Virgindade perpétua de Maria: diferenças entre revisões

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[[Ficheiro:Raffaello - Spozalizio - Web Gallery of Art.jpg|thumb|direita|300px|[[Casamento da Virgem|Casamento da Virgem Maria e José]]. A doutrina da virgindade perpétua ensina que Maria teria permanecido virgem por toda a vida, mesmo durante o seu casamento com José.<br><small>1504. Por [[Rafael Sanzio|Rafael]], atualmente na [[Pinacoteca di Brera]], em [[Milão]].</small>]]
A doutrina da '''virgindade perpétua de Maria''' expressa a ''"real e perpétua [[virgindade]] de [[Maria (mãe de Jesus)|Maria]] mesmo no ato de dar à luz a [[Jesus]], o [[Filho de Deus]] feito homem"''.<ref name=Miravalle56 /><ref name=REBrown273 />. De acordo com esta doutrina, Maria permaneceu sempre virgem ({{lang-el|{{politônico|ἀειπαρθένος}}}} - ''aeiparthenos''), fazendo de Jesus seu único filho, cuja concepção e [[nascimento virginal de Jesus|nascimento]] são considerados milagrosos.<ref name=Miravalle56 /><ref name=REBrown273 />.
 
Já no século IV, a doutrina era amplamente apoiada pelos [[Padres da Igreja]] e, no sétimo, foi afirmada num conjunto de [[concílio ecumênico|concílios ecumênicos]].<ref name=BWell315 /><ref name=Bromiley271 /><ref name=ThemeM2 />. A doutrina é parte dos ensinamentos dos [[católicos]], [[anglocatólicos]], [[Igreja Ortodoxa|ortodoxos]] e [[ortodoxos orientais]], como se comprova em suas [[liturgia]]s, nas quais repetidamente se faz referência à Maria como "sempre virgem".<ref name=MWebster >''Merriam-Webster's encyclopedia of world religions'' by Merriam-Webster, Inc. 1999 ISBN 0-87779-044-2 page 1134</ref><ref>''[http://www.vatican.va/archive/ENG0015/__P1K.HTM Catechism of the Catholic Church'' §499]</ref><ref>[http://www.ocf.org/OrthodoxPage/liturgy/liturgy.html Divine Liturgy of St John Chrysostom], [http://www.coptic.net/prayers/StBasilLiturgy.html Coptic Liturgy of St Basil], [http://www.copticchurch.net/topics/liturgy/liturgy_of_st_cyril.pdf Liturgy of St Cyril], [http://web.ukonline.co.uk/ephrem/lit-james.htm Liturgy of St James], [http://www.frmichel.najim.net/liturgyvid.pdf Understanding the Orthodox Liturgy] etc.</ref>.
 
Alguns dos primeiros [[Reforma Protestante|reformadores protestantes]] apoiavam a doutrina e figuras importantes do [[anglicanismo]], como [[Hugo Latimer]] e [[Thomas Cranmer]] ''"seguiam a tradição que herdaram aceitando Maria como 'sempre virgem'"''.<ref>[http://www.anglicancommunion.org/ministry/ecumenical/dialogues/catholic/arcic/docs/pdf/mary_commentary_Tim_Bradshaw.pdf Timothy Bradshaw, "Commentary and Study Guide on the Seattle Statement ''Mary: Hope and Grace in Christ'' of the Anglican – Roman Catholic International Commission").]</ref>. Contudo, a doutrina reformada posterior literalmente abandonou a ideia.<ref name=Nally170 /><ref name=Ted47 />. A virgindade perpétua é, contudo, defendida atualmente por alguns teólogos anglicanos e [[luteranismo|luteranos]].<ref name=MWebster /><ref>Jackson, Gregory Lee, ''Catholic, Lutheran, Protestant: a doctrinal comparison''. 1993 ISBN 978-0-615-16635-3 page 254</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=j9db9kGwG3MC&pg=PA283&dq=perpetual+virginity+Anglican&hl=en&sa=X&ei=eEwmUfKbNM6BhQeRroGgDA&redir_esc=y#v=onepage&q=perpetual%20virginity%20Anglican&f=false Richard R. Lorsch, ''All the People in the Bible'' (Eerdmans 2008 ISBN 978-0-80282454-7), p. 283]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=sqJ9hi4epJYC&pg=PA64&dq=Longenecker+%22many+Anglicans+and+Lutherans%22&hl=en&sa=X&ei=RUgmUZLqNom2hQfruYH4AQ&redir_esc=y#v=onepage&q=Longenecker%20%22many%20Anglicans%20and%20Lutherans%22&f=false Dwight Longenecker, David Gustafson, ''Mary: A Catholic Evangelical Debate'' (Gracewing 2003 ISBN 978-0-85244582-2), p. 64]</ref>.
 
== Doutrina e desenvolvimento ==
[[Ficheiro:Our Lady the Vivifying Fountain.jpg|thumb|direita|300px|''[[Theotokos]]'' "Fonte da Vida".<br><small>[[Ícone]] do século XVIII.</small>]]
A doutrina da virgindade perpétua de Maria, que se acredita ser ''[[de fide]]'' (ou seja, defendida pelos católicos como sendo uma parte essencial da fé), afirma que Maria era virgem antes e permaneceu assim durante o parto de Jesus e por todo o resto de sua vida.<ref name=Miravalle56 >Mark Miravalle, 1993, ''Introduction to Mary'', Queenship Publishing ISBN 978-1-882972-06-7, pages 56-64</ref><ref name=REBrown273 /><ref name=Cat499>[http://www.vatican.va/archive/ccc_css/archive/catechism/p122a3p2.htm Vatican website Catechism of the Catholic Church item 499]</ref>. A natureza tripla desta doutrina (que faz referência a "antes", "durante" e "depois") pressupõe, assim, a doutrina do [[nascimento virginal de Jesus]].<ref name=Miravalle56 /><ref name=REBrown273 >''Mary in the New Testament'' edited by Raymond Edward Brown 1978 ISBN 0-8091-2168-9 page 273</ref><ref name=Cat499/>.
 
A doutrina da virgindade perpétua é também distinta do [[dogma católico|dogma]] da [[Imaculada Conceição de Maria]], que está relacionado à concepção da própria Virgem sem a mancha (''macula'' em [[latim]]) do [[pecado original]].<ref>''A history of the church in the Middle Ages'' by F. Donald Logan, 2002, ISBN 0-415-13289-4, p150</ref>.
 
O termo [[língua grega|grego]] ''"[[aeiparthenos]]"'' ("sempre virgem") aparece já na obra de [[Epifânio de Salamina]] no início do século IV<ref>''Joseph, Mary, Jesus'' by Lucien Deiss, Madeleine Beaumont 1996 ISBN 0-8146-2255-0 page 30</ref> e é amplamente utilizado na liturgia da [[Igreja Ortodoxa]].<ref>''The image of the Virgin Mary in the Akathistos hymn'' by Leena Mari Peltomaa 2001 ISBN 90-04-12088-2 page 127</ref>. As orações litúrgicas ortodoxas tipicamente terminam com ''"Lembrando a nossa mais sagrada, pura, abençoada e gloriosa Senhora, a ''[[Theotokos]]'' e sempre virgem Maria"''.<ref>''Eastern Orthodoxy through Western eyes'' by Donald Fairbairn 2002 ISBN 0-664-22497-0 page 100</ref>.
 
O [[Catecismo da Igreja Católica]] (item 499) também inclui o termo ''aeiparthenos'' e, fazendo referência à constituição dogmática ''[[Lumen Gentium]]'' (item 57), afirma: ''"O nascimento de Cristo não diminuiu a integridade virginal de sua mãe, mas santificou-a"''.<ref>''Catechism of the Catholic Church'' by the Vatican, 2002 ISBN 0-86012-324-3 page 112</ref><ref>[http://www.vatican.va/archive/ccc_css/archive/catechism/p122a3p2.htm ''Vatican website'': Catechism item 499]</ref><ref>[http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_en.html Vatican website: ''Lumen Gentium'' item 57]</ref>.
 
A doutrina da virgindade perpétua é defendida também por algumas igrejas anglicanas e luteranas, mas não todas.<ref name=MWebster />.
 
=== Cristianismo primitivo ===
No século II iniciaram-se as primeiras discussões sobre a concepção de Jesus e a virgindade de Maria.<ref name=ThemeM >"The Theme of Mary's Virginity", in ''Mary in the New Testament'' edited by Raymond Edward Brown 1978 ISBN 0-8091-2168-9 pages 267-277</ref>. A maioria dos primeiros escritores cristãos aceitavam a concepção virginal de Jesus baseando-se nos relatos de [[Evangelho de Lucas|Lucas]] e [[Evangelho de Mateus|Mateus]], mas, na época, o foco era a virgindade antes do nascimento e não durante ou depois.<ref name=ThemeM /><ref name=Rahner896 />.
 
A interpretação da afirmação em {{citar bíblia|Mateus|1|25}} de que [[José (pai de Jesus)|José]] ''"não a conheceu enquanto ela não deu à luz um filho"'' e de várias menções no [[Novo Testamento]] sobre os chamados ''[[desposyni]]'' (literalmente, "irmãos do Senhor") se discute abaixo, na seção [[#Escrituras|apropriada]]. Alguns dos primeiros autores cristãos, como [[Tertuliano]], [[Helvídio]] e [[Eunômio de Cízico]], interpretaram a afirmação de Mateus como significando que José e Maria teriam tido relações conjugais normais após o nascimento de Jesus e que [[Tiago, o Justo|Tiago]], [[José (irmão de Jesus)|José]], [[Judas (irmão de Jesus)|Judas]] e [[Simão (irmão de Jesus)|Simão]] eram de fato filhos biológicos de Maria e José, um ponto de vista para o qual há poucas evidências até antes da época deles.<ref>M. DelCogliano Tradition and Polemic in Basil of Caesarea's Homily on the Theophany - Vigiliae Christianae, 2012, p. 41: ''"Outra objeção à virgindade perpétua de Maria, para a qual, porém, há poucas evidências antes do meio do século IV (o que será discutido em detalhes mais adiante), foi baseada na interpretação de Mateus 1:25, segundo o qual José se absteve de relações conjugais com Maria 'até' o nascimento de Jesus, mas as teria iniciado depois do nascimento dele."''</ref>.
 
Um documento do século II que prestou especial atenção à virgindade de Maria era originalmente conhecido como "[[Natividade de Maria]]", mas se tornaria posteriormente conhecido como "[[Protoevangelho de Tiago]]".<ref name=REBrown273 /><ref>L. Gambero, ''Mary and the Fathers of the Church'' trans. T. Buffer (San Francisco: Ignatius, 1991), p. 35.</ref>. Ele trata da virgindade de Maria antes do nascimento, da forma milagrosa pela qual ela deu à luz e sua virgindade física após o parto.<ref>[http://wesley.nnu.edu/sermons-essays-books/noncanonical-literature/book-of-james-or-protevangelium ''Protoevangelium of James'' (M.R. James translation), XIX-XX]</ref><ref>L. Gambero, ''Mary and the Fathers of the Church'' trans. T. Buffer (San Francisco: Ignatius, 1991), p. 40.</ref><ref>Quasten, ''Patrology'' 1:120-1.</ref>. Ela também alega que os "irmãos" e "irmãs" de Jesus (que aparecem, por exemplo, em {{citar bíblia|Mateus|13|56}} e {{citar bíblia|Marcos|6|3}} - vide [[irmãos de Jesus]]) seriam filhos de José de um casamento anterior.<ref>''Protoevangelium'' capítulos 7&ndash;8.</ref>.
Porém, não há consenso completo sobre a doutrina na época do [[cristianismo primitivo]] no final do século II. Como exemplo, [[Tertuliano]] ({{ca.}} 160 - ''ca.'' 225) não a ensina (embora ele ensine o [[nascimento virginal de Jesus]]), enquanto que [[Ireneu de Lyon]] (''ca.'' 130 - ''ca.'' 202) o faz juntamente com outros temas marianos<ref name=Rahner896 />. Porém, uma aceitação mais ampla começaria a surgir no século seguinte<ref name=Rahner896 />.
 
Porém, não há consenso completo sobre a doutrina na época do [[cristianismo primitivo]] no final do século II. Como exemplo, [[Tertuliano]] ({{ca.}} 160 - ''ca.'' 225) não a ensina (embora ele ensine o [[nascimento virginal de Jesus]]), enquanto que [[Ireneu de Lyon]] (''ca.'' 130 - ''ca.'' 202) o faz juntamente com outros temas marianos.<ref name=Rahner896 />. Porém, uma aceitação mais ampla começaria a surgir no século seguinte.<ref name=Rahner896 />.
[[Orígenes]] (185-254) tratou do assunto dos irmãos de Jesus e afirmou acreditar que eles eram filhos de José de um casamento anterior<ref>''The Westminster handbook to Origen'' by John Anthony McGuckin 2004 ISBN 0-664-22472-5 page 150</ref>. Helvídio apelou para a autoridade de Tertuliano contra a doutrina da virgindade perpétua, ao que [[Jerônimo de Estridão|Jerônimo]] (''ca.'' 340 - 419) respondeu que ''"ele [Tertuliano] não era um homem da igreja"''<ref>Tertullian, Treatises on marriage and remarriage: - Page 160 ed. T. C. Lawler, Walter J. Burghardt - 1951 ''"Helvídio apelou para a autoridade de Tertuliano em seu ataque à doutrina da virgindade perpétua de Maria,... Eu não tenho nada mais a dizer exceto que ele não era um homem da igreja ('Ecclesiae hominem, non fuisse')."''</ref>.
 
[[Orígenes]] (185-254) tratou do assunto dos irmãos de Jesus e afirmou acreditar que eles eram filhos de José de um casamento anterior.<ref>''The Westminster handbook to Origen'' by John Anthony McGuckin 2004 ISBN 0-664-22472-5 page 150</ref> Helvídio apelou para a autoridade de Tertuliano contra a doutrina da virgindade perpétua, ao que [[Jerônimo de Estridão|Jerônimo]] (''ca.'' 340 - 419) respondeu que ''"ele [Tertuliano] não era um homem da igreja"''.<ref>Tertullian, Treatises on marriage and remarriage: - Page 160 ed. T. C. Lawler, Walter J. Burghardt - 1951 ''"Helvídio apelou para a autoridade de Tertuliano em seu ataque à doutrina da virgindade perpétua de Maria,... Eu não tenho nada mais a dizer exceto que ele não era um homem da igreja ('Ecclesiae hominem, non fuisse')."''</ref>

Já no século IV, a doutrina já estava bem estabelecida.<ref>L. Gambero, ''Mary and the Fathers of the Church'' trans. T. Buffer (San Francisco: Ignatius, 1991) pp. 97-98; and also for an overview of each source.</ref>. Por exemplo, referências a ela podem ser encontradas nas obras do século anterior de [[Hipólito de Roma]], que chamava Maria de ''"tabernáculo isento de poluição e corrupção"'' <ref name=Ripley264 /> e nas obras do século IV de [[Atanásio de Alexandria|Atanásio]],<ref>Athanasius, ''Orations against the Arians'' 2.70</ref>, Epifânio,<ref>Epiphanius of Salamis, ''The Man Well-Anchored'' 120, c.f. ''Medicine Chest Against All Heresies'' 78:6</ref>, [[Hilário de Poitiers|Hilário]],<ref>Hilary of Poitiers, ''Commentary on Matthew'' §1:4</ref>, [[Dídimo, o Cego]],<ref>Didymus the Blind, ''The Trinity'' 3:4</ref>, [[Ambrósio de Milão|Ambrósio]],<ref>Ambrose of Milan, ''Letters'' 63:111</ref>, Jerônimo<ref>Jerome, ''[[Helvidius|Against Helvetius]]'', 21</ref> e do [[papa Sirício]]<ref>Denziger §91</ref> a doutrina foi repetidamente atestada - uma tendência que ganhou ainda mais ímpeto no século seguinte.<ref name=BWell315 /><ref name=Bromiley271 >''The International Standard Bible Encyclopedia'' by Geoffrey W. Bromiley 1995 ISBN 0-8028-3785-9 page 271</ref>.
 
=== Padres da Igreja e Idade Média ===
[[Imagem:Montrem église vitrail détail (3).JPG|thumb|esquerda|200px|Para Maria: {{citar bíblia|João|19|26|citação=Mulher, eis aí teu filho!}} Para o [[discípulo amado]]: {{citar bíblia|João|19|27|citação=Eis aí tua mãe!}}<br><small>[[Vitral]] na Igreja de Saint-Pierre-ès-Liens de Montrem, [[Dordogne]], [[França]]</small>]]
 
[[João Crisóstomo]] (347–407) defendia a virgindade perpétua baseado em diversos argumentos, um dos quais os comandos que Jesus deu à mãe no [[Calvário]], {{citar bíblia|João|19|26|citação=Mulher, eis aí teu filho!}}, e ao [[discípulo amado]], {{citar bíblia|João|19|27|citação=Eis aí tua mãe!}}.<ref name=MEvangel >''Mary for evangelicals: toward an understanding of the mother of our Lord'' by Tim S. Perry, William J. Abraham 2006 ISBN 0-8308-2569-Xpages 153-154</ref><ref>''John 11-21'' by Joel C. Elowsky 2007 ISBN 0-8308-1099-4 page 318</ref>. Desde o século II estas duas [[frases de Jesus na cruz]] tem sido utilizadas como racionais para o fato de Maria não ter tido outros filhos e que ''"dessa hora em diante o discípulo a tomou para sua casa"'' justamente por que, após a morte de Jesus e de José, não haveria mais ninguém para cuidar de Maria.<ref name=Burke308 >Burke, Raymond L.; et al. (2008). ''Mariology: A Guide for Priests, Deacons, Seminarians, and Consecrated Persons'' ISBN 978-1-57918-355-4 pages 308-309</ref><ref name=Miravalle62 >Mark Miravalle, 1993, I''ntroduction to Mary'', Queenship Publishing ISBN 978-1-882972-06-7, pages 62-63</ref>.
 
No tempo de [[Gregório de Níssa]] e de [[Agostinho de Hipona]], com a crescente ênfase na piedade mariana, um papel mais amplo de Maria começou a aparecer no contexto da história da [[Salvação (cristianismo)|salvação]].<ref name=ThemeM2 />. O próprio Agostinho apresentou diversos argumentos a favor da doutrina.<ref>''Augustine through the ages: an encyclopedia'' by John C. Cavadini 1999 ISBN 0-8028-3843-X page 544</ref><ref>''St. Augustine, Faith, Hope & Charity By J. Kuasten, Saint Augustine (Bishop of Hippo.) 1978 ISBN 0-8091-0045-2 page 126</ref>. No final do século IV, {{citar bíblia|Lucas|1|34|citação=Como será isso, uma vez que não conheço varão?}} começou a ser interpretado como uma indicação de um "voto de perpétua virgindade" por parte de Maria.<ref name=ThemeM2 >''Mary in the New Testament'' edited by Raymond Edward Brown 1978 ISBN 0-8091-2168-9 pages 278-281</ref>.
 
Este conceito de "voto de Maria" já tinha aparecido no [[Protoevangelho de Tiago|Protoevangelho]] (4:1), que afirma que a [[Ana (mãe de Maria)|Ana]], a mãe de Maria, ofertou Maria como uma "virgem ao Senhor" no [[Segundo Templo|Templo]] e que José, um viúvo, serviria como seu guardião (a proteção legal para as mulheres dependiam de um guardião: pai, irmão ou, na falta destes, um marido).<ref>''Protoevangelho de Tiago 4, 7, 8-9, 15</ref>. No início do século VII, no "Pequeno Livro sobre a Virgindade Perpétua da Abençoada Maria", [[Isidoro de Sevilha]] liga temas [[mariologia|mariológicos]] e [[cristologia|cristológicos]] ao relacionar a virgindade de Maria com a divindade de Cristo num único argumento.<ref>''The History of Theology: Middle Ages'' by Giulio D'Onofrio, Basil Studer 2008 ISBN 0-8146-5916-0 page 38 </ref>. O [[Concílio de Latrão (649)|Concílio de Latrão]] de 649, que teve a presença de [[Máximo, o Confessor]], explicitamente afirmou o ensinamento sobre a virgindade de Maria antes, durante e depois do parto.<ref name=Rahner896 >''Encyclopedia of theology: a concise Sacramentum mundi by Karl Rahner 2004 ISBN 0-86012-006-6 pages 896-897</ref>. A doutrina foi novamente afirmada no [[Sexto Concílio Ecumênico]] em 680.<ref name=BWell315 >''The Blackwell Companion to Catholicism'' by James Buckley, Frederick Christian Bauerschmidt, Trent Pomplun 2010 ISBN 1-4443-3732-7 page 315</ref>.
 
Outro livro, "[[A História de José, o Carpinteiro]]", do século VII, apresenta Jesus falando, na [[morte de José]], de Maria como ''"minha mãe, virgem incorrupta"''.<ref>''Saint Joseph: His Life and His Role in the Church Today'' by Louise Bourassa Perrotta 2000 ISBN 0-87973-573-2 page 86</ref>.
 
Ao longo dos séculos, a interpretação de Maria como a "sempre virgem noiva do Senhor que tomou um voto de perpétua virgindade" se espalhou e estava consolidado na época de [[Ruperto de Deutz]] no século XII.<ref name=ThemeM2 />. No século seguinte, [[Tomás de Aquino]] criou uma longa e detalhada defesa teológica da doutrina e afirmou que a negação da virgindade perpétua de Maria seria derrogatória para a [[perfeição de Cristo]], um insulto ao [[Espírito Santo]] e uma afronta à dignidade da [[Mãe de Deus]].<ref>''Aquinas on doctrine: a critical introduction'' by Thomas Gerard Weinandy, John Yocum 2004 ISBN 0-567-08411-6 page 95</ref><ref>''The Westminster handbook to Thomas Aquinas'' by Joseph Peter Wawrykow 2005 ISBN 0-664-22469-5 page 91</ref>.
 
=== Maria como a "segunda Eva" ===
Já no século IV, no contexto da discussão do plano de Deus para a salvação, um tema paralelo começou a aparecer no qual a obediência de Maria ({{citar bíblia|Lucas|1|38|citação= faça-se em mim segundo a tua palavra.}}) e a doutrina da perpétua virgindade foram contrapostas a [[Adão e Eva]], da mesma forma que a obediência de Jesus já fora contraposta a Adão em {{citar bíblia|Romanos|5|12|21}}.<ref name=ThemeM2 /><ref name=Rahner896 />.
 
O conceito de Maria como uma "segunda Eva" foi introduzido pela primeira vez por [[Justino Mártir]] por volta de 155.<ref>''What Every Catholic Should Know about Mary'' by Terrence J. McNally 2009 ISBN 1-4415-1051-6 page 185</ref>. Sob este ponto de vista, que foi discutido em detalhes por Ireneu, apoiado por Jerônimo e ganhou apoio depois, os votos de obediência e virgindade de Maria teriam colocado-a numa posição de "segunda Eva" como parte do plano de salvação da mesma forma que Jesus seria o [[Segundo Adão]].<ref name=ThemeM2 /><ref name=Rahner896 />.
 
O tema desenvolvido pelos [[Padres da Igreja]] corria em paralelo ao desenvolvido pelo [[Paulo de Tarso|apóstolo Paulo]] em {{citar bíblia|Romanos|5|18|21}}, no qual ele comparava o pecado de Adão com a obediência de Jesus à vontade do [[Deus Pai|Pai]] até o [[Calvário]]: ''"Assim, pois, como por uma só ofensa veio o julgamento sobre todos os homens para a condenação, assim também por um só ato de justiça veio o julgamento sobre todos os homens para a justificação da vida"''.<ref name=Daille >''An exposition of the epistle of Saint Paul to the Philippians'' by Jean Daille 1995 ISBN 0-8028-2511-7 pages 194-195</ref>. Da mesma forma, a obediência de Maria às afirmativas do [[arcanjo Gabriel]] e sua aderência a um voto de perpétua virgindade seriam remédios para o dano causado por Eva.<ref name=Bl64 >''Blessed one: Protestant perspectives on Mary Beverly Roberts Gaventa, Cynthia L. Rigby 2002 ISBN 0-664-22438-5 page 64</ref>.
 
O ensinamento da "segunda Eva" continuou a crescer entre os católicos e, ao discutir a virgindade perpétua, o [[Catecismo do Concílio de Trento]], de 1566, explicitamente ensina que, enquanto Eva, ao acreditar na serpente, trouxe uma maldição sobre a raça humana, Maria, ao acreditar no anjo, trouxe-lhe uma benção.<ref>''The Catechism of the Council of Trent'' Translated Into English by Theodore Alois Buckley, ISBN 1-112-53771-6 pages 45-46 (Article III, Chapter VI, Question IX) [http://books.google.com/books?id=940_AAAAcAAJ&pg=PA45&dq=perpetual+virginity+trent+malediction&hl=en&ei=PpFgTov9MdT54QSAlOFl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CC8Q6AEwAQ#v=onepage&q&f=false]</ref><ref name=Ripley264 >''This Is the Faith'' by Francis J. Ripley 1973 ISBN 0-85244-678-0 page 264</ref>.
 
Este conceito continua parte dos ensinamentos católicos. O [[papa Pio XII]] fez referência a ele em sua [[encíclica]] ''[[Mystici Corporis Christi]]'' e o [[papa João Paulo II]] também durante uma Audiência Geral no [[Vaticano]] em 1980.<ref>[http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_29061943_mystici-corporis-christi_en.html Varican website: ''Mystici Corporis Christi'']</ref><ref>[http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/audiences/catechesis_genesis/documents/hf_jp-ii_aud_19800312_en.html Vatican website: ''Pope John Paul II General Audience March 12, 1980]</ref>.
 
== Reforma Protestante ==
O início da [[Reforma Protestante]] em princípios do século XVI não provocou a rejeição imediata da doutrina da virgindade perpétua e diversos líderes protestantes mostraram variados graus de apoio a ela, sem, contudo, chegarem a endossá-la diretamente.<ref name=Ted150 /><ref name=McKim237 />.
 
Os primeiros reformadores protestantes acreditavam que as escrituras requeriam a aceitação do [[nascimento virginal de Jesus]], mas apenas permitiam que se aceitasse a virgindade perpétua.<ref>''Reformation of church and dogma (1300-1700)'' by Jaroslav Jan Pelikan, 1985, ISBN 0-226-65377-3, p339</ref>. Com o tempo, muitas igrejas protestantes pararam de ensinar a doutrina e outras, a negaram totalmente.<ref name=Nally170 >''What Every Catholic Should Know about Mary'' by Terrence J. McNally 2009 ISBN 1-4415-1051-6 page 170</ref><ref name=Ted47 >''Christian confessions: a historical introduction'' by Ted Campbell, 1996 ISBN 0-664-25650-3 page 47</ref>.
 
=== Apoio pelos primeiros reformadores ===
{{Mariologia católica}}
[[Martinho Lutero]] acreditava que Maria não havia tido outros filhos e que não houve relações conjugais com José. O texto em latim dos [[Artigos de Esmalcalde]] (1537), escrito por ele, utiliza o termo "sempre virgem" em referência à Maria.<ref name=Ted150 >''Christian confessions: a historical introduction'' by Ted Campbell 1996 ISBN 0-664-25650-3 page 150</ref>. Ele continuou a acreditar na doutrina por toda a vida, mesmo depois de ter rejeitado outros [[dogmas marianos]].<ref name=Ted150 /><ref>''Luther's Works'', 22:214-215</ref><ref>"Sermon on the Presentation of Christ in the Temple", ''Luthers Werke'' 52:688- 99,quoted in Jaroslav Pelikan, ''Mary through the Ages'', 158, and [http://www.ntrmin.org/Luthers%20Theology%20of%20Mary.htm#V Martin Luther's Theology of Mary]</ref>.
 
[[Zuínglio]] apoiava diretamente a virgindade perpétua e escreveu: ''"Eu acredito firmemente que [Maria],.... permaneceu sempre pura, intacta Virgem"''.<ref>{{citecitar booklivro|lastúltimo =Zwingli|firstprimeiro =Ulrich|coauthorscoautor=Egli, Emil; Finsler, Georg; Zwingli-Verein, Georg; Zürich|titletítulo=Huldreich Zwinglis sämtliche Werke|publisherpublicado=C. A. Schwetschke und Sohn|yearano=1905|volume=1|pagepágina=385|chaptercapítulo=Eini Predigt von der ewig reinen Magd Maria.|url=http://books.google.com/books?vid=061hIvsQOvuF3d5-UhkJID&id=yYYhD2-6nzQC&pg=RA1-PA385&lpg=RA1-PA385&dq=%22eine+predigt+von+der+ewig+reinen%22|accessdateacessodata=2008-07-01|languagelíngua=[[German language|German]]}}</ref>. Como ele, os reformadores ingleses também apoiavam o conceito da virgindade perpétua, mas geralmente variavam entre si sobre as razões.<ref name=McKim237 />. O apoio de Lutero e Zuínglio à virgindade perpétua foi endossado por [[Heinrich Bullinger]] e foi incluído na [[Segunda Confissão Helvética]] em 1566.<ref name=Blessed119 >''Blessed one: Protestant perspectives on Mary'' by Beverly Roberts Gaventa, Cynthia L. Rigby 2002 ISBN 0-664-22438-5 page 119</ref>.
 
[[João Calvino]] era menos enfático em seu apoio pela ideia e não chegou a aceitá-la ou negá-la diretamente,<ref name=McKim237 >''Encyclopedia of the Reformed faith'' by Donald K. McKim, David F. Wright 1992 ISBN 0-664-21882-2 page 237</ref>, advertindo contra a ideia de uma ''"especulação ímpia"'' sobre o tema.<ref name=Blessed119 />. Porém, ele rejeitou os argumentos contra a virgindade perpétua que se baseavam na menção nas escrituras sobre os [[irmãos de Jesus]] entendidos como sendo outros filhos de Maria.<ref>Harmony of Matthew, Mark & Luke, sec. 39 (Geneva, 1562), / From Calvin's Commentaries, tr. William Pringle, Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1949: ''"Helvídio mostrou uma ignorância excessiva ao concluir que Maria deve ter tido muitos filhos por terem sido mencionados às vezes os 'irmãos' de Cristo"'' (vol 2, p. 215); ''"[Em Mateus 1:25] A inferência que ele [Helvídio] tirou disto foi de Maria teria permanecido virgem apenas até o primeiro parto e que, depois disso, ela teve outros filhos com seu marido ... Nenhuma inferência justa e bem-suportada pode ser tirada destas palavras ... sobre o que aconteceu após o nascimento de Cristo. Ele é chamado de 'primogênito'; mas pelo simples motivo de informar-nos que ele nasceu de uma virgem... O que aconteceu depois, os historiadores não podem nos dizer... Nenhum homem irá defender obstinadamente este argumento, com exceção pelo gosto da disputa."'' (vol I, p. 107)</ref>.
 
Os reformadores [[anglicanos]] dos séculos XVI e XVII apoiaram a virgindade perpétua ''"com base na antiga autoridade cristã"''.<ref name=Ted150 />. No século XVIII, [[John Wesley]], um dos fundadores do [[metodismo]], também a defendeu e escreveu que ''"... nascido da abençoada Virgem Maria, que, tanto depois quanto antes de dá-Lo à luz, continuou pura e imaculada virgem"''.<ref name=Ted150 /><ref>''The works of the Rev. John Wesley, Volume 15'' by John Wesley, Joseph Benson, Published by Thomas Cordeux, London, 1812, "A Letter to a Roman Catholic" page 110 [http://books.google.com/books?vid=OCLC09022224&id=CZEPAAAAIAAJ&pg=PA110&lpg=PA110&dq=wesley+%22letter+to+a+roman+catholic%22]</ref><ref>[http://wesley.nnu.edu/john_wesley/letters/1749b.htm ''Letter to a Roman Catholic'', July 18, 1749]</ref>.
 
=== Ensinamentos protestantes posteriores ===
Muitas igrejas protestantes atuais ensinam o [[nascimento virginal de Jesus]] sem implicar que Maria teria permanecido virgem pelo resto da vida.<ref name=Nally170 /><ref name=Ted47 />.
 
[[Diarmaid MacCulloch]], um historiador da Reforma, escreveu que a razão pela qual os primeiros reformadores defenderam a virgindade perpétua foi que a doutrina seria ''"a garantia da encarnação de Cristo"'', um ensinamento que estava sendo combatido por radicais que negavam também a virgindade perpétua.<ref>D. MacCulloch, ''The Reformation: a History'' (Penguin Books, 2003) pp. 613-614; cf. Robert Schihl, ''[http://www.ewtn.com/faith/teachings/maryc2.htm The Perpetual Virginity of Mary]'' for an extended list and quotations.</ref>. Porém, a ausência de suporte bíblico claro expressando a doutrina combinado com o princípio da ''[[sola scriptura]]'' acabaram por evitar referências à doutrina nos credos reformados, o que, combinado com a tendência de associar a [[hiperdulia|veneração a Maria]] com [[idolatria]]<ref>D. MacCulloch, ''The Reformation: a History'' (Penguin Books, 2003) pp. 558-63</ref> e com a rejeição do [[celibato clerical]],<ref>see John Calvin's [http://www.vor.org/rbdisk/calvin/ci_html/4_12.htm#4.12.27 ''Institutes of the Christian Religion IV,12,27-28'']</ref>, finalmente levou à negação completa da doutrina entre os protestantes, que, assim, despreocupados com a virgindade perpétua, passaram a entender os "[[irmãos de Jesus]]" como sendo mais naturalmente (mas não "certamente") filhos de Maria ao invés de primos ou filhos de José de outro casamento.<ref>See, e.g., {{cite bookcitar livro|authorautor =David Brown |titletítulo=Commentary, Critical and Explanatory, on the Whole Bible |chaptercapítulo=Commentary on Matthew 13:56 |chapterurlcapítulourl=http://www.ccel.org/ccel/jamieson/jfb.xi.i.xv.html#xi.i.xv-p102.3 |accessdateacessodata=2009-01-07}}</ref>.
 
Porém, alguns acadêmicos luteranos conservadores como Franz Pieper (1852–1931) se recusaram a seguir a tendência geral entre os protestantes de insistir que Maria e José tiveram relações e filhos após o nascimento de Jesus. Está implícito em sua obra, "Christian Dogmatics", que a crença na virgindade perpétua de Maria é a mais antiga e tradicional entre os luteranos.<ref>Francis Pieper, ''Christian Dogmatics'', 4 vols., (St. Louis: CPH, 1950-53), 2:308-09.</ref>. Ele afirmou que ''"nós devemos simplesmente defender que [Maria] permaneceu virgem após o nascimento de Cristo por que as escrituras não afirmam e nem indicam que ela teria perdido sua virgindade"''.<ref>That Jesus Christ Was Born a Jew (1523), in ''Luther’s Works,'' American Edition, Walther I. Brandt, ed., Philadelphia, Augsburg Fortress; St. Louis, [[Concordia Publishing House]], 1962, ISBN 0-8006-0345-1 pp. 205-206; cf. James Swam ([http://www.ntrmin.org/Luthers%20Theology%20of%20Mary.htm#V Martin Luther's Theology of Mary]).</ref>. Ele ensinou também que ''"Cristo, nosso Salvador, era fruto real e natural o útero virginal de Maria... O que se deu sem a cooperação de um homem e ela permaneceu virgem depois disto"'' e que ''"Cristo... era o único filho de Maria e que a Virgem Maria não teve outros filhos além dele... Eu estou inclinado a concordar com os que declaram que os 'irmãos' na verdade são 'primos' aqui, pois os evangelistas e os judeus sempre chamam primos de irmãos"''.<ref>Luther's Works, eds. Jaroslav Pelikan (vols. 1-30) & Helmut T. Lehmann (vols. 31-55), St. Louis: Concordia Pub. House (vols. 1-30); Philadelphia: Fortress Press (vols. 31-55), 1955, v.22:23 / Sermons on John, chaps. 1-4 (1539), quoted in [http://www.davidmacd.com/catholic/martin_luther_on_mary.htm Martin Luther on Mary's Perpetual Virginity]</ref>.
 
== Escrituras ==
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Algumas passagens no [[Novo Testamento]] tem sido utilizadas para materializar objeções à doutrina da virgindade perpétua enquanto que outras, para apoiá-lo.
 
Uma das objeções diz respeito à menção dos irmãos e irmãs de Jesus,<ref>Em seu artigo "irmãos do Senhor", o Oxford Dictionary of the Christian Church (Oxford University Press 2005 ISBN 978-0-19-280290-3) cita {{citar bíblia|Marcos|6|3}}, {{citar bíblia|Mateus|13|55}}, {{citar bíblia|João|7|3}}, {{citar bíblia|Atos|1|14}}, {{citar bíblia|I Coríntios|9|5}} como sendo os versículos do Novo Testamento que os mencionam.</ref>, entre eles [[Tiago, o Justo|Tiago]], [[José (irmão de Jesus)|José]], [[Simão (irmão de Jesus)|Simão]] e [[Judas (irmão de Jesus)|Judas]]. Eles já foram interpretados como sendo filhos de José e Maria por [[Tertuliano]] e, talvez, por [[Hegésipo]], mas que, quando [[Helvídio]] o fez, encontrou a oposição de [[Jerônimo de Estridão|Jerônimo]], que, aparentemente, deu voz à opinião geral cristã da época.<ref name=ODCC>Oxford Dictionary of the Christian Church (Oxford University Press 2005 ISBN 978-0-19-280290-3), artigo "brethren of the Lord"</ref>. Ele defendia que os "irmãos" em questão seriam filhos de Maria, a mãe de Tiago e José nomeada em {{citar bíblia|Marcos|15|40}} e {{citar bíblia|Marcos|15|47}}, uma irmão de Maria, mãe de Jesus ({{citar bíblia|João|19|25}}),<ref name=ODCC/><ref>Oxford Dictionary of the Christian Church, artigo "Marys in the NT"</ref>, sendo, portanto, primos de Jesus.
 
Outro ponto de vista, expressado por [[Eusébio de Cesareia|Eusébio]] e [[Epifânio de Salamina|Epifânio]], é o de que eles seriam filhos de José de um casamento anterior.<ref name=ODCC/>. A visão moderna é de que eles eram filhos de [[Cleófas]], um irmão de José de acordo com Hegésipo, e "[[Maria de Cleófas|Maria]], mãe de Tiago e José", uma cunhada e não irmã de Maria, a mãe de Jesus.<ref name=ODCC/>. O livro de 1978 "Mary in the New Testament: A Collaborative Assessment by Protestant and Roman Catholic Scholars"<ref>[[Raymond E. Brown]], Karl P. Donfried, [[Joseph Fitzmyer]] and John Reumann ed., Philadelphia: Fortress Press, and Mahwah, NJ: Paulist Press, 1978</ref> conclui que ''"não se pode dizer que o Novo Testamento identifique-os [os "irmãos e irmãs de Jesus"] sem dúvida como irmãos e irmãs de sangue e, assim, como filhos de Maria"''.<ref>[http://campus.udayton.edu/mary/Rossier.html François Rossier: The "Brothers and Sisters" of Jesus: Anything New?]</ref>.
 
{{citar bíblia|Mateus|1|25}} afirma que José não teve relações conjugais com Maria "até" ({{lang-el|{{politônico|ἕως οὗ}}}}) o parto de Jesus. Escritores como R.V. Tasker<ref>Tasker, R.V., ''The Gospel according to Saint Matthew'' (InterVarsity Press 1961), p. 36</ref> e D. Hill<ref>Hill D., The Gospel of Matthew, p80 (1972) Marshall, Morgan and Scott:London</ref> argumentam que isto implicaria que Maria e José tiveram relações conjugais normalmente depois disso. Outros, como K. Beyer, lembram que o grego {{politônico|ἕως οὗ}} depois de uma negativa ''"geralmente não tem nenhuma implicação sobre o que acontece depois do limite do 'até' ter sido alcançado"''<ref name=Brown132>[http://books.google.com/books?ei=2WBjTsXVCMLG8QPs0rmQCg&ct=result&id=Dd1XAAAAYAAJ&dq=brown+birth+messiah&q=implication#search_anchor Raymond E. Brown, ''The Birth of the Messiah'' (Doubleday 1999 ISBN 978-0-385-49447-2), p. 132]</ref> e [[Raymond E. Brown]] observa que ''"o contexto imediato favorece a ausência de uma implicação futura aqui, pois Mateus está preocupado apenas em reforçar a virgindade de Maria antes do nascimento da criança"''.<ref name=Brown132/>.
 
Por outro lado, a resposta de Maria ao [[arcanjo Gabriel]] quando lhe foi anunciado que ela iria conceber, {{citar bíblia|Lucas|1|34|citação=Como será isso, uma vez que não conheço varão?}}, tem sido interpretado, pelo menos desde a época de [[Gregório de Níssa]], como indicativo de que ela teria feito um voto de perpétua virgindade, mesmo casada: ''"Pois se José a tivesse tomado como esposa, com o objetivo de ter filhos, por que ela teria se espantado com o anúncio de sua maternidade, uma vez que ela própria já havia aceitado se tornar mãe de acordo com a lei da natureza?"''.<ref>Gregório de Níssa, ''On the Holy Generation of Christ'', 5.</ref>. Esta interpretação, ainda que mantida por muitos, é rejeitada por escritores como Howard Marshall.<ref>"É impossível enxergar como é que o texto pode ser lido desta forma" (Howard Marshall, I., The Gospel of Luke (Paternoster Press 1978), p. 68).</ref> e é considerada implausível por Raymond E. Brown.<ref>Brown, ''The Birth of the Messiah'', p. 304</ref>.
 
Uma passagem utilizada para apoiar a doutrina é uma das [[frases de Jesus na cruz]], um par de comandos que ele deu à sua mãe, {{citar bíblia|João|19|26|citação=Mulher, eis aí teu filho!}}, e ao [[discípulo amado]], {{citar bíblia|João|19|27|citação=Eis aí tua mãe!}}.<ref name=Burke308 /><ref name=Miravalle62 /><ref name=KBaker334 >''Fundamentals of Catholicism'' by Kenneth Baker 1983 ISBN 0-89870-019-1 pages 334-335</ref>. [[Evangelho de João]] em seguida afirma que ''"dessa hora em diante o discípulo a tomou para sua casa"''. Desde o tempo dos [[Padres da Igreja]] estes versículos tem sido utilizados para explicar por que, na época da morte de Jesus, não havia ninguém mais vivo na família imediata da Maria para tomar conta dela e, por isso, ela teve que ser confiada a um discípulo.<ref name=Burke308 /><ref name=Miravalle62 /><ref name=KBaker334 />. O [[papa João Paulo II]] também fez uso dela para defender a virgindade perpétua.<ref name=Miravalle62 /><ref>Pope John Paul II's General Audience of 28 August 1996, printed in ''[[L'Osservatore Romano]]'', Weekly Edition in English, 4 September 1996 [http://www.ewtn.com/library/papaldoc/jp960828.htm The article at EWTN]</ref><ref>[http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/audiences/1996/documents/hf_jp-ii_aud_19960828_it.html Vatican website: ''Pope John Paul II's General Audience of 28 August 1996'' (in Italian)]</ref>. Ele também acrescentou que o comando "Eis aí o teu filho!" não simplesmente para confiá-la ao discípulo, mas também para confiá-lo a Maria, preenchendo-lhe o vazio maternal provocado pela perda de seu único filho na cruz.<ref>''[[L'Osservatore Romano]]'', Weekly Edition in English, 30 April 1997, page 11 [http://www.ewtn.com/library/papaldoc/jp2bvm49.htm Article at EWTN]</ref><ref>[http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/audiences/1997/documents/hf_jp-ii_aud_23041997_en.html Vatican website: ''Pope John Paul II's General Audience of 28 April 1997''] reprinted in ''[[L'Osservatore Romano]]'', Weekly Edition in English, 30 April 1997, page 11</ref>.
 
== Perspectiva islâmica ==
Na [[Sura]] 19 (chamada ''[[Maryam (sura)|Maryam]]''),<ref>[http://www.e-quran.com/language/portuguese/r-sura19.html Sagrado Alcorão: Maryam (Maria), Surata 19]</ref>, o [[Corão]] declara que Jesus foi o resultado de uma concepção virginal (versos 20-22) e alguns estendem esta interpretação como significando também a virgindade perpétua de Maria.<ref name=Emir >''The Truth about Islam & Jesus'' by John Ankerberg, Emir Caner 2009 ISBN 0-7369-2502-3 page 65 [http://books.google.com/books?id=-XgH1R2AhbgC&pg=PA65&dq=%22Perpetual+virginity%22+of+Mary+islam&hl=en&ei=0oVcTonHAs7DtAaN56G6Dw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=5&ved=0CD8Q6AEwBA#v=onepage&q=%22Perpetual%20virginity%22%20of%20Mary%20islam&f=false]</ref><ref>''What Every Catholic Should Know about Mary'' by Terrence J. McNally 2009 ISBN 1-4415-1051-6 page 161 [http://books.google.com/books?id=IlJRXgcBVvoC&pg=PA161&dq=Perpetual+virginity+of+Mary+islam&hl=en&ei=n4VcTsLwB8vfsga65enPDw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CC4Q6AEwAQ#v=onepage&q=Perpetual%20virginity%20of%20Mary%20islam&f=false]</ref>. Não há uma crença doutrinária clara sobre se ela se manteve ou não virgem depois do nascimento de Jesus.<ref>''Women in the Qur'ān, traditions, and interpretation'' by Barbara Freyer Stowasser. Oxford University Press: 1994, pp. 78-70, 163.</ref><ref>"The Virgin Mary in Islamic tradition and commentary" by J. I. Smith et. al., published in the ''Muslim World'' (Hartford, Conn.) v. 79 (July/October 1989) p. 161-87</ref>.
 
No [[islã]], Jesus e Maria foram as duas únicas crianças que não foram tocadas por [[Satã]] no momento do nascimento, pois Deus colocou um véu entre eles.<ref>Rodwell, J. M. '''The Koran'''. 2009 ISBN 0-559-13127-5 page 505</ref>. O Corão também conta a história da [[Anunciação]] e do [[Nascimento de Jesus]] (Sura 3 e 19).<ref name=Sarker >Sarker, Abraham.''Understand My Muslim People''. 2004 ISBN 1-59498-002-0 page 260</ref>.
 
{{Âncora|Virgindade perpétua na arte}}
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== Virgindade perpétua na arte ==
[[Ficheiro:Birth of Jesus - Capella dei Scrovegni - Padua 2016.jpg|thumb|esquerda|220px|Segundo a tradição, teria sido [[Salomé (Bíblia)|Salomé]] que ajudou Maria no parto de Jesus e que descobriu, assim, que ela teria permanecido virgem.<br><small>Século XIII. [[Afresco]] de [[Giotto]] na [[Capela Scrovegni]], em [[Pádua]], na [[Itália]].</small>]]
A virgindade de Maria na época da concepção de Jesus é um tópico importante na [[arte mariana]], geralmente representado como sendo a [[Anunciação|anunciação a Maria]] pelo [[arcanjo Gabriel]] de que ela iria conceber virginalmente uma criança que seria o [[Filho de Deus]]. [[Afresco]]s representando a cena aparecem em igrejas católicas há muitos séculos,<ref>Annunciation Art, Phaidon Press, 2004, ISBN 0-7148-4447-0</ref>, sendo o mais antigo um exemplo do século IV na [[Catacumba de Priscila]] em Roma.<ref>''The Annunciation to Mary'' by Eugene Laverdiere 2007 ISBN 1-56854-557-6 page 29</ref>.
 
A virgindade de Maria depois da concepção de Jesus aparece também na [[arte cristã]] de tradições ortodoxa e ortodoxa oriental (e também na ocidental) ao incluir nas cenas da [[Nascimento de Jesus|Natividade]] a figura de [[Salomé (Bíblia)|Salomé]], a quem o [[Evangelho de Tiago]] apresenta como a pessoa que descobriu que Maria teria preservado sua virgindade mesmo depois do parto.<ref>''Encyclopedia of Comparative Iconography'' by Helene E. Roberts 1998 ISBN 1-57958-009-2 page 904</ref><ref>''Treasures from the Ark: 1700 Years of Armenian Christian Art'' by Vrej Nersessian 2001 ISBN 0-7123-4699-6 page 167</ref>. Em muitos [[ícone|ícone]]s, a virgindade perpétua de Maria é representada por três estrelas que aparecem à sua esquerda, direita e sobre (ou na) sua cabeça, que representam a virgindade antes, durante e depois do parto.<ref>''Heroes of the icon: people, places, events'' by Steven Bigham 1998 ISBN 1-879038-91-9 page 47</ref><ref>''The icon handbook'' by David Coomler 1995 ISBN 0-87243-210-6 page 203</ref>.
 
== Ver também ==