Conquista normanda da Inglaterra: diferenças entre revisões

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Em 1002, o rei [[Etelredo II de Inglaterra]] {{nwrap|r.|978|1016}} casou-se com [[Ema da Normandia|Ema]], a irmã de [[Ricardo II da Normandia]] {{nwrap|r.|996|1026}}.{{sfn|Williams|2003|p=54}} Seu filho [[Eduardo, o Confessor]], que passou muitos anos no exílio na Normandia, sucedeu ao trono inglês em 1042.{{sfn|Huscroft|2005|p=3}} Isto levou ao estabelecimento de uma poderosa participação normanda na política inglesa, já que Eduardo buscou apoio em seus antigos hospedeiros, trazendo cortesãos, soldados e clérigos normandos e nomeando-os a cargos de poder, particularmente na Igreja. Sem filhos e envolvido em conflitos com o formidável [[Goduíno, Conde de Wessex|Goduíno de Wessex]] e seus filhos, Eduardo também pode ter encorajado as ambições do duque Guilherme da Normandia ao trono inglês.{{sfn|Stafford|1989|p=86-99}}
 
Quando o rei Eduardo morreu no início de 1066, a falta de um [[herdeiro aparente]] levou a uma sucessão disputada em que vários candidatos reivindicaram o trono da Inglaterra. O sucessor imediato de Eduardo era o [[Conde de Wessex]], Haroldo Godwineson, o mais rico e poderoso dos aristocratas ingleses. Haroldo foi eleito rei pela ''[[Witenagemot]]'' da Inglaterra e coroado por [[EaldredAldredo|EaldredAldredo, Arcebispo de Iorque]], embora a propaganda normanda tenha alegado que a cerimônia teria sido realizada por [[Stigand]], o [[Direito canónico|não canonicamente]] eleito [[Arcebispo da Cantuária]].{{sfn|Higham|2000|p=167-181}}{{sfn|Walker|2000|p=136–138}} Haroldo foi imediatamente contestado por dois poderosos governantes vizinhos. O duque Guilherme alegou que o trono inglês lhe tinha sido prometido pelo rei Eduardo e que Haroldo tinha jurado estar de acordo;{{sfn|Bates|2001|p=73–77}} o rei Haroldo III da Noruega, conhecido como Haroldo Hardrada, também contestou a sucessão. Seu direito ao trono foi baseado em um acordo entre seu antecessor [[Magno I da Noruega]] e o rei inglês anterior, [[Hardacanuto]], pelo qual aquele que morresse sem herdeiro deixaria ao outro os tronos da Inglaterra e da Noruega.{{sfn|Higham|2000|p=188-190}}{{nota de rodapé|Hardacanuto era o filho do rei [[Canuto II da Dinamarca|Canuto, o Grande]] e Ema da Noruega e, portanto, era o meio-irmão de [[Eduardo, o Confessor]]. Ele reinou de 1040-1042 e morreu sem filhos.{{sfn|Keynes|2001|loc=cap "Harthacnut"}} O pai de Hardacanuto, Canuto, havia derrotado o filho de Etelredo, [[Edmundo II de Inglaterra|Edmundo, o Braço de Ferro]], em 1016 para reivindicar o trono inglês e se casar com a viúva de Etelredo, Ema.{{sfn|Huscroft|2009|p=84}} Após a morte de Hardacanuto em 1042, Magno começou os preparativos para uma invasão da Inglaterra, que só foi interrompida por sua morte em 1047.{{sfn|Stenton|1971|p=423–424}}}} Guilherme e Haroldo imediatamente começaram a reunir tropas e navios para invadir a Inglaterra.{{sfn|Huscroft|2005|p=12-14}}{{Nota de rodapé|Outros concorrentes mais tarde vieram à tona. O primeiro foi [[Edgar de Wessex|Edgar, o Atelingo]], sobrinho-neto de Eduardo, o Confessor, que era descendente patrilinear do rei [[Edmundo II de Inglaterra|Edmundo, o Braço de Ferro]]. Ele era filho de Eduardo, o Exilado, filho de Edmundo, o Braço de Ferro, e nasceu na Hungria, para onde seu pai fugiu depois da conquista da Inglaterra por [[Canuto II da Dinamarca|Canuto]]. Após o posterior retorno de sua família para a Inglaterra e a morte de seu pai em 1057,{{sfn|Huscroft|2009|p=96-97}} Edgar tinha de longe a mais forte reivindicação hereditária ao trono, mas tinha apenas cerca de treze ou catorze anos no momento da morte do Eduardo, Confessor, e com pouca família para apoiá-lo, seu pedido foi preterido pela ''Witenagemot''.{{sfn|Huscroft|2009|p=132-133}} Outro candidato foi [[Sueno II da Dinamarca]], que tinha uma reivindicação ao trono, como o neto de [[Sueno I da Dinamarca]] e sobrinho de Canuto,{{sfn|Stafford|1989|p=86-87}} mas ele não fez a sua oferta ao trono até 1069.{{sfn|Bates|2001|p=103-104}} Os ataques de [[Tostig Godwinson]] no início de 1066 podem ter sido o início de uma investida ao trono, mas após a derrota nas mãos de [[Eduíno de Mércia|Eduíno]] e [[Morcar]] e a deserção da maioria de seus seguidores, ele jogou sua sorte com [[Haroldo III da Noruega|Haroldo Hardrada]].{{sfn|Thomas|2007|p=33–34}}}}
 
== Incursões de Tostig e a invasão norueguesa ==
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No dia seguinte à batalha, o corpo de Haroldo foi identificado, seja por sua armadura ou marcas em seu corpo.{{nota de rodapé|Uma tradição do {{séc|XII}} afirmava que o rosto de Haroldo não pôde ser reconhecido e Edite, esposa de direito comum de Haroldo, foi trazida ao campo de batalha para identificar o corpo a partir das marcas que só ela conhecia.{{sfn|Gravett|1992|p=80}}}} Os corpos dos ingleses mortos, entre os quais alguns de seus irmãos e seus ''housecarls'', foram deixados no campo de batalha, embora alguns tenham sido retirados por parentes mais tarde.{{sfn|name=Grave81|Gravett|1992|p=81}} A mãe de Haroldo, [[Gytha Thorkelsdóttir|Gita]] (''Gytha''), ofereceu ao duque vitorioso o peso do corpo de seu filho em ouro pela sua custódia, mas sua oferta foi recusada. Guilherme ordenou que o corpo de Haroldo fosse lançado ao mar, mas é incerto se isso aconteceu.{{sfn|name=Huscro131|Huscroft|2009|p=131}} Outra história conta que Haroldo foi enterrado no topo de um penhasco.{{sfn|Marren|2004|p=146}} A Abadia de Waltham, que tinha sido fundada pelo rei, mais tarde afirmou que seu corpo tinha sido enterrado lá secretamente.<ref name=Huscro131 /> Lendas posteriores afirmam que Haroldo não morreu em Hastings, mas escapou e tornou-se um eremita em Chester.<ref name=Grave81 />
 
Após sua vitória em Hastings, Guilherme esperava receber a submissão dos líderes ingleses sobreviventes, mas em seu lugar, [[Edgar de Wessex|Edgar, o Atelingo]]{{nota de rodapé|Atelingo (''Ætheling'', em inglês) é o termo anglo-saxão para um príncipe real com alguma pretensão ao trono.{{sfn|Bennett|2001|p=91}}}} foi proclamado rei pela ''Witenagemot'', com o apoio dos condes Eduíno e Morcar, Stigand, o [[Arcebispo da Cantuária]], e [[EaldredAldredo]], o [[Arcebispo de Iorque]].{{sfn|Douglas|1964|p=204-205}} Portanto, Guilherme avançou marchando ao redor da costa de [[Kent]] para Londres. Ele venceu uma força de ingleses que o atacou em [[Southwark]], mas como não conseguiu atacar a [[Ponte de Londres]] procurou chegar à capital por um caminho mais tortuoso.{{sfn|name=Doug206|Douglas|1964|p=205–206}}
 
Guilherme subiu o vale do [[Rio Tâmisa|Tâmisa]], para atravessar o rio em [[Wallingford]], Berkshire; lá, ele recebeu a submissão de Stigand. Então viajou para o nordeste ao longo das [[Chilterns]], antes de avançar em direção a Londres pelo noroeste, lutando contra as forças da cidade. Não conseguindo reunir uma resposta militar eficaz, líderes partidários de Edgar perderam a cabeça, e os líderes ingleses se renderam a Guilherme em [[Berkhamsted]], Hertfordshire. Guilherme foi aclamado rei da Inglaterra e coroado por EaldredAldredo em 25 de dezembro 1066, na [[Abadia de Westminster]].<ref name=Doug206 />{{nota de rodapé|A coroação foi marcada quando as tropas normandas estacionadas fora da abadia ouviam os sons de pessoas dentro aclamando o rei e começaram a incendiar casas próximas, pensando que os ruídos eram sinais de um motim.{{sfn|Gravett|1992|p=84}}}} O novo rei tentou conciliar a nobreza inglesa restante confirmando Morcar, Eduíno e [[Valdevo da Nortúmbria|Valdevo (''Waltheof'') da Nortúmbria]] em suas terras, assim como dando terras a Edgar, o Atelingo. Guilherme permaneceu na Inglaterra até março de 1067, quando voltou à Normandia com prisioneiros ingleses, incluindo Stigand, Morcar, Eduíno, Edgar, o Atelingo e Valdevo.{{sfn|name=Huscro138|Huscroft|2009|p=138-139}}
 
== Resistência inglesa ==
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Ao mesmo tempo, a resistência reacendeu-se no oeste de Mércia, onde as forças de Eadrico, o Selvagem, juntamente com seus aliados galeses e outras forças rebeldes de [[Cheshire]] e Shropshire, atacaram o castelo de [[Shrewsbury]]. No sudoeste, os rebeldes de Devon e Cornualha atacaram a guarnição normanda em Exeter, mas foram repelidos pelos defensores e espalhados por uma força de socorro normanda do conde Brian. Outros rebeldes de Dorset, Somerset e áreas vizinhas cercaram o [[Castelo de Montacute]], mas foram derrotados por um exército normando reunido a partir de Londres, [[Winchester]] e [[Salisbury|Salisbúria]] sob [[Godofredo de Coutances]]. Enquanto isso, Guilherme atacou os dinamarqueses, que tinham ancorado para o inverno ao sul de ''[[Humber]]'', em Lincolnshire, e os conduziu de volta à margem norte. Deixando [[Roberto de Mortain]] encarregado de Lincolnshire, ele tornou a oeste e derrotou os rebeldes de Mércia em batalha em [[Stafford (Staffordshire)|Stafford]]. Quando os dinamarqueses tentaram retornar a Lincolnshire, lá as forças normandas novamente os levaram a recuar para ''Humber''. Guilherme avançou pela Nortúmbria, derrotando uma tentativa de bloquear a sua travessia do caudaloso [[Rio Aire (Inglaterra)|rio Aire]] em [[Pontefract]]. Os dinamarqueses fugiram a sua aproximação, e ele ocupou Iorque. Ele comprou o afastamento dos dinamarqueses, que concordaram em deixar a Inglaterra na primavera, e durante o inverno de 1069-1070 as suas forças devastaram sistematicamente a Nortúmbria, no [[Massacre do Norte]], subjugando toda a resistência.<ref name=Willi41 /> Como um símbolo de sua renovada autoridade sobre o norte, Guilherme cerimonialmente usou sua coroa em Iorque no dia de Natal de 1069.<ref name=Huscro142 />
 
No início de 1070, assegurando a submissão de Valdevo e Gospatrico e conduzindo Edgar e seus partidários restantes de volta à Escócia, Guilherme voltou à Mércia, onde baseou-se em Chester e esmagou toda a resistência remanescente na área, antes de voltar para o sul.<ref name=Willi41 /> [[Legado papal|Legados papais]] chegaram e na Páscoa recoroaram Guilherme, o que teria simbolicamente reafirmado seu direito ao reino. O rei da Inglaterra também supervisionou um expurgo dos prelados da Igreja, principalmente Stigand, que foi deposto da Cantuária. Os legados papais também impuseram penitências a Guilherme e seus partidários que estavam em Hastings e campanhas subsequentes.{{sfn|Huscroft|2009|p=145-146}} Assim como Cantuária, a [[Arcebispo de Iorque|Sé de Iorque]] tinha se tornado vaga após a morte de EaldredAldredo, em setembro de 1069. Ambas as sés foram preenchidas por homens leais ao rei: [[Lanfranco de Cantuária|Lanfranco]], abade da fundação de Guilherme em Caen, recebeu Cantuária, enquanto [[Tomás de Bayeux]], um dos capelães de Guilherme, foi instalado na Sé de Iorque. Alguns outros bispados e abadias também receberam novos bispos e abades e Guilherme confiscou parte da riqueza dos mosteiros ingleses, que tinham servido como repositórios para os bens dos nobres nativos.{{sfn|Bennett|2001|p=56}}
 
=== Problemas dinamarqueses ===