Império Bizantino: diferenças entre revisões

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Seu sucessor, [[Marciano]] {{nwrap|r.|450|457}}, recusou continuar pagando a quantia anteriormente estipulada, pois considerava-a elevada.{{sfn|Treadgold|1995|p=193}} À época, no entanto, [[Átila]] {{nwrap|r.|434|453}} já havia desviado sua atenção para o [[Império Romano do Ocidente]]. Após a morte de Átila, o [[Império Huno]] se desmoronou e Constantinopla iniciou um relacionamento profícuo com os hunos restantes, que acabaram lutando como mercenários do [[exército bizantino|exército]].{{sfn|Alemany|2000|p=207}}{{sfn|Treadgold|1997|p=184}}{{sfn|Bayless|1976|p=176–177}} Com o fim da ameaça huna, o Império do Oriente viveu um período de paz, enquanto o Império do Ocidente continuou seu lento declínio em decorrência da [[Migrações dos povos bárbaros|expansão dos povos germânicos]]: por esta altura muitos de seus antigos territórios já haviam sido perdidos, terminando por ser completamente conquistado em 476 pelo oficial de origem germânica [[Odoacro]], que forçou o [[imperador romano do Ocidente|imperador]] [[Rômulo Augusto]] {{nwrap|r.|475|476}} a abdicar.{{sfn|Cameron|2009|p=52}}{{sfn|Salles|2008|p=319}}
 
Em 480, o imperador {{lknb|Zenão|I}} {{nwrap|r.|474|491}} aboliu a divisão do império, tonando-se imperador único. Odoacro {{nwrap|r.|476|493}}, agora governando a [[península Itálica|Itália]] como rei, foi nominalmente subordinado de Zenão, mas atuou com completa autonomia e acabou por apoiar uma rebelião contra o imperador.{{sfn|name=Burns87|Burns|1991|p=65, 76–77, 86–87}} Para recuperar a Itália, Zenão negociou a reconquista com o [[rei ostrogótico]] da [[Mésia]], {{lknb|Teodorico,|o Grande}} {{nwrap|r.|474|526}}, a quem enviou como [[mestre dos soldados da Itália]], a fim de depor Odoacro. Ele foi assassinado por Teodorico durante um banquete em 493 e Teodorico fundou o [[Reino Ostrogótico]], do qual tornou-se rei {{nwrap||493|526}},{{sfn|Wolfram|1990|p=283}} embora nunca tenha sido reconhecido como tal pelos imperadores orientais.<ref name=Burns87 /> Em 491, {{lknb|Anastácio|I|Dicoro}} {{nwrap|r.|491|518}}, um oficial civil de origem romana, tornou-se imperador. No âmbito militar foi bem sucedido em suprimir, em 497, uma [[Guerra Isaura|revolta isaura]] que havia eclodido em 492,{{sfn|Lenski|1999|p=428–429}} bem como numa [[Guerra Anastácia|guerra]] contra o [[Império Sassânida]]. Atualmente desconhecem-se os termos do tratado de paz que terminou este último conflito.{{sfn|Procópio de Cesareia|século VI552|loc=I.9.24}}{{sfn|Greatrex|2002|p=77}} No âmbito administrativo mostrou-se um reformador enérgico e um administrador competente — aperfeiçoou o sistema de cunhagem de Constantino, através do estabelecimento definitivo do peso do ''[[follis]]'', a moeda utilizada na maioria das transações diárias,{{sfn|Grierson|1999|p=17}} e reformou o sistema tributário, abolindo permanentemente o imposto [[Crisárgiro]]. O Tesouro do Estado dispunha da enorme quantia de {{fmtn|150000|quilos}} de ouro quando ele morreu em 518.{{sfn|Postan|1987|p=140}}
 
=== Reconquista das províncias ocidentais ===
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Em 527, [[Justiniano]] {{nwrap|r.|527|565}}, sobrinho de {{lknb|Justino|I}} {{nwrap|r.|518|527}}, assume o trono.{{sfn|Meier|2003|p=290}} Em 529, uma comissão de dez homens sob [[João da Capadócia]] e [[Triboniano]] revisou o [[Direito romano|código legal romano]] e criou nova [[Código de Justiniano|codificação]] de leis e extratos de juristas; em 534, o código foi atualizado e, juntamente com as {{ilc|Novelas|Novelas de Justiniano|Novellae Constitutiones}} (decretos promulgados pelo imperador até 534), formou o sistema legal usado durante a maior parte do período bizantino.{{sfn|Gregory|2010|p=150}} Em 532, com a morte do [[xá sassânida|xá]] {{lknb|Cavades|I}} (r. 488–496; 499–531), Justiniano firmou a chamada [[Paz Eterna (532)|Paz Eterna]] com o seu filho e sucessor, {{lknb|Cosroes|I}} {{nwrap|r.|531|579}}, concluindo assim a [[Guerra Ibérica]] que havia sido iniciada em 526.{{sfn|Greatrex|2002|p=96-97}} No mesmo ano, o imperador sobreviveu a uma revolta em Constantinopla (a [[Revolta de Nika]]), que terminou com a morte de cerca de 30 a 35 mil revoltosos.{{sfn|Gregory|2010|p=137}}{{sfn|Meier|2003|p=297–300}} Esta vitória consolidou o poder de Justiniano.{{sfn|name=Ev1998|Evans|1998}} No rescaldo do evento, o imperador empreendeu um extenso programa de reparação e ampliação dos edifícios danificados, entre os quais o mais famoso, a [[Basílica de Santa Sofia]], perdura até a atualidade como um dos principais monumentos da [[arquitetura bizantina]].{{sfn|Cameron|2009|p=113, 128}}
 
Seu reinado foi caracterizado por uma série de guerras contra os poderes germânicos que culminaria na reconquista de vastas porções do então findado [[Império Romano do Ocidente]]. Este período de reconquistas se iniciou em 533, quando o general [[Belisário]] foi enviado para recuperar a [[Província romana|província]] da [[África Proconsular]] dos [[vândalos]], que controlavam-a desde 429.{{sfn|Gregory|2010|p=145}} A [[Guerra Vândala]] acabou em 534, mas a província só foi efetivamente tomada em 548,{{sfn|Evans|2005|p=XXV}} por [[João Troglita]], pois eclodiram várias rebeliões no exército e entre as tribos [[berberes]] que residiam na região.<ref name=Ev1998 />{{sfn|Martindale|1992|p=648-649}}{sfn|Diehl|1896|p=378-380}} Na Itália, aproveitando-se do assassinato da rainha [[Amalasunta]] por [[Teodato]] {{nwrap|r.|534|536}}, {{sfn|Procópio de Cesareia|século VI552|loc=I.4}} Justiniano lançou duas expedições contra o [[Reino Ostrogótico]], uma na [[Sicília]], sob Belisário, e outra na [[Dalmácia]], comandada por [[Mundo (general)|Mundo]],{{sfn|Procópio de Cesareia|século VI552|loc=I.V.12-4}} o que deu início à chamada [[Guerra Gótica (535–554)|Guerra Gótica]]. Os bizantinos conquistaram gradualmente os territórios ostrogodos, capturando as cidades de [[Ravena]], [[Nápoles]] e [[Roma]].{{sfn|Bury|1923|p=180-216}}{{sfn|Evans|2005|p=XXVI; 76}} Em 549, Belisário, que estava em Ravena, foi convocado para Constantinopla{{sfn|Bury|1923|p=236-258}}{{sfn|Evans|2005|p=XXV}} e em seu lugar foi colocado o [[eunuco]] [[Armênia persa|armênio]] [[Narses]], que chegou na Itália no final de 551. Sob o comando de Narses, os bizantinos conseguiram vitórias decisivas contra os [[rei ostrogótico|reis]] [[Totila]] {{nwrap|r.|541|552}} e [[Teia (rei)|Teia]] {{nwrap|r.|552|553}} que concluíram a guerra, embora os ostrogodos permanecessem resistentes ao domínio imperial por algum tempo.{{sfn|Bury|1923|p=259-281}}{{sfn|Evans|2005|p=93}} Em 551, quando a Guerra Gótica ainda decorria, [[Atanagildo]], um nobre [[visigodos|visigodo]] do [[Reino Visigótico]], procurou a ajuda de Justiniano numa rebelião contra o rei {{lknb|Ágila|I}} {{nwrap|r.|549|551}}, que enviou uma força sob [[Libério]]. O Império Bizantino manteve uma faixa no sul da [[Hispânia]], que ficou conhecida como [[província da Espânia]], até o reinado de [[Heráclio]] {{nwrap|r.|610|641}}.{{sfn|Bury|1923|p=286-288}}{{sfn|Evans|2005|p=11}}
 
Em 541, quando Justiniano estava empenhado em suas campanhas ocidentais, Cosroes&nbsp;I resolveu quebrar a Paz Eterna e declarar guerra. A chamada [[Guerra Lázica]] começou com inúmeras escaramuças e cercos na frente [[Mesopotâmia|mesopotâmica]], sendo transferida, a partir de 548, à [[Lázica]] por influência do rei local {{lknb|Gubazes|II}} {{nwrap|r.|541|555}}, arrastando-se até 561, quando concluiu-se a chamada [[Paz de 50 anos]].{{notaNT|Na "[[Paz de 50 anos]]" foi acordado, entre outras coisas, a não construção de fortalezas nas fronteiras, o alívio das restrições diplomáticos e econômicas<ref name=Ev1998 /> e o pagamento anual bizantino de {{fmtn|30000}} [[Soldo (moeda)|soldos]] aos sassânidas.{{sfn|Greatrex|2005|p=489}}{{sfn|Menandro Protetor|século VI|loc=VI.1}}}}{{sfn|Greatrex|2002|p=113}} Em meados dos anos 550, Justiniano obteve vitórias na maioria dos teatros de operação, com a notável exceção dos [[Bálcãs]], que foram submetidos a repetidas incursões dos [[esclavenos]] e [[gépidas]]; depois, sob Heráclio, tribos [[Sérvios|sérvias]] e [[croatas]] foram reassentadas no nordeste dos Bálcãs.{{sfn|Bury|1923|p=V-VI}} Em 559, o Império Bizantino enfrentou uma grande invasão dos [[cutrigures]] liderada por [[Zabergan]]. Justiniano chamou o seu general Belisário de seu retiro e, com a liderança deste, os hunos foram derrotados. O reforço das frotas do [[rio Danúbio]] provocou a retirada dos cutrigures, que concordaram num tratado que permitiu a passagem segura para o outro lado do Danúbio.{{sfn|Evans|2005|p=11, 56–62}}{{sfn|Sarantis|2009|loc=passim}}
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{{AP|Arte bizantina|Arquitetura bizantina|Literatura bizantina|Dança bizantina|Música bizantina}}
 
[[Imagem:Diptych Barberini Louvre OA3850.JPG|thumb|esquerda|upright=0.9|[[Díptico Barberini]], no qual há acom representação de um imperador, possivelmentetalvez {{lknb|Anastácio|I |Dicoro}} ou {{lknb|[[Justiniano|I}}]]]]
[[Imagem:Byzantine Lyra Museo Nazionale.jpg|thumb|esquerda|upright=0.9|Representação mais antiga conhecida de uma [[lira bizantina]] num estojo de [[marfim]], {{ca.|{{nowrap|900-1100}}}}, [[Museu Nacional do Bargello]], [[Florença]]]]
 
A arte bizantina é quase inteiramente centrada com ana expressão religiosa e, mais especificamentenotadamente, com ana tradução impessoal da [[teologia]] da igrejaIgreja cuidadosamente controlada em termos artísticos. Foi amplamentemuito influenciada pela [[Arte e cultura clássicas|arte]] da [[Antiguidade Clássica]] e pela inclinação alegóricaalegoria oriental, mantendo, a despeito da influência oriental, uma forte uniformidade da tradição clássica ao longo de toda sua história. A partir do {{séc|VI}} a arte bizantina começou a distanciar-se da produzida nas regiões antesdo pertencentes aoantigo [[Império Romano do Ocidente|Império do OcidenteOcidental]]. Alcançou seu [[Renascença macedónica|apogeu]] durantesob a [[dinastia macedônica]] {{nwrap|r.|886|1056}} e declinou definitivamente com a [[quedaQueda de Constantinopla]] em 1453.{{sfn|name=Gie1913|Gietmann|1913}} Foi altamentemuito prestigiosa e procurada na Europa Ocidental, onde manteve umamantendo influência contínua na arte medieval até próximoperto do final do período; tal foi especialmenteera o caso na [[Península Itálica|Itália]], onde estilosseus bizantinosestilos persistiram de forma modificada ao longo do {{séc|XII}} e tornaram-se influências formativas na [[Renascença italiana|arte renascentista italiana]]. AtravésCom daa expansão da Igreja Ortodoxa, assuas formas e estilos bizantinos espalharam-se para todo o mundo ortodoxo e para além dele.{{sfn|Weitzmann|1981|loc=cáps. II-VII}}{{sfn|Rice|1968|loc=cap. XV-XVII}}{{sfn|Evans|1997|p=389-555}}
 
Devido à existência deas importantes jazidas de [[mármore]] napróximo proximidade daa capital, desenvolveu-se no Império Bizantino, e mais notadamentesobretudo na [[Ásia Menor]], uma forte tradição artística de trabalho em pedra. Desde a Antiguidade que o Oriente teve uma tradição na produção de artes menores{{notaNT|Por arte menor identifica-se toda produção artística diferente de arquitetura, pintura, escultura, desenho e gravura.<ref name=Minor />}} que acabou sendofoi mantida pelos bizantinos. Em Constantinopla floresceram, a par da escultura decorativa, os trabalhos com pedra, metal (como [[bronze]] ornamental), [[marfim]], [[esmalte]] e [[tecelagem]]; além destesdesses, destaca-se na arte bizantina a pintura em [[afresco]], [[manuscrito]]s [[Iluminura|iluminados]], [[mosaico]]s e painéis.<ref name=Gie1913 /> Na [[arquitetura bizantina|arquitetura]], outra área de grande florescimento, nota-se uma tradição de construção geralmente associada com a história do [[Império Romano Tardio]] e do próprio Império Bizantino, que estendeu-se com maior esfera de influência no período que decorre entre {{ca.|300}} e {{ca.|1450|nl}} e que desafiou uma definição convencional compreensiva sobre bases geográficas, culturais, cronológicas e estilísticas.{{sfn|Kazhdan|1991|p=157}}
 
A literatura bizantina tem influências de quatro elementos culturais: grego, romano, cristão e oriental. Os seusSeus autores são frequentementecomumente classificados em cinco grupos: historiadores e analistas, enciclopedistas ([[Fócio]], [[Miguel Pselo]] e [[Nicetas Coniates]] são consideradostidos oscomo maiores enciclopedistas de Bizâncio) e [[Ensaio|ensaístas]], escritores de [[poesia]] secular (asua única obra [[Épico (género)|épica]] genuína dos bizantinos é ''[[Digenis Acritas]]''), escritores de poesia popular e literatos eclesiásticos.{{sfn|Mango|2007|p=275-276}} Dos cerca de três mil{{fmtn|3000}} volumes daliterários literatura bizantina que sobreviveramsobreviventes, apenas trezentos330 e trinta consistem desão poesia secular, história, ciência e [[pseudociência]].{{sfn|Mango|2007|p=233–234}} Na literatura religiosa bizantina ([[Sermão|sermões]], livros [[Liturgia|litúrgicos]] e poesia, teologia, tratados devocionais etc.), {{lknb|Romano,|o Melodista}} foi seu representanteo mais proeminente.{{sfn|Dieterich|1913}}
 
O [[teatro]] foi repudiado no mundo bizantino, sendo considerado a personificação da imoralidade pelos eruditos da Igreja. Foi completamente banido pela Igreja no final do {{séc|VII}}, com a palavra ''theatron'' passando a denotar osdenotando espetáculos do [[Hipódromo de Constantinopla]] ou círculos literários onde trabalhos [[Retórica|retóricos]] eram lidos em voz alta. Todavia, elementos teatrais sobreviveram tanto no cerimonial imperial comoe em festividades populares, nas quais participavam [[Mímica|mímicos]], bobos, músicos, dançarinos, etc. Na literatura foram produzidas peças para leitura e na liturgia encontram-se várias características teatrais.{{sfn|Kazhdan|1991|p=2031}} A [[dança bizantina|dança]] também foi mal vista pelos eruditos da Igreja, porém, tal como o teatro, sobreviveu ao período. Estava presente no cerimonial cortesão, principalmente nos festivais das [[Calendas]] e da [[Brumália]], e foi por inúmeras vezes mencionada em obras literárias bizantinas como em ''Digenis Acritas''.{{sfn|Kazhdan|1991|p=582}}
 
No caso da [[Música bizantina|música]], para além das aclamações, nenhuma obra não ligada às liturgias sobreviveu. Embora a música secular tenhaé sidocitada mencionada inúmerasvárias vezes pelospor autores cristãos e historiadores, o gênero, estilo e forma são desconhecidosincertas, sendo que, por este motivo, os historiadoresautores modernos considerem como "música bizantina" todo cântico sagrado medieval que seguiu o rito Ortodoxo Oriental e um certo grupo dealguns cânticos cerimoniais em honra ao imperador, a família imperial e altos dignitários da Igreja Ortodoxa.{{sfn|Kazhdan|1991|p=1425}} A pouca informação preservada sobre [[Instrumento musical|instrumentos musicais]] também é um problema. O seu número, tipo e função não está completamente compreendido e, embora alguns nomes tenham sido preservados nosem textos contemporâneos, é muito difícil associá-los claramente com as representações pictóricas e/ou escultóricas remanescentes.{{sfn|Kazhdan|1991|p=1426}}
 
== Conhecimento ==
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<ref name=Late>{{Citar web|url=http://www.fhw.gr/chronos/10/en/|título=Late byzantine period (1204-1453)}}</ref>
 
<ref name=Minor>{{citar web|url=http://dictionary.reference.com/browse/minor+arts|título=Minor arts|acessodata=25-09-2013|língua=en}}</ref>
 
<ref name=ByzEdu>{{citar enciclopédia|título=Byzantine Education|enciclopédia=Encyclopædia Britannica}}</ref>