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<span>A ''sprezzatura''</span> ({{IPA-it|sprettsaˈtuːra}}) é uma palavra de origem [[Língua italiana|italiana]], primeiro definida no livro <span>[[O Cortesão]]</span>, de [[Baldassare Castiglione]], como uma forma de afetação que consiste em fazer "tudo o que se faz e se diz parecer sem esforço e quase sem qualquer pensamento a respeito".{{HarvRef|Baldassare Castiglione,&nbsp;Il libro del Cortegiano/Libro primo/Capitolo XXVI.|2002|p=32}} Trata-se da capacidade do [[cortesão]] em aparentar indiferença e facilidade na realização de ações difíceis, escondendo o esforço consciente que elas exigem.{{HarvRef|Rebhorn|1978|p=33}} A ''sprezzatura'' também tem sido descrita como "uma forma de [[ironia]] defensiva: a capacidade de disfarçar o que realmente se deseja, sente, pensa, significa ou intenciona, por detrás de uma máscara de aparente reticência e indiferença".<ref>{{citecitar encyclopediaenciclopédia|lastúltimo =Berger|firstprimeiro =Harry Jr.|titletítulo=Sprezzatura and the Absence of Grace|editor-lastsobrenome =Javitch|editor-firstnome =Daniel|workobra=The Book of the Courtier: The Singleton Translation|yearano=2002|publisherpublicado=W.W. Norton|locationlocal=New York|isbn=0393976068|ref=harv|pagepágina=297}}</ref>
 
== História ==
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<span>A </span>''sprezzatura'' era considerada uma qualidade vital para um cortesão. Em um meio amplamente informado pela ambição e a intriga, cortesãos, essencialmente, tinham grande cuidado com a imagem que projetavam em seus pares, {{HarvRef|Rebhorn|1978|p=14}} e a ''sprezzatura'' lhes permitia criar a impressão de estarem no domínio de suas funções e atribuições.{{HarvRef|Rebhorn|1978|p=35}} Por meio da ''sprezzatura'' um cortesão poderia parecer totalmente à vontade na corte, e como alguém que era "o mestre de si mesmo, das regras da sociedade, e até mesmo das leis da física". Sua ''sprezzatura'' criaria "a nítida impressão de que ele era incapaz de errar".{{HarvRef|Rebhorn|1978|p=44}}
 
No entanto, embora a faculdade da ''sprezzatura'' tivesse seus benefícios, ela também tinha seus inconvenientes. Como a ''sprezzatura'' busca fazer parecerem fáceis as tarefas difíceis, aqueles que a utilizam devem ser capazes de agir de maneira convincente, e portanto enganar aos outros com sucesso.<ref name="Wescott">{{Citecitar booklivro|firstprimeiro =Howard|lastúltimo =Wescott|chaptercapítulo=The Courtier and the Hero: Sprezzatura from Castiglione to Cervantes|titletítulo=Cervantes for the 21st Century|editor=Francisco La Rubia Prado|locationlocal=Newark|publisherpublicado=Juan de la Cuesta|yearano=2000|pagepágina=227}}</ref> Consequentemente, seu emprego generalizado criaria uma "cultura da suspeita, que se auto-alimenta".{{HarvRef|Berger|2002|p=299}} Além disso, uma vez que os cortesãos tinham de ser diligentes na manutenção de suas fachadas, e mantê-las indefinidamente, "o subproduto da performance do cortesão é que a realização da ''sprezzatura'' exige-lhe negar ou denegrir a sua natureza".{{HarvRef|Berger|2002|p=306}} Por conseguinte, o cortesão que se destaca por sua ''sprezzatura'' correria o risco de perder-se para a fachada criada para os seus pares.
 
== Exemplos na arte renascentista ==
[[Ficheiro:Raffaello_-_Spozalizio_-_Web_Gallery_of_Art.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|[[Casamento da Virgem (Rafael)|''O Casamento da Virgem'']] (1504) de [[Rafael Sanzio]].|250x250px]]
[[Ficheiro:Pietro_Perugino_016.jpg|miniaturadaimagem|''Casamento da Virgem'' (1500-1504) de [[Pietro Perugino|Perugino]].|250x250px]]
[[Rafael]] exemplificou a ''sprezzatura'' desde o início de sua carreira, começando com seu primeiro trabalho assinado, ''[[Casamento da Virgem (Rafael)|O Casamento da Virgem]]''. "Inspirada em uma obra sobre o mesmo tema, do seu professor [[Pietro Perugino|Perugino]], a pintura de Rafael difere de seu modelo principalmente por refletir de maneira única a importância de ''sprezzatura''."<ref name="louden">{{citecitar journalperiódico|lastúltimo =Louden|firstprimeiro =Lynn M.|titletítulo='Sprezzatura' in Raphael and Castiglione|journalperiódico=Art Journal|datedata=1968|volume=28|issuenúmero=1|pagepágina=45|jstor=775165|ref=harv|url=|ultimo=|primeiro=|data=|acessodata=}}</ref>
 
A pintura de Rafael revela a sua consciência sobre a da importância de ''sprezzatura'', sobretudo por meio de sua representação de [[São josé|José]]. Comparada com a representação mais jovial de José, por Rafael, a versão de Perugino é consideravelmente mais idealizada e mais velha. O José de Perugino, apesar de sua doçura em contraste com representações anteriores de outros artistas, possui uma certa dureza de perfil e angularidade que Rafael evitou, ao  suavizar a anatomia das características faciais e ao quebrar levemente seu perfil.