Psicologia: diferenças entre revisões

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* Os ''processos mentais'' são a maneira como a mente humana funciona - pensar, planejar, tirar conclusões, fantasiar e sonhar. O comportamento humano não pode ser compreendido sem que se compreendam esses processos mentais, já que eles são a sua base.
 
Como toda ciência, o objetivo da psicologia é a ''descrição'', a ''explicação'', a ''previsão'' e o ''controle'' do desenvolvimento do seu objeto de estudo. Como os processos mentais não podem ser observados mas apenas inferidos, torna-se o comportamento o alvo principal dessa descrição, explicação e previsão (mesmo as novas técnicas visuais da [[neurociência]] que permitem visualizar o funcionamento do cérebro não permitem a visualização dos processos mentais, mas somente de seus ''correlatos fisiológicos'', ou seja, daquilo que acontece no organismo enquanto os processos mentais se desenrolam). ''Descrever'' o comportamento de um indivíduo significa, em primeiro lugar, o desenvolvimento de métodos de observação e análise que sejam os mais objetivos possíveis e em seguida a utilização desses métodos para o levantamento de dados confiáveis. A observação e a análise do comportamento podem ocorrer em diferentes níveis - desde complexos padrões de comportamento, como a [[personalidade]], até a simples reação de uma pessoa a um sinal sonoro ou visual. A [[introspecção]] é uma forma especial de observação (ver mais abaixo o [[estruturalismo]]). A partir daquilo que foi observado o psicólogo procura ''explicar'', esclarecer o comportamento. A psicologia parte do princípio de que o comportamento se origina de uma série de fatores distintos: [[variável|variáveis]] orgânicas (disposição genética, metabolismo, etc.), disposicionais (temperamento, inteligência, motivação, etc.) e situacionais (influências do meio ambiente, da cultura, dos grupos de que a pessoa faz parte, etc.). As ''previsões'' em psicologia procuram expressar, com base nas explicações disponíveis, a [[probabilidade]] com que um determinado tipo de comportamento ocorrerá ou não. Com base na capacidade dessas explicações de prever o comportamento futuro se determina a também a sua validade. ''Controlar'' o comportamento significa aqui a capacidade de influenciá-lo, com base no conhecimento adquirido. Essa é a parte mais prática da psicologia, que se expressa, entre outras áreas, na [[psicoterapia]].<ref name="Zimbardo"/>
 
Para o psicólogo [[União Soviética|soviético]] [[Alexander Luria|A. R. Luria]], um dos fundadores da [[neuropsicologia]], a psicologia do homem deve ocupar-se da análise das formas complexas de representação da realidade, que se constituíram ao longo da história da sociedade e são realizadas pelo cérebro humano, incluindo as formas subjetivas da atividade consciente sem substituí-las pelos estudo dos processos fisiológicos que lhes servem de base nem limitar-se a sua descrição exterior.
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"A psicologia possui um longo passado, mas uma história curta".<ref>"Die Psychologie besitzt eine lange Vergangenheit aber nur eine kurze Geschichte". Citado por Zimbardo & Gerrig (2004), p. 10.</ref> Com essa frase descreveu [[Hermann Ebbinghaus]], um dos primeiros psicólogos experimentais, a situação da psicologia - tanto em [[1908]], quando ele a escreveu, como hoje: desde a Antiguidade pensadores, filósofos e teólogos de várias regiões e culturas dedicaram-se a questões relativas à natureza humana - a percepção, a consciência, a loucura. Apesar de teorias "psicológicas" fazerem parte de muitas tradições orientais, a psicologia enquanto ciência tem suas primeiras raízes nos filósofos gregos, mas só se separou da [[filosofia]] no final do [[século XIX]].
 
O primeiro laboratório psicológico foi fundado pelo [[fisiologia|fisiólogo]] alemão [[Wilhelm Wundt]] em [[1879]] tendo publicado seu livro "Principles of Physiological Psychology" em [[Leipzig]], na [[Alemanha]]. Seu interesse se havia transferido do funcionamento do corpo humano para os processos mais elementares de percepção e a velocidade dos processos mentais mais simples. O seu laboratório formou a primeira geração de psicólogos. Alunos de Wundt propagaram a nova ciência e fundaram vários laboratórios similares pela Europa e os Estados Unidos. [[Edward Titchener]] foi um importante divulgador do trabalho de Wundt nos [[Estados Unidos]]. Mas uma outra perspectiva se delineava: o médico e filósofo americano [[William James]] propôs em seu livro "''The Principles of Psychology'' (1890)" - para muitos a obra mais significativa da literatura psicológica - uma nova abordagem mais centrada na função da mente humana do que na sua estrutura. Nessa época era a psicologia já uma ciência estabelecida e até 1900 já contava com mais de 40 laboratórios na América do Norte<ref name="Zimbardo"/>
 
==== Estruturalismo ====
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* Por ser [[reducionismo|'''reducionista''']], ou seja, querer reduzir a complexidade da experiência humana a simples sensações;
* Por ser '''elementarista''', ou seja, dedicar-se ao estudo de partes ou elementos ao invés de estudar estruturas mais complexas, como as que são típicas para o comportamento humano e;
* Por ser '''mentalista''', ou seja, basear-se somente em relatórios verbais, excluindo indivíduos incapazes de introspecção, como crianças e animais, do seu estudo. Além disso a introspecção foi alvo de muitos ataques por não ser um verdadeiro método científico objetivo.<ref name="Zimbardo"/>
 
==== Funcionalismo ====
{{Artigo principal|[[Funcionalismo]]}}
[[William James]] concordava com Titchener quanto ao objeto da psicologia - os processos conscientes. Para ele, no entanto, o estudo desses processos não se limitava a uma descrição de elementos, conteúdos e estruturas. A mente consciente é, para ele, um constante fluxo, uma característica da mente em constante interação com o meio ambiente. Por isso sua atenção estava mais voltada para a '''função''' dos processos mentais conscientes. Na psicologia, a seu entender, deveria haver espaço para as emoções, a [[vontade]], os [[Valores morais|valores]], as experiências religiosas e místicas - enfim, tudo o que faz cada ser humano único. As ideias de James foram desenvolvidas por [[John Dewey]], que dedicou-se sobretudo ao trabalho prático na educação.<ref name="Zimbardo"/>
 
==== Gestalt, ou Psicologia da Forma ====
{{Artigo principal|[[Gestalt]]}}
Uma importante reação ao funcionalismo e ao comportamentalismo nascente (ver abaixo) foi a psicologia da ''gestalt'' ou da forma, representada por [[Max Wertheimer]], [[Kurt Koffka]] e [[Wolfgang Köhler]]. Principalmente dedicada ao estudo dos processos de percepção, essa corrente da psicologia defende que os fenômenos psíquicos só podem ser compreendidos, se forem vistos como um todo e não através da divisão em simples elementos perceptuais. A palavra ''gestalt'' significa "forma", "formato", "configuração" ou ainda "todo", "cerne". O gestaltismo assume assim o lema: "O todo é mais que a soma das suas partes".<ref name="Zimbardo"/>
 
Distinta da psicologia da ''gestalt'', escola de pesquisa de significado basicamente histórico fora da psicologia da percepção, é a [[gestalt-terapia]], fundada por Frederic S. Perls ([[Fritz Perls]]).
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==== A perspectiva biológica ====
[[Imagem:Psi and Caduceus.svg|direita|190px|thumbnail|O [[Bordão de Esculápio|caduceu de Asclépio]] é apenas uma cobra enrolada em um bastão. O erro cometido acima é bastante comum todavia, já que por ignorância, algumas entidades ligadas a medicina acabam utilizando o símbolo do [[Caduceu]], o bastão do deus Hermes, símbolo visto em áreas voltadas ao comércio e a comunicação. Enquanto símbolo da [[psicologia médica]] é usado juntamente com o emblema da psicologia, a letra grega "psi" = Ψ]]
A base do pensamento da perspectiva biológica é a busca das causas do comportamento no funcionamento dos [[genes]], do [[cérebro]] e dos sistemas [[sistema nervoso|nervoso]] e [[sistema endócrino|endócrino]]. O comportamento e os processos mentais são assim compreendidos com base nas estruturas corporais e nos processos bioquímicos no corpo humano, de forma que esta corrente de pensamento se encontra muito próxima das áreas da [[genética]], da [[neurociência]] e da [[neurologia]] e por isso está intimamente ligada ao importante debate sobre o papel da predisposição genética e do meio ambiente na formação da pessoa. Essa perspectiva dirige a atenção do pesquisador à base corporal de todo processo psíquico e contribui com conhecimento básico a respeito do funcionamento das funções psíquicas como pensamento, memória e percepção.<ref name="Zimbardo"/>
 
===== Psicologia médica =====
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Segundo a perspectiva psicodinâmica, o comportamento é movido e motivado por uma série de forças internas, que buscam dissolver a tensão existente entre os instintos, as [[pulsões]] e as necessidades internas de um lado e as exigências sociais de outro. O objetivo do comportamento é assim a diminuição dessa tensão interna.
 
A perspectiva psicodinâmica teve sua origem nos trabalhos do médico [[Viena|vienense]] [[Sigmund Freud]] (1856-1939) com pacientes psiquiátricos, mas ele acreditava serem esses princípios válidos também para o comportamento normal. O [[Teoria Psicanalítica|modelo freudiano]] é notoriamente reconhecido por enfatizar que a natureza humana não é sempre racional e que as ações podem ser motivadas por fatores não acessíveis à consciência. Além disso, Freud dava muita importância à infância, como uma fase importantíssima na formação da [[personalidade]]. A teoria original de Freud, que foi posteriormente ampliada por vários autores mais recentes e influenciou fortemente muitas áreas da psicologia, tem sua origem não em experimentos científicos, mas na capacidade de observação de um homem criativo, inflamado pela ideia de descobrir os mistérios mais profundos do ser humano.<ref name="Zimbardo"/>
 
==== A perspectiva analítica ====
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==== A perspectiva comportamentalista ====
{{Artigo principal|[[Behaviorismo]]}}
A perspectiva comportamentalista procura explicar o comportamento pelo estudo de relações funcionais interdependentes entre eventos ambientais (estímulos) e fisiológicos (respostas). A atenção do pesquisador é assim dirigida para as condições ambientais em que determinado indivíduo enquanto organismo se encontra, para a reação desse indivíduo a essas condições, para as consequências que essa reação lhe traz e para os efeitos que essas consequências produzem. Os adeptos dessa corrente entendem o comportamento como uma relação interativa de transformação mútua entre o organismo e o ambiente que o cerca na qual os padrões de conduta são naturalmente selecionados em função de seu valor adaptativo. Trata-se de uma aplicação do modelo [[evolucionismo|evolucionista]] de [[Charles Darwin]] ao estudo do comportamento que reconhece três níveis de seleção - o filogenético (que abrange comportamentos adquiridos hereditariamente pela história de seleção da espécie), o ontogenético (que abrange comportamentos adquiridos pela história vivencial do indivíduo) e o cultural (restrito à espécie humana, abrange os comportamentos controlados por regras, estímulos verbais, transmitidos e acumulados ao longo de gerações por meio da linguagem). A [[Análise do Comportamento]], ciência que verifica tais postulados teóricos, baseia-se sobretudo em experimentos empíricos, controlados e de alto rigor metodológico com animais que levaram ao descobrimento de processos de [[condicionamento]] e formulação de muitas técnicas aplicáveis ao ser humano. Foi uma das mais fortes influências para práticas psicológicas posteriores, a maior no hemisfério norte atualmente. Destaca-se das demais correntes da Psicologia por não se fundamentar em abordagens restritamente teóricas e pela exclusiva rejeição do modelo de pensamento dualista que divide a constituição humana em duas realidades ontologicamente independentes, o corpo físico e a mente [[metafísica]] - ou seja, nessa perspectiva processos subjetivos tais como emoções, sentimentos e pensamentos/cognições são entendidos como substancialmente materiais e sujeitos às mesmas leis naturais do comportamento, sendo logo, classificados como eventos ou comportamentos encobertos/privados. Tal entendimento não rejeita a existência da subjetividade, como popularmente se imagina, mas destituí a mesma de um funcionamento automatista. As práticas terapêuticas derivadas desse tipo de estudo estão entre as mais eficientes e cientificamente reconhecidas<!-- {{Citationcarece neededde fontes|reason=Não há um consenso a respeito de tal afirmação|datedata=Aprilabril de 2018}} --> e são, portanto, preferencialmente empregadas no tratamento de transtornos psiquiátricos. O modelo de estudo analítico-comportamental é também vastamente empregado na [[Farmacologia]] moderna e nas [[Neurociências]].
 
==== A perspectiva humanista ====
{{Artigo principal|[[Psicologia humanista]]}}
Em reação às correntes Comportamentalista e Psicodinâmica, surgiu nos anos 50 do século XX a [[perspectiva existêncial-humanista]], que vê o homem não como um ser controlado por pulsões interiores nem por condições impostas pelo ambiente, mas como um ser ativo e autônomo, que busca, conscientemente, seu próprio crescimento e desenvolvimento, apresentando uma tendência à auto realização. A principal fonte de conhecimento da abordagem psicológica humanista é o estudo biográfico, com a finalidade de descobrir como a pessoa vivencia sua existência e entende sua experiência, por meio de um introspeccionismo. Ao contrário do [[Comportamentalismo]], que valoriza a observação externa, a perspectiva humanista procura um entendimento [[holístico]] do ser humano e está intimamente relacionada à epistemologia [[fenomenologia|fenomenológica]]. Exerceu grande influência sobre a [[psicoterapia]].<ref name="Zimbardo"/>
 
==== A perspectiva cognitiva ====
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==== A perspectiva evolucionista ====
A perspectiva evolucionista procura, inspirada pela [[teoria da evolução]], explicar o desenvolvimento do comportamento e das capacidades mentais como parte da adaptação humana ao meio ambiente. Por recorrer a acontecimentos ocorridos há milhões de anos, os psicólogos evolucionistas não podem realizar experimentos para comprovar suas teorias, mas contam somente com sua capacidade de observação e com o conhecimento adquirido por outras disciplinas como a [[antropologia]] e a [[arqueologia]].<ref name="Zimbardo"/>
 
==== A perspectiva sociocultural ====
Já em 1927 o antropólogo [[Bronislaw Malinowski]] criticava a psicologia - na época a psicanálise de Freud - por ser centrada na cultura ocidental. Essa preocupação de expandir sua compreensão do homem além dos horizontes de uma determinada cultura é o cerne da perspectiva sociocultural. A pergunta central aqui é: em que se assemelham pessoas de diferentes culturas quanto ao comportamento e aos processos mentais, em que se diferenciam? São válidos os conhecimentos psicológicos em outras culturas? Essa perspectiva também leva a psicologia a observar diferenças entre subculturas de uma mesma área cultural e sublinha a importância da cultura na formação da personalidade.<ref name="Zimbardo"/>
 
== A perspectiva biopsicossocial e a multidisciplinaridade ==
Linha 146:
*Neuropsicologia
 
== {{Ver também}} ==
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