Anarquismo: diferenças entre revisões

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Alguns autores vêm identificando elementos considerados anarquistas em alguns autores anteriores à segunda metade do {{séc|XIX}}, como por exemplo, [[Lao Zi]], [[Chuang-Tzu]], [[Zenão de Cítio]], [[Diógenes de Sinope]] e os demais [[cinismo|cínicos]], além de [[François Rabelais]], [[Étienne de La Boétie]],{{Sfn|Woodcock|2002a|p=40}} [[William Godwin]]{{Sfn|Pilla Vares|1988|p=20}} e [[Max Stirner]];{{Sfn|Pilla Vares|1988|p=22-23}} também apontam-se elementos do anarquismo em movimentos religiosos como o dos [[anabatista]]s e o dos [[hussitas]],{{Sfn|Woodcock|2002a|p=40}} e em movimentos radicais como o dos ''[[diggers]]'' de [[Gerrard Winstanley]]{{Sfn|Woodcock|2002a|p=48-58}} e o dos ''[[enragés]]'' de [[Jacques Roux]] na [[Revolução Francesa]].{{Sfn|Woodcock|2002a|p=59-64}} O proeminente anarquista russo [[Piotr Kropotkin]], ao buscar pelas origens do anarquismo, procurou encontrá-las não em [[filosofia|filósofos]] isolados, mas sim nas massas populares anônimas.{{Sfn|Woodcock|2002a|p=39}} Kropotkin afirmava que, através dos tempos, sempre houve duas correntes de pensamento e de ação em conflito nas sociedades humanas, sendo elas, de um lado a tendência ao [[apoio mútuo]], exemplificada pelos costumes [[tribo|tribais]], pelas comunidades [[aldeia|aldeãs]], pelas [[guilda]]s medievais e por todas as outras [[instituição|instituições]] que Kropotkin afirmou serem "criadas e mantidas não através de [[lei]]s mas pelo espírito criativo das massas"; e do outro lado, a tendência ao [[autoritarismo]], representada pelas [[elite]]s e [[governo|governantes]].{{Sfn|Woodcock|2002a|p=39-40}} Para Kropotkin, as raízes do anarquismo remontavam aos tempos [[pré-história|pré-históricos]] e, a partir disso, passou a analisar toda a gama de movimentos [[Rebelião|rebeldes]] até os primeiros [[sindicalismo|sindicalistas]] franceses, ao tentar construir a sua história do anarquismo.{{Sfn|Woodcock|2002a|p=40}} Entretanto, novos historiadores do anarquismo têm criticado tais abordagens, consideradas "ahistóricas",{{Sfn|Corrêa|2012|p=8}} e defendem que a ideologia e o movimento anarquista são fenômenos relacionados ao contexto histórico particular da segunda metade do {{séc|XIX}}.{{Sfn|Corrêa|2012|p=10}} Eles também têm argumentado que muitos dos filósofos considerados "pré-anarquistas", tais como Godwin e Stirner, não tiveram qualquer impacto significativo no desenvolvimento do anarquismo, sendo resgatados pelos militantes anarquistas posteriormente, quando o anarquismo já estava bem estabelecido globalmente.{{Sfn|Corrêa|2014|p=149–150}}
[[Imagem:Portrait Pierre-Joseph Proudhon.jpg|thumb|180px|esquerda|O francês [[Pierre-Joseph Proudhon]] é considerado o precursor do anarquismo.]]
O [[socialismo utópico]] de [[Charles Fourier]] influenciou fortemente os primeiros anarquistas, inclusive [[Pierre-Joseph Proudhon]],{{Sfn|Corrêa|2014|p=148}} cujo pensamento teve um impacto significativo entre os trabalhadores do {{séc|XIX}} e constituiu as bases do anarquismo.{{Sfn|Corrêa|2014|p=153}} As teorias econômicas de Proudhon criticavam a [[propriedade privada]], a exploração e interpretavam a sociedade de classes e o processo de [[luta de classes]], afirmando que o "regime proprietário", colocando em oposição as classes sociais, tem, como fundamento, a "exploração do homem pelo homem".{{Sfn|Berthier|2008|p=55}} Juntamente com a sua crítica econômica, Proudhon criticou o Estado e o governo, unindo, numa mesma crítica, desde suas primeiras obras, a propriedade capitalista e o estadismo governamentalista, relacionando o capitalismo, a "exploração do homem pelo homem", e o estadismo, "governo do homem pelo homem".{{Sfn|Bancal|1984|p=175}} Há também em Proudhon a crítica à religião e à [[educação]], que, para ele, atuariam como instrumentos de legitimação do capitalismo e do Estado. Para a solução do que chamou de "problema social", Proudhon propõe o [[mutualismo (economia)|mutualismo]] na economia e o [[Federalismo libertário|federalismo]] na política, de modo que os trabalhadores viessem a se organizar em uma sociedade que se autogerisse economicamente e se autoadministrasse politicamente.{{Sfn|Bancal|1984|p=179}} O mutualismo federalista de Proudhon teria ainda, como objetivo, tornar "o trabalho do povo" e "a sociedade trabalhadora" as forças maiores que inverteriam as "fórmulas atuais da sociedade e envolva o capital e o Estado e os subjugue", de modo que os trabalhadores, organizados de baixo para cima em associações mutuais (agrícolas e industriais de produção, de consumo e de crédito), deveriam "simultaneamente inverter as relações do [[capital (economia)|capital]] e do [[Trabalho (economia)|trabalho]] e inverter as relações do governo e da sociedade".{{Sfn|Bancal|1984|p=182}} Entretanto, há aspectos na obra de Proudhon que o distanciam do anarquismo, tais como posturas ambíguas em relação ao processo [[revolução|revolucionário]], ora defendendo a violência e a revolução social e ora defendendo um processo gradual de mudança através de cooperativas mutualistas; ao próprio Estado, que em alguns momentos é duramente criticado e em outros considera-se a sua existência, ainda que de maneira descentralizada;{{Sfn|Corrêa|2014|p=155}} além de ter sustentado, em alguns momentos, conciliações entre a [[burguesia]] e o [[proletariado]].{{Sfn|Berthier|2008|p=85-86}} Entretanto, a crítica da dominação e a defesa da autogestão, além de sua ênfase na organização autogestionária e federalista dos trabalhadores, constituíram as bases do anarquismo, que surge no seio da [[Associação Internacional dos Trabalhadores]] (AIT) no final da década de 1860, com a radicalização do mutualismo proudhoniano.<ref name=corr21b />
 
===A Associação Internacional dos Trabalhadores, surgimento e desenvolvimento===