Frederico I do Sacro Império Romano-Germânico: diferenças entre revisões

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===Anos finais===
[[Ficheiro:Friedrich-barbarossa-und-soehne-welfenchronik 1-1000x1540.jpg|miniaturadaimagem|Frederico Barbarossa, no meio, flanqueado por dois dos seus filhos, o rei Henrique VI (esquerda) e o duque Frederico VI (direita).]]
SentimentoO sentimento anti-alemão começou a crescer na região da [[Lombardia]], culminando na restauração de [[Milão]] em 1169.<ref>{{harvnb|Comyn|1851|p=253}}</ref> Em 1174, Frederico Barbarossa fez sua quinta expedição a Itália. Se opondo a ele estava a pró-papa [[Liga Lombarda]], que já havia se erguido contra ele no passado (mas agora apoiada por [[Veneza]], [[Sicília]] e [[Constantinopla]]).<ref name="Kampers 6252b">Kampers, Franz. [http://www.newadvent.org/cathen/06252b.htm "Frederick I (Barbarossa)"]. ''The Catholic Encyclopedia''. Vol. 6. New York: Robert Appleton Company, 1909. 21 de maio de 2009.</ref> As cidades do norte da Itália eram muito ricas devido ao comércio, representando uma transição do feudalismo medieval. Enquanto o feudalismo no resto do continente havia permanecido forte social e economicamente, em termos políticos estava em declínio na época de Frederico Barbarossa. Quando as tropas das cidades italianas nortenhas derrotaram as forças imperiais alemães em [[Alexandria (Itália)|Alessandria]], em 1175, o mundo europeu ficou em choque.<ref>{{harvnb|Le Goff|2000|p=104}}</ref><ref>B. Arthaud. ''La civilization de l'Occident medieval'', Paris, 1964.</ref> Com a recusa de Henrique o Leão de levar ajuda a Itália, a campanha terminou em fracasso. Frederico foi derrotado de novo, desta vez mais decisivamente, na [[Batalha de Legnano]] (perto de Milão), em 29 de maio de 1176, onde ele foi ferido e presumido como morto por algum tempo.<ref>{{harvnb|Comyn|1851|p=257}}</ref> EsteEsta batalha marcou o começo do fim da reivindicação de Frederico sobre todo o império.<ref>{{harvnb|Davis|1957|pp=332 et seq.}}</ref> Assim ele não teve outra alternativa a não ser negociar a paz com Alexandre III e a Liga Lombarda. Na Paz de Anagni de 1176, Frederico reconheceu Alexandre como papa e na [[Paz de Veneza]] de 1177, Frederico e Alexander se reconciliaram.<ref>{{harvnb|Brown|1972|pp=164–165}}</ref>
 
A paz entre o Sacro Império Romano-Germânico e a Igreja aconteceu praticamente da mesma forma que havia acontecido entre o [[Papa Gregório VII]] e o imperador [[Henrique IV do Sacro Império Romano-Germânico|Henrique IV]] em [[Canossa]] um século antes. O que resolveu este conflito foi praticamente a mesma coisa da [[Concordata de Worms]]: Tinha o Imperador Romano-Germânico o poder de nomear o papa e os bispos? A [[Questão das Investiduras]] dos séculos anteriores tinha trazido uma paz tênue com a Concordata de Worms e firmou o [[Primeiro Concílio de Latrão]]. Agora tinha reaparecido, em uma forma levemente diferente. Frederico teve que se rebaixar diante de Alexandre III em Veneza.<ref>{{harvnb|Comyn|1851|p=260}}</ref> O imperador reconheceu o poder soberano do papa sobre os [[Estados Papais]] e em retorno Alexandre reconheceu a autoridade do imperador sobre a Igreja Imperial. Além disso, na Paz de Veneza, uma trégua foi firmada com as cidades lombardas, que começou oficialmente em 1178.<ref>[http://avalon.law.yale.edu/ Yale Avalon project]</ref> As bases para uma paz mais definitiva só aconteceu em 1183, contudo, na [[Paz de Constança]], quando Frederico cedeu seu direito de eleger livremente os magistrados. Com este movimento, o imperador Frederico recuperou seu domínio nominal sobre a Itália, o que se tornou sua principal moeda de trocaferramenta para pressionar o papado.<ref>{{harvnb|Le Goff|2000|pp=96–97}}</ref>
 
Numa tentativa de consolidar seu reinado sobre a expedição desastrosa na Itália, Frederico foi formalmente coroado [[Reino da Borgonha|Rei da Borgonha]] em [[Arles]] em 30 de junho de 1178. Apesar de tradicionalmente os reis alemães automaticamente herdavamherdarem a coroa de Arles desde [[Conrado II do Sacro Império Romano-Germânico|Conrado II]], Frederico sentiu a necessidade de se coroar pelo Arcebispo de Arles, independentemente da sua reivindicação desde 1152.<ref>Rossi Di Marignano, Federico: "Federico Barbarossa e Beatrice di Borgogna. Re e regina d'Italia", Mondadori, 2009, ISBN 88-04-58676-1 ISBN 978-88-04-58676-0</ref>
 
Frederico Barbarossa não perdoou [[Henrique, o Leão|Henrique o Leão]] por sua recusa em ajuda-lo na expedição italiana de 1176.<ref>{{harvnb|Comyn|1851|p=263}}</ref> Em 1180, Henrique tinha estabelecido um poderoso e continuo estado que englobava a Saxônia, Baviera e vários outros territórios no norte e no leste da Alemanha. Tirando vantagem da hostilidade nutrida pelos príncipes alemães contra Henrique, Frederico o julgou ''[[in absentia]]'' numa corte de bispos e príncipes em 1180, declarando que a lei imperial sobrepujava as leis tradicionais alemãs, e tirou as terras e títulos de Henrique, declarando-o um fora da lei.<ref>{{harvnb|Davis|1957|p=333}}</ref> Ele então invadiu a Saxônia com um exército imperial para forçar seu primo a se render. Os aliados de Henrique o desertaram e ele finalmente se submeteu em novembro de 1181. Henrique o Leão passou os próximos três anos no exílio na corte do seu sogro, o rei [[Henrique II da Inglaterra]] na Normandia antes dele ser autorizado a voltar para a Alemanha. Henrique, outrora o mais poderoso príncipe de Frederico, passou seus últimos dias com uma posição pequena em um ducado sem muita expressão em [[Brunsvique]].<ref>{{harvnb|Comyn|1851|p=264}}</ref> O desejo de vingança de Frederico foi saciado. Henrique viveu o resto da vida em relativa calma, patrocinando artes e arquiteturasarquitetura. A vitória de Frederico sobre Henrique não mudou muito o sistema feudal alemão, enquanto este estava em transformação na Inglaterra (indo em direção ao declínio por lá, na verdade). Enquanto na Inglaterra o juramento de lealdade ia dos senhores até o nobre em posição superior, os alemães juravam lealdade diretamente ao soberano, sendo que no caso de Henrique, os senhores abaixo dele não juravam lealdade diretamente a Frederico. Assim, apesar de ter diminuído o poder de Henrique o Leão, Frederico não conquistou muito mais apoio entre seus nobres.<ref>{{harvnb|Cantor|1969|pp=433–434}}</ref>
 
Frederico enfrentou a realidade da desordem dos estados alemães, onde guerras civis contínuas eram travadas entre os pretendentes e os ambiciosos querendo a coroa para si mesmos. A unidade italiana sob o governo alemão era mais mito do que realidade. Apesar de proclamações de hegemonia alemãsalemã, o papa continuou como o homem mais poderoso da Itália.<ref>{{harvnb|Le Goff|2000|pp=102–103}}</ref> Quando Frederico retornou para a Alemanha após sua derrota no norte da Itália, ele era um homem amargurado e exausto. Os príncipes alemães, longe de serserem subordinados a coroa real, estavam intensificando seu controle sobre as riquezas e o poder na Alemanha, se entrincheirando em suas posições. Então começou um desejo maior de "criar uma grande Alemanha" ao conquistar os eslavos no leste.<ref>{{harvnb|Cantor|1969|p=429}}</ref>
 
Apesar das cidades italianas terem conquistado um grau de independência de Frederico como resultado da sua fracassada quinta expedição na Itália,<ref>{{harvnb|Comyn|1851|p=262}}</ref> o imperador não havia desistido dos seus domínios sobre os italianos. Em 1184, ele fez uma grande festa onde seus dois filhos mais velhos foram feitos [[cavaleiro]]s e milhares de nobres foram convidados de todos os cantos da Alemanha. Enquanto pagamentos sobre a investidura de cavaleiro ede um filho eram parte das expectativas de um suserano na Inglaterra ou França, apenas um "presente" era dado na Alemanha nestas ocasiões. O ganho monetário de Frederico desta celebração foi dito como modesto.<ref>{{harvnb|Dahmus|1969|p=240}}</ref> Ao fim de 1184, o imperador Frederico novamente se moveu para a Itália, desta vez se unindo com a nobreza local para reduzir o poder das cidades Toscanas.<ref>{{harvnb|Comyn|1851|p=265}}</ref> Em 1186, ele casou seu filho Henrique com a [[Constança da Sicília]], herdeira do [[Reino da Sicília]], sob as objeções do [[Papa Urbano III]].<ref>{{harvnb|Comyn|1851|p=266}}</ref>
 
====Terceira Cruzada e morte====
O Papa Urbano III faleceu em 1187 e foi sucedido por [[Papa Gregório VIII|Gregório VIII]], que estava mais preocupado com as notícias turbulentas que vinham da [[Terra Santa]] do que com as disputas de poder com Barbarossa. Após fazer as pazes com o novo papa, Frederico jurou levar a cruz de [[Jesus|Cristo]] até ana [[Dieta de Mainz]] em 1188.<ref name="Kampers 6252b" /> Frederico embarcou então na [[Terceira Cruzada]] (1189–92), uma grande expedição conjunta com os franceses, liderados pelo rei [[Filipe II de França|Filipe II]], e os ingleses, sob comando do rei [[Ricardo I de Inglaterra|Ricardo Coração de Leão]]. O Imperador Frederico organizou um exército de 100 000 homens (incluindo 20 000 cavaleiro) e partiu, por terra, para a Terra Santa;<ref name="Phillips66">J. Phillips, ''The Fourth Crusade and the Sack of Constantinople'', 66</ref> Alguns historiadores, contudo, acreditam que estes números são exagerados e que na verdade o número de soldados que levou eragirava naem verdadetorno de 15 000 homens, incluindo 3 000 cavaleiros.<ref name="army">Konstam, ''Historical Atlas of the Crusades'', 162</ref>
[[Ficheiro:Gustave dore crusades death of frederick of germany.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|A Morte de Frederico Barbarossa, por Gustave Doré.]]
Os [[cruzados]] passaram pela [[Reino da Hungria|Hungria]], [[Grão-Principado da Sérvia|Sérvia]] e [[Segundo Império Búlgaro|Bulgária]] antes de entrar no território bizantino e chegando em Constantinopla no outono de 1189. A situação era complicada devido a um pacto secreto do Imperador de Constantinopla e [[Saladino]] (o líder dos [[sarracenos]]), que Frederico ficou sabendo devido a um aviso que chegou a Fredericoele através de uma carta de [[Sibila de Jerusalém|Sibila]], ex-rainha de [[Reino de Jerusalém|Jerusalém]].<ref>[http://www.fordham.edu/halsall/source/1189barbarossa-lets.html The Crusade of Frederick Barbarossa: Letters], Fordham University.</ref> Enquanto estava na Hungria, Barbarossa pessoalmente pediu para o [[Géza, filho de Géza II da Hungria|Príncipe Géza]], irmão do rei [[Bela III da Hungria]], para se juntar a cruzada. O rei concordou e o exército húngaro de 2 000 homens liderados por Géza escoltou as forças do imperador alemão. Os exércitos vindos da [[Europa ocidental]] passaram pela [[Anatólia]], onde eles foram vitoriosos em tomar [[Akşehir]] e derrotouderrotaram os turcos na [[Batalha de Iconium (1190)|Batalha de Iconium]] e entraram na [[Reino Arménio da Cilícia|Armênio da Cilícia]]. A aproximação da numerosa tropa alemã preocupava [[Saladino]] e outros líderes muçulmanos, que começaram a renuir suas próprias forças para confrontar os homens de Barbarossa.<ref name="Canduci, pg. 263"/>
 
Em 10 de junho de 1190, o imperador Frederico Barbarossa se afogou no rio [[Göksu|Saleph]], perto do Castelo de [[Silifke]]. Relatos do evento são conflitantes. Alguns historiadores acreditam que ele pode ter tido um ataque cardíaco que o complicou. Alguns dos homens de Frederico colocaram seu corpo em um barril cheio de vinagre a fim de preservar seu corpo.<ref>{{harvnb|Comyn|1851|p=267}}</ref>
[[Ficheiro:051 Göksu.07.2006 resize.JPG|miniaturadaimagem|O rio Saleph, hoje conhecido como [[Göksu]].]]
A morte de Frederico deixou seu exército em situação caótica. Sem liderança, em pânico e atacados por todos os lados pelos turcos, muitos alemães desertaram, foram mortos ou cometeram suicídio. Apenas 5 000 soldados, uma pequena fração de sua força original, chegou em [[Acre (Israel)|Acre]]. O filho de Barbarossa, [[Frederico VI da Suábia|Frederico VI]] da Suábia, levou os restos do imperador junto com seu exército, juntoao comlado asdas forças húngaras ainda sob comando do príncipe Géza, com o objetivo de enterra-lo em [[Jerusalém]], mas os esforços de conservar seu corpo em vinagre falharam. Assim, sua carne foi levada para a [[Igreja de São Pedro]] em [[Antioquia]], seus ossos para a catedral de [[Tiro]] e seu coração e órgãos internos para [[Tarso]].<ref name="Canduci, pg. 263"/>
 
O fim inesperado da vida de Frederico deixou o comando das forças dos cruzados nas mãos dos rivais Filipe II e Ricardo I, que haviam viajado para a [[Palestina]] de forma separada pelo mar e eventualmente levou à sua dissolução. Ricardo continuou para o leste onde ele derrotou Saladino em diversas batalhas, conquistando muitos territórios na costa palestina, mas falhou no objetivo principal da guerra que era conquistar Jerusalém. Ele então retrocedeu para seus domínios na Europa ocidental, o chamado [[Império Angevino]]. Ele assinou o [[Tratado de Ramla]] concordando que Jerusalém permaneceria sob controle muçulmano enquanto permitisse que peregrinos cristãos (desarmados) e comerciantes pudessem visitar a cidade. O tratado também reduziu o [[Reino de Jerusalém|Reino Latino]] para uma costa geopolítica que se estendia de Tiro até [[Jafa]].<ref name="Canduci, pg. 263"/>