O Cruzeiro: diferenças entre revisões

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Verbete melhorado em programa de educação na Faculdade Cásper Líbero
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Estabeleceu uma nova linguagem na imprensa brasileira: inovações gráficas, publicação de grandes reportagens, ênfase ao fotojornalismo.<ref>{{citar livro |sobrenome=Scalzo |nome= Marília |título= Jornalismo de revista |local= São Paulo |editora= Contexto |ano= 2003 |página=30}}</ref> Fortaleceu a parceria com as duplas repórter-fotógrafo, a mais famosa sendo formada por [[David Nasser]] e [[Jean Manzon]] que, nos [[década de 1940|anos 40]] e [[Década de 1950|50]], fizeram reportagens de grande repercussão.<ref name=LMC>{{citar livro |sobrenome=Carvalho |nome= Luiz Maklouf |título= Cobras criadas |subtítulo= David Nasser e O Cruzeiro |local= São Paulo |editora= Senac |ano= 2001 |páginas= 599}}</ref>
 
A revista deixou claro em seu primeiro editorial que se diferenciava de suas “irmãs mais velhas que nasceram das demolições do Rio Colonial”, colocando-se na [[vanguarda]] da modernidade aliando seu nome a [[tecnologias]] modernas: “''Cruzeiro'' encontrará ao nascer o [[arranha-céu]], a [[radiotelefonia]] e o [[Correio Aéreo Nacional|correio aéreo]]”.<ref name=CR1>{{citar periódico |título=editorial |jornal=O Cruzeiro |ano=1928 |data=10 de novembro |mês=novembro |volume=1 |número=1 |página=3}}</ref><ref>{{citar livro |sobrenome=Carvalho |nome= Fabio Reynol de|titulo=Ciência de Almanaque: como as imagens de Eu Sei Tudo construíram uma guerra |nota=Dissertação de Mestrado |editora= Universidade Estadual de Campinas |local=Campinas |ano=2011|acessodata=27 fev 2013 |url=http://www.labjor.unicamp.br/download/dissertacoes/fabio_reynol_carvalho.pdf}}</ref>
 
Em [[1941]], ''O Cruzeiro'' também passou a ser o nome da [[O Cruzeiro (editora)|Editora do grupo Diários Associados]]<ref>{{citar livro|autor=Jacques Alkalai Wainberg|título=Império de palavras|editora=EDIPURS|ano=2003|páginas=169|id=9788574303765}}</ref>
== Lançamento e linha editorial ==
[[Ficheiro:Senador Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello.tif|miniaturadaimagem|Assis Chateaubriand, em 1957.]]
A revista foi nomeada primeiramente como ''Cruzeiro''<ref name=":0">SERPA, Leoní. A contribuição de O Cruzeiro para com o jornalismo brasileiro (1928-1945). Disponível em: <http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/encontros-nacionais/5o-encontro-2007-1/A%20contribuicao%20de%20O%20Cruzeiro%20para%20com%20o%20jornalismo%20brasileiro%20-1928-1945.pdf>.</ref> e foi lançada no dia 10 de novembro de 1928, sob o slogan "Compre amanhã o Cruzeiro, a revista contemporânea dos arranha-céus", prometendo uma linha editorial moderna.<ref name=":1">{{Citar periódico|ultimo=JOOMLA|primeiro=TI Fundaj - SUPER ADMIN|data=2015-04-15|titulo=Revista O Cruzeiro: Catálogo da coleção do acervo da Fundação Joaquim Nabuco (1929-1974)|url=http://www.fundaj.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4393|jornal=Fundação Joaquim Nabuco|lingua=pt-BR}}</ref><ref name=":0" /> O projeto inicialmente era do jornalista [[Carlos Malheiro Dias]], mas foi vendido para [[Assis Chateaubriand]], pois a Empresa Gráfica Cruzeiro S.A, pertencente à Dias, não tinha dinheiro para lançar a publicação. Apesar disso, a primeira edição contou com Dias em sua direção, que ficou no cargo até 1933, junto com o presidente da revista, José Mariano Filho.<ref name=":1" /> Meses depois, em junho 1929, a revista, que já estava na edição número 30, passa a ser chamada de ''O Cruzeiro''<ref name=":0" />, nome que permanece até seu fim.
No primeiro editorial da revista, lançado em dezembro de 1928, a publicação justifica seu nome: <blockquote>"Cruzeiro encontra já, ao nascer, o arranha-céu, a radiotelephonia e o correio aéreo: o esboço de um mundo novo no Novo Mundo. Seu nome é o da constelação que, ha milhões incontáveis de an- nos, scintila, aparentemente immovel, no céo austral, e o da nova moeda em que resuscitará a circulação do ouro. Nome de luz e de opulencia , idealista e realistico, synonymo de Brasil na linguagem da poesia e dos symbolos. Timbre de estrellas na bandeira da Patria, o cruzeiro foi, desde o primeiro dia da sua historia, um talisman. Nas solidões do mar, era o fanal nocturno dos navegantes. Vera Cruz, Santa Cruz, foram os nomes sacros que impuzeram á terra nova os nautas-cavallei- ros na semana mystica do descobrimento. A armada descobridora apontara á vista dos íncolas attonitos, com as vermelhas cruzes pintadas na pojadura palpitante das vélas. Na terra paradisíaca, por onde Eva andava na verde floresta mais nua do que anda hoje nas praias fulvas de Copacabana, arvorou-se em signal de pos- se uma cruz, em memoria daquella outra em que um Homem divino fôra crucificado no reinado do lascivo Tiberio. Volvidos quatro seculos, a bandeira nacional recolhia num losangulo de céo a constelação tutelar, restaurando na linguagem dos symbolos o nome do baptísmo de 1500. Cruzeiro é um título que inclue nas suas tres syllabas um programma de patriotismo. (O Cruzeiro, Editorial no 1, 06.12.1928)"<ref>GRISOLIO, Lilian Marta. Uma revista em guerra: A Revista O Cruzeiro nos primeiros anos da Guerra Fria. Disponível em: <https://www.revistas.ufg.br/Opsis/article/download/32678/18253></ref></blockquote>
 
A primeira edição foi impressa na Argentina, onde tinham equipamentos mais modernos como a rotogravura capaz de variar o tamanho das fotografias e imprimi-las ao mesmo tempo que o texto. As outras revistas no Brasil, na época, usavam chapa que não dava as oportunidades de impressão da anterior. ''O Cruzeiro'' foi a primeira revista de circulação nacional do Brasil e era financiada principalmente por publicidade, apesar de possuir a possibilidade de assinatura pelos leitores.
Entre seus diversos assuntos, a revista ''O Cruzeiro'' contava fatos sobre a vida dos astros de [[Hollywood]], [[cinema]], [[Desporto|esportes]] e [[saúde]]. Ainda contava com seções de [[charge]]s, [[política]], [[culinária]] e [[moda]].
 
O intuito era criar uma revista moderna inspirada na revista norte-americana [[Revista Life|Life]] com conteúdo variado (como contos, crônicas, moda, esporte, cinema, charges, caricaturas, história, cobertura internacional, publicidade) e um ''layout'' diferente com muitas ilustrações e fotografias.<ref name=":2">{{Citar periódico|ultimo=Bombonatto|primeiro=Ursini, Leslye|data=2000|titulo=A revista O Cruzeiro na virada da decada de 1930|url=http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/279052}}</ref><ref name=":1" /> A revista deixou claro em seu primeiro editorial que se diferenciava de suas “irmãs mais velhas que nasceram das demolições do Rio Colonial”, colocando-se na [[vanguarda]] da modernidade aliando seu nome a [[tecnologias]] modernas: “''Cruzeiro'' encontrará ao nascer o [[arranha-céu]], a [[radiotelefonia]] e o [[Correio Aéreo Nacional|correio aéreo]]”.<ref name="CR1">{{citar periódico|data=10 de novembro|ano=1928|título=editorial |jornal=O Cruzeiro |anovolume=1928 1|datapágina=10 de novembro 3|mês=novembro |volume=1 |número=1 |página=3}}</ref><ref>{{citar livro |sobrenomeurl=Carvalho |nome= Fabio Reynol dehttp://www.labjor.unicamp.br/download/dissertacoes/fabio_reynol_carvalho.pdf|titulo=Ciência de Almanaque: como as imagens de Eu Sei Tudo construíram uma guerra |notasobrenome=DissertaçãoCarvalho|nome=Fabio Reynol de Mestrado |editora= Universidade Estadual de Campinas |local=Campinas |ano=2011|local=Campinas|acessodata=27 fev 2013 |urlnota=http://www.labjor.unicamp.br/download/dissertacoes/fabio_reynol_carvalho.pdfDissertação de Mestrado}}</ref>
Cobrindo o suicídio de [[Getúlio Vargas]] em agosto de [[1954]] a revista atingiu a impressionante tiragem de 720.000 exemplares. Até então, o máximo alcançado fora a marca dos 80.000. Daí em diante, o número se manteve.
 
As edições da ''O Cruzeiro'' tinham normalmente 48 páginas. A partir dos anos 1930, a revista passou a ter entre 56 e 64 páginas sendo quase metade rotogravura. Nesta época, um exemplar custava 2 mil réis.<ref name=":0" /> A publicação foi a primeira a contratar jornalistas, que puderam exercer a função em tempo integral sempre precisar de outros trabalhos, e acabar com o "mito" de que a profissão era apenas um 'bico".<ref name=":5" />
Nos [[década de 1960|anos 60]], ''O Cruzeiro'' entrou em declínio por má gestão, com o desuso de suas fórmulas e o surgimento de novas publicações, como as revistas [[Manchete (revista)|''Manchete'']] e ''Fatos & Fotos''. O fechamento da revista, em julho de [[1975]], marcou a consagração da televisão e o declínio dos Diários Associados.
== Conteúdo ==
Entre seus diversos assuntos, a revista ''O Cruzeiro'' contava fatos sobre a vida dos astros de [[Hollywood]], [[cinema]], [[Desporto|esportes]] e [[saúde]]. Ainda contava com seções de [[charge]]s, [[política]], [[culinária]] e [[moda]]. Porém, havia também um grande destaque para a vida da elite jovem brasileira nas páginas da revista com matérias sobre bailes e festas escolares, diversão na praia, eventos esportivos (incluindo competições de estudantes e militares), concursos de beleza, fotos de modelos e entrevistas com jovens ricas.<ref name=":3">{{Citar periódico|ultimo=Bassanezi|primeiro=Carla|ultimo2=Ursini|primeiro2=Leslye Bombonatto|data=1995|titulo=O Cruzeiro e as garotas|url=https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1770|jornal=Cadernos Pagu|lingua=pt|volume=0|numero=4|paginas=243–260|issn=1809-4449}}</ref> A revista também publicava contos de revistas estrangeiras sem dar os devidos créditos e ainda copiava as ilustrações. As seções de moda também era normalmente copiadas de revistas nova-iorquinas ou parisienses.<ref name=":0" />
 
A revista possuía várias seções voltadas para o público feminino. A seção ''Da Mulher para Mulher,'' composta por cartas de conselhos da autora Maria Teresa, falava e ensinava as leitores sobre as responsabilidades das mulheres no casamento e nas tarefas domésticas, designava as diferenças entre os homens e mulheres e havia também conselhos de como favorecer o homem durante o sexo. Em geral, trazia os valores da sociedade da época<ref name=":3" /> Também existia a seção ''Garotas'' que era ilustrada por Alceu Penna e escrito por Edgar Alencar e, a partir de 1957, por Maria Luiza Castelo Branco. As histórias das garotas fizeram tanto sucesso que criou várias tendencias de moda e comportamento entre as jovens. As personagens viraram referências para as garotas da época.<ref name=":3" /> ''Consultório de Beleza,'' assinada por Elza Marzullo, cumpria o que o nome prometia, com dicas sobre cosméticos e beleza para mulheres e a seção ''Lar Doce Lar,'' assinada por Helena Sangirardi e Thereza de Paula Penna trazia receitas de culinárias para as leitores.<ref name=":2" /> ''Dona'' era uma seção que trazia as maiores tendências da moda de Paris, escrita por Mme. Thérèse Clemenceau que deixou seu endereço francês à dispor das leitoras para quaisquer dúvidas ou conselhos e ''A Moda em Hollywood'' divulgava as roupas mais usadas pelos famosos nos Estados Unidos.<ref name=":2" />
== Reportagem sobre o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) ==
 
As seções de humor também faziam grande sucesso na revista. No começo a revista trazia apenas charges ou ilustrações estrangeiras (seção ''A Caricatura no Estrangeiro'') e só mais tarde passou a ter comediantes brasileiros. [[Millôr Fernandes]] estreou na seção humorística ''Poste Escrito'' com apenas 14 anos. Na década de 1940, Fernandes fez dupla com [[Péricles (cartunista)|Péricles]] na seção ''Pif-Paf.'' Mas o maior sucesso foi a seção lançada em 1943, ''O Amigo da Onça,'' de Péricles que até rendeu brinquedos, enfeites, artefatos natalinos e bonecos de açúcar.<ref name=":2" /> A seção ''Estádio'' cobria competições esportivas como [[Polo aquático|polo]], [[futebol]] e [[hipismo]] e ''Cinelândia'' era seção dedicada as fofocas e vida dos artistas.<ref name=":2" />
[[Ficheiro:Guimarães Rosa, anos 1960.tif|miniaturadaimagem|Guimarães Rosa, 1960]]
''O Cruzeiro'' também tinha espaço para literatura, em ''Obras Primas'' eram lançados textos de [[Machado de Assis]], [[Eça de Queiroz]] e [[Honoré de Balzac|Balzac]]. A revista também promovia concurso de contos e um dos seus primeiros ganhadores foi [[Guimarães Rosa|Guimarães Rosas]], que se tornou um dos maiores escritores brasileiros.<ref name=":2" /> Para falar de arquitetura, a revista criou a seção ''Nossa Casa'' e sobre jardinagem tinha ''Nosso Jardim, Nossa Chácara.'' Já para falar de políticos no mundo a revista criou a ''Pelas Cinco Partes do Mundo'' e para divulgar eventos de políticos existia o ''Figuras e Factos da Semana.''<ref name=":2" />
 
Na pequena seção ''Pequenos Anúncios'' a revista divulgava endereços de comércios, horário de filmes no cinema e navios para Europa e Estados Unidos. As seções ''Consultório Médico'' e ''Consultório Jurídico'' eram dedicadas para tirar dúvidas dos leitores sobre esses assuntos.<ref name=":2" /> Outras seções que ficaram famosas foram ''Arquivos Implacáveis, Política nacional e Figuras e Fatos da História do Brasil.''<ref name=":5">{{citar livro|título=O Cruzeiro: a maior e melhor revista da América Latina.|ultimo=Maia|primeiro=César|ultimo2=Carneiro|primeiro2=Glauco|editora=Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro|ano=2002|local=Rio de Janeiro|páginas=78|acessodata=Novembro de 2018}}</ref>
 
Reportagens sobre a cobertura da inauguração do [[Cristo Redentor]], em 1930, e reportagem sobre o conflito no Oriente médio (a primeira feita pela imprensa brasileira) foram um sucesso.<ref name=":2" /><ref name=":5" /> Além disso, coberturas sobre concursos de belezas eram bem recorrentes, principalmente depois que a brasileira Yolanda Pereira venceu o Miss Universo.<ref name=":5" /> Entre os assuntos abordados pela revista também existiam coisas exóticas como receitas de ração para marrecos, guias de como cuidar de coriza de coelhos ou de inflamações em cascos de cavalo.<ref name=":2" />
 
As propagandas também faziam parte da publicação chegando a ocupar de 30% a 35% de suas páginas. A melhoria na impressão de imagens coloridas ajudou muito a promover anúncios comerciais ou até matérias patrocinadas. Na versão da ''O Cruzeiro Internacional'' também tinham anúncios e, às vezes, acontecia da publicação trazer produtos só encontrados em São Paulo ou Rio de Janeiro, mesmo a revista sendo destinada para o exterior.<ref name=":5" />
 
=== Prêmio Esso ===
A reportagem de Mario de Moraes e Ubiratan de Lemos intitulada ''Uma tragédia brasileira - os paus-de-arara'' publicada no dia 22 de outubro de 1955 foi o primeiro trabalho jornalístico homenageado pelo [[prêmio Esso]] de jornalismo. A dupla de jornalistas se aventurou durante 11 dias em caminhão de oito toneladas com mais 104 nordestinos que vinham em buscar de emprego no [[Região Sudeste do Brasil|Sudeste]] e [[Região Sul do Brasil|Sul]]. A reportagem se tornou uma denúncia das condições subumanas e da exploração que esses nordestinos sofriam durante seu trajeto. A história publicada no ''O Cruzeiro'' culminou na proibição dos [[Pau de arara (transporte)|paus-de-arara]].<ref name=":5" />
 
Quando chegou no [[Rio de Janeiro]], Mario de Moraes quase morreu, ficando três meses de cama, pois, durante a viagem, adquiriu [[tifo]], doença causada por beber água contaminada na beira da estrada.
 
== Fotografia e ilustrações ==
Como uma revista ilustrada, a ''O Cruzeiro'' privilegiava bastante as imagens em suas reportagens. Para conseguir as imagens, além de ter seu próprio time de fotojornalistas, a revista tinha parceria com agências estrangeiras como a Atlantic Photo Berlim e Consortium Paris, também publicava fotos de viajantes como etnólogos e aviadores e ainda promovia concursos de fotografia que disponibilizam um acerto fotográfico de baixo custo para a revista.<ref name=":2" />
 
''O Cruzeiro'' foi responsável pela primeira aparição de [[A Turma do Pererê|Pererê]], personagem famoso de [[Ziraldo]].<ref name=":5" />
 
== Sedes da revista e tiragem ==
Em 1931, a redação da revista ficava no recém-inaugurado prédio dos [[Diários Associados]] na rua 13 de Maio, no Rio de Janeiro. Dezoito anos depois, a revista mudou-se para um novo prédio, projeto de [[Oscar Niemeyer]] na rua do Livramento, no Rio de Janeiro. Este último foi o endereço que a revista permaneceu até a sua falência.<ref name=":0" /> A revista também contava com um escritório em [[São Paulo]] e correspondentes no [[Brasil]] inteiro.<ref name=":2" /> Durante a década de 1940 e 1950, ''O Cruzeiro'' contou com sucursais em [[Paris]], [[Nova Iorque|Nova York]], [[Roma]] e [[Tóquio]].<ref name=":1" />
 
''O Cruzeiro,'' em 1942, tinha uma tiragem de 48 mil e passou, em 1949, para 300 mil.<ref name=":2" /> A edição mais vendida da ''O Cruzeiro'' foi o exemplar que noticiava a morte de [[Getúlio Vargas|Vargas]] que chegou a 720 mil exemplares vendidos.<ref name=":0" />
 
== Fim da revista ==
A decadência de ''O Cruzeiro'' começou com a brusca queda na venda de exemplares que passou de 710 mil cópias para 400 mil durante toda a década de 1960. Além disso, era o fim da ''O Cruzeiro Internacional'' que circulou de 1957 até setembro de 1965 em diversos países da [[América Latina]] como [[Uruguai]], [[Paraguai]], [[Argentina]], [[Chile]], [[Peru]], [[Venezuela]], [[Bolívia]] e em países do [[Caribe]] e no sul dos [[Estados Unidos]].<ref name=":1" /> O surgimento de novas publicações, como as revistas [[Manchete (revista)|''Manchete'']] e ''Fatos & Fotos,'' o fortalecimento da televisão e o controle da mídia impressa pelas editoras [[Editora Abril|Abril]] e [[Bloch Editores|Bloch]] também colaboraram para a decadência do ''O Cruzeiro''. Ainda, a ida para o exterior de Chateaubriand que se tornou embaixador na Inglaterra proporcionou vários problemas dentro da revista.<ref name=":1" /><ref name=":2" />
 
A revista, junto com outros veículos do [[Diários Associados]], estava mergulhada em dívidas e não resistiu levando-a a falência em 1975. Antes disso, ''O Cruzeiro'' perdeu parte do prédio da redação e o título da revista foi vendido à Hélio Lo Bianco para pagar dívidas. Além disso, suas máquinas importadas foram vendidos por preços muito baixos.<ref name=":0" /><ref name=":1" />
 
=== Arquivos ===
A maior parte dos exemplares da revista ''O Cruzeiro'' foram levados para a sede do [[Estado de Minas]] (único título que restou do [[Diários Associados]]) após o fim da revista. O acervo é considerado o arquivo mais completo da revista.<ref name=":0" />
== Contexto histórico ==
A revista ''O Cruzeiro'' surgiu durante o governo de [[Washington Luís|Washington Luiz Pereira de Souza]]. Foi um momento de grande migração do campo para a cidade, onde as indústrias tomavam o cenário do país e a ideia de urbanização e modernidade eram cada vez mais reforçadas pelos políticos e pelo jornalismo. Na década de 1950, foi feita uma pesquisa sobre como homens e mulheres consumiam revista e isso impactou diretamente na escolha da posição das seções de ''O Cruzeiro.'' Foi constatado que os homens começavam a ler pelo início que era onde ficavam as seções de política e notícias de capa e, as mulheres, que liam do final para o começo, se deparava com seções de crônicas ou de assuntos considerados femininos como beleza e cozinha.<ref name=":5" />
 
Na década 1960, o Brasil tinha altos índices de analfabetismo, apesar disso, a ''O Cruzeiro'' tinha uma alta tiragem, chegando a 700.000 exemplares vendidos e quatro milhões de leitores por todo Brasil e no exterior. Na época a empresa [[Correios do Brasil|Correios]] já estava bem estruturada no país, facilitando a chegada da revista em diversas partes do país.<ref name=":0" />
 
Durante o governo de [[Getúlio Vargas]], a revista divulgava intensamente a política modernista e nacionalista do presidente, abrindo espaço em suas páginas para propagação de novos eletrodomésticos, produtos de beleza e moda.<ref name=":0" /> A revista refletia a posição política de Chateaubriand que oscilava constantemente: primeiro, o apoio de Assis Chateaubriand à candidatura Vargas-João Pessoa ficou muito evidente com a disparidade na cobertura das campanhas na revista ''O Cruzeiro.'' Cerca de 8 páginas ilustradas foram dedicas à dupla sendo que os opositores tiveram que pagar para ter um pequeno espaço na revista.<ref name=":1" />
 
== David Nasser e Jean Mazon ==
A revista ''O Cruzeiro'' foi a primeira a implementar as grandes reportagens e tornar seus jornalistas famosos. A dupla [[David Nasser]] e [[Jean Manzon]] foram os responsáveis pelas reportagens mais importantes da revista. Porém, é conhecido que a dupla também inventava informações para tornar as reportagens mais interessantes, um exemplo foi a reportagem sobre a falsa morte de Manzon, que foi autorizada pelo próprio Chateaubriand e que deixou a dupla mais famosa ainda. Nasser e Manzon também utilizavam informações de acontecimentos que não estavam presentes ou roubavam de outros autores sem dar créditos.<ref name=":0" />
[[Ficheiro:Jean Manzon.tif|miniaturadaimagem|Jean Manzon,1940]]
 
A dupla começou a ficar famosa a partir de 1940. Em dezembro de 1944, a dupla fez uma reportagem sobre o terremoto do Chile com a fórmula atual do ''[[Lide (jornalismo)|lead]]'' pouco usada no jornalismo da época. A preocupação era passar a informação com objetividade respondendo as principais questões do fato.<ref name=":0" /> Outra reportagem famosa da dupla foi a cobertura dos [[Xavantes]], em 1942, que contou com 18 páginas da revista e foi publicada mais tarde pela ''Life.''<ref name=":2" /><ref>{{Citar periódico|data=2004-02-10|titulo=Ascensão e queda de O Cruzeiro e Manchete {{!}} Observatório da Imprensa|url=http://observatoriodaimprensa.com.br/diretorio-academico/ascensao-e-queda-de-o-cruzeiro-e-manchete/|jornal=Observatório da Imprensa|lingua=pt-BR}}</ref> Nesta reportagem eles sobrevoaram a tribo desconhecida e tiraram diversas fotos, uma delas que entrou para a história, que foi o momento que as tribos lançavam flechas em direção a eles.<ref name=":5" />
 
Apesar das controvérsias, Manzon contribuiu muito para a implementação do fotojornalismo no Brasil e se destacou pela cobertura de guerras.<ref name=":0" />
 
== Casos ==
 
=== Reportagem sobre o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) ===
 
Em 1968, uma reportagem de Pedro Medeiros (falecido em 1999), publicada na extinta revista ''O Cruzeiro'' incluiu, entre os membros do [[Comando de Caça aos Comunistas]] (CCC), o jogador de basquete [[Antônio Salvador Sucar]], o apresentador de TV [[Boris Casoy]] e o advogado [[José Roberto Batochio]], presidente do Conselho Federal da [[OAB]] em 1994.<ref>[http://pt.scribd.com/doc/25019616/Revista-O-Cruzeiro-com-Boris-Casoy-no-CCC]</ref> Porém, segundo matéria - no site ''Consultor Jurídico'' em 2010, o próprio autor da reportagem na revista ''O Cruzeiro'', reconhecera que a lista de supostos integrantes do CCC teria sido resultado de mera ilação do autor, a partir dos nomes constantes da agenda de telefones de um suposto integrante do grupo.<ref>[http://www.conjur.com.br/2010-dez-13/post-boris-casoy-termina-retratacao-paulo-henrique-amorim Paulo Henrique Amorim se explica a Boris Casoy]. Consultor Jurídico, 13 de dezembro de 2010.</ref> De Boris a reportagem da revista ''O Cruzeiro'' diz que seu sobrenome era "Casoy ou Kossoy". É Casoy, pronto. Existe um [[Boris Kossoy]], mas é outra pessoa. Entre os depoimentos há um relato impagável: [[Boris Casoy]], vestido de couro preto, de pé na garupa de uma moto, girando uma corrente. Tendo sofrido de [[poliomielite]], como explicar sua capacidade acrobática?<ref>[http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/importante-e-a-manada-e-a-noticia-que-se-dane Importante é a manada e a notícia que se dane]. Carlos Brickmann. Observatório da Imprensa, 2 de fevereiro de 2010.</ref>
 
=== Operação O Cruzeiro ===
 
''O Cruzeiro'', editado pelos [[Diários Associados]], do jornalista [[Assis Chateaubriand]], circulou de 1928 a 1975. [[Alexandre von Baumgarten]] buscou relançar o título da revista de mesmo nome para criar uma corrente de opinião pública favorável à ditadura militar.<ref>[http://www.arqanalagoa.ufscar.br/tesesdisserta/MONOGRAFIA%5B1%5D..pdf O caso Baumgarten e a crise da ditadura (1983-1985)]. Lauriani Porto Albertini, Universidade Federal de São Carlos, 2003.</ref> Alexandre von Baumgarten adquiriu os direitos do título da revista em 1979 e possuía um contrato de publicidade com a Capemi ([[Caixa de Pecúlios, Pensões e Montepios Beneficente]]) no valor de Cr$ 12 milhões.<ref>[http://jornalggn.com.br/noticia/paulo-malhaes-revela-assassino-de-alexandre-von-baumgarten-jornalista-ligado-ao-sni Paulo Malhães revela assassino de Alexandre Von Baumgarten, jornalista ligado ao SNI]. 25 de março de 2014.</ref> Outros anunciantes: Prefeitura de Santos em 1981 (que possuía um prefeito nomeado pela ditadura militar chamado [[Paulo Gomes Barbosa]]), [[Nuclebrás]], [[Pró-álcool]], Superintendência da [[Zona Franca de Manaus]], [[Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste]] (Sudene), [[Embraer]], [[Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos]].<ref>[http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0246.htm Uma história de espionagem]</ref>
 
=== Revista ''O Cruzeiro'' contra a ''Life Magazine'' e ''Paris Match''===
Em 15 de setembro de 1951, a revista ''O Cruzeiro'' publicou uma reportagem chamada "As noivas dos deuses sanguinários" em resposta a uma matéria publicada pela revista francesa [[Paris Match]] que abordava de forma pejorativa o [[candomblé]] e que deixou muitos intelectuais brasileiros furiosos. A reportagem da revista brasileira teve ampla divulgação em [[Salvador]] e fez tanto sucesso que a tiragem da revista passou de 300.000 para 330.000 exemplares. Ainda, com o sucesso da reportagem, houve a oportunidade de levar a ''O Cruzeiro'' para a capital da [[Bahia]], que ainda não recebia a revista.<ref name=":4">{{Citar periódico|ultimo=Tacca|primeiro=Fernando de|data=2016-11-14|titulo=O Cruzeiro versus Paris Match e Life Magazine: um jogo especular|url=http://seer.casperlibero.edu.br/index.php/libero/article/view/750|jornal=LÍBERO. ISSN impresso: 1517-3283 / ISSN online: 2525-3166|lingua=pt|volume=0|numero=17|paginas=63–71|issn=2525-3166}}</ref>
[[Ficheiro:Gordon Parks.jpg|miniaturadaimagem|Gordon Parks, 1963]]
O embate com a revista francesa não foi a única da Revista ''O Cruzeiro.'' A revista norte-americana [[Life (revista)|Life]] criou um especial de cinco blocos chamado "Pobreza" com o objetivo de mostrar "a crise geral" da [[América Latina]]. Essa série faz parte das medidas política dos [[Estados Unidos]] para mostrar que a pobreza e miséria era "campo fácil" para o comunismo. [[Gordon Parks]], famoso fotógrafo da revista, visitou a cidade do [[Rio de Janeiro]] em 1961 e tirou uma foto que criou grande polêmica. A foto ficou conhecida como "Flávio da Silva, 1961" e mostrava um garoto esquelético na cama com uma luz que deixava a fotografia um tanto dramática. Na reportagem, junto da foto, o texto trazia a vida da família de Flávio na favela, o objetivo era ressaltar e denunciar que, no Brasil, famílias brancas viviam na miséria. Nos Estados Unidos, a reportagem repercutiu e muitos doaram dinheiro à revista. Gordon voltou ao Brasil, comprou uma casa e roupas para a família de Flávio e leva o menino para os Estados Unidos, onde sua asma é tratada em um hospital e é adotado por uma família portuguesa. Toda a história da família carioca e o desfecho de Flávio nos Estados Unidos é narrada em reportagens na revista norte-americana. Em resposta, ''O Cruzeiro'' manda à [[Nova Iorque|Nova York]] o fotógrafo Henri Ballot que faz uma fotorreportagem muito parecida com a versão da ''Life'', porém com uma história semelhante com o objetivo de mostrar que também existia pobreza em solo norte-americano: Ballot encontrou uma família porto-riquenha que vivia em extrema pobreza em um cortiço nova-iorquino e reproduziu seu dia a dia do mesmo modo que foi feito com a família brasileira.<ref name=":4" />
 
A foto que mais fez sucesso na fotorreportagem de Ballot foi a imagem de um menino dormindo e, ao mesmo tempo, baratas sobem em seu corpo. Mais tarde, a revista ''Life'' descobriu que aquela foto foi uma montagem de Ballot que ficou proibido de voltar aos Estados Unidos.<ref name=":4" />
 
==Colaboradores==
Foram notáveis os seus colaboradores nas várias seções<ref name=AN1998/><ref>{{citar livro |título=Enciclopédia Barsa universal |local=São Paulo |editora=Barsa Planeta |ano=2007 |volume=5 |página=1709}}</ref><ref name=":0" />:
* [[CarlosAnita EstêvãoMalfatti]]
*Alceu Penna
*[[Austregésilo de Athayde]]
*[[Carlos Estêvão]]
* [[David Nasser]]
*[[Di Cavalcanti]]
*[[Djanira da Motta e Silva|Djanira]]
*[[Enrico Bianco]]
*[[Érico Veríssimo]]
*[[Franklin de Oliveira]]
*Gilberto Trompowski
*[[Graciliano Ramos]]
*[[Humberto de Campos]]
*[[Ismael Nery]]
* [[Jean Manzon]]
*[[Jorge Amado]]
* José Araújo de Medeiros
* [[José Cândido de Carvalho]]
* José Leal
* Luciano Carneiro
*[[Manuel Bandeira]]
* Mário de Morais
* Murilo Gondim
* [[Millôr Fernandes]]
* [[Orlando Mattos]]
*[[Candido Portinari|Portinari]]
* [[Péricles (cartunista)|Péricles]]
* [[Rachel de Queiroz]]
*Santa Rosa
* [[Ubiratan de Lemos]]
*[[Zélio Alves Pinto|Zélio]] (irmão de Ziraldo)
* [[Ziraldo]]
 
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*''[[Manchete (revista)|Manchete]]''
 
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== Ligações externas ==
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