Flávio Josefo: diferenças entre revisões

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'''Flávio Josefo''', ou apenas '''Josefo''' ({{lang-la|''Flavius Josephus''}}; [[37]] ou [[38]]<ref>Nas suas próprias palavras: "…eu tenho o meu nascimento no primeiro ano do reinado do imperador [[Calígula|Caio César]]." (Josefo, Flávio. ''Autobiografia'')</ref> — ca. [[100]]<ref>{{citar livro|título=Flavius Josephus|autor=Feldman, Louis H. e Mason, Steve|editora=Brill Academic Publishers|ano=1999}}</ref>), também conhecido pelo seu nome [[Língua hebraica|hebraico]] '''Yosef ben Mattityahu''' (יוסף בן מתתיהו, "José, filho de Matias [Matias é variante de Mateus]") e, após se tornar um [[Cidadania romana|cidadão romano]], como '''Tito Flávio Josefo''' ([[latim]]: ''Titus Flavius Josephus''),<ref>Josefo se referia a si mesmo nas suas obras em [[Língua grega|grego]] como ''Jōsēpos Matthiou pais'' ("José, filho de Matias"). Embora ele também falasse [[Língua aramaica|aramaico]] e provavelmente o [[hebraico]], não existem fontes da época que registraram seu nome nestes idiomas.</ref> foi um [[historiador]] e [[Apologética|apologista]] [[Judaísmo|judaico]]-[[Roma Antiga|romano]], descendente de uma linhagem de importantes [[sacerdote]]s e [[Monarca|reis]], que registrou ''in loco'' a [[destruição de Jerusalém]], em [[70|70 d.C.]], pelas tropas do [[Imperador romano|imperador]] [[Império Romano|romano]] [[Vespasiano]], comandadas por seu filho [[Tito (imperador)|Tito]], futuro imperador. As obras de Josefo fornecem um importante panorama do [[judaísmo]] no [[século I]].
 
Suas duas obras mais importantes são ''[[A Guerra dos Judeus]]'' (c. 75) e ''[[Antiguidades Judaicas]]'' (c. 94).<ref name ="Harris">[[Stephen L. Harris|Harris, Stephen L.]], ''Understanding the Bible'', (Palo Alto: Mayfield, 1985).</ref> O primeiro é [[fonte primária]] para o estudo da [[Primeira guerra judaico-romana|revolta judaica]] contra Roma (66-70<ref>Algumas fortificações dos rebeldes [[zelota]]s resistiram mais algum tempo, como [[Macheron]], [[Heródio]] e, por último, [[Cerco de Massada|Massada]] ([[73]]) (Josefo, Flávio. ''Guerra dos Judeus''.)</ref>), enquanto o segundo conta a história do mundo sob uma perspectiva judaica. Estas obras fornecem informações valiosas sobre a sociedade judaica da época, bem como sobre o período que viu a separação definitiva do [[cristianismo]] do judaísmo e as origens da [[Dinastiadinastia Flavianaflaviana]], que reinariareinou de [[69]] a [[96]].<ref name ="Harris" />
 
== Biografia ==
 
As informações de que dispomos sobre a sua vida provêm principalmente de sua autobiografia ([[Vida de Flávio Josefo]]). Josefo, que se apresentou em [[Língua grega|grego]] como ''Iósepos'' (Ιώσηπος), filho de Matias, [[sacerdote]] [[Judaísmo|judaico]]<ref>[[Guerra dos Judeus]]'' I.3</ref>, teria nascido em [[Jerusalém]] numa família de ''[[cohanim]]'' (sacerdotes), onde teria recebido uma educação sólida na [[Torá]]. Sua mãe descendia da [[família real]] dos [[HasmoneusAsmoneus]]. Aos treze anos de idade, iniciou seu aprendizado sobre três das quatro seitas judaicas: [[saduceus]], [[fariseus]] e [[essênios]] optando aos dezenove anos de idade por aderir ao farisaísmo. Em sua obra, Josefo atribui aos [[zelotaszelota]]s, a quarta seita, a responsabilidade por ter incitado a revolta contra os [[Roma Antiga|romanos]], que conduziu à destruição de Jerusalém e do [[Templo de Jerusalém |Templo]].
 
Em [[64]], contando com vinte e seis anos de idade, seguiu numa embaixada a [[Roma]] onde obteve, por intermédio de [[Popeia Sabina]], esposa do [[imperador romano | imperador]] [[Nero]], a libertação de alguns sacerdotes hebreus condenados pelo governador da [[Judeia (província romana)|Judeia]], [[Marco Antônio Félix]]. Ao regressar à Judeia, Jerusalém encontrava-se à beira da revolta. Josefo procurou dissuadir os líderes mas seus esforços foram inúteis, tendo os revoltosos tomado a [[Fortaleza Antônia]] ([[66]]). Josefo, com receio de ser acusado de partidário dos romanos, refugiou-se no Templo. Entretanto, após a morte de [[Manaém]] e dos principais líderes da revolta, uniu-se aos sacerdotes do [[Sinédrio]] (''Sanhedrin'') que, naquele momento, aguardavam a chegada das tropas de [[Cássio]] {{dn}} para sufocar a revolta, o que não se concretizou pela derrota destas.
 
O Sinédrio o enviou à [[Galileia]]. À sua chegada, relatou a Jerusalém que os galileus estavam prestes a marchar sobre [[Séforis]], cidade leal a Roma. O Sinédrio então o designou governador militar da província, que fez fortificar. Defrontou-se com a oposição dos extremistas liderados por [[João de Giscala]], que o acusavam de tender à contemporização.
 
[[Imagem:Ancient Galilee.jpg|thumb|esquerda|260pxupright=1.5|[[Galileia]], governada brevemente por Josefo.]]
Enfrentou as forças de [[Plácido (general) |Plácido]], enviadas por [[Géstio Galo]] para a região. Em [[67]], as tropas de [[Vespasiano]] tomaram [[Yodfat|Jotapata]], e Josefo, com quarenta homens, escondeu-se em uma [[cisterna]]. Com a descoberta do esconderijo, foi-lhes proposto que se rendessem em troca das próprias vidas. Josefo teria sugerido então um método de suicídio coletivo: tirariam a sorte e matariam-se uns aos outros, de três em três pessoas; restaram apenas Josefo e mais um homem. Há quem veja o ocorrido como um [[problema matemático]], por vezes designado como [[problema de Josefo]] ou ''Roleta Romana''<ref>{{Citation | trans_title = Roleta romana | publisher = UVA | place = [[Espanha |ES]] | language = en | url = http://acm.uva.es/p/v1/130.html | title = Roman Roulette}}.</ref>). Josefo convenceu este seu soldado a se entregar às forças romanas que invadiram a Galileia, em julho de 67, tornando-se prisioneiro de guerra. As tropas romanas do [[imperador romano]], (Flávio) [[Vespasiano]], eram comandadas por seu filho, [[Tito (imperador)|Tito]], ele próprio futuro imperador. Em [[69]], Josefo foi libertado<ref>''Guerra dos Judeus'' IV. 622-629</ref> e, de acordo com seu próprio relato, teria tido um papel de relevo como negociador com as tropas de resistência durante o [[Cerco de Jerusalém (70)|cerco de Jerusalém]], em [[70]], com discursos incitando os revoltosos ao arrependimento, sem que fosse ouvido. Indo para Roma, após a queda de Jerusalém, foi bem aceito, assumindo o nome romano de seu protetor Flávio Vespasiano, e recebido a [[cidadania romana]]. Passou também a receber uma generosa pensão. Além disso, tratou de aumentar suas rendas, obtendo permissão de Vespasiano para, através de seus agentes, adquirir, a preço vil, terras na Judeia, confiscadas dos envolvidos na revolta<ref>Hadas-Lebel, Mirelli. '''Flávio Josefo, o judeu de Roma'''. Rio de Janeiro. Editora Imago, 1992</ref>. As honrarias prosseguiram sob o reinado de Tito e de [[Domiciano]].
 
Em [[71]], Josefo chegou a Roma com a comitiva de Tito; cidadão romano, passou a ser um [[Cliente (Roma Antiga) |cliente]] da [[dinastia]] dominante, os [[Dinastia Flavianaflaviana|flavianos]]. Durante sua estada em Roma, e sob patronagem flaviana, escreveu todas as suas obras conhecidas. Embora Josefo só se refira a si próprio por este nome, parece ter adotado o [[prenome (Roma Antiga)|prenome]] Tito (''Titus'') e o [[nome (Roma Antiga) |nome]] Flávio (''Flavius'') de seus [[Patrão (Roma Antiga)|patrões]]<ref>[[Orígenes]], [[teologia |teólogo]] [[Cristianismo |cristão]] do [[século III]] (''Comm. Matt.'' 10.17).</ref>. Esta prática era costumeira para todos os 'novos' cidadãos romanos.
 
A primeira esposa de Josefo morreu, juntamente com seus pais, durante o cerco de Jerusalém. Vespasiano arranjou-lhe um casamento com uma mulher judaica que também fôra capturada. Esta mulher o abandonou e, por volta de 70, casou-se com uma judia de [[Alexandria]], com quem teve três filhos. Apenas um, Flávio Hircano (''Flavius Hyrcanus''), sobreviveu além da infância. Josefo se divorciou posteriormente desta sua terceira esposa e, no ano 75, se casou pela quarta vez, com uma judia de uma família distinta de [[Creta]]. Este último casamento produziu dois filhos, Flávio Justo (''Flavius Justus'') e Flávio Simônides Agripa (''Flavius Simonides Agrippa'').
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== Obra ==
Escreveu um relato da [[Primeira guerra judaico-romana|Grande Revolta Judaica]], dirigida à comunidade judaica da [[Mesopotâmia]], em [[língua aramaica]]. Escreveu, depois, em [[língua grega|grego]], outra obra de cariz histórico que abarcava o período que vai dos [[Macabeus]] até à queda de Jerusalém. Este livro, a [[A Guerra dos Judeus]], foi publicado em [[79]]. A maior parte do livro é diretamente inspirada na sua própria vida e experiência militar e administrativa.
 
As [[Antiguidades Judaicas]] (escritas cerca de [[94]] em [[língua grega|grego]]) é a história dos Judeus desde a criação do [[Génesis]] até à irrupção da guerra da [[década de 60]]. Acrescentou, no final, um apêndice autobiográfico onde defendeu a sua posição colaboracionista em relação aos invasores romanos. O seu relato, ainda que com um paralelismo evidente em relação ao [[Antigo Testamento]], não é idêntico ao das escrituras sagradas. Há quem defenda que estas diferenças se devam à possibilidade de Josefo ter tido acesso a documentos antigos (que remontariam até à época de Neemias) que teriam sobrevivido à destruição do templo. A maior parte dos académicos não dá crédito a tal suposição. Neste livro encontra-se o famoso ''[[Flávio Josefo e Jesus|Testimonium Flavianum]]'', uma das referências mais antigas a Jesus, mas considerada por alguns estudiosos uma interpolação fraudulenta posterior<ref>''[[Karl Kautsky|Kautsky, KARL]] A origem do cristianismo, 1908, p. 42''</ref><ref>''[[Emil Schürer|Schürer, EMIL]] Geschichte des Jüdischen Volkes im Zeitalter Jesu Christi, vol.I, 3ª ed., 1901, p544''</ref>.
 
''[[Contra Apião]]'' é outra obra importante deste autor, onde o [[judaísmo]] é defendido como religião e filosofia realmente clássica, em contraponto às tradições mais recentes dos gregos. O livro serve para expor e refutar algumas alegações [[Anti-SemitismoAntissemitismo|anti-semíticasantissemíticas]] de [[Apião]], bem como mitos antigos, como os de [[ManetãoMâneton]].
 
Sua última obra, foi uma [[autobiografia]] ([[Vida de Flávio Josefo]]), que nos revela o nome do adversário ("[[Justo de Tiberíades]]", filho de Pistos), ao qual essa obra vem responder e as censuras que lhe faz Josefo. Essa obra é cheia de lacunas, confusa e hipertrofiada. E ela traz sobre a vida de Josefo informações preciosas, que não encontramos em nenhum outro historiador da antiguidade.
 
Segundo Alberto Manguel <ref>''[[Alberto Manguel. Uma história da leitura, S.Paulo: Cia das Letras, 1997, p.142-143]]''.</ref>), por volta de 1830, a obra de Flavio Josefo foi uma das mais usadas para leitura em voz alta nas famílias escocesas. Algumas décadas mais tarde, Guerra Judaica é indicada como uma das obras mais lidas na Inglaterra.<ref>''[[Louis Finkelstein. The Jews: Their History, Culture and Religion. N. Yorque: Harper & Brothers Publishers, 1949, p. 754]]''.</ref> <ref>''[[Cf ROCHA, Ivan E. A vida quotidiana na Palestina do século I na visão de Flávio Josefo. São Paulo: Annablume, 2014, p. 36]]''.</ref>
 
{{Referências|col=2}}
 
=={{ Ligações externas}} ==
{{Referências}}
 
=={{Ligações externas}}==
*{{link|en|2=http://www.gutenberg.org/browse/authors/j#a1050|3=Projeto Gutenberg - Catálogo de Flávio Josefo}}
*[http://pt.wikisource.org/wiki/Contra_%C3%81pio Wikisource] Contra Ápio