Platão: diferenças entre revisões

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{{Platonismo}}
===Origem===
A mãe de Platão era [[Perictíone]], cuja família gabava-se de um relacionamento com o famoso ateniense legislador e poeta lírico ateniense [[Sólon]]<ref name="LaI">Diógenes Laércio, ''Vida de Platãoo'', I</ref>. Perictíone era irmã de [[Cármides]] e sobrinha de [[Crítias]], ambas as figuras proeminentes na época da [[Tirania dos Trinta]], a breve [[oligarquia]] que se seguiu sobre o colapso de Atenas no final da [[Guerra do Peloponeso]] (404–403 a.C).<ref name="TW1">W. K. C. Guthrie, ''A History of Greek Philosophy''', IV, 10<br>* A.E. Taylor, ''Plato'', xiv {{en}}<br>* U. von Wilamowitz-Moellendorff, ''Plato'', 47</ref> Além do próprio Platão, [[Aristão]] e Perictíone tiveram outros três filhos, estes foram: Adimanto e, Glaucão, e uma filha, Potone, a mãe de [[Espeusipo]] (então o sobrinho e sucessor de Platão como chefe de sua [[Academia de Platão|Academia filosófica]]).<ref name="TW1" /> De acordo com ''[[A República]]'', Adimanto e Glaucão eram mais velhos que Platão.<ref name="PlRep368a">Plato, ''Republic'', 2.[http://old.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?lookup=Plat.+Rep.+2.368a 368a]<br>* U. von Wilamowitz-Moellendorff, ''Plato'', 47</ref> No entanto, emna ''Memorabilia'', [[Xenofonte]] apresenta Glaucão como sendo mais novo que Platão.<ref>Xenofonte, ''Memorabilia'', 3.6.[http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0208&layout=&loc=3.6.1 1] {{en}}</ref>
 
Aristão<ref name="Burton2013">Neel Burton. ''[http://books.google.com/books?id=2BlVAgAAQBAJ&pg=PT38 O Mundo de Platão]''. Pensamento; 2013. ISBN 978-85-316-1250-3. p. 38.</ref> parece ter morrido na infância de Platão, embora a data exata de sua morte seja desconhecida<ref name="TN">D. Nails, "Ariston", 53 {{en}}<br>* A.E. Taylor, ''Plato'', xiv {{en}}</ref>. Perictíone então casou-se com Perilampes, irmão de sua mãe<ref name="NA229">Platãoo, ''Cármides'', [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0176&query=section%3D%23376&layout=&loc=Charm.%20157e 158a]<br>* D. Nails, "Perictione", 53 {{en}}</ref> que tinha servido muitas vezes como embaixador para a [[Império Aquemênida|corte persa]] e era um amigo de [[Péricles]], líder da facção democrática em Atenas.<ref name="P13">Plato, ''Cármides'', [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0176&query=section%3D%23376&layout=&loc=Charm.%20157e 158a]<br>* Plutarch, ''Pericles'', [[s:Lives/Pericles#13|IV]]</ref>
 
Em contraste com a sua reticência sobre si mesmo, Platão muitas vezes introduziu seus ilustres parentes em seus diálogos, ou a eles referenciou com alguma precisão: Cármides tem um diálogo com o seu nome; Crítias fala tanto em ''[[Cármides]]'' quanto em ''[[Protágoras (diálogo)|Protágoras]]'' ; e Adimanto e Glaucão têm trechos importantes em ''[[A República]].''<ref name="G11">W. K. C. Guthrie, ''A History of Greek Philosophy'', IV, 11 {{en}}</ref> Estas e outras referências sugerem uma quantidade considerável de orgulho da família e nos permitem reconstruir a [[árvore genealógica]] de Platão. De acordo com Burnet, "''a cena de abertura de'' Cármides'' é uma glorificação de toda [família] ligação... os diálogos de Platão não são apenas um memorial para Sócrates, mas também sobre os dias mais felizes de sua própria família.''"<ref name="Kahn186">C.H. Kahn, ''Plato and the Socratic Dialogue'', 186< {{en}}</ref>.
 
===Infância e juventude===
Platão nasceu em [[Atenas]]<ref name="diogenes.laertius.3.1">Diógenes Laércio, ''Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres'', Livro III, ''Vida de Platão'', 1</ref>, provavelmente em 427-428 a.C.<ref name="RussellAlves2004">{{cite book|author1=Bertrand Russell|author2=Laura Alves|title=História do Pensamento Ocident|url=http://books.google.com/books?id=ksAu7jtHoZgC&pg=PA85|year=2004|publisher=Ediouro Publicações|isbn=978-85-00-01355-3|pages=85–}}</ref> (no sétimo dia do mês ''Thargêliốn''<ref name="apolodoro.diogenes.laertius.3.2">Apolodoro, citado por Diógenes Laércio, ''Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres'', Livro III, ''Vida de Platão'', 2</ref>), cerca de um ano após a morte do [[estadista]] [[Péricles]]<ref name="RussellAlves2004"/>, e morreu em 348 a.C.<ref name="RussellAlves2004"/> (no primeiro ano da 108<sup>a</sup> [[Jogos Olímpicos da Antiguidade|Olimpíada]]<ref name="hermippus.diogenes.laertius.3.2">''Hermippus'', citado por Diógenes Laércio, ''Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres'', Livro III, ''Vida de Platão'', 2</ref>).
 
A data tradicional do nascimento de Platão (428/427) é baseada em uma interpretação dúbia de [[Diógenes Laércio]], que afirma: "Quando Sócrates foi embora, Platão se juntou a Crátilo e Hermógenes, que filosofou à maneira de Parmênides. Então, aos vinte e oito anos, segundo Hermodoro, Platão foi para Euclides, em Megara."<ref name="Nails2002">{{cite book|author=Debra Nails|title=The people of Plato: a prosopography of Plato and other Socratics|url=http://books.google.com/books?id=y3YRwNsnu54C|year=2002|publisher=Hackett Publishing|isbn=978-1-60384-403-1|page=247}} {{en}}</ref> Em sua ''Sétima Carta'', Platão observa que a sua idade coincidiu com a tomada do poder pelos Trinta Tiranos, comentando: "Mas um jovem com idade inferior a vinte seria motivo de chacota se tentasse entrar na arena política". Assim, a data de nascimento de Platão seria 424/423<ref name="Nails2002" />.
 
De acordo com [[Diógenes Laércio]], o filósofo foi nomeado ''AristóclesArístocles,'' como seu avô, mas seu treinador de [[luta]], Aristão de Argos, o apelidou de ''Platon'', que significa "grande", por conta de sua figura robusta.<ref name="LaIV">Diógenes Laércio, ''Vida de Platão'', IV</ref> De acordo com as fontes mencionadas por Diógenes (todostodas datam do [[Alexandre, o Grande|período alexandrino]]), Platão derivou seu nome a partir da "amplitude" (''platytês'') de sua eloquência, ou então, porque possuía a fronte (''platýs'') larga.<ref name="LaN">Diógenes Laércio, ''Vida de Platão'', IV<br>* A. Notopoulos, ''The Name of Plato'', 135</ref> Estudiosos recentes têm argumentado que a lenda sobre seu nome ser ''Aristocles'' originou-se no [[Helenismo|período helenístico]].<ref name="Taran2001">{{cite book|author=Leonardo Taran|title=Collected Papers, 1962-1999|url=http://books.google.com/books?id=G7qO2OtdnskC&pg=PA60|year=2001|publisher=BRILL|isbn=978-90-04-12304-5|pages=60 – 61}}</ref>''Platão'' era um nome comum, dos quais 31 casos são conhecidos apenas em Atenas.<ref name="GuthrieGuthrie1986">{{cite book|author1=W. K. C. Guthrie|author2=William Keith Chambers Guthrie|title=A History of Greek Philosophy: Volume 4, Plato: The Man and His Dialogues: Earlier Period|url=http://books.google.com/books?id=sLxO5QSGoHcC|date=24 April 1986|publisher=Cambridge University Press|isbn=978-0-521-31101-4|page=12}} {{en}}</ref>
A juventude de Platão transcorreu em meio a agitações políticas e a desordens devido à [[Guerra do Peloponeso]], à instabilidade política reinante na cidade de Atenas que foi tomada pela [[História de Atenas#A Guerra do Peloponeso e o declínio de Atenas|Oligarquia dos Quatrocentos]] e assim submeteu-se ao governo dos [[Tirania dos Trinta|Trinta Tiranos]].<ref name="PAVIANI">{{cite book|author=Jayme Paviani|title=As fontes do humanismo latino: da antigüidade à renascença|url=http://books.google.com/books?id=JFwaYiU7DFMC&pg=PA53|publisher=EDIPUCRS|isbn=978-85-7430-401-4|page=53}}</ref>
 
[[Apuleio]] nos informa que Espeusipo elogiou a rapidez mental e a modéstia de Platão como os "primeiros frutos de sua juventude infundidos com muito trabalho e amor ao estudo".<ref Name="Ap2">Apuleio,''de Dogmate Platonis'', 2</ref> Platão deve ter sido instruído em gramática, música e [[ginástica]] pelos professores mais ilustres do seu tempo.<ref name="DS">Diógenes Laércio , ''Vida de Platão'', IV<br>* W. Smith, ''Plato'', 393</ref> Dicearco foi mais longe a ponto de dizer que Platão lutou nos jogos de [[Jogos Ístmicos]].<ref name="LaV">Diógenes Laércio, ''Vida de Platão'', V</ref> Platão também tinha frequentado cursos de filosofia, antes de conhecer Sócrates, mas primeiro ele se familiarizou com [[Crátilo]] (um discípulo de [[Heráclito]], um proeminente filósofo grego [[Pré-socráticos|pré-socrático]]) e as doutrinas de Heráclito.<ref name="Ar987a">Aristóteles, ''Metaphysics'', 1.[http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0052&query=section%3D%2315&layout=&loc=1.987b 987a]</ref>
 
===Afastamento da política e primeira viagem===
[[Image:Socrates and Plato.jpg|thumb| 250px | right| A execução de [[Sócrates]] em 399 abalou Platão profundamente, ele avaliou essa ação do Estado como uma depravação moral e evidência de um sistema político defeituoso.<br/>''Platão e [[Sócrates]]'', representação medieval]]
Após o término da guerra em Atenas, em cerca de 404 a.C, auxiliado pelo reinado espartano vitorioso, o terror da Tirania dos Trinta começou, oe queentre seu membros, incluía-se parentes de Platão: o primo e o irmão de sua mãe, [[Crítias]] e [[Cármides]], que participaram do governo,.<ref name="PAVIANI" /> elePlatão foi convidado a participar da vida política, mas recusou porque considerou o então regime criminoso.<ref>Platão, ''Sétima Carta'', 324d–325a.</ref> Mas, a situação política após a restauração da democracia ateniense em 403 também o desagradou, sendo um ponto de viragem na vida de Platão foi, a execução de [[Sócrates]] em 399 a.C, que o abalou profundamente, elelevando-o avalioua avaliiar a ação do [[Estado]] contra seu professor, como uma expressão de depravação moral e evidência de um defeito fundamental no sistema político. Ele viu em Atenas a possibilidade e a necessidade de uma maior participação filosófica na vida política e tornou-se um crítico agudo. Essas experiências levaram-no a aprovar a demanda por um estado governado por filósofos.<ref name="setima">Platão, ''Sétima Carta'', 325b–326b.</ref>
 
Depois de 399 a.C, Platão foi para Megara com alguns outros socráticos, como hóspedes de Euclides (provavelmente para evitar possíveis perseguições que lhe poderiam sobrevir pelo fato de ter feito parte do círculo socrático). Diógenes Laércio conta que ele "foi a Cirene, juntar-se a Teodoro, o matemático, depois à [[Itália]], com os pitagóricos [[Filolau de Crotona|Filolau]] e [[Eurito.]]; Ee daí para o Egito, avistar-se com os profetas,; ele tinha decidido encontrar-se também com os magos, mas a guerras da Ásia o fezfizeram renunciar a isso",<ref>Diógenes Laércio, III, 6-7</ref> Apesar desse relato de Diógenes Laércio, é posto em dúvida se Platão foi mesmo ao Egito, pois há evidências de que a estadia foi inventada no Egito, para aproximar Platão à tradição de sabedoria egípcia.<ref name="Giovanni">"Das viagens a Cirene e ao Egito, não temos confirmação na ''Sétima Carta'', enquanto sabemos com certeza da viagem à Itália, em 399 a.C. e em torno aos quarenta anos, e das viagens sucessivas." {{cite book|author=REALE, Giovanni|title=História da filosofia grega e romana - Platão|url=http://books.google.com/books?id=BvRhFZdaqPMC&pg=PA8|publisher=LOYOLA|isbn=978-85-15-03304-1|page=8}}</ref><ref name="Guthrie1975">{{cite book|author=W. K. C. Guthrie|title=A History of Greek Philosophy. IV, Plato: The Man and His Dialogues : Earlier Period|url=http://books.google.com/books?id=S4aDXwAACAAJ|year=1975|publisher=Cambridge University Press|isbn=978-0-521-20002-8|pages=14–16}}</ref>
 
=== Primeira viagem à Sicília ===
Por volta de 388 a.C, Platão empreendeu sua primeira viagem para a [[Sicília]].<ref name="PAVIANI20083">{{cite book|author=JAYME PAVIANI|title=Platão & a Educação|url=http://books.google.com/books?id=k7WCGWNNGXMC&pg=PA87|year=2008|publisher=Distribuidora Autentica LTDA|isbn=978-85-65381-95-6|page=87}}</ref> Em [[Taranto]], Platão conheceu os [[Escola pitagórica|pitagóricos]], e o mais proeminentesproeminente e politicamente bem sucedido entre eles, o estadista [[Arquitas]], que o hospedou e protegeu,. aA mais famosa fonte da história do resgate de Platão por Arquitas está na ''Sétima Carta'', onde Platão descreve seu envolvimento nos incidentes de seu amigo Dion de Siracusa e [[Dionísio I de Siracusa|Dionísio I,]] o tirano de Siracusa,<ref name="Huffman2005">{{cite book|author=Carl Huffman|title=Archytas of Tarentum: Pythagorean, Philosopher and Mathematician King|url=http://books.google.com/books?id=2ietQ7tX8TEC&pg=PA3|date=23 May 2005|publisher=Cambridge University Press|isbn=978-1-139-44407-1|page=3}} {{en}}</ref> Platão esperava influenciar o tirano sobre o ideal do rei-filósofo (exposto em ''[[Górgias]]'', anterior à sua viagem), mas logo entrou em conflito com o tirano e sua corte,; mas mesmo assim cultivou grande amizade com Díon<ref name="Diniz">"O espetáculo da luxúria e da desordem que reinava nas cidades gregas reforça suas convicções, que ele consguiu comparilhar com um jovem importante, Dion, cunhado de Dionísio II, o tirano de Siracusa."{{cite book|author=PEIXOTO, Miriam Campolina Diniz|title=Filosofia e política|url=http://books.google.com/books?id=Oi0ETCQhljMC&pg=PA31|publisher=LOYOLA|isbn=978-85-15-02935-8|page=31}}</ref>, parente do tirano, a quem pensou que este pudesse ser um discípulo capaz de se tornar um rei-filósofo.<ref name="Giovanni2">{{cite book|author=REALE, Giovanni|title=História da filosofia grega e romana - Platão|url=http://books.google.com/books?id=BvRhFZdaqPMC&pg=PA8|publisher=LOYOLA|isbn=978-85-15-03304-1|page=8}}</ref> Dionísio I se irritou tanto com Platão a ponto de vendê-lo como escravo{{Nota de rodapé|Ou fora forçado a desembarcar em Egina que se encontrava em Guerra com Atenas e Platão tenha sido detido como escravo}} a um embaixador espartano de [[Egina (ilha)|Egina]], felizmente tendo sido resgatado por Anicérides de Cirene, que estava em Egina<ref>Diógenes Laércio, III, 20</ref>, ou ainda, o navio em que retornava foi capturado por espartanos o que o fez seser mantido como um escravo.<ref>Eine Zusammenstellung der Quellenzeugnisse und gründliche Untersuchung bietet Konrad Gaiser: ''Der Ruhm des Annikeris''. In: Konrad Gaiser: ''Gesammelte Schriften'', Sankt Augustin 2004, S. 597–616. Siehe auch Hermann Breitenbach, ''Platon und Dion'', Zürich 1960, S. 15 f. {{de}}; Helmut Berve: ''Dion'', Wiesbaden 1957, S. 760; Karl Friedrich Stroheker: ''Dionysios I. Gestalt und Geschichte des Tyrannen von Syrakus'', Wiesbaden 1958, S. 105 {{de}}; William K. C. Guthrie: ''A History of Greek Philosophy'', Bd. 4, Cambridge 1975, S. 18 f.; Michael Erler: ''Platon'', Basel 2007, S. 50 f.; Alice Swift Riginos: ''Platonica'', Leiden 1976, S. 86–92. {{en}}</ref>
 
Este relatos sobre a primeira estadia em [[Siracusa]] são, em grande parte, controversos,: os historiadores tradicionais consideram assim os detalhes do encontro entre Platão e o tirano, e a posterior ruptura com ceticismo.<ref>Karl Friedrich Stroheker, ''Dionysios I. Gestalt und Geschichte des Tyrannen von Syrakus'', Wiesbaden 1958, S. 100–105 {{de}}; Helmut Berve, ''Dion'', Wiesbaden 1957, S. 19 f. {{de}}; Kai Trampedach, ''Platon, die Akademie und die zeitgenössische Politik'', Stuttgart 1994, S.&nbsp;105. {{de}}</ref><ref name="Fine2008"/> Em todo caso, Platão teve contato com Dionísio e o resultado foi desfavorável para o filósofo já que sua sinceridade parece ter irritado o governante.<ref>Kai Trampedach: ''Platon, die Akademie und die zeitgenössische Politik'', Stuttgart 1994, S. 106; Michael Erler: ''Platon'', Basel 2007, S. 50; Alice Swift Riginos: ''Platonica'', Leiden 1976, S. 74–85. {{de}}</ref>
 
===Fundação da escola e ensino===
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Depois de sua primeira viagem à Sicília, por volta de 388 a.C, aos 40 anos, decepcionado com o luxo e os costumes da corte de Dionísio I de Siracusa e de lá é expulso, Platão compra um ginásio perto de Colona, a nordeste de Atenas, nas vizinhanças de um bosque de oliveiras em homenagem ao herói [[Academo]]. Ele amplia a propriedade e constrói alojamentos para os estudantes.<ref name="PAVIANI20083"/>
 
Os membros da Academia não eram estudantes no sentido moderno da palavra, pois aos jovens, juntavam-se também anciãos; provavelmente todos deviam contribuir para o financiamento das despesas; ademais, o objetivo último da Academia era o saber pelo seu valor ético-político.<ref name="Reale20082">{{cite book|author=Giovanni Reale|title=História da filosofia antiga III - Os sistemas da era helenística|url=http://books.google.com/books?id=pYKGEmHPDXAC&pg=PA75|year=2008|publisher=Loyola|isbn=978-85-15-00848-3|page=75}}</ref>
 
Durante duas décadas, Platão assumiu suas funções na Academia e escreveu, nesse período, os diálogos chamados "da maturidade": ''[[Fédon]], [[Fedro]], [[Banquete]], [[Menexêno]], [[Eutidemo]], [[Crátilo]]''; começou também a redação de ''[[A República]]''.<ref name="PAVIANI4">{{cite book|author=JAYME PAVIANI|title=As fontes do humanismo latino: da antigüidade à renascença|url=http://books.google.com/books?id=JFwaYiU7DFMC&pg=PA54|publisher=EDIPUCRS|isbn=978-85-7430-401-4|page=54}}</ref>
 
===Segunda viagem à Sicília===
Em 366/367 a.C, com a morte de [[Dionísio I de Siracusa|Dionísio]] e encorajado por Dion, Platão transmite a direção da Academia a Eudóxio e retorna à Sicília.<ref name="PAVIANI4" /> O velho Dionísio morrera em 367, logo após ter sabido que sua peça ''O resgateResgate de Heitor'', tinha recebido o primeiro prêmio no festivalFestival das Lenaias em Atenas. Seu filho, [[Dionísio II de Siracusa|Dionísio II]] sucedeu-lhe o trono e Dion era seu conselheiro. Dion teve trabalho em convencer Platão a voltar para Siracusa, ele insistiu com argumentos como a paixão do jovem tirano pela filosofia e educação e que a morte do velho tirano poderiapoderiam ser o "destino divino" necessário para que enfim se realizasse a felicidade de um povo livre sob boas leis. Platão por fim, embarcou em 366, para sua segunda viagem à Sicília.<ref name="Benson">{{cite book|author=Hugh H. Benson|title=Platão|url=http://books.google.com/books?id=OAEO_r-t_zwC&pg=PA24|publisher=Artmed|isbn=978-85-363-2474-6|page=24}}</ref>
<div style="clear:both"></div>
 
No início a influência de Platão sobre [[Dionísio II de Siracusa|Dionísio II]] teve algum progresso, mas pouco durou, pois o jovem era um pouco rude e não possuía o vigor mental para aguentar um prolongado tratamento educacional, além de ser, pessoalmente desagradável. Invejoso da influência de Dion e de sua amizade com Platão, o obrigou a se exiliar,; Platão então regressou a Atenas.<ref name="RussellAlves200488">{{cite book|author1=Bertrand Russell|author2=Laura Alves|title=História do Pensamento Ocident|url=http://books.google.com/books?id=ksAu7jtHoZgC&pg=PA88|year=2004|publisher=Ediouro Publicações|isbn=978-85-00-01355-3|page=88}}</ref>
 
===Terceira viagem à Sicília===
Em 361 a.C, Platão viaja novamente para Siracusa com seus alunos [[Espeusipo]] e [[Xenócrates]] em um navio enviado por [[Dionísio II de Siracusa|Dionísio II]],<ref>Zu diesen Vorgängen siehe Helmut Berve: ''Dion'', Wiesbaden 1957, S. 45–47. {{de}}</ref> numa tentativa final de pôr ordem as coisas. Passou quase um ano tentando elaborar algumas medidas práticas para unir os gregos da Sicília em face do perigo [[Cartago|cartaginês]]. No final, a má vontade da facção conservadora provou ser um obstáculo insuperável.<ref name="Mokhtar2010">O fato é que não havia união entre os gregos, dividiso em numerosas cidades ciosas de sua independência. {{cite book|author=Editor Gamal Mokhtar|title=História Geral da África – Vol. II – África antiga|url=http://books.google.com/books?id=7i9ckWxBK-MC&pg=PA490|year=2010|publisher=UNESCO|isbn=978-85-7652-124-2|page=490}}</ref> Platão conseguiu partir para Atenas em 360 a.C, não sem antes correr algum perigo de morte. Em seguida, Dion recuperou sua posição à força, mas apesar de advertências de Platão, mostrou-se um governante imprudente e acabou assassinado. Ainda assim, Platão incitou os seguidores de Dion a prosseguirem com a antiga política, mas os seus conselhos não foram ouvidos. O destino final da [[Sicília]] foi ser conquistada pelos estrangeiros, como Platão previra.<ref name="RussellAlves2004" />
 
Platão escreveu sobre a morte de seu amigo comparando-o a um navegante que antecipa corretamente uma tempestade mas subestima sua força de destruição: "que eram perversos os homens que o puseram por terra, ele sabia, mas não a extensão de sua ignorância, de sua depravação e avidez"<ref name="RussellAlves2004" /><ref>Platão, ''Sétima Carta'', 351 d - e</ref>
 
===Velhice e morte===
Ao regressar em 360 a.C, Platão voltou a ensinar e escrever na Academia permanecendo como um autor ativo até oa fimsua damorte, vida<ref name="RussellAlves2004"/> em 348/347 a.C., aos oitenta anos de idade;<ref name="PAVIANI" /> conta-se que fora sepultado no terreno da Academia, para dentro do muro de demarcação da propriedade,<ref>{{cite book|title=Diálogos|url=http://books.google.com/books?id=-2JYAAAAMAAJ|year=1980|publisher=Universidade Federal do Pará|page=9}}</ref> ou ainda no jardim da Academia.<ref name="THUMS">"Foi enterrado no jardim da Academia"{{cite book|author=JORGE THUMS|title=Ética na Educação Filosofia e Valores na Escola|url=http://books.google.com/books?id=TugKL1NaCrkC&pg=PA176|publisher=Editora da ULBRA|isbn=978-85-7528-082-9|page=176}}</ref> Com sua morte, a academiaAcademia passou a ser dirigida por [[Espeusipo]], forte simpatizante do aspecto matemático da filosofia de Platão.<ref name="RussellAlves2004" />
 
==Obra==
[[Ficheiro:POxy3679 Parts Plato Republic.jpg|thumb|Parte de [[P.Oxy]]. LII 3679, com trecho da ''República'', de Platão.]]
Houve um período na [[Idade Média]] em que quase todas as suas obras eram desconhecidas,; mas, antes disso e depois da redescoberta de seus textos ([[Francesco Petrarca|Petrarca]], no século XIV, tinha um manuscrito de Platão), elePlatão foi lido e tomado como ponto de referência.<ref name="Williams2000">{{cite book|author=Bernard Arthur Owen Williams|title=Platão|url=http://books.google.com/books?id=w7AoYGx0yKIC&pg=PA8|year=2000|publisher=Unesp|isbn=978-85-7139-279-3|page=8}}</ref>
 
===Tradição e autenticidade===
Todas as obras de Platão que eram conhecidas na antiguidade foram preservadas, com exceção da palestra sobre o bem, a partir do qual houve um pós-escrito de [[Aristóteles]], que se encontra perdidaperdido. Há também obras que foram distribuídas sob o nome de Platão, mas possivelmente ou definitivamente não são genuínas; apesar disso, elas também pertencem ao ''Corpus Platonicum'' (o conjunto das obras tradicionalmente atribuída a Platão), apesarmesmo decom sua falsidade sersendo reconhecida mesmo nos tempos antigos. Um total de 47 obras são reconhecidas por terem sido escritas por Platão ou para o qual ele tomado como o autor.<ref name="HornMüller2009">{{cite book|author1=Christoph Horn|author2=Jörn Müller|author3=Joachim Roland Söder|title=Platon-Handbuch: Leben, Werk, Wirkung|url=http://books.google.com/books?id=ZmsxAQAAIAAJ|year=2009|publisher=Metzler|isbn=978-3-476-02193-9|pages=19–59}} {{de}}</ref>
 
O ''Corpus platonicum'' é constituído de diálogos (incluindo ''[[Crítias]],'' de final inacabado), a ''[[Apologia de Sócrates]]'', uma coleção de 13 cartas<ref name="Williams2000"/> e uma coleção de definições, o ''Horoi''. Fora do ''corpus,'' há uma coleção de ''dieresis'', mais duas cartas, 32 epigramas e um fragmento de poema (7 hexâmetros) que, com exceção de uma parte desses poemas, não são obras de Platão.<ref>Der Neue Pauly Bd. 9, Stuttgart 2000, Sp. 1097–1100. {{de}}</ref>
 
É importante notar que na Antiguidade, vários diálogos considerados como falsamente atribuídos a Platão eram considerados genuínos, e alguns desses fazem parte do ''Canon'' de [[Trasilo|Trásilo]], um filósofo e astrólogo alexandrino que serviu na corte de Tibério. Trásilo organizou os Diálogos de modo sistemático em nove grupos, chamados de Tetralogias,<ref>Diógenes Laércio, "A vida dos filósofos", 3,56,7</ref>, cujos escritos foram aceitesaceitos como sendo de Platão.<ref name="Moore2007">{{cite book|author=Edward Moore|title=Plato|url=http://books.google.com/books?id=RAwoZNBRNdQC&pg=PA46|date=1 January 2007|publisher=Humanities-Ebooks|page=46|id=GGKEY:EGRH91XZFLA}} {{en}}</ref> Segundo Diógenes Laércio(III, 61), se encontravam na nona tetralogia "uma carta a Aristodemo [de fato a Aristodoro]" (X), duas a Arquitas (IX, XII), quatro a Dionísio II (I, II, III, IV), uma a Hérmias, Erastos e Coriscos (VI), uma a Leodamas (XI), uma a Dion (IV), uma a Perdicas (V) e duas aos parentes de Dion (VII, VIII)".<ref name="Brentano2004">{{cite book|author=Telmo Brentano|title=Leituras de Platão|url=http://books.google.com/books?id=NzqodL8sCGcC&pg=PA23|year=2004|publisher=EDIPUCRS|isbn=978-85-7430-398-7|page=23}}</ref> Trásilo criou a seguinte organização:<ref name="Carvalho2008">{{cite book|author=José Mauricio de Carvalho|title=Estudos de Filosofia Clínica|url=http://books.google.com/books?id=zEGTE5Rkk1QC&pg=PA69|year=2008|publisher=IBPEX|isbn=978-85-7838-056-4|page=69}}</ref>
{| class="plainlist" cellpadding="0" cellspacing="0" style="font-style:italic;width:100%"
|-
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===Forma literária===
Com a exceção dedas ''Epístolas'' e da ''Apologia,'' todas as outras obras não foram escritas em forma de poemas didáticos ou tratados - como eram escritos a maioria dos escritos filosóficos, - mas em forma de diálogos,. aA ''Apologia'' contém passagens ocasionais de diálogos, onde há um personagem principal, Sócrates, e diferentes interlocutores em debates filosóficos separados por inserções e discursos indiretos, digressões ou passagens mitológicas. Além disso, outros alunos de Sócrates como [[Xenofonte]], [[Ésquines]], [[Antístenes]], [[Euclides de Megara]] e [[Fédon]] de Élis|Fédon de Elis]] têm obras escritas na forma de [[diálogo socrático]] (Σωκρατικοὶ λόγοι ''Sokratikoì logoi'').<ref name="Giannantoni1990">{{cite book|author=Gabriele Giannantoni|title=Socratis et Socraticorum reliquiae|url=http://books.google.com/books?id=OMPWAAAAMAAJ|year=1990|publisher=Bibliopolis|isbn=978-88-7088-215-5}} {{it}}</ref>
 
Platão foi certamente o representante máximo desse gênero literário muito, superior a todos os outros e, mesmo, o único representante, pois comentaapenas nelesem seus escritos é que se pode reconhecer a natureza autêntica do filosofar socrático, que nos outros escritores, degenerou em maneirismos.<ref name="Giovanni" />; sendo assim, o diálogo, em Platão, é muito mais do que um gênero literário,: é sua forma de fazer filosofia.<ref name="Cardoso2006">{{cite book|author=Delmar Cardoso|title=A alma como centro do filosofar de Platão: uma leitura concêntrica do Fedro à luz da interpretação de Franco Trabattoni|url=http://books.google.com/books?id=Ic5K-Cq5QuoC&pg=PA42|accessdate=1/06/2013|year=2006|publisher=Edições Loyola|isbn=978-85-15-03376-8|page=42}}</ref>
Nem todos os trabalhos no ''Corpus'' de Platão são diálogos. A ''Apologia'' parece ser o relatóriarelato da defesa de [[Sócrates]] e seu julgamento, e ''[[Menexêno|Menêxeno]]'' é um pronunciamento para funeral. As treze cartas são ditas serem de Platão, mas a maioria são rejeitadas pelos pesquisadores modernos como sendo ilegítimas. A ''Sétima Carta'' ou ''Carta VII'' é uma das mais importantes cuja disputa permanece por dois motivos: (a) oferece detalhes biográficos de Platão e (b) coloca afirmações filosóficas sem paralelos em outros diálogos. Provavelmente a ''Sétima Carta'' é uma obra ilegítima e portanto não é uma fonte confiável para conhecer a biografia e filosofia de Platão.<ref name="Fine2008">{{cite book|author=Gail Fine|title=The Oxford Handbook of Plato|url=http://books.google.com/books?id=kixcDyHwFKMC&pg=PA64|date=13 August 2008|publisher=Oxford University Press, USA|isbn=978-0-19-518290-3|page=64}} {{en}}</ref>
 
===Cronologia===
A questão da cronologia ainda continua a gerar opiniões conflitantes. Análises estilométricas<ref name="HOSLE2">"Não menos se aproximou de um esclarecimento a questão da cronologia relativa dos diálogos graças às investigações com base no estilo(...)" {{cite book|author=VITTORIO HOSLE|title=Interpretar Platão|url=http://books.google.com/books?id=BxSPCdPxu7oC&pg=PA23|publisher=LOYOLA|isbn=978-85-15-03529-8|page=23}}</ref> dos diálogos demonstram que eles podem ser agrupados em três categorias definidas como obras do período Inicial, Médio e Tardio, embora exista este consenso comum, não há nenhum consenso sobre a ordem em que as obras devem figurar em seus respectivos grupos. Outro método usado para determinar a ordem cronológica dos diálogos se baseia na conexão entre os vários trabalhos. Os estudiosos têm usado a evidência de pontos de vista filosóficos similares nos diálogos para sugerir uma ordem cronológica interna. As referências textuais dentro dos diálogos também ajudam a construir uma cronologia, ainda que existam pouquíssimos casos de um diálogo se referir a outro. Finalmente, a cronologia pode ser determinada a partir do testemunho de fontes antigas.<ref name="Cormack2006">{{cite book|author=Michael Cormack|title=Plato's Stepping Stones: Degrees of Moral Virtue|url=http://books.google.com/books?id=ffUXJRM2XCYC&pg=PA8|year=2006|publisher=Continuum International Publishing Group|isbn=978-1-84714-441-6|page=8}} {{en}}</ref>
 
== Filosofia ==
Para [[Giovanni Reale|Reale]], os três grandes pontos focais da filosofia de Platão são: a ''[[Teoria das ideias|Teoria das Idéias]]'', dos ''Princípios'' e do ''[[Demiurgo]]''. A obra ''[[Fédon]]'' engloba todo o quadro da metafísica platônica e enfatiza essas três teorias, mas Platão advertiu os leitores de sua obra sobre a dificuldade existente em compreendê-las.<ref name="Giovanni58">{{cite book|author=REALE, Giovanni|title=História da filosofia grega e romana - Platão|url=http://books.google.com/books?id=BvRhFZdaqPMC&pg=PA58|publisher=LOYOLA|isbn=978-85-15-03304-1|page=58}}</ref>
 
'''Política'''
 
Platão, em sua obra "''[[A República"]]'', faz uma critica a forma de governo de sua época, pois afirma que os governantes deveriam brigar para não governar, como brigam para chegar ao poder. Diz, ainda, que o verdadeiro chefe não nasce para atender os interesses de si próprio, mas sim de toda a coletividade a ele subordinada.
 
Dessa forma, entende-se que a critica de Platão estava ligada ao governo que faziafcriava leis visando seus interesses, e os determinando como justo, entretanto, punindo como injusto aquele que transgredir suas regras, uma vez que o elegido para governar poderia ser o mais votado, mas não sendo, portanto, o mais preparado para aquela função.
 
Nesse sentido, Platão afirma que " Efetivamente, arriscar-nos-íamos, se houvesse um Estado de homens de bem, a que houvesse competições para não governar, como agora as há para alcançar o poder, e tornar-se-ia, então evidente do verdadeiro chefe não nasceu para velar pela sua conveniência, mas pela dos seus subordinados. (Platão, A República, p. 34)".<ref>{{citar livro|titulo=A Republica|ultimo=Platão|primeiro=Platão|editora=|ano=|local=|paginas=34|acessodata=}}</ref>
 
Conclui-se que, deve se buscar uma harmonia entre o governante e o seus subordinados, em outras palavras, o ideal de Estado deveria corresponder ao ideal de homem.
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===Teoria das Ideias===
{{Artigo principal| prefixo=Ver |Teoria das ideias|Alegoria da caverna}}
A ''[[Teoria das ideias|Teoria das Ideias]]'' ou ''[[Teoria das ideias|Teoria das Formas]]'' afirma que formas (ou ideias) abstratas não-materiais (mas substanciais e imutáveis) é que possuem o tipo mais alto e mais fundamental da realidade e não o mundo material mutável conhecido por nós através dados sensação[[Órgãos dos sentidos|sentidos]].<ref name="Paviani38">{{cite book|author=Jayme Paviani|title=Platão & A República|url=http://books.google.com/books?id=eLdVKg1ynkoC&pg=PA38|publisher=Zahar|isbn=978-85-378-0483-4|page=38}}</ref> Em uma analogia de [[Giovanni Reale|Reale]], as coisas que captamos com os "olhos do corpo" são formas físicas, as coisas que captamos com os "olhos da alma" são as formas não-físicas;<ref>"E não é verdade que, enquanto as coisas mutáveis podemos ver, tocálas ou percebê-las com os outros sentidos corpóreos, aquelas que permanecem imutáveis não possuem outro meio com o qual se podem captar, senão com o puro raciocínio e com a mente, porque estas coisas são invisíveis e não podem ser captadas com a vista?"Platão, ''República'', 514a-516c</ref> o ver da inteligência capta formas inteligíveis que são as essências puras. As Ideias são as essências eternas do bem, do belo etc. Para Platão, há uma conexão metafísica entre a visão do olho da alma e o objeto em razão do qual tal visão não existe.<ref name="Giovanni61">{{cite book|author=REALE, Giovanni|title=História da filosofia grega e romana - Platão|url=http://books.google.com/books?id=BvRhFZdaqPMC&pg=PA61|publisher=LOYOLA|isbn=978-85-15-03304-1|page=61}}</ref> Este "mais real do que o que vemos habitualmente" é descrito em sua ''[[Alegoria da caverna]]''.<ref>Platão, ''República'', 514a-516c</ref>
 
===Epistemologia ===
{{Principal|Epistemologia platônica}}
Muitos têm interpretado que Platão afirma — e mesmo foi o primeiro a escrever — que [[conhecimento]] é [[crença verdadeira justificada]], uma visão influente que informou o desenvolvimentos futuro da [[epistemologia]].<ref>Fine, G., "Introduction" in ''Plato on Knowledge and Forms: Selected Essays'' (Oxford University Press, 2003), p. 5.</ref> Esta interpretação é parcialmente baseada na uma leitura do '' [[Teeteto]]'' ,no qual Platão argumenta que o conhecimento se distingue da mera crença verdadeira porque o conhecedor deve ter uma "conta" do objeto de sua crença verdadeira (''Teeteto'' 201C-d).Ess E essamesma teoria pode novamente ser vistovista no ''[[Mênon]]'', onde é sugerido que a crença verdadeira pode ser aumentada para o nível de conhecimento, se está ligada a uma conta quanto à questão do "por que" o objeto da verdadeira crença é assim definido (''Mênon'' 97d-98a).<ref>McDowell, J., ''Plato: Theaetetus'' (Oxford University Press, 1973), p. 230.</ref> Muitos anos depois, [[Edmund Gettier]] demonstraria os problemas das crenças verdadeiras justificadas no contexto do conhecimento.<ref name="Carreto">{{cite book|author=Luis Carreto|title=Aristóteles para executivos – As repostas da filosofia para a gestão empresarial|url=http://books.google.com/books?id=6lxX_IIsjhYC&pg=PA110|publisher=GLOBO|isbn=978-85-250-4498-3|page=110}}</ref><ref>Fine, G., "Knowledge and ''Logos'' in the ''Theaetetus''", ''Philosophical Review, vol. 88'', no. 3 (July, 1979), p. 366. Reprinted in Fine (2003).</ref>
 
===Dialética ===
A dialética de Platão não é um método simples e linear, mas um conjunto de procedimentos, conhecimentos e comportamentos desenvolvidos sempre em relação a determinados problemas ou "conteúdos" filosóficos.<ref name="Paviani20013">{{cite book|author=Jayme Paviani|title=Filosofia e método em Platão|url=http://books.google.com/books?id=EcVtlGf9p5cC&pg=PA13|year=2001|publisher=EDIPUCRS|isbn=978-85-7430-234-8|page=13}}</ref>
O papel deda [[dialética]] no pensamento de Platão é contestada, mas existem duas interpretações principais,: uma dialética platônica é tipo de raciocínio eou um método de intuição.<ref>Blackburn, Simon. 1996. ''The Oxford Dictionary of Philosophy''. Oxford: Oxford University Press, p. 104</ref> [[Simon Blackburn]] adota o primeiro, dizendo que a dialética de Platão é "o processo de extrair a verdade por meio de perguntas destinadas a abrir o que já é implicitamente conhecida, ou de expor as contradições e confusões de posição de um oponente".<ref>Blackburn, ''Oxford Dictionary of Philosophy'', 104</ref> [[Karl Popper]] afirma que a dialética é a arte da intuição para "visualizar os originais divinos, as formas ou idéiasideias, de desvendar o grande mistério por trás do comum mundo das aparências do cotidiano do homem."<ref>Popper, K. (1962) ''The Open Society and its Enemies'', Volume 1, London, Routledge, p. 133.</ref>
 
===Ética e justiça===
Na ''[[República]]'', Platão define a justiça como a vontade de um cidadão de exercer sua profissão e atingir seu nível pré-determinado e não interferir em outros assuntos,<ref>Platão, ''República'' 433–434.</ref> Para que a justiça tenha alguma validade, ela terá que ser uma [[virtude]] e, portando, contribuidora de modo constitutivo para a boa vida de quem é justo.<ref name="Lopes2005">Paula Fernandes Lopes. ''[http://books.google.com/books?id=R-AU_dHCGQgC&pg=PA52 A ética platônica: modelo de ética da boa vida]''. Ed. Loyola; 2005. ISBN 978-85-15-03154-2. p. 52.</ref>
 
Na filosofia de Platão, é possível visualizar duas modalidades de justiça: uma, absoluta, e outra, relativa. A justiça relativa é a justiça humana que espelha-se nos princípios da alma e tenta dela se aproximar.<ref>Platão, ''República'' 144–145 e 276.</ref> Platão situa a justiça humana como uma virtude indispensável à vida em comunidade, é ela que propicia a convivência harmônica e cooperativa entre os seres humanos em coletividade.<ref name="Junkes2005">Sérgio Luiz Junkes. ''[http://books.google.com/books?id=cMXjUqylYCwC&pg=PA23 Defensoria Pública e o Princípio da Justiça Social - Atualizado de acordo com a Emenda Constitucional 45, de 31/12/2004]''. Jurua Editora; 2005. ISBN 978-85-362-0916-6. p. 23.</ref>
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==Legado==
Apesar de sua popularidade ter flutuado ao longo dos anos, as obras de Platão nunca ficaram sem leitores, desde o tempo em que foram escritas.<ref>John M. Cooper, "Introduction" in ''Plato: Complete Works'' (Hackett, 1997), p. vii.</ref> O pensamento de Platão é muitas vezes comparado com a de seu aluno mais famoso, [[Aristóteles]], cuja reputação, durante a Idade Média ocidental, eclipsou tão completamente a reputação de Platão que os filósofos escolásticos referiam-se a Aristóteles como "o Filósofo". No entanto, no [[Império Bizantino]], o estudo de Platão continuou.
 
Os filósofos escolásticos medievais não tinham acesso à maioria das obras de Platão, nem o conhecimento de [[língua grega|grego]] necessário para lê-los. Os escritos originais de Platão estavam essencialmente perdidos para a civilização ocidental, até que foram trazidos de [[Constantinopla]] no século de sua queda, por [[Gemisto Pletão]]. Acredita-se que PlatãoPletão passou uma cópia dos [[Diálogos de Platão|diálogos platônicos]] para [[Cosme de Médici]] em 1438/39 durante o [[Concílio de Basileia-Ferrara-Florença|Conselho de Ferrara]],<ref>"Ali, Gemisto Pletho realizou as célebres palestras que terminaram com o reinado de Aristóteles na filosofia européia e entronizaram Platão como quase um deus." ''[http://books.google.com/books?id=U-74JkrlGdwC&pg=PA65 A Renascenca]''. Editora Record; ISBN 978-85-01-28825-7. p. 65.</ref> quando foi chamado para unificar as Igrejas grega e latina e então foi transferido para [[Florença]] onde fez uma palestra sobre a relação e as diferenças de Platão e Aristóteles; assim, Pletão teria assim influenciado Cosme com seu entusiasmo.<ref>D. F. Lackner, "The Camaldolese Academy: Ambrogio Traversari, Marsilio Ficino and the Christian Platonic Tradition" in Allen and Rees (eds.), ''Marsilio Ficino: His Theology, His Philosophy, His Legacy'' (Brill, 2001), p. 24.</ref>
 
Durante a [[Idade de ouro islâmica|Era de Ouro Islâmica]], estudiosos [[Irã|persas]] e árabes traduziram muito de Platão para o árabe e escreveuescreveram comentários e interpretações sobre Platão, Aristóteles e obras de outros filósofos Platonistas (ver [[Al-Farabi]], [[Avicena]], [[Averróis]], [[Hunayn ibn Ishaq]]). Muitos desses comentários sobre Platão foram traduzidos do árabe para o latim e, como tal, influenciouinfluenciaram filósofos escolásticos medievais.<ref>See: Burrell, D., "Platonism in Islamic Philosophy" in the ''Routledge Encyclopedia of Philosophy'' (Routledge, 1998); D. N. Hasse, "Plato arabico-latinus" in Gersh and Hoenen (eds.), ''The Platonic Tradition'' (De Gruyter , 2002), pp. 33-45.</ref>
 
Filósofos ocidentais notáveis ​​continuaram a recorrer a obra de Platão desde aquela época. A influência de Platão tem sido especialmente forte em matemática e ciências. Ele ajudou a fazer a distinção entre a [[matemática pura]] e a [[matemática aplicada]], ampliando o fosso entre a "aritmética", agora chamada de [[teoria dos números]] e "logística", agora chamada de [[aritmética]]. Ele considerou a logística como apropriadoapropriada para homens de negócios, enquanto os homens de guerra "devem aprender a arte de números ou ele não vai saber como reunir suas tropas", e a aritmética era apropriada para os filósofos "porque precisa emergir do mar de mudanças e lançar mão do verdadeiro ser".<ref>{{cite book|first=Carl B. |last=Boyer |authorlink=Carl Benjamin Boyer |title=A History of Mathematics |edition=Second |publisher=John Wiley & Sons, Inc. |year=1991 |isbn=0-471-54397-7|chapter=The age of Plato and Aristotle|page=86|quote=Platão é importante na história da matemática, em grande parte por seu papel como inspirador e diretor dos outros, e talvez a ele se deve a distinção nítida na Grécia antiga entre aritmética (no sentido da teoria dos números) e logística (a técnica de computação). Platão considerava a logística, apropriada para o empresário, para o homem da guerra, "tem de aprender a arte de números, ou ele não vai saber como reunir suas tropas." O filósofo, por outro lado, deve ser um aritmético", porque ele tem que emergir do mar de mudança e lançar mão do verdadeiro ser."}}</ref>
 
Segundo Stephen Körner, o platonismo é "tendência natural do matemático", o que pode ser confirmado por nomes destacados de matemáticos que ese reconhecem platônicos como [[Gottlob Frege]], [[Bertrand Russell]], [[Alfred North Whitehead|A. N. Whitehead]], [[Heinrich Scholz]], [[Kurt Gödel]], [[Alonzo Church]], [[Georg Cantor]] etc. Partindo de [[Galileu]], existe uma extensa tradição do platonismo fisicalista que vai até [[Werner Heisenberg]], [[Roger Penrose]], [[Frank Tipler]], [[Stephen Hawking]] e muitos outros.<ref name="Mutschler2002">Hans-Dieter Mutschler. ''[http://books.google.com/books?id=e8N-lgoXY_cC&pg=PA105 Naturphilosophie]''. Edicoes Loyola; 2002. ISBN 978-3-17-016814-5. p. 105.</ref>
 
[[Kurt Gödel|Gödel]], responsável por alguns dos mais importantes resultados da [[lógica matemática]] do século XX, por exemplo, foi um platonista da velha escola que, como Platão, Gödel acreditava na existência independente de formas matemáticas que ele identificou aos conceitos matemáticos, como os de conjuntos, número real etc.<ref name="Silva2007">Jairo José da Silva. ''[http://books.google.com/books?id=GbjVBs_P3hYC&pg=PA69 Filosofias da matemática]''. UNESP; 2007. ISBN 978-85-7139-751-4. p. 69.</ref>
 
[[Leo Strauss]] é considerado por alguns como o principal pensador envolvido na recuperação do pensamento platônico em sua forma mais política e menos metafísica. Profundamente influenciado por Nietzsche e Heidegger, Strauss, no entanto, rejeita a condenação de Platão e olha para seus diálogos como uma solução para o que todos os três pensadores reconhecem como "a crise do Ocidente".<ref name="Strauss1985">Leo Strauss. ''[http://books.google.com/books?id=otvPEWC4aeQC Studies in Platonic Political Philosophy]''. University of Chicago Press; ISBN 978-0-226-77700-9.</ref> Ele também era contra a disseminação maciça do conhecimento baseando-se em Platão, já que as pessoas não tendo a vocação para lidar com a verdade, apoiariam propostas antiéticas.<ref>[http://www.alternet.org/story/15935/leo_strauss%27_philosophy_of_deception Leo Strauss' Philosophy of Deception]</ref>
 
[[Hobbes]] considerou Platão como o melhor filósofo da Antiguidade clássica, pela razão de sua filosofia ter como como ponto de partida ideias, enquanto que Aristóteles partia de palavras. Para [[Hobbes]], Platão estaria apto a elaborar uma filosofia política por evitar conclusões falaciosas acerca do "o que é", "o que foi", "o que deveria ser".<ref>Strauss, 1936, p. 139-141</ref><ref name="FERREIRAJorge2008">Lier Pires Ferreira; Vladimyr Lombardo Jorge; Ricardo Guanabara. ''[http://books.google.com/books?id=Sk_Xe_8NUfcC&pg=PA69 Curso de Ciencia Politica - Grandes Autores]''. CAMPUS; 2008. ISBN 978-85-352-3161-8. p. 69.</ref>
 
No século XX, os metafísicos [[René Guénon]] e [[Frithjof Schuon]], francês o primeiro e suíço-alemão o segundo, foram dois influentes autores que re-elaboraram e atualizaram em linguagem contemporânea o pensamento universal e perene de Platão, por eles visto como um eminente representante da [[Filosofia Perene]]. Nos livros de ambos, como em ''A Crise do Mundo Moderno'' e ''O Reino da Quantidade'', de Guénon, e ''A Unidade Transcendente das Religiões''<ref>São Paulo: IRGET, 2012.</ref>, ''Forma e Substância nas Religões''<ref>São José dos Campos: Sapientia, 2010.</ref> e ''O Homem no Universo'', de Schuon, as ideias de Platão são expostas e discutidas em profundidade.
 
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