Hidas da Inglaterra: diferenças entre revisões

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== A tributação das hidas ==
 
O texto é, segundo a descrição de D. P. Kirby, "uma lista dos tributos totais em termos de hidas para alguns territórios ao sul do [[Humber]], que foi variadamente datado de meados do {{séc|VII}} até a segunda metade do {{séc|VIII}}".{{sfn|Kirby|2000|p=9}}{{ref label2|a}} Muitos dos reinos da [[Heptarquia]] estão incluídos. A Mércia, para a qual são atribuídas {{fmtn|30000}} hidas, está no topo da lista,{{sfn|Featherstone|2001|p=24}} seguida por um conjunto de pequenas tribos do oeste e norte da Mércia, todas as quais com não mais de {{fmtn|7000}} hidas listadas. Outras tribos nomeadas tem ainda menos hidas, entre 300 e {{fmtn|1200}}: destas, Herefina (''Herefinna''), Noxgaga, Hendrica e Unecungaga não podem ser identificados,{{sfn|Brooks|2000|p=65}} enquanto as demais podem ser tentativamente situadas em torno do sul da Inglaterra e na região fronteiriça entre a Mércia e [[Reino da Ânglia Oriental|Ânglia Oriental]].{{sfn|name=St296|Stenton|1988|p=296}} Otegaga (''Ohtgaga'') poderiam ser Jutogaga (''jutegaga'') e poderia ser entendida como uma área assentada por [[jutos]] em ou próximo do vale do meon em [[Hantônia]]. O termo ''-gaga'' é uma má tradução do copista posterior do [[inglês antigo]] ''-wara'' (povo / homens de), pois o ''[[wynn]]'' (w) e o erre longo são lidos como ''g''. Alguns territórios, como Hica, tem sido localizados apenas em meios da evidência toponímica.{{sfn|Kirby|2000|p=10}}{{sfn|name=Yo83|Yorke|2000|p=83}} A lista acaba com vários outros reinos da Heptarquia: a [[Reino da Ânglia Oriental|Ânglia Oriental]] ({{fmtn|30000}} hidas), a [[Reino da Saxônia Oriental|Saxônia Oriental]] ({{fmtn|7000}} hidas), [[Reino de Câncio|Câncio]] ({{fmtn|15000}} hidas), [[Reino da Saxônia Meridional|Saxônia Meridional]] ({{fmtn|7000}}) e [[Reino da Saxônia Ocidental|Saxônia Ocidental]] ({{fmtn|100000}} hidas).{{sfn|Stenton|1988|p=83}}
 
Os valores redondos das tributações das hidas pode indicar que são improvavelmente resultado de uma pesquisa acurada. Os métodos de avaliação usados provavelmente diferiram de acordo com o tamanho da região.{{sfn|name=Fe25|Featherstone|2001|p=25}} Os valores podem ser de significado puramente simbólico, refletindo o estatuto de cada tribo no tempo da avaliação.{{sfn|Featherstone|2001|p=28}} Os totais dados dentro do texto sugerem que o texto foi talvez usado como forma de escrituração.{{sfn|Featherstone|2001|p=29}} Frank Stenton descreve os valores de hidas dados aos reinos da Heptarquia como exagerados e nos casos da Mércia e Saxônia Ocidental, "inteiramente discrepantes com a informação restante".{{sfn|Stenton|1988|p=295}}
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== Manuscritos sobreviventes ==
 
Um manuscrito, agora perdido,{{sfn|name=Fe23|Featherstone|2001|p=23}} foi originalmente usado para produzir as três recensões diferentes conhecidas do texto: elas foram chamadas Recensão A, B e C.{{sfn|name=Fe27|Featherstone|2001|p=27}} A ''Recensão A'', a mais antiga e completa, data do {{séc|XI}}. Está incluída numa miscelânea de obras, escritas em [[inglês antigo]] e [[latim]], com a ''Gramática Latina'' de [[Elfrico de Eynsham|Elfrico]] e sua [[homília]] ''Sobre o Início das Criaturas'' (''De initio creaturæ''), uma obra escrita em 1034.{{sfn|BL|2018}} Está na [[Biblioteca Britânica]], referência ''MS Harley 3271''. foi escrita por diferentes escribas,{{sfn|Featherstone|2001|p=24-25}} numa data não posterior a 1032.{{sfn|name=Ne19|Neal|2008|p=19}}
 
A ''Recensão B'', que se assemelha a ''Recensão A'', está presente num tratado latino do {{séc|XVII}}, ''Archaeologus in Modum Glossarii ad rem antiquam posteriorem'', escrito por [[Henry Spelman]] em 1626.<ref name=Ne19 /> Os nomes tribais são dados em inglês antigo. Há diferenças significativas na escrita entre as duas recensões. As diferenças (por exemplo o uso de hida por Spelman) indica que o texto não foi copiado da ''Recensão A'', mas de um texto diferente, escrito em latim. Segundo [[Peter Featherstone]], a forma altamente editada do texto copiado sugere a possibilidade de que Spelman embelezou o texto latino.<ref name=Fe25 />
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== Origem ==
 
Os historiadores não foram capazes de concordar acerca da data da compilação original da lista. Segundo Campbell, que nota a plausibilidade dela ter sido produzida durante a ascensão da Mércia, o documento pode provavelmente ser datado do {{séc|VII}} ou VIII.{{sfn|name=Cam59|Campbell|1991|p=59}} Outros historiadores, como J. Brownbill, [[Barbara Yorke]], [[Frank Stenton]] e [[Cyril Hart]], geralmente concordam que o texto originou-se na Mércia em torno dessa época, embora tem diferentes teorias à identidade do senhor mércio sob quem a lista foi compilada.{{sfn|Neal|2008|p=20-22}} [[Wendy Davies]] e [[Hayo Vierck]] colocaram a origem do documento mais precisamente em 670-690.{{sfn|Davies|1974|p=227}}
 
Há quase consenso que o texto se originou na Mércia, parcialmente porque os reis mércios são conhecidos por ter extenso poder sobre outros territórios anglo-saxões do final do {{séc|VII}} ao começo do IX, mas também porque a lista, encabeçada pela Mércia, é quase exclusivamente de povos que viveram ao sul do Humber.{{sfn|Higham|1995|p=74-75}} Peter Featherstone concluiu que o material original, datado do final do {{séc|VII}} na Mércia, foi então usado para ser incluído num documento do final do {{séc|IX}} e afirma que o Reino da Mércia "estava no centro do mundo mapeado pela lista".<ref name=Fe27 /> Frank Stenton reconheceu que a evidência não é conclusiva quando notou que "a lista foi quase certamente compilada na Mércia".<ref name=St296 />
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[[N. J. Higham]] argumentou que por conta da data da informação original ser desconhecida e por não haver menção aos maiores reinos nortúmbrios, não se pode provar que fosse uma lista de tributos de origem mércia. Nota que Elmeto, que nunca foi província da Mércia, está incluída na lista.{{sfn|Higham|1995|p=75, 76}} Sugere que a lista pode ter sido uma lista de tributo elaborada por [[Eduíno da Nortúmbria]] nos anos 620{{sfn|Higham|1995|p=50}} e que provavelmente se originou antes de 685, depois do que nenhum rei nortúmbrio exerceu ''[[imperium]]'' sobre os reinos [[sutúmbrios]].{{sfn|Higham|1995|p=76}} Segundo Higham, os valores avaliados para cada povo são provavelmente específicos dos eventos de 625-626, representando o contraste individual feito entre Eduíno e aqueles que reconheciam sua suserania naquele momento. Isso explica a natureza artificial e redonda dos números que foram usados: o valor de {{fmtn|100000}} hidas aos saxões ocidentais foi provavelmente o maior número que Eduíno conheceu.{{sfn|Higham|1995|p=94-95}} Contudo, D. P. Kirby nota que a teoria da origem nortúmbria não foi aceita como convincente pela generalidade.{{sfn|Kirby|2000|p=191, nota 45}}
 
== Propósito ==
 
[[imagem:England green top-pt.svg|thumb|upright=1.05|esquerda|[[Grão-Bretanha]] no {{séc|VII}}]]
 
O objetivo da lista permanece incerto.<ref name=Fe27 /> Ao longo dos anos diferentes teorias sugeriram seu propósito em relação as datas para sua criação.<ref name=Yo83 /> Segundo muitos especialistas, era uma lista de tributo criada seguindo as instruções de reis anglo-saxões [[Ofa de Mércia|Ofa]] e [[Vulfário de Mércia]] e Eduíno da Nortúmbria — mas pode ter sido usada por diferentes propósitos em vários momentos durante sua história.<ref name=Fe23 /> Cyril Hart descreveu-a como uma lista de tributo que envolveu toda a Britânia anglo-saxã ao sul do Humber e que foi criada por Ofa, mas reconhece que nenhuma prova existe que foi compilada durante seu reinado.{{sfn|Hart|1971|p=133}} Higham nota que a sintaxe do texto requer que uma palavra implicando 'tributo' foi omitida de cada linha e argumento que foi "quase certamente uma lista de tributo".{{sfn|Higham|1995|p=75}} Segundo Higham, a enorme quantidade de hidas dos saxões ocidentais indica que houve grande ligação entre a escala do tributo e quaisquer considerações políticas.{{sfn|Higham|1995|p=94}} James Campbell argumentou que se a lista serviu a qualquer objetivo prático, implica que o tributo foi avaliado e obtido de modo organizado,<ref name=Cam59 /> e nota que, "seja o que for, e o que significa, indica um grau de ordem, ou coerência no exercício do poder (...)".{{sfn|Campbell|1991|p=61}}
 
Yorke reconhece que o objetivo da lista é desconhecido e que pode não ser, como comumente se acordou, uma lista de tributos de um senhor. Ela sinaliza contra assumir que os povos menores (de {{fmtn|7000}} hidas ou menos) possuíam quaisquer "meios de definir-se como gentes distintas". Ela nota que entre esses, a [[ilha de Wight]] e a tribo Girua Meridional, minúsculas em termos de hidas e geograficamente isoladas de outros povos, estavam entre aquelas poucas que possuíam suas próprias dinastias reais.<ref name=Yo83 /> P. H. Sawyer argumenta que os valores podem ter um propósito simbólico e que foram destinados a ser uma expressão do estatuto de cada reino e província. Para Sawyer, a obscuridade de alguns dos nomes tribais e a ausência da lista de outros aponta para uma data anterior para o texto original, que ele descreve como um "monumento do poder mércio". As {{fmtn|100000}} hidas avaliadas à Saxônia Ocidental podem refletir seu estatuto superior numa data posterior e implicaria que a lista na sua atual forma foi escrita na Saxônia Ocidental.{{sfn|Sawyer|1978|p=110-111}} A avaliação dos hidas da saxônia Ocidental foi considerada como erro pelo historiador J. Brownbill, mas Cyril Hart mantêm que o valor à Saxônia Ocidental é correta e que foi um dos vários valores destinados a exigir o maior tributo possível dos principais rivais da Mércia.{{sfn|Hart|1971|p=156}}
 
 
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* {{Citar livro|sobrenome=Featherstone|nome=Peter|ano=2001|título=Mercia: an Anglo-Saxon Kingdom in Europe|capítulo=The Tribal Hidage and the Ealdormen of Mercia|editor=Brown, Michelle P.; Farr, Carol Ann|local=Londres|editora=Leicester University Press|isbn=0-8264-7765-8|ref=harv}}
 
* {{Citar periódico|sobrenome=Hart|nome=Cyril|ano=1971|título=Tribal Hidage|jornal=Transactions of the Royal Historical Society. 5th series|volume=21| páginas=133–157|doi=10.2307/3678924|ref=harv}}
 
* {{citar livro|sobrenome=Higham|nome=N. J.|título=An English Empire: Bede and the Early Anglo-Saxon Kings|editora=Manchester University Press |local= Manchester|ano=1995 |isbn=0-7190-4423-5|ref=harv}}
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* {{Citar livro|sobrenome=Neal|nome=James R.|ano=2008|título=Defining power in the Mercian Supremacy: An examination of the dynamics of power in the kingdom of the borderers. (Submitted thesis)|local=Reno|editora=University of Nevada|ref=harv}}
 
* {{Citar livro|sobrenome=Sawyer|nome=P. H.|ano=1978|título=From Roman Britain to Norman England|local=Londres|editora=Methuen|ref=harv}}
 
* {{Citar livro|sobrenome=Stenton|nome=Sir Frank|ano=1988|título=Anglo-Saxon England|local=Nova Iorque|editora=Oxford University Press|isbn=0-19-821716-1| ref=harv}}