História de Roma: diferenças entre revisões

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|volume=1
|isbn=84-7838-740-4}}</ref>
Durante os seus doze séculos de existência, a civilização romana transitou da [[Reino de Roma|monarquia]] para uma [[República Romana|república]] [[oligarquia|oligárquica]] até se tornar um vasto [[Império Romano|império]] que dominou a [[Europa Ocidental]] e ao redor de todo o [[mar Mediterrâneo]] através da [[Romanização|conquista]] e assimilação cultural. No entanto, um rol de factores sócio-políticos iria agravando o [[Queda do Império Romano|seu declínio]], e o império seria dividido em dois. A [[Império Romano do Ocidente|metade ocidental]], onde estavam incluídas a [[Hispânia]], a [[Gália]] e a [[Itália (província romana)|Itália]], entrou em colapso definitivo no {{séc|V}} e deu origem a vários reinos independentes; a metade oriental, governada a partir de [[Constantinopla]] passou a ser referida como [[Império Bizantino]] a partir de {{DC|476|x}}, data tradicional da queda de Roma e aproveitada pela [[historiografia]] para demarcar o início da [[Idade Média]].
 
=== Origem ===
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Roma cresceu com a sedentarização dos povos no [[Palatino|monte Palatino]] até outras colinas a oito milhas do [[mar Tirreno]], na margem Sul do [[rio Tibre]]. Outra destas colinas, o [[Monte Quirinal|Quirinal]], terá sido, provavelmente, um entreposto para outro povo itálico, os [[Sabinos]]. Nesta zona, o Tibre esboça uma curva em forma de "Z" contendo uma ilha que permite a sua travessia. Assim, Roma estava no cruzamento entre o vale do rio e os comerciantes que viajavam de Norte a Sul pelo lado ocidental da península.
 
A data tradicional da [[Fundação de Roma|fundação]] (21 de abril de {{AC|753|x}}<ref name=JANNUZZI/>) foi convencionada bem mais tarde, no final da [[República Romana|República]] por [[Públio Terêncio Varrão]],<ref name="Grandes Impérios"/> atribuindo uma duração de 35 anos a cada uma das sete gerações correspondentes aos [[Lista de reis de Roma|sete mitológicos reis]]. Foram, no entanto, descobertas peças arqueológicas que indicam que a área de Roma poderá já ter estado habitada tão cedo quanto {{AC|1400|x}}. Estas descobertas arqueológicas também confirmaram que no {{-séc|VIII}}, na área da futura Roma, houve duas povoações fortificadas, os ''Rumi'', no monte Palatino, e os ''Titientes'', no Quirinal, e, mais a Norte, os ''Luceres'', que viviam nos bosques. Eram estas apenas três das numerosas comunidades itálicas que existiram no {{AC|primeiro milénio|x}} na região do [[Lácio]], uma planície na [[península Itálica]]. No entanto, desconhecem-se as origens destes povos, embora se admita que possam descender dos [[indo-europeus]] que migraram do Norte dos Alpes na segunda metade do {{AC|segundo milénio a.C.|x}}, ou de uma eventual mistura destes povos com outros povos mediterrânicos, talvez do [[Norte de África]].
 
No {{-séc|VIII}}, os itálicos — [[Latinos]] (a Oeste), [[Sabinos]] (no vale superior do Tibre), [[Úmbrios]] (no nordeste), [[Samnito|Samnitas]] (no Sul), Oscos e outros — partilhavam a península com outros grandes grupos étnicos: os [[Etruscos]] do Norte e os [[Gregos]] do Sul.
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Por esta altura, Roma era uma cidade subsidiada, com cerca de 15 a 25 porcento do abastecimento de cereais sendo pagos pelo governo. O comércio e a indústria desempenhavam um papel menos significante quando comparado com os de outras grandes cidades como [[Alexandria]], mas assim mesmo era uma grande metrópole e o maior centro comercial e industrial do mundo, por isso ela tinha uma dependência de outras regiões do império para obter géneros primários e matérias primas. Para pagar os subsídios de cereais, foram introduzidos impostos na vida dos cidadãos das províncias. Se assim não fosse, Roma seria significativamente menor.
 
A população de Roma entrou em declínio logo após o seu pico, no início do {{séc|II}}. No final desse século, durante o reinado de [[Marco Aurélio]], uma praga devastaria os cidadãos a uma taxa de cerca de {{fmtn|2000}} por dia. Quando, em {{DC|273|x}}, a [[muralha Aureliana]] foi concluída, apenas restava uma fracção desse máximo da população de Roma: cerca de {{fmtn|500000}}.
 
Um evento historiograficamente designado de [[crise do terceiro século]] delineia os desastres e problemas políticos do império, que praticamente entrava em colapso. O medo e a ameaça das [[invasões bárbaras]] esteve patente na decisão do [[Lista de imperadores romanos|imperador]] [[Aureliano]] que, em {{DC|273|x}}, terminou a circunscrição da cidade com a maciça [[muralha Aureliana]], cujo perímetro rondava os 20 quilómetros. Roma permanecia a capital do [[Império Romano|Império]], embora os imperadores aí permanecessem cada vez menos tempo. No final das reformas políticas de [[Diocleciano]], no {{séc|III}}, Roma seria privada do seu tradicional papel de capital administrativa do império. Mais tarde, os [[Império Romano do Ocidente|imperadores do Ocidente]] iriam governar o império a partir de [[Mediolano]] (atual [[Milão]]) ou [[Ravena]], ou cidades na [[Gália]] e, em {{DC|330|x}}, [[Constantino I]] estabeleceu a segunda capital em [[Constantinopla]]. Por esta altura, parte da [[aristocracia|classe aristocrática]] romana transferia-se para o novo centro, seguida por muitos dos artistas e homens-de-ofício que viviam na cidade.
 
[[Imagem:Arco di Gallieno.jpg|thumb|upright=1.0|esquerda|O [[Arco de Galiano]], um dos poucos monumentos que restam da [[Roma Antiga]] do {{séc|III}}, servia de porta na [[muralha Serviana]]. Os dois portões laterais foram destruídos em 1447.]]
No entanto, o [[Senado romano|senado]], agora desprovido da sua influência política de outrora, preservava o seu prestígio social. Em {{DC|380|x}}, os dois [[augusto (título)|augustos]] ([[Teodósio I]] no Oriente e [[Graciano]] no Ocidente) declararam reconhecer como única religião no império "a fé que a [[Igreja Romana]] havia recebido de São Pedro"<ref>{{Citar livro
|autor=GAETA, Franco; VILLANI, Pasquale
|título=Corso di Storia
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|páginas=323
|volume=1
|ID=}}</ref> A conversão do império ao [[cristianismo]] transformou o [[Bispo de Roma]] (mais tarde designado [[papa]]) na figura religiosa de maior relevo do [[Império Romano do Ocidente|Império Ocidental]], como declarado oficialmente em {{DC|380|x}}, no [[Édito de Tessalónica]]. Apesar do seu papel cada vez mais passivo no império, Roma conseguiu preservar o seu prestígio histórico, e este período assistiria à última vaga de actividades edificadoras: o predecessor de Constantino, [[Magêncio]], construiu notáveis edifícios, como a [[Basílica de Constantino|basílica]] no [[Fórum Romano]], o próprio Constantino erigiu o seu famoso [[Arco de Constantino|arco]] para celebrar a vitória contra o primeiro, e [[Diocleciano]] construiria as maiores [[Termas de Diocleciano|termas]] de todas as existentes. Constantino tornou-se também no primeiro padroeiro de edifícios oficiais cristãos na cidade; doou ao papa o [[Palácio de Latrão]] e construiu a primeira grande basílica, a antiga [[Basílica de São Pedro]].
 
Roma permanecia, contudo, um estandarte do [[paganismo]], dirigida por aristocratas e senadores. Quando os [[Visigodos]] surgiram perto das muralhas em {{AC|408|x}}, o senado e o prefeito propuseram sacrifícios pagãos, e tudo indica que inclusive o papa estaria de acordo, se isso pudesse salvar a cidade. Ainda assim, nem as novas muralhas impediram que a cidade fosse saqueada, primeiro pelo visigodo [[Alarico I|Alarico]] a 24 de agosto de {{DC|410|x}}, e depois pelo [[vândalos|vândalo]] [[Genserico]] em {{AC|455|x}} e, mais tarde ainda, pelas tropas do general [[Ricímero]] (na maioria compostas por bárbaros) a 11 de julho de {{DC|472|x}}. Os saques da cidade, inéditos desde os tempos de [[Breno (século IV a.C.)|Breno]], alarmaram toda a civilização romana: a queda de Roma significava o derrube definitivo da ordem antiga. Muitos habitantes fugiram e, no final do século, a população de Roma caía para cerca de {{fmtn|30000}}.<ref name=JANNUZZI/>
 
[[Imagem:Map of downtown Rome during the Roman Empire large.png|thumb|upright=1.5|Planta da cidade durante o [[Império Romano]].]]
Ainda assim, o prejuízo dos saques terá sido provavelmente exagerado na historiografia da época. A cidade encontrava-se já em declínio, e muitos dos monumentos teriam já sido destruídos pelos próprios habitantes, que roubavam rochas dos templos, edifícios públicos e estátuas próximas para o seu propósito pessoal — é mesmo frequente encontrar nos dias de hoje estátuas e pedaços arqueológicos utilizados em casas habitacionais por toda a cidade. Além disso, muitas das [[Lista de igrejas de Roma|igrejas]] teriam sido também construídas desta forma. Por exemplo, a primeira [[basílica de São Pedro]] foi erigida usando partes do [[Circo de Nero]], abandonado. Esta atitude foi uma característica constante de Roma até ao [[Renascimento]]. A partir do {{séc|IV}}, eram comuns os éditos imperiais contra o roubo de pedras e, especialmente, do [[mármore]] - a sua própria repetição mostra o quão inefectivos seriam. Em algumas ocasiões, novas igrejas foram criadas directamente a partir de templos pagãos, provavelmente transformando um deus ou herói pagão para o correspondente [[santo]] ou [[mártir]] do cristianismo. Foi assim que o [[Templo de Rómulo e Remo]] se tornou a basílica dos santos gémeos [[Cosme e Damião]]. Mais tarde, o [[Panteão (Roma)|Panteão]], "Templo de Todos os Deuses", se tornaria a Igreja de Todos os Mártires.
 
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| caption3 = A antiga [[basílica de São Lourenço Fora de Muros]] foi construída directamente sobre a tumba do [[mártir]] romano favorito
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Em {{DC|476|x}}, o último [[Império Romano do Ocidente|imperador do Ocidente]], [[Rómulo Augusto]], que vinha sendo manipulado (como a maioria dos imperadores neste período) pelo pai, o general [[Flávio Orestes]], foi deposto pelas tropas bárbaras lideradas por [[Odoacro]] e exilado no [[Castelo do Ovo]], em [[Nápoles]]. A [[Queda do Império Romano|queda do Império Romano do Ocidente]] teria, no entanto, pouco impacto em Roma. Odoacro, e mais tarde os [[Ostrogodos]], continuariam a governar a Itália a partir de [[Ravena]]. Entretanto, o senado, apesar de desprovido da sua grande influência há muito tempo, continuaria a dirigir Roma, com o papa provindo geralmente de uma família senatorial. Esta situação manter-se-ia até as forças do [[Império Bizantino|Império Romano do Oriente]], encabeçadas por [[Belisário]] a mando de [[Justiniano I]], capturarem a cidade em {{DC|536|x}}.
 
Em 17 de dezembro de {{DC|546|x}}, os Ostrogodos de [[Totila]] recapturaram a cidade e novamente a saquearam. Belisário recapturou a cidade, para a perder novamente em {{DC|549|x}}. Belisário foi substituído por [[Narses]], que capturou Roma definitivamente em {{DC|552|x}}, terminando a [[Guerra Gótica (535–554)|Guerra Gótica]] que arrasou a [[península Itálica]]. A contínua guerra em redor de Roma entre as décadas de 530 e 540 deixaram-na praticamente abandonada e desolada. Os [[Lista de aquedutos de Roma|aquedutos]] não foram mais reparados, conduzindo a uma redução da população para cerca de {{fmtn|30000}}<ref name=JANNUZZI/>, concentrados nas margens do [[rio Tibre]], na zona do [[Campo de Marte (Roma)|Campo de Marte]], abandonando as zonas sem abastecimento de água. Existe mesmo uma lenda que fala de um momento em que Roma estaria completamente inabitada.{{carece de fontes|data=abril de 2017}}
 
O [[Lista de imperadores bizantinos|Imperador Romano do Oriente]] [[Justiniano I]] (r. {{DCnwrap|r.|527|x}} – {{DC|565|x}}) tentou, ainda assim, garantir subsídios a Roma para a manutenção dos edifícios públicos, [[Lista de aquedutos de Roma|aquedutos]] e [[Lista de pontes de Roma|pontes]], embora sem grande sucesso, já que toda a península da Itália estava dramaticamente empobrecida pelas recentes guerras. Transformou-se também no padroeiro dos estudiosos, oradores, físicos e magistrados que restavam, na esperança de que os mais novos procurassem uma melhor educação. Após as guerras, as estruturas do Senado foram restabelecidas sob a supervisão de um [[prefeito]] e outros oficiais designados e responsabilizados pelas autoridades romanas (bizantinas) em Ravena.
 
No entanto, o papa tornara-se um dos ícones religiosos em todo o [[Império Bizantino]] e, efectivamente, mais poderoso localmente que os senadores ou quaisquer outros oficiais bizantinos. Na prática, o poder local de Roma recaía sobre o ṕapa e, ao longo das próximas décadas, o poder aristocrático senatorial, bem como a administração bizantina de Roma, iriam ser absorvidos pela [[Igreja Católica]].
 
O reinado do sobrinho e sucessor de Justiniano, [[Justino II]] (r. {{DClknb|565Justino|xII}} {{DCnwrap|r.|565|578|x}}) ficou marcado pela [[invasões bárbaras|invasão]] dos [[Lombardos]] liderados por [[Alboíno]] ({{DC|568|x}}). Com a captura das regiões de [[Benevento]], [[Lombardia]], [[Piemonte]], [[Espoleto]] e [[Toscana]], os invasores restringiram efectivamente a autoridade imperial a pequenas porções de terra ao redor de cidades costeiras, incluindo Ravena, [[Nápoles]], [[Roma]] e a área da futura [[Veneza]]. A única porção ainda sob domínio bizantino era [[Perúgia]], que permitia a ligação, repetidamente assediada, entre Roma e Ravena. Em {{DC|578|x}}, e novamente em {{DC|580|x}}, o senado, nas suas últimas intervenções de que há registo, foi obrigado a recorrer ao auxílio de [[Tibério II]] (r. {{DClknb|578Tibério|xII}} {{DCnwrap|r.|578|582|x}}) contra os duques que se aproximavam, [[Faroaldo I de Espoleto]] e [[Ducado de Benevento|Zoto de Benevento]].
 
[[Maurício I]] (r. {{DCnwrap|r.|582|x}} – {{DC|602|x}}) iria inserir um novo facto no contínuo conflito estabelecendo uma [[Aliança (acordo)|aliança]] com [[ChildebertoQuildeberto II]] da [[Austrásia]] (r. {{DCnwrap|r.|575|x}} – {{DC|595|x}}. Os exércitos do [[Lista de reis merovíngios|rei dos francos]] invadiram os territórios da Lombardia em {{DC|584|x}},{{DC| 585|x}}, {{DC|588|x}} e {{DC|590|x}} e, no ano anterior, Roma tinha já sofrido uma desastrosa inundação do [[rio Tibre]], seguida de uma praga de [[peste negra]] em {{DC|590|x}} — esta última tornou-se famosa pela lenda associada à [[procissão]] do novo papa, [[Papa Gregório I|Gregório I]] ({{DCnwrap|r.|590|x}} –{{DC|604|x}}), pelas [[Castelo de Santo Ângelo|Tumbas de Adriano]], que fala de um anjo que surgiu sobre o edifício investindo a sua espada flamejante, como sinal de que a pestilência iria terminar. A partir deste ano a cidade manteve-se finalmente a salvo.
 
Entretanto, [[Agilolfo]], o novo rei lombardo (r. {{DCnwrap|r.|591|x}} – c. {{DC|616|x}}) conseguiu assegurar a paz com ChildebertoQuildeberto II, reorganizou os seus territórios e prosseguiu os ataques a Nápoles e Roma em 592. Com o imperador ocupado com as guerras nas fronteiras orientais e os sucessivos [[exarca]]s , incapazes de defender Roma das invasões, Gregório tomou a iniciativa de iniciar as negociações para um [[tratado de paz]], que seria conseguido no Outono de {{DC|598|x}} — embora só mais tarde reconhecido por Maurício — durando até ao final do seu reinado.
 
A posição do papa ver-se-ia fortalecida pelo usurpador [[Focas]] (r. {{DCnwrap|r.|602|x}} – {{DC|610|x}}). Focas reconheceu a sua primazia sobre o [[Patriarca de Constantinopla]] e chegou mesmo a decretar o papa [[Papa Bonifácio III|Bonifácio III]] ({{DC|607|x}}) como "representante de todas as Igrejas". Foi no reinado de Focas que se assistiu à erecção do último monumento imperial do [[Fórum Romano]], a [[Coluna de Focas|coluna]] que ostentava o seu nome. Também doou ao papa o [[Panteão de Roma|Panteão]], já encerrado fazia séculos, o que provavelmente o salvou da destruição.
 
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}}
 
Durante o {{séc|VII}}, um influxo de oficiais bizantinos e religiosos de outras partes do império culminou numa presença dominante da [[língua grega|língua]] e aristocracia grega. No entanto, esta forte influência cultural bizantina nem sempre se traduziu em harmonia política entre Roma e Constantinopla. Na controvérsia sobre o [[monotelismo]], os papas sentiram a grande pressão (chegando mesmo a traduzir-se fisicamente) por não conseguirem acompanhar as alterações nas orientações teológicas de Constantinopla. Em {{DC|653|x}}, o papa [[Papa Martinho I|Martinho I|]] seria deportado para Constantinopla e, logo após um breve julgamento, exilado para a [[Crimeia]], onde faleceu.
 
Pouco depois, em {{DC|663|x}}, Roma recebia a sua primeira visita imperial dos últimos dois séculos, por [[Constâncio II]] - o seu pior infortúnio desde as [[Guerras Gálicas]], já que o imperador tratou de retirar os metais que existiam na cidade, incluindo aqueles dos edifícios e estátuas, para disponibilizá-los para a construção de armamento para as lutas contra os [[Sarracenos]]. Contudo, durante a metade seguinte do século, e apesar das tensões várias vividas, Roma e o Papado continuaram a preferir a regência bizantina - em parte porque a alternativa seria a dominação [[Lombardos|lombarda]] e, por outro lado, porque a maioria dos alimentos trazidos para Roma provinham de estados papais de outras partes do império, particularmente da Sicília.
 
Em {{DC|727|x}}, o papa [[Papa Gregório II|Gregório II]] recusou aceitar os decretos do imperador {{Lknb|Leão|III, o Isauro}}, estabelecendo a [[iconoclastia]]. A reacção inicial de Leão foi de tentar raptar o [[Pontífice]], em vão, mas mais tarde mandaria uma força de tropas [[Bizantinas]], sob o comando do exarca Paulo, que seriam contidas pelos [[Lombardos]] de [[Tuscia]] e [[Benevento]]. A 1 de novembro de {{DC|731|x}}, foi convocado por Gregório III um [[concílio de Roma (731)|sínodo em Roma]] para excomungar os iconoclastas, cuja resposta do imperador foi a confiscação de grandes porções de territórios papais na [[Sicília]] e [[Calábria]] e a transferência de várias zonas de domínio eclesiástico do papa sob controlo bizantino para o [[Patriarca de Constantinopla]] (a criação do [[patriarca de Grado]], separando-o da jurisdição do [[patriarca de Aquileia|Aquileia]]). Roma, sob domínio do papa, foi assim expulsa do [[Império Bizantino]].
 
Durante este período, o [[Reino Lombardo]] atravessava uma fase de renascimento, sob a liderança de [[Liutprando (rei lombardo)|Liutprando]]. Em {{DC|730|x}} mandou uma razia contra Roma para punir o papa, que teria apoiado o [[duque de Espoleto]]. Ainda que protegido pela muralha maciça da cidade, o papa pouco podia fazer contra o rei lombardo, que entretanto conseguia aliar-se aos bizantinos. Gregório III, compreendendo a impotência de resistir a tal aliança, foi o primeiro papa a pedir ajuda, pela primeira vez de forma oficial, ao reino dos [[Francos]], então sob o comando de [[Carlos Martel]] ({{DC|739|x}}).
 
O sucessor de LiutprandLiutprando, [[Astolfo]], foi ainda mais agressivo: conquistou [[Ferrara]] e [[Ravena]], terminando assim o [[Exarcado de Ravena]]. Roma seria, provavelmente, a próxima vítima. Em {{DC|754|x}}, o papa [[Papa Estêvão III|Estêvão III]] dirigiu-se a [[França]] para nomear [[Pepino, o Breve]], rei dos [[Francos]], como ''patricius romanorum'', i.e., protector de Roma. Em agosto do mesmo ano, o rei e o papa atravessaram os [[Alpes]] para derrotar Astolfo, em [[Susa (Itália)|Susa]], conseguindo fazê-lo prometer que iria desistir dos conflitos com o papa, devolvendo-lhe os territórios ocupados. No entanto, quando Pepino regressou a [[Saint-Denis (Seine-Saint-Denis)|Saint-Denis]], Astolfo faltou à promessa e cercou Roma durante 56 dias, em {{DC|756|x}}, desistindo assim que souberam da notícia do regresso de Pepino à Itália. Desta vez concordaria em entregar ao papa os territórios prometidos, e assim nasciam os [[Estados Pontifícios]].
 
Em {{DC|771|x}}, o novo rei dos Lombardos, [[Desidério]], concebeu um estratagema para conquistar definitivamente Roma e depor o papa Estêvão III. O seu principal aliado seria ''Paulus Afiarta'', líder da facção lombarda residente na cidade. Contudo, o plano não seria bem-sucedido, e o sucessor de Estevão, o papa [[Papa Adriano I|Adriano I]] invocou [[Carlos Magno]] a declarar guerra a Desidério, que seria finalmente derrotado em {{DC|773|x}}. O reino lombardo foi dissolvido, e Roma foi colocada na órbita de uma nova e grande instituição política.
 
=== O Sacro Império ===
{{Artigo principalAP|[[Sacro Império Romano-Germânico]]}}
[[Imagem:Holy Roman Empire crown dsc02909.jpg|thumb|upright=1.0|esquerda|A [[Coroa Imperial do Sacro Império Romano-Germânico|coroa do Sacro Império Romano-Germânico]] ({{séc|X}}),<br> <small>no [[Schatzkammer]] de [[Viena]]</small>]]
 
A 25 de abril de {{DC|799|x}}, enquanto o novo papa, [[Papa Leão III|Leão III]], conduzia a tradicional [[procissão]] de [[Latrão]] em direcção à [[San Lorenzo in Lucina|Igreja de São Lourenço em Lucina]], ao longo da [[Via Lata]] , o trecho urbano da [[Via Flamínia]] (actual ''[[Via del Corso]]''), dois nobres (seguidores do predecessor, Adriano), a quem não agradavam as fraquezas do papa em relação a Carlos Magno, atacaram o comboio processional deixando o papa gravemente ferido. Leão fugiu ao encontro do rei dos francos e, em novembro de {{DC|800|x}}, o rei entrou em Roma liderando um forte exército e um grande número de bispos francos. Carlos Magno organizou então um tribunal judicial para decidirem se Leão deveria continuar o Papado, ou se as reivindicações dos conjuradores seriam válidas ou não. No entanto, este tribunal fazia parte de uma cadeia de eventos minuciosamente planeados que iriam surpreender o mundo: O papa, naturalmente absolvido, e os conspiradores exilados, iria coroar Carlos Magno como [[Lista de imperadores romanos|Imperador Romano do Ocidente]] na [[Basílica de São Pedro]], a 25 de dezembro de 800. Esta atitude cessou definitivamente a lealdade de Roma para com a sua "metade", [[Constantinopla]], criando um império rival que, após uma série de conquistas por Carlos Magno, englobava agora a maioria dos territórios ocidentais cristãos.
 
[[Imagem:HRR.gif|thumb|upright=1.5|As fronteiras do [[Sacro Império Romano-Germânico]] entre os anos de 962 a 1806, sobre as fronteiras da Europa moderna]]
Após a morte de Carlos Magno, a inexistência de uma figura de igual prestígio provocou alguns desentendimentos na nova instituição. Ao mesmo tempo, a [[Igreja Romana]] enfrentava as demandas laicas da própria cidade, apressadas pela convicção de que o romano, embora empobrecido e desvalorizado, retinha o direito de eleger o novo imperador Ocidental. O papa reivindicava um território que ia de [[Ravena]] a [[Gaeta]], o que significaria a soberania sobre Roma. No entanto, esta soberania seria continuamente disputada ao longo dos séculos seguintes, e apenas os papas mais fortes politicamente conseguiram mantê-la. A principal fraqueza do Papado era a precisamente a necessidade da eleição de novos papas, de tempos a tempos, na qual as famílias nobres emergentes rapidamente procuravam obter um papel de liderança. As potências vizinhas, nomeadamente o [[Ducado de Espoleto]] e a [[Toscana]], e mais tarde os imperadores, aprenderam como tirar partido desta fraqueza interna e, consequentemente, tornavam-se árbitros entre os candidatos.
 
Assim, o ambiente vivido em Roma era próximo da [[anarquia]]. O momento mais escandaloso verificou-se em {{DC|897|x}} com a exumação do cadáver do [[Papa Formoso|Formoso]] para ser julgado num tribunal. Estas crises foram agravadas pelo surgimento de uma nova ameaça, os [[Árabes]] ou, como os italianos medievais os referiam, os [[Sarracenos]]: estes recém-chegados provindos do [[Norte de África]] já tinham conquistado a [[Sicília]] e a sua penetração no Sul da Itália estava a ser conduzida de forma eficaz. A infiltração de bandos de piratas levou o terror aos territórios em redor de Roma, ao qual o [[Papa Pascoal I|Pascoal I]] ({{DCnwrap|r.|817|x}}–{{DC|824|x}}) respondeu realojando os restos de todos os santos mártires entre os muros da cidade. Ainda assim, esta medida não impediu os muçulmanos de saquearem a Basílica de São Pedro em {{DC|846|x}}. Em {{DC|852|x}}, o [[Papa Leão IV|Leão IV]] encarregou a construção de nova muralha ao redor de uma área na margem do Tibre oposta às [[sete colinas de Roma|sete colinas]], que passaria a ser referida como "[[Cidade Leonina]]".
 
=== Comuna de Roma ===
[[Imagem:Santa Maria in Trastevere-inside.jpg|thumb|upright=1.0|esquerda|Interior da [[basílica de Santa Maria em Trastevere]], uma das mais belas [[Lista de igrejas de Roma|igrejas de Roma]] construídas ou reconstruídas durante a [[Idade Média]].]]
Por esta altura, a entretanto renovada [[Igreja Romana]] estava novamente a atrair peregrinos e [[prelado]]s de toda as partes do mundo cristão, trazendo os seus dinheiros consigo: apesar da população reduzida (ca. {{fmtn|30000}}), Roma transformava-se de novo numa cidade dependente dos consumidores, desta vez dirigida pela burocracia governamental. Entretanto, as outras cidades da [[península Itálica]], dirigidas fundamentalmente por novas famílias que se iam sobrepondo à velha aristocracia, iam aumentando a sua autonomia formando uma nova classe de empreendedores, comerciantes e mercantes. Logo após o saque de Roma pelos [[Normandos]], em 1084, a reconstrução da cidade foi suportada por famílias poderosas, como os ''[[Frangipane]]'' e os ''[[Família Pierleoni|Pierleoni]]'', cujo financiamento provinha do comércio e bancos, mais do que das terras. Inspirado pelas cidades vizinhas, como [[Tivoli]] e [[Viterbo]], também o povo romano começou a considerar para a cidade o estatuto de [[comuna italiana|comuna]] e, consequentemente, numa maior autonomia face à autoridade papal.
 
Impulsionados pelas palavras do contestado pregador [[Arnaldo de Bréscia]], um idealista e feroz opositor da propriedade eclesiástica e da interferência da Igreja nos assuntos internos, os romanos rebelaram-se em 1143. O senado e a república romana renasciam, portanto. No entanto, a Roma do {{séc|XII}} partilhava pouco daquela que havia governado o [[Mediterrâneo]] 700 anos antes, e rapidamente o senado se via em esforço constante para sobreviver, alternando o suporte ao papa e ao [[Império Romano do Ocidente]], num posicionamento político ambíguo. Em [[batalha de Monteporzio|Monteporzio]], a {{DC|1167|x}}, durante uma destas alternâncias, as tropas romanas seriam derrotadas pelas forças imperiais de [[Frederico I do Sacro Império Romano-Germânico|Frederico Barbarossa]]. Curiosamente, o inimigo vitorioso seria brevemente afugentado pela [[peste negra|peste]] e Roma manter-se-ia a salvo.
 
Em 1188, seria finalmente reconhecido o governo comunal pelo papa [[Papa Clemente III|Clemente III]], obrigado a pagar grandes somas aos oficiais da comuna, e os 56 senadores tornar-se-iam vassalos do papa. O senado sempre apresentou falhas no cumprimento das suas funções, o que levou a serem tentadas várias mudanças. Frequentemente apenas um senador encabeçava a instituição, o que levava, por vezes, a [[tirania]]s que não ajudavam à estabilidade do recém-nascido organismo.
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Em 1204, instalava-se novamente o mau ambiente, desta vez confrontando a família do papa [[Papa Inocêncio III|Inocêncio III]] e os seus rivais, os poderosos ''Orsini'', conduzindo a novos distúrbios na cidade. Muitos dos edifícios antigos sofreram a destruição pelas máquinas utilizadas entre os lados rivais para cercarem os seus inimigos nas incontáveis torres e fortalezas, usadas na Itália [[Idade Média|medieval]] como símbolo de nobreza.
 
[[Imagem:0209tordeiconti.png|thumb|upright=1.0|A ''[[Torre dei Conti]]'' foi uma das muitas torres construídas pelas famílias nobres de Roma como estandarte do seu poder e para defesa dos vários [[feudalismo|feudos]] que circundavam a cidade na [[Idade Média]]. Apenas subsiste um terço da torre.]]
As lutas entre os papas e o imperador [[Frederico II do Sacro Império Romano-Germânico|Frederico II]], também [[Lista de reis de Nápoles|rei de Nápoles]] e [[rei da Sicília|da Sicília]], levariam Roma a apoiar os [[gibelinos]]. Para afirmar a sua lealdade, Frederico enviou à comuna o ''[[Biga|Carroccio]]'' que teria ganho aos [[Lombardos]] na [[Batalha de Cortenuova]] em 1234, e que seria exposto no [[monte Capitolino]]. Ainda nesse ano, durante outra revolta contra o papa, os Romanos, liderados por [[Luca Savelli]] saquearam o [[Latrão]]. Curiosamente, Savelli era filho do papa [[Papa Honório III|Honório III]] e pai de [[Papa Honório IV|Honório IV]], embora nesta época os laços familiares não determinassem a sua lealdade. Roma não estava, decididamente, destinada a evoluir para uma comuna autónoma e estável, à semelhança de outras comunas como [[Florença]], [[Siena]] ou [[Milão]]. As lutas intermináveis entre estas famílias nobres (''Savelli'', ''Orsini'', ''Colonna'' e ''Annibaldi''), o ambíguo alinhamento do papa, o orgulho da população que nunca abandonou o sonho e o esplendor do passado, e a fraqueza da instituição republicana continuamente privariam a cidade desta possibilidade.
 
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=== O regresso do papa a Roma ===
[[Imagem:Piazza del Campidoglio.jpg|thumb|upright=1.0|esquerda|Cola di Rienzo alvoraçou o [[Monte Capitolino|Capitólio]] em 1347 para criar uma nova República Romana. Embora de curta duração, esta tentativa ficou registada na estátua perto da escadaria que conduz à [[Lista de praças de Roma|praça]] de [[Michelangelo]].]]
 
Apesar do declínio e da ausência do papa, Roma não perderia o prestígio espiritual: em 1341 o famoso poeta [[Francesco Petrarca|Petrarca]] deslocou-se a Roma para ser distinguido como poeta no [[monte Capitolino]]. Entretanto, a nobreza e a classe pobre alinhavam-se para exigir o retorno do papa. De entre os vários embaixadores que neste período se deslocaram a [[Avinhão]], destaca-se a figura simultaneamente bizarra e eloquente de [[Cola di Rienzo]]. À medida que aumentava o seu poder sobre a população, a 30 de maio de {{DC|1347|x}} conquistou o Capitólio encabeçando a população, entusiasta. Embora de curta duração, o período da sua liderança sobre a população de Roma revelou-se um dos mais importantes momentos da história medieval da cidade; Cola esforçou-se por espalhar a aura rejuvenescedora do conceito comum de uma eventual [[independência]] [[Itália|italiana]], no centro de um sonho confuso politicamente à semelhança do prestígio da Roma Antiga. Mais tarde, assumindo o poder de forma [[ditadura|ditatorial]], assumiu o título de "[[tribuno]]", numa clara referência à [[magistratura]] da [[plebe]] da [[República Romana|era republicana]]. Di Rienzo considerava também o seu estatuto equivalente ao do [[Imperador Romano-Germânico]]. A 1 de agosto de 1347, conferiu a cidadania romana a todas as cidades italianas e preparou a eleição de um imperador romano para a Itália. Como medida de contenção, o papa declarava Di Rienzo como [[heresia|herético]], [[crime|criminoso]] e [[paganismo|pagão]], manipulando a opinião pública ao ponto de esta se começar a distanciar. A 15 de dezembro, Di Renzo foi obrigado a fugir.
 
Em agosto de 1354, Di Rienzo tornava-se novamente protagonista, quando o cardeal [[Gil Alvarez De Albornoz]] lhe confiou o cargo de "senador de Roma" no desenrolar do seu programa de certificação do governo papal nos [[Estados Pontifícios]]. Em outubro, o tirânico Cola, que se tornava uma vez mais impopular pelo seu contestado comportamento e pesadas dívidas, foi assassinado numa quezilha provocada pela poderosa família dos ''Colonna''. Em abril de 1355, [[Carlos IV do Sacro Império Romano-Germânico|Carlos IV]], da [[Boémia]], entrou na cidade para o tradicional ritual de coroação como imperador. A sua visita foi assistida com grande desagrado pelos cidadãos, já que não era bem dotado financeiramente, por ter recebido a [[coroa imperial|coroa]] de um cardeal e não do papa, e por se afastar escassos dias depois da coroação.
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Com o imperador de regresso às suas terras, Albornoz podia agora reconquistar algum controlo sobre a cidade, mesmo permanecendo na segurança da sua [[Fortaleza (arquitetura militar)|cidadela]] em [[Montefiascone]], na região Norte do [[Lácio]]. Os senadores, agora designados directamente pelo papa, eram escolhidos de várias cidades de toda a Itália, embora a cidade fosse independente. O senado incluía agora seis [[juiz|juízes]], cinco [[notário]]s, seis [[Marechal|marechais]], vários familiares, vinte [[cavaleiro]]s e vinte homens armados. Albornoz conseguia suprimir as famílias tradicionalmente aristocráticas, e a facção "[[democracia|democrática]]" sentiu-se suficientemente confiante para iniciar uma política agressiva. Em 1362, Roma declarava guerra a [[Velletri]], cuja repercussão se traduziu numa guerra civil: a facção rural contratou um grupo de ''[[condottieri]]'', os ''Del Cappelo'' (os "do Chapéu"), enquanto os romanos compravam os serviços das tropas [[Alemães|alemãs]] e [[Húngaros|húngaras]], acrescidos aos seus próprios 600 cavaleiros e {{fmtn|22000}} unidades de infantaria. Neste período, toda a Itália foi varrida pelos implacáveis grupos ''condottieri''. Muitos dos ''Savelli'', ''Orsini'' e ''Annibaldi'', expulsos de Roma, tornaram-se líderes destas unidades militares. Quando a guerra com os ''Velletri'' terminou, Roma entregou-se novamente ao papa, [[Papa Urbano V|Urbano V]], com a condição de proibir Albornoz de entrar em Roma.
 
A 6 de outubro de 1367, em resposta às preces de [[Brígida da Suécia (Santa)|Santa Brígida]] e de [[Francesco Petrarca|Petrarca]], Urbano V finalmente se deslocou à cidade. Durante a sua presença, Carlos IV foi novamente coroado (outubro de {{DC|1368|x}}). Por esta altura, também se deslocou a Roma o [[Lista de imperadores bizantinos|imperador bizantino]] [[João V Paleólogo]] para solicitar uma [[cruzada]] contra o [[Império Otomano]], embora sem sucesso. Poucos anos depois, descontente com o ambiente da cidade, Urbano V voltava para [[Avinhão]], a 5 de setembro de {{DC|1370|x}}. O seu sucessor, [[Papa Gregório XI|Gregório XI]], marcou o seu regresso a Roma para maio de 1372 mas, novamente, os cardeais franceses, com o apoio do seu rei, conseguiram persuadi-lo. Assim se manteve o papa até 17 de janeiro de 1377, altura em que Gregório XI reinstalava novamente a [[Santa Sé]] em Roma.
 
Não obstante, o comportamento incoerente do seu sucessor, o italiano [[Papa Urbano VI|Urbano VI]], provocaria em 1378 o [[Grande Cisma do Ocidente]], que deitaria por terra qualquer legítima tentativa de melhorar as condições da Roma, em declínio.
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{{Ver artigos principais|[[Saque de Roma (1527)|Saque de Roma]], [[Contrarreforma]]}}
 
[[Imagem:Sack of Rome of 1527 by Johannes Lingelbach 17th century.jpg|thumb|esquerda|''Saque de Roma em 1527'', pintura de [[Johannes Lingelbach]].]]
Em 1527, a política ambígua seguida pelo segundo papa da família [[Casa de Médici|Mécic]], o [[Papa Clemente VII]], resultou num dramático [[Saque de Roma (1527)|saque da cidade]] pelas tropas [[Sacro Império Romano-Germânico|imperiais]] de [[Carlos I de Espanha|Carlos V do Sacro Império]], que devastou a cidade durante dias. Muitos dos cidadãos foram assassinados ou procuraram abrigar-se fora das muralhas. O próprio papa aprisionou-se no [[Castelo de Santo Ângelo]]. O saque marcava, assim, o fim da era de maior esplendor da Roma moderna.
 
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A Contrarreforma seria considerada apenas pelos seus sucessores, o moderado [[Papa Pio IV|Pio IV]] e o severo [[Papa Pio V|Pio V]]. Embora o primeiro fosse um nepotista, amante dos esplendores da corte, permitiu a introdução de costumes mais severos por parte do seu conselheiro, [[Carlos Borromeu]], que estava prestes a tornar-se numa das figuras mais populares de Roma. Pio V e Borromeo entregaram à cidade o verdadeiro carácter da Contrarreforma. Toda a pompa foi retirada da corte, os [[bobo da corte|bobos]] expulsos, e os cardeais e bispos foram obrigados a viver na cidade. Foram punidas severamente a [[blasfémia]] e a utilização de [[concubina]]s; as [[prostituição|prostitutas]] foram expulsas ou confinadas a distritos reservados para o efeito. O poder da [[Inquisição]] dentro da cidade foi reajustado, e o palácio reconstruído com um novo espaço para [[prisão|prisões]]. Durante este período, Michelangelo abriu a ''[[Porta Pia]]'' e transformou as [[Termas de Diocleciano]] na espectacular basílica de ''[[Santa Maria degli Angeli e dei Martiri|Santa Maria degli Angeli]]'', onde Pio IV foi enterrado.
 
[[Imagem:RomaFontanaAcquaFelicePiazzaSanBernardo.JPG|thumb|direita|''[[Fontana dell'Acqua Felice]]'' na Praça de São Bernardo.]]
O pontificado do seu sucessor, o papa [[Papa Gregório XIII|Gregório XIII]], foi um fracasso. As suas medidas iriam despertar novos tumultos nas ruas de Roma. O escritor e filósofo francês [[Montaigne]] defendia que "a vida e os bens nunca estiveram tão pouco seguros como durante o tempo de Gregório XIII, talvez", e que uma [[fraternidade|confraternidade]] chegou mesmo a realizar [[casamento]]s [[homossexualidade|homossexuais]] na igreja de ''[[San Giovanni a Porta Latina]]''. As cortesãs tão reprimidas por Pio tornavam-se agora prostitutas que trabalhavam abertamente nas ruas.
 
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{{Artigo principal|[[Unificação italiana]]}}
 
[[Imagem:Rossetti - Proclamazione della Repubblica Romana, nel 1849, in Piazza del Popolo - 1861.jpg|thumb|Proclamação da [[República Romana (1798-1799)|República Romana]].]]
O governo pelo papado foi interrompido pela breve [[República Romana (1798-1799)|República Romana]] (1798), instituída segundo influência da [[Revolução Francesa]].
 
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=== Na actualidade ===
[[Imagem:Roma EUR viale Europa.jpg|thumb|direita|''Viale Europa'', uma artéria na [[EUR (Roma)|EUR]].]]
A Roma actual não só reflecte a estratificação das várias épocas ao longo da sua história, mas constitui também um metrópole contemporânea. O vasto centro histórico contém áreas que data desde a [[Roma Antiga]], época medieval, vários [[Lista de palácios de Roma|palácios]] e tesouros artísticos do [[Renascimento]], muitas [[Lista de fontes de Roma|fontes]], [[Lista de igrejas de Roma|igrejas]] e palácios do [[Barroco]], bem como tantos outros exemplos de [[Art Nouveau]], [[Neoclassicismo]], [[Modernismo]], [[Racionalismo]] e quaisquer outros estilos artísticos dos séculos XIX e XX (com efeito, a cidade é considerada uma enciclopédia e um museu vivo dos últimos 3000 anos de [[história da arte]] ocidental). O centro histórico coincide praticamente com os limites das muralhas da Roma imperial. Algumas áreas foram reorganizadas após a unificação (1880–1910 - ''Roma Umbertina''), e foram realizados alguns acrescentos e adaptações durante o [[Fascismo|período fascista]], como a tão discutida ''[[Via dei Fori Imperiali]]'', da ''Via della Conciliazione'', em frente ao [[Vaticano]] (para cuja construção foi destruída uma grande parte do velho ''Borgo''), a instituição de novos ''[[Quarteirões de Roma|Quartieri]]'' (dos quais a [[EUR (Roma)|EUR]], [[San Basilio]], [[Garbatella]], [[Cinecittà]], [[Trullo]], [[Subdivisões de Roma|Quarticciolo]] e, na costa, a restruturação da [[Óstia]]) e a inclusão da ''vilas'' fronteiriças (''Labaro'', ''Osteria del Curato'', ''Quarto Miglio'', ''Capannelle'', ''Pisana'', ''Torrevecchia'', ''Ottavia'', ''Casalotti''). Estas expansões foram necessárias para albergar o aumento exponencial da população, consequência da centralização do [[Reino de Itália (1861–1946)|Estado italiano]].