machine Breakers', Past and Present 1 (1952), 57-70 |publisher=Libcom.org |date=2009-07-04 |accessdate=2013-10-04}}</ref><ref name="econ-www.mit.edu">Autor, Frank; Levy, David and Murnane, Richard J. [http://econ-www.mit.edu/files/569 "The Skill Content of Recent Technological Change: An Empirical Exploration"] ''Quarterly Journal of Economics'' (2003)</ref> Anos depois os operários ingleses mais experientes adotaram métodos mais eficientes de luta, como a [[greve]] e o movimento sindical.
 
==== Movimento Cartista (1837-1848) ====
{{Artigo principal|Cartismo}}
 
O "movimento cartista" foi organizado pela Associação dos [[Operário]]s, exigindo melhores [[condições de trabalho]], incluindo: a limitação de oito horas para a jornada de [[trabalho]]; a regulamentação do trabalho feminino; a extinção do [[trabalho infantil]]; a folga semanal e o [[salário mínimo]].<ref name=socialist>{{citecitar web |url=http://pubs.socialistreviewindex.org.uk/sr235/knight.htm |primeiroautor=Phil Knight |titulo=Newport Rising: the Chartists are coming |editatoeditora=''Socialist Review''|data= novembro de 1999|acessadoacessodata=5 de junho de 2014}}</ref>
 
Este movimento lutou ainda pela instituição de novos [[direitos políticos]], como o estabelecimento do [[sufrágio universal]] (nesta época, o voto era um direito dos homens, apenas), a extinção da exigência de ter [[propriedade]]s para que se pudesse ser eleito para o [[parlamento]] e o fim do [[voto censitário]]. Esse movimento se destacou por sua organização e por sua forma de atuação, chegando a conquistar diversos direitos políticos para os trabalhadores.<ref name=socialist/>
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A partir da Revolução Industrial, o volume de produção aumentou extraordinariamente: a produção de bens deixou de ser artesanal e passou a ser maquinofaturada; as populações passaram a ter acesso a bens industrializados e deslocaram-se para os centros urbanos em busca de trabalho. As [[fábrica]]s passaram a concentrar centenas de [[trabalhador]]es, que vendiam a sua [[força de trabalho]] em troca de um [[salário]].
 
Outra das consequências da Revolução Industrial foi o rápido [[crescimento]] [[economia|econômico]]. Antes dela, o progresso econômico era sempre lento (levavam séculos para que a ''[[renda per capita]]'' aumentasse sensivelmente), e após, a ''renda per capita'' e a [[população]] começaram a [[Crescimento populacional|crescer]] de forma acelerada nunca antes vista na história. Por exemplo, entre [[1500]] e [[1780]] a população da [[Inglaterra]] aumentou de 3,5 milhões para 8,5, já entre 1780 e [[1880]] ela saltou para 36 milhões, devido à drástica redução da [[mortalidade infantil]].
 
Para [[E. P. Thompson]], o incremento da população nesse período se sustentou principalmente por uma longa série de boas colheitas e numa melhora do padrão de vida desenvolvido nos primeiros momentos da Revolução Industrial; com o avanço da industrialização na primeira metade do século, no entanto, a saúde da população urbana começou a deteriorar, principalmente devido à imensa concentração populacional nas cidades que sofreria com as epidemias, péssimas condições de habitação, deformações e estafa causadas pelo trabalho e a alimentação insuficiente e inadequada. A medicina, nesse momento, parece ter sido pouco eficaz no combate a esses problemas<ref>{{citar livro|título = A Formação da Classe Operária Inglesa|sobrenome = Thompson|nome = E. P.|edição = |local = São Paulo|editora = Paz e Terra|ano = 1987|página = 192-3|isbn = }}</ref>.
 
A Revolução Industrial alterou completamente a maneira de viver das populações dos países que se [[industrialização|industrializaram]]. As [[cidade]]s atraíram os camponeses e [[artesão]]s, e se tornaram cada vez maiores e mais importantes.Na Inglaterra, por volta de 1850, pela primeira vez em um grande país, havia mais pessoas vivendo em cidades do que no campo.
 
Nas cidades, as pessoas mais pobres se aglomeravam em [[subúrbio]]s de [[casa]]s velhas e desconfortáveis, com condições horríveis de higiene e salubridade. Conviviam com a falta de [[água#Água da torneira (água canalizada)|água encanada]], com os [[rato]]s, o [[esgoto]] formando riachos nas ruas esburacadas. [[Friedrich Engels|Engels]] realizou um relato impressionantemente detalhado de cada região da Inglaterra em seu "''[[A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra]]"''. Apesar das especificidades de cada cidade, é possível encontrar diversos aspectos em comum. Em geral, os operários moravam em cortiços de um ou dois andares dispostos em fila, e quase sempre construídos irregularmente. As casas mais sofisticadas, as<em>''cottages</em>'', pertenciam aos setores superiores do operariado, e possuíam até quatro cômodos e cozinha. No entanto, os locais, geralmente, eram extremamente sujos, com ruas não pavimentadas, sem esgotos ou calçadas, repletos de detritos humanos e animais e poças lamacentas, que às vezes chegam a cobrir até os joelhos. As habitações quase sempre não possuíam ventilação, e a falta de espaços livres fazia com que a secagem das roupas fosse feita no meio das próprias ruas. O mau cheiro era praticamente insuportável; os muros dos bairros estavam destruídos, os vidros, inexistentes, as portas das casas eram feitas com pedaços de plantas. As casas não possuíam móveis: as mesas e cadeiras, quando existiam, eram feitas com caixas; aquelas se constituem, assim como as fábricas, como domicílios escuros, úmidos e apertados (algumas delas chegam a ser subterrâneas, em condições muito piores do que as similares encontradas no campo)<ref>{{citar web|URLurl = http://chacombolachas.wordpress.com/2008/09/11/condicoes-e-modos-de-vida-do-operariado-ingles-da-primeira-revolucao-industrial-1780-1840/#sdfootnote58anc|título = Condições e Modos de Vida do Operariado Inglês da Primeira Revolução Industrial (1780-1840)|data = 11 de setembro de 2008|acessadoem = 05/06/2014|autor = Sérgio Roberto Guedes Reis|publicado = Chá com Bolachas}}</ref>.
 
[[Ficheiro:Graph rel share world manuf 1750 1900 02.png|thumb|300px|À medida que a Revolução Industrial se desenvolveu, a produção manufatureira britânica saltou à frente da de outras grandes economias.]]
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A vida na cidade moderna significava mudanças incessantes. A cada instante, surgiam novas máquinas, novos produtos, novos gostos, novas modas.
 
Estudos sobre as variações na altura média dos homens no norte da [[Europa]], sugerem que o progresso econômico gerado pela industrialização demorou varias décadas até beneficiar a população como um todo. Eles indicam que, em média, os homens do norte europeu durante o início da Revolução Industrial eram 7,6 centímetros ''mais baixos'' que os que viveram 700 anos antes, na [[Alta Idade Média]]. É estranho que a altura média dos ingleses tenha caído continuamente durante os anos de [[1100]] até o início da revolução industrial em 1780, quando a altura média começou a subir. Foi apenas no início do [[século XX]] que essas populações voltaram a ter altura semelhante às registradas entre os séculos [[século IX|IX]] e [[século XI|XI]].<ref>[http://www.nber.org/papers/w8542 Steckel, Richard H. 2001. Health and Nutrition in the Preindustrial Era: Insights from a Millennium of Average Heights in Northern Europe. NBER Working Paper No. 8542] {{en}}</ref> A variação da altura média de uma população ao longo do tempo é considerada um indicador de saúde e bem-estar econômico. Apesar destes dados à longo prazo, a afirmação de que a condição de vida dos trabalhadores melhorara é polêmica, principalmente se considerarmos as condições de moradia e trabalho, que inclusive incluía o trabalho infantil. Do mesmo modo,não se pode dizer que essa possível melhora da saúde e do bem-estar sejam frutos diretos da Revolução Industrial, também envolvendo a consolidação do Estado e dos serviços públicos prestados à população, como o saneamento básico, bem como a melhora das condições de alimentação.
 
Apesar do evidente desenvolvimento tecnológico e da relativa melhora de condições de vida, muitas críticas são realizadas ao tipo de produção que passou a ser desenvolvida a partir da Revolução Industrial -- àquela da produção em massa e em benefício do enriquecimento individual <ref>{{citar web|URLurl = http://www.goethe.de/ins/br/lp/kul/dub/umw/pt10282568.htm|título = Obsolescência programada: o consumo exacerbado e o esgotamento de fontes naturais|data = Dezembro de 2012|acessadoem = 05/06/2014|autor = Júlia Braga|publicado = Ghoete Institut}}</ref>. Alguns desses críticos defendem uma modificação da produção e do consumo de forma a se conquistar um [[desenvolvimento sustentável]], afirmando que essa forma de produção é danosa ao meio ambiente <ref>{{citar web|URLurl = http://www.geografiaparatodos.com.br/index.php?pag=sl22|título = A PREDATÓRIA RACIONALIDADE ECONÔMICA|data = 08/04/2004|acessadoem = 05/06/2014|autor = Cândido Grzybowski|publicado = Geografia para todos}}</ref>. Outros, questionam a associação entre a vida urbana e industrializada com uma vida mais saudável e superior a do campo, denunciando os altos índices de depressão e suicídio na sociedade contemporânea. É o caso do filósofo [[Serge Latouche]], que busca romper com a ideologia do "crescimento pelo crescimento" e do desenvolvimento tecnológico sem reflexão <ref>{{citar web|URLurl = http://www.ihu.unisinos.br/noticias/523299-serge-latouche-o-precursor-da-teoria-do-decrescimento-defende-uma-sociedade-que-produza-menos-e-consuma-menos|título = Serge Latouche, o precursor da teoria do decrescimento, defende uma sociedade que produza menos e consuma menos|data = 033 de setembro de 2013|acessadoem = 06/06/2014|autor = Unisinos|publicado = Instituto Humanitas Unisinos}}</ref>.
 
== Ver também ==