Holocausto Canibal: diferenças entre revisões

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== Sinopse ==
Em 1979, uma equipe de [[Documentário|documentaristas]] americanos desaparece na floresta [[Amazônia|Amazônica]] enquanto filmava um documentário intitulado "The Green Hell", sobre tribos indígenas canibais, sendo a equipe composta por Alan Yates, o diretor; Faye Daniels, sua namorada e [[roteirista]]; Felipe, o guia; e dois cinegrafistas, Jack Anders e Mark Tomaso. Harold Monroe, um [[Antropologia|antropólogo]] da [[Universidade de Nova Iorque]], concordou em liderar uma equipe de resgate na esperança de encontrar os cineastas desaparecidos. Antes da sua chegada na tribo, a equipe de resgate sequestra um jovem da tribo local dos Yacumo para ele ajudar asua entrada de Monroe e sua equipe. Monroe então é apresentado ao guia Chaco e seu assistente, Miguel.
 
Depois de vários dias de caminhada pela selva, o grupo encontra a tribo Yacumo, e então organizam a libertação de seus reféns em troca de serem levados para a aldeia de Yacumo. Ao chegarem lá, a equipe é inicialmente recebida com hostilidade e descobre que os documentaristas causaram grandes confusões entre os indígenas. Monroe e seus guias se aproximam da floresta parae localizarencontram duas tribos canibais em conflito — [[Ianomâmis|Yanomami]] e Shamatari. Eles [a equipe] encontramveem um grupo de guerreiros Shamatari e seguem-nos até a margem do rio, onde salvam um pequeno grupo de Yanomamis da morte, fazendo com que chefe da tribo lhes convida de volta à sua aldeia como forma de gratidão, mas estaa tribo ainda está temerosadesconfiada. Para ganhar sua confiança, Monroe banha-se nu num rio ao lado de algumas índias, que o leva a um santuário, no qual ele encontra os restos dos cineastas em decomposição. Irritado, ele confronta a aldeia, e logo após toca um [[gravador]], intrigando os nativos que concordam em trocá-lo pelas latas de filme dos documentaristas durante uma cerimônia canibal, na qual Monroe deve participar.
[[Ficheiro:Canibalholocaust-scene.jpg|miniaturadaimagem|Uma controversa cena do filme.]]De volta a Nova Iorque, os executivos da Companhia Pan-americana de Radiodifusão convidam Monroe a apresentar uma [[radiodifusão]] de um documentário a ser feito a partir das filmagens recuperadas, mas Monroeele insiste em assistir as gravações em [[Raw (formato de imagem)|formato cru]] antes de tomar uma decisão. Um dos executivos lhe conta a Monroe que Alan encenou muitas das cenas dramáticas para obter um conteúdo mais emocionante. Monroe então começa a assistir as filmagens, que primeiro mostra a caminhada do grupo [de documentaristas] pela selva. Depois de dias de caminhada, o guia, Felipe, é mordido por uma cobra venenosa, fazendo com que os documentaristas amputem sua perna com uma [[machete]] para salvar sua vida, mas ele não resiste e morre, sendo deixado para trás, sobrando apenas quatro membros da equipe. Os quatro encontram uns Yacumo fora da adeia e Jack dispara na perna de um deles para que [os documentaristas] pudessem segui-los facilmente até a aldeia. Ao chegarem, a equipe força a tribo a entrar em uma cabana e queimam-na para que o documentário tivesse pelo menos um massacre. Monroe critica as cenas encenadas e o mau tratamento para com os nativos, mas suas preocupações são ignoradas.
Monroe acaba de assistir esta primeira parte das filmagens e expressa seu desgosto sobre a emissora querer transmitir o documentário. Para convencê-los de outra forma, ele mostra os restantes das gravações não editadas, que apenas ele assistiu. Os dois carretéis finais começam com a equipe perseguindo uma garota Yanomami, a quem os homens [[Estupro|estupram]] e filmam. Faye tenta intervir apenas quando Alan participa. Depois, eles encontram a mesma garota [[Empalamento|empalada]] em um poste de madeira numa margem do rio, onde [em fingimento como se não soubessem o ocorrido] afirmam que os nativos a mataram por perda de [[virgindade]]. Pouco depois, eles são atacados pelo Yanomamis para vingarem a violação e morte da menina. Jack é atingido por uma lança, e Alan convence a equipe a filmar como os nativos mutilam um cadáver. À medida que os três membros da equipe sobrevivente tentam escapar, Faye é capturada. e Alan insiste em resgatá-la. Mark continua a filmar enquanto ela é estuprada, espancada até a morte e [[Decapitação|decapitada]]. Os Yanomamis perseguem os dois últimos membros da equipe, então a filmagem termina com o rosto de Alan sangrando. Perturbados pelo que viram, os executivos ordenam que as gravações sejam destruídas.
 
== Elenco ==
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== Produção ==
A produção começou em 1979, quando Deodato foi contatado por produtores de filmes alemães para fazer um filme semelhante ao ''Último Mundo Canibal'', que também fora dirigido por ele. Deodato aceitou o projeto e contratou seu amigo Francesco Palaggi como produtor. Ambos viajaram à [[Colômbia]] para explorarem possíveis locais de filmagem, sendo a cidade de [[Leticia (Colômbia)|Leticia]] a escolhida como o local principal depois que o diretor conheceu um documentarista colombiano no aeroporto de [[Bogotá]] que a sugeriu como "ideal". Outros sítios foram considerados, principalmente onde as filmagens do filme ''[[Queimada!]]'' (1969) ocorreram, porém o diretor os rejeitou devido à falta de [[Floresta húmida|floresta pluvial]].<ref name=":0" /> Leticia era acessível apenas por meio de transporte aéreo, fazendo com que o elenco e a produção tivessem de viajar de barco para chegar ao ''set''.<ref name=":2">Gelend, Antonio (interviewee) (2003). ''In the Jungle: The Making of Cannibal Holocaust'' (Documentary). Italy: Alan Young Pictures.</ref><ref name=":5">Yorke, Carl Gabriel (12 de maio de 2005). "Alan Yates Uncovered". ''Cannibal Holocaust DVD Extras''(Interview). Interview with [[Sage Stallone]]. [[Palo Alto|Palo Alto, California]].</ref> O local apresentou muitos problemas para a produção, em particular o calor e as súbitas tempestades, que esporadicamente atrasavam a filmagem.<ref name=":2" /><ref>D'Offizi, Sergio (interviewee) (2003). ''In the Jungle: The Making of Cannibal Holocaust'' (Documentary). Italy: Alan Young Pictures.</ref>
 
=== Desenvolvimento e roteiro ===
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Para o elenco, Deodato contratou vários atores inexperientes do [[Actors Studio]] em Nova Iorque. [[Luca Giorgio Barbareschi]] e [[Francesca Ciardi]] foram contratados por serem italianos e falarem inglês. Para atrair um público mais amplo e dar mais credibilidade ao filme, Deodato decidiu fazê-lo em língua inglesa. No entanto, ele também precisava estabelecer uma nacionalidade européia para que a obra pudesse ser mais facilmente distribuída entre os países europeus.<ref name=":4">Gyory, Michel (2000), ''Making and Distributing Films in Europe: The Problem of Nationality'', European Audiovisual Observatory</ref> Segundo a lei italiana, para que o filme fosse reconhecido como deste país, teria de ter pelo menos dois atores que tivessem o italiano como sua [[língua materna]].<ref name=":0" /><ref name=":4" />
 
Deodato também contratou [[Perry Pirkanen]] e outro ator do Actors Studio para interpretarem Jack Anders e Alan Yates, respectivamente. Este último desistiu pouco antes da partida da equipe de produção para a Amazônia (ele aparece no filme como um ex-colega de Yates). O diretor de elenco Bill Williams escolheu então [[Carl Gabriel Yorke]] para o papel. Yorke era ator de teatro que estudara com [[Uta Hagen]] e já havia participado de três turnês nacionais da ''One Flew Over the Cuckoo's Nest''. Em entrevista, afirmou que todos os trajes e botas por ele usados no filme, já tinham sido comprados antes de sua entrada ao elenco, e foi escolhido para o papel pois usava o mesmo número do ator que desistira do papel. Por ''Cannibal Holocaust'' ser uma produção ''non-Union'', Yorke originalmente queria ser creditado sob o [[Pseudónimo|pseudônimo]] Christopher Savage, mas depois decidiu não fazê-lo.<ref name=":5" />
 
[[Robert Kerman]] teve anos de experiência trabalhando em [[Filme pornográfico|filmes para adultos]] sob o pseudônimo R. Bolla. Kerman e Deodato trabalharam juntos no filme anterior de Deodato ''The Concorde Affair'', no qual Kerman interpretou um controlador de tráfego aéreo. Ele passou a protagonizar outros filmes canibais italianos como ''Eaten Alive!'' e ''[[Cannibal ferox|Cannibal Ferox]]'', ambos dirigidos por Umberto Lenzi. A namorada de Kerman, na época, foi escolhida como uma dos executivos da emissora, já que a produção precisava de uma atriz para estar disponível tanto na cidade de Nova Iorque quanto em [[Roma]].<ref name=":9">Kerman, Robert (15 de novembro de 2000). "Robert Kerman Exposed". ''Cannibal Holocaust DVD Extras'' (Interview). Interview with Sage Stallone, Bob Murawski. [[Tarrytown (Nova Iorque)|Tarrytown, New York]].</ref>
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Deodato teve como influência as obras dos cineastas italianos Paolo Cavara, [[Gualtiero Jacopetti]] e Franco Prosperi, por quem ele tinha grande admiração.<ref name=":6" /><ref name=":1" /> Prosperi e Jacopetti produziram vários [[Shockumentary|filmes Mondo]], que são documentários semelhantes aos feitos em ''Cannibal Holocaust''. Estes documentários focaram em temas e conteúdos sensacionalistas incluindo costumes locais bizarros, mortes e crueldades em geral. O diretor seguiu o exemplo, como a violência gráfica e assassinatos de animais. Embora fictícia, Deodato criou uma exposição semelhante de violência mundana, igualmente as vistas em ''[[Mondo Cane]]'' (1962), dirigido por Cavara, Prosperi e Jacopetti.<ref name=":6" />
[[Ficheiro:Ruggero Deodato 2008.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|241x241px|[[Ruggero Deodato]], o diretor do filme.]]
Deodato filmou ''Cannibal Holocaust'' usando a técnica ''[[Cinema Verite|cinéma vérité]]'' que aprendeu com seu mentor [[Roberto Rossellini]], estilo que o ''designer'' de produção Massimo Antonello Gelend chamou de "hiper-realista".<ref name=":2" /> O historiador de cinema David Kerekes afirma que o senso de realidade do filme é baseado na direção e abordagem das filmagens recuperadas da equipe dos cineastas desaparecidos, notando que a "câmera de mão tremia e tremia com certo realismo, e ''[[The Green Inferno]]'', o desastroso filme do grupo "[[filme dentro do filme]]", não é exceção", e que "esta mesma instabilidade dá ao filme ''Green Inferno'' a sua autêntica qualidade".<ref name="killing for culture">{{cite book|last=Kerekes|first=David|author2=Slater, David|title=Killing for Culture: Death Film from Mondo to Snuff|date=Janeiro de 1996|publisher=Creation Books|location=UK|isbn=1-871592-20-8}}</ref> David Carter, do ''site'' de terror ''Savage Cinema'', disse que os métodos de Deodato acrescentaram uma qualidade em [[Narrativa em primeira pessoa|primeira pessoa]] às filmagens da equipe de documentaristas, afirmando: "O espectador sente como se estivesse lá, experimentando os horrores com eles." Deodato estava orgulhoso de outros aspectos da [[cinematografia]], nomeadamente as numerosas tomadas feitas em movimento usando uma câmera padrão, sobreposta no ombro do operador, que antecede o uso do ''[[steadicam]]''.<ref name=":1" />
 
Kerekes notou que o abate de animais e a inclusão do documentário feito pela equipe desaparecida intitulado ''The Last Road to Hell'', foram uma adição ao sentido de realidade do filme.<ref name="killing for culture" /> [[Lloyd Kaufman]], da Troma Entertainment, comparou essas cenas com o estilo de montagem de Vsevolod Pudovkin, dizendo: "Em ''Cannibal Holocaust'', vemos os atores matarem e rasgarem uma tartaruga gigante e outros animais. [...] O cérebro foi condicionado a aceitar essa mistura de violência real e encenada, combinada com o trabalho de uma câmera portátil com uma qualidade chula e sem edição a partir da segunda metade do filme, é certamente o suficiente para convencer alguém de que o que eles estão assistindo é real."<ref name=":10">Kaufman, Lloyd (2002). "''Cannibal Holocaust'': Review by Lloyd Kaufman". In Slater, Jay. ''Eaten Alive!: Italian Cannibal and Zombie Movies''. London: Plexus Publishing. pp. 104–106.</ref>
 
Algumas cenas do filme também foram comparadas às cenas do filme mondo ''Savana Violenta'', de Antonio Climati, especificamente a cena em que Monroe banha-se nu no rio e a do ritual em que uma índia é forçada a [[Aborto|abortar]]. O estilo ''cinéma vérité'', usado excessivamente em ''Cannibal Holocaust'', também foi usado antes no primeiro filme mondo de Climati, ''Ultime grida dalla savana'', em uma cena onde um turista é atacado e morto por um bando de leões. Outra cena, na qual um homem nativo é capturado, torturado e assassinado por mercenários na América do Sul, utiliza um estilo de filmagem semelhante e ambas as cenas podem ter influenciado a direção de Deodato.<ref name="Goodall" />
 
=== Filmagem ===
As filmagens começaram em [[4 de junho]] de [[1979]] e duraram cerca de nove semanas. As cenas em que aparece a equipe de cineastas foram filmadas com câmeras de mão com uma película de [[16 mm|16mm]] no estilo ''cinéma vérité'', que se assemelhava a documentário observacional. Após a conclusão das filmagens com a equipe, Kerman viajou à Colômbia para filmar as cenas na floresta e, em seguida, a Nova Iorque para as cenas na cidade.<ref name=":1" /><ref name=":7">Kerman, Robert (12 November 2000). "Cannibal Holocaust DVD Commentary". ''Cannibal Holocaust DVD Extras'' (Interview). Interview with Sage Stallone, Bob Murawski. [[Tarrytown (Nova Iorque)|Tarrytown, New York]].</ref> Durante as gravações na Amazônia, a produção do filme teve de ser adiada diversas vezes. Depois que o ator, que originalmente interpretaria Alan Yates, desistiu em ultima hora, as filmagens foram interrompidas por duas semanas, e iniciou-se a procura por novos atores, até que Gabriel Yorke foi contratado.<ref name=":5" /> Ao chegar no ''set'' para filmar sua primeira cena, ele não fazia ideia do enredo do filme, pois ainda não tinha lido o roteiro. Quando as filmagens com Kerman iniciaram, o pai do ator que interpretou Miguel havia sido assassinado, fazendo com que a produção fosse novamente interrompida, pois o ator teve de voltar a Bogotá para assistir ao funeral.<ref name=":1" />
[[Ficheiro:Aerial view of the Amazon Rainforest.jpg|miniaturadaimagem|276x276px|A maior parte da filmagens aconteceram na [[Amazônia|Floresta Amazônica]].]]
Os problemas para a produção na região amazônica foram altos, em parte devido à localização e ao conteúdo do filme. Sobre a equipe de produção, Yorke disse: "[eles têm] um nível de crueldade desconhecido para mim",<ref name=":5" /> enquanto Kerman descreveu Deodato como uma pessoa sem remorsos e indiferente.<ref name=":7" /> Ele e Deodato discutiam todos os dias de filmagens, geralmente por causa das ideias do diretor.<ref name=":1" /><ref name=":7" /> Outros problemas surgiram, como o pagamento errado dos atores. O primeiro pagamento de Yorke foi em [[peso colombiano]] e bem abaixo do que estava no contrato., Yorkefazendo recusou-secom que ele recusasse continuar as gravações, recebendo posteriormente seu salário no valor combinado e em [[Dólar dos Estados Unidos|dólares estadunidenses]]. Alguns nativos também foram pagos pelo trabalho no filme por envolverem-se em inúmeras cenas perigosas, incluindo uma cena em que foram forçados a ficar dentro de uma cabana em chamas por um longo período de tempo.<ref name=":5" /> Kerman observou o tratamento injusto dos nativos por parte de Deodato, afirmando: "Ele era um sádico, era particularmente sádico para as pessoas que não podiam reagir, as pessoas colombianas, [e] também as pessoas que eram italianas, pois [essas] poderiam ser mandadas para casa".<ref>The Gore-Met (December 2005). "A Forbidden Feast of Flesh". Rue Morgue Magazine #52, 30–32.</ref>
 
Outro aspecto que levou ao desentendimento entre a equipe e os atores foi a verdadeira matança de animais. Kerman saiu do ''set'' quando a morte do [[Quati|coati]] foi filmada, e Yorke recusou-se a matar o porco, então Luca Barbareschi o teve de fazer.<ref name=":5" /> Perry Pirkanen chorou durante o assassinato da tartaruga<ref name=":1" /> e alguns membros da equipe vomitaram quando um macaco esquilo foi morto para o filme.<ref name=":5" /> Barbareschi admitiu que não sentiu remorso por ter atirado no porco, mas afirmou que recebeu ameaças de ativistas dos [[direitos animais]]. Deodato disse que todos os animais mortos no filme foram ingeridos tanto pela equipe e produção quanto pelos nativos. A atriz Francesca Ciardi também foi contra ao conteúdo sexual do filme e não queria expor seus seios durante a cena de sexo entre ela e Yorke. Quando recusou-se a seguir as instruções de Deodato, ele lhe chamou para fora do ''set'' e isso gerou uma grande discussão entre os dois. Ela então sugeriu que fizesse sexo com Yorke na selva antes de gravarem, a fim de aliviar a tensão da próxima cena., Yorkemas ele recusou-se, fazendo com que ela ficasse chateada e não falasse com ele pelo resto da gravação.<ref name=":5" />
 
=== Trilha sonora ===
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=== Acusações de filme ''snuff'' ===
[[Ficheiro:Cannibal-Holocaust 001.jpg|miniaturadaimagem|251x251px|A icônica cena de [[empalamento]] foi uma das várias cenas examinadas pelos tribunais para averiguar se a violência apresentada foi encenada ou verdadeira.]]
O filme é tão forte e seus efeitos tão realistas que dez dias após sua estreia em Milão, foi confiscado e retirado de cartaz sob as ordens de um magistrado local,<ref>Sumner, Don: ''Horror Movie Freak'', p. 189 (Krause Publications, 2010). {{ISBN|978-1-4402-0824-9}}.</ref> e teve de ser distribuído internacionalmente através de subterfúgios.<ref name=":0" /> Em janeiro de 1981, durante a exibição teatral do filme na [[França]], a revista ''Photo'' sugeriu que certas mortes expostas no filme eram reais e ele que era um ''[[filme snuff]],'' ou seja, um filme onde os atores são mortos de verdade em frente às câmeras.<ref>King, Geoff: ''The Spectacle of The Real: From Hollywood to 'Reality' TV and Beyond'' (Intellect Ltd., 2005). {{ISBN|1-84150-120-4}}.</ref> Depois da publicação do artigo da revista, especulações aumentaram a cerca de Deodato. Os tribunais acreditavam que os atores que retrataramparticiparam ada equipe de cineastas desaparecida e a atriz nativa que apareceu na cena de [[empalamento]] (onde é atravessada do ânus à boca por uma estaca de madeira) tinham sido mortos de verdade nas filmagens.<ref name=":0" /><ref name=":1" />
 
Na verdade, os atores supostamente falecidos haviam assinado contratos com a produção que garantiam que eles não deveriam aparecer em qualquer tipo de mídia por um ano após o lançamento do filme. A ideia da produção era manter a impressão que o filme fosse realmente a recuperação dos documentários dos desaparecidos. Durante os processos judiciais, o diretor foi questionado pela não aparição em nenhuma outra mídia do elenco principal.<ref name=":0" /><ref name=":1" />
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=== Censura ===
Embora as alegações de filme de ''snuff'' foram retiradas, os tribunais decidiram proibir a obra devido aos verdadeiros assassinatos de animais, citando leis contra maus-tratos ao animal. Deodato, os produtores, roteiristas e o representante da [[United Artists]], Sandro Perotti, receberam [[liberdade condicional]] por quatro meses após serem condenados por violência e obscenidade. Deodato teve de enfrentar o tribunal por três anos para que seu filme não fosse proibido. Em 1984, os tribunais concederam ao filme um certificado de classificação para maior de 18 anos e com alguns cortes. Sendo posteriormente relançado na versão sem cortes.<ref name=":0" /><ref name=":1" />
 
''Cannibal Holocaust'' também enfrentou problemas de [[censura]] em outros países ao redor do mundo. Em 1981, os lançamentos de vídeos não eram obrigados a passar pela [[British Board of Film Classification|British Board of Film Censors]] (BBFC), que tinha o poder de proibir filmes no Reino Unido. Então, foi lançado [[diretamente em vídeo]] no país, evitando assim sua possível proibição. Em 1983, o diretor do Ministério Público compilou uma lista de 72 vídeos que não foram avaliados previamente pelo BBFC; ''Cannibal Holocaust'' fazia parte dela. O filme não foi aprovado para lançamento no Reino Unido até 2001, embora quase seis minutos de cenas fossem cortados. Em 2011, a BBFC relançou-o e apenas quinze segundos foram cortados., Foi determinadodeterminando que a única cena que violou as diretrizes da BBFC foi o assassinato de um coati, reconhecendo que os cortes feitos anteriormente por ela, eram indispensáveis à reputação do filme.<ref name=":14">{{Citar web|url=http://www.bbfc.co.uk/case-studies/cannibal-holocaust|titulo=Cannibal Holocaust {{!}} British Board of Film Classification|data=|acessodata=3 de julho de 2017|obra=www.bbfc.co.uk|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
 
Em 1984, o filme também foi proibido na [[Austrália]], [[Noruega]], [[Finlândia]], [[Nova Zelândia]] e vários outros países.<ref name=":15">{{Citar web|url=http://www.refused-classification.com/Films_C.htm#cannibalholocaust|titulo=Films: C #1 {{!}} Censor {{!}} Refused-Classification.com|data=|acessodata=3 de julho de 2017|obra=www.refused-classification.com|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref> Em 2005, o [[Office of Film and Literature Classification (Austrália)|Office of Film and Literature Classification]] (OFLC) da Austrália revogou a proibição, lançando uma versão sem cortes que foi classificada para maiores de 18 anos. Em 2006, a versão em [[DVD]] foi proibida pelo [[Office of Film and Literature Classification (Nova Zelândia)|OFLC]] na Nova Zelândia. Apesar do órgão ter oferecido alguns cortes, a proposta foi recusada e, consequentemente, o filme proibido.<ref name=":15" /><ref>{{Citar web|url=http://www.fvlb.org.nz/nz/pages/publication-details.html?title=39285|titulo=Cannibal Holocaust - Film and Video Labelling Body of NZ|data=|acessodata=3 de julho de 2017|obra=www.fvlb.org.nz|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
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== Legado ==
A estrutura do filme significou uma inovação na época, especificamente o conceito "[[Found footage|''Found footage'']]", em que gravações feitas anteriormente por um grupo de pessoas que desaparece misteriosamente são encontradas e trazidas de volta à civilização para ver qual foi o destino delas. Posteriormente, outros filmes foram produzidos usando a mesma estrutura, como ''[[The Last Broadcast]]'' e ''[[The Blair Witch Project]]''. Além disso, da mesma forma como ''Cannibal Holocaust'', as propagandas de ''ABlair BruxaWitch de BlairProject'' promoveram também a ideia que as gravações eram reais.<ref>{{Citar periódico|ultimo=|primeiro=|data=22 de julho de 1999|titulo=The Blair Witch Project|jornal=|doi=|url=http://www.avclub.com/articles/the-blair-witch-project,13607/|acessadoem=3 de julho de 2017}}</ref> Deodato reconheceu semelhanças entre seu filme e ''Blair'', embora sem ressentimentos para com os produtores, estava frustrado com a publicidade que o filme promoveu dizendo ser uma gravação original. Os produtores de ''The Last Broadcast'' negaram que ''Cannibal Holocaust'' foi uma influência importante para a obra.<ref>Weiler, Lance (9 December 1999). "The Facts About The Last Broadcast" (Interview). Interview with Guido Henkel.</ref> No entanto, o filme foi citado pelo diretor Paco Plaza como uma fonte de inspiração para as produções ''[[REC (filme)|REC]]'' e ''[[REC 2]]''.<ref>{{citar livro|título=Found Footage Horror Films: Fear and the Appearance of Reality|ultimo=Heller-Nicholas|primeiro=Alexandra|editora=McFarland|ano=2014|local=|páginas=187|acessodata=}}</ref>
[[Ficheiro:Deodato - Roth.jpg|miniaturadaimagem|Deodato (na esquerda) ao lado de [[Eli Roth]] durante as gravações de ''[[Hostel: Part II]]'' (2007).]]
''Cannibal Holocaust'' tem sido considerado como o ápice do gênero canibal,<ref name="killing for culture" /><ref>{{cite book|last=Slater|first=Jay|editor-last=Slater|editor-first=Jay|title=Eaten Alive!: Italian Cannibal and Zombie Movies|chapter="The Cannibal/The Zombie"|year=2002|publisher=Plexus Publishing|location=London|pages=14–15}}</ref><ref>{{cite book|last=Harper|first=Jim|title=Italian Horror|year=2002|publisher=Midnight Marquee Press, Inc.|location=Baltimore|pages=63–65}}</ref> e tem semelhanças com outros filmes canibais feitos no mesmo período, com destaque ''[[Cannibal ferox|Cannibal Ferox]]'', que é estrelado por Kerman, Pirkanen e Giovanni Lombardo Radice, este dizendo que "o filme foi feito com base no sucesso de ''Cannibal Holocaust''",<ref>Radice, Giovanni Lombardo. "[[Cannibal ferox]] DVD Commentary". ''Cannibal ferox DVD special features''(Interview). Interview with Sage Stallone, Bob Murawski.</ref> embora o diretor Umberto Lenzi não reconhecesse tal influência. Um dos temas semelhantes observados em ''Cannibal Ferox'' foi a comparação da violência ocidental com culturas não civilizadas e o [[anti-imperialismo]]. Em uma revisão mediana, o jornalista de cinema Jay Slater afirma: "Certamente como um aluno difícil, ''Cannibal Ferox'' ainda falha onde Deodato prospera. [...] Lenzi tenta combater a corrupção cultural e questões raciais, mas ''Cannibal Ferox'' não é nada mais do que um exercício de má qualidade no sadismo e na crueldade animal".<ref>{{cite book|last=Slater|first=Jay|editor-last=Slater|editor-first=Jay|title=Eaten Alive!: Italian Cannibal and Zombie Movies|chapter="''Cannibal Ferox'': Review by Jay Slater"|year=2002|publisher=Plexus Publishing|location=London|page=159}}</ref> O comentarista Andrew Parkinson também observa: "No final, há uma tentativa básica de validar ''Cannibal Ferox'', colocando a velha questão de saber se o homem civilizado é realmente mais selvagem do que os não civilizados".<ref>{{cite book|last=Parkinson|first=Andrew|editor-last=Slater|editor-first=Jay|title=Eaten Alive!: Italian Cannibal and Zombie Movies|chapter="''Cannibal Ferox'': Review by Andrew Parkinson"|year=2002|publisher=Plexus Publishing|location=London|page=163}}</ref>