Psicologia

Estudo dos fenômenos produzidos pela mente humana, abrangendo pensamento e comportamento

Psicologia é a ciência que trata, estuda e analisa os processos mentais e comportamentos de indivíduos e grupos humanos em diferentes situações.[1][2][3] A psicologia tem como objetivo imediato a compreensão de grupos e indivíduos tanto pelo estabelecimento de princípios universais como pelo estudo de casos específicos,[4] e tem, segundo alguns, como objetivo final o benefício geral da sociedade.[5] Um pesquisador ou profissional desse campo é conhecido como psicólogo, podendo ser classificado como cientista social, comportamental ou cognitivo. A função dos psicólogos é tentar compreender o papel das funções mentais no comportamento individual e social, estudando também os processos fisiológicos e biológicos que acompanham os comportamentos e funções cognitivas.

Psicólogos exploram conceitos como percepção, cognição, atenção, emoção, Inteligência, fenomenologia, motivação, funcionamento do cérebro humano, personalidade, comportamento, relacionamentos interpessoais, incluindo resiliência, entre outras áreas. Psicólogos de orientações diversas também estudam, além dos fenômenos conscientes, conceitos como o inconsciente e seus diferentes modelos.[nota 1]

Embora em geral o conhecimento psicológico seja construído como método de avaliação e tratamento das psicopatologias, também é direcionado à compreensão e resolução de problemas em diferentes camadas do comportamento humano. A grande maioria dos psicólogos pratica algum tipo de papel terapêutico, seja na psicologia clínica ou no aconselhamento psicológico. Outros dedicam-se à contínua pesquisa científica relacionada aos processos mentais e o comportamento, tipicamente dentro dos departamentos psicológicos das universidades ou outros ambientes acadêmicos. Além dos campos terapêutico e acadêmico, a psicologia aplicada é empregada em outras áreas relacionadas ao comportamento humano, como a psicologia do trabalho nos ambientes industriais ou organizacionais, psicologia educacional, psicologia esportiva, psicologia da saúde, psicologia do desenvolvimento, psicologia forense, psicologia jurídica, entre outros.[6]

Os psicólogos são os profissionais responsáveis pela elaboração e aplicação dos testes psicológicos e pela construção de escalas que buscam compreender os mais diversos processos mentais (atenção, memória, linguagem, inteligência entre outros), para depressão, ansiedade, e para os mais diversos objetivos como uma avaliação psicológica, um processo seletivo de emprego e na Psicologia Forense por exemplo.[7]

A psi é a vigésima terceira letra do alfabeto grego e o símbolo universal da psicologia.

Etimologia editar

A palavra psicologia significa literalmente, "estudo da alma" (ψυχή, psyché, "alma" — λογία, logia, "tratado", "estudo").[8] A palavra em latim psychologia é creditada ao humanista croata Marko Marulić em seu livro, Psichiologia de ratione animae humanae, datado dentre o século XV e século XVI.[9] Em sua origem latina, o termo psychologia designava estudos ou estudiosos da obra de Aristóteles De Anima (Sobre a Alma). O sentido moderno de psicologia surgiu na Alemanha no século XVIII e tornou-se ciência com Wilhelm Wundt.[10]

Introdução editar

A psicologia é a ciência que estuda o comportamento e os processos mentais dos indivíduos (psiquismo). É geralmente definida como o estudo científico do comportamento e dos processos mentais, isto é, estuda todos as ações e reações observáveis, mas também processos como os sentimentos, as emoções e as representações mentais que não podem ser observadas diretamente. Cabe agora definir tais termos:[11]

  • Dizer que a psicologia é uma ciência significa que ela é regida pelas mesmas leis do método científico as quais regem as outras ciências: ela busca um conhecimento objetivo, baseado em fatos empíricos. Pelo seu objeto de estudo a psicologia desempenha o papel de elo entre as ciências sociais, como a sociologia e a antropologia, as ciências naturais, como a biologia, e áreas científicas mais recentes como as ciências cognitivas e as ciências da saúde;
  • Comportamento é a atividade observável (de forma interna ou externa) dos organismos na sua busca de adaptação ao meio em que vivem;
  • Dizer que o indivíduo é a unidade básica de estudo da psicologia significa dizer que, mesmo ao estudar grupos, o indivíduo permanece o centro de atenção — ao contrário, por exemplo, da sociologia, que estuda a sociedade como um conjunto;
  • Os processos mentais são a maneira como a mente humana funciona — pensar, planejar, tirar conclusões, fantasiar e sonhar. O comportamento humano não pode ser compreendido sem que se compreendam esses processos mentais, já que eles são a sua base.

Como toda ciência, o objetivo da psicologia é a descrição, a explicação, a previsão e o controle do desenvolvimento do seu objeto de estudo. Como os processos mentais não podem ser observados mas apenas inferidos, torna-se o comportamento o alvo principal dessa descrição, explicação e previsão (mesmo as novas técnicas visuais da neurociência que permitem visualizar o funcionamento do cérebro não permitem a visualização dos processos mentais, mas somente de seus correlatos fisiológicos, ou seja, daquilo que acontece no organismo enquanto os processos mentais se desenrolam). Descrever o comportamento de um indivíduo significa, em primeiro lugar, o desenvolvimento de métodos de observação e análise que sejam os mais objetivos possíveis e em seguida a utilização desses métodos para o levantamento de dados confiáveis. A observação e a análise do comportamento podem ocorrer em diferentes níveis — desde complexos padrões de comportamento, como a personalidade, até a simples reação de uma pessoa a um sinal sonoro ou visual. A introspecção é uma forma especial de observação (ver mais abaixo o estruturalismo). A partir daquilo que foi observado o psicólogo procura explicar, esclarecer o comportamento. A psicologia parte do princípio de que o comportamento se origina de uma série de fatores distintos: variáveis orgânicas (disposição genética, metabolismo, etc.), disposicionais (temperamento, inteligência, motivação, etc.) e situacionais (influências do meio ambiente, da cultura, dos grupos de que a pessoa faz parte, etc.). As previsões em psicologia procuram expressar, com base nas explicações disponíveis, a probabilidade com que um determinado tipo de comportamento ocorrerá ou não. Com base na capacidade dessas explicações de prever o comportamento futuro se determina a também a sua validade. Controlar o comportamento significa aqui a capacidade de influenciá-lo, com base no conhecimento adquirido. Essa é a parte mais prática da psicologia, que se expressa, entre outras áreas, na psicoterapia.[11]

Para o psicólogo soviético A. R. Luria, um dos fundadores da neuropsicologia, a psicologia do homem deve ocupar-se da análise das formas complexas de representação da realidade, que se constituíram ao longo da história da sociedade e são realizadas pelo cérebro humano, incluindo as formas subjetivas da atividade consciente sem substituí-las pelos estudo dos processos fisiológicos que lhes servem de base nem limitar-se a sua descrição exterior.

Segundo esse autor, além de estabelecer as leis da sensação e percepção humana, regulação dos processos de atenção, memorização (tarefa iniciada por Wundt), na análise do pensamento lógico, formação das necessidades complexas e da personalidade, considera esses fenômenos como produto da história social (compartilhando, de certo modo com a proposição da Völkerpsychologie de Wundt (ver mais abaixo "História da Psicologia") e com as proposições de estudo simultâneo dos processos neurofisiológicos e das determinações histórico-culturais, realizadas de modo independente por seu contemporâneo Vigotsky).[12]

História editar

 Ver artigo principal: História da psicologia
 
Wilhelm Wundt (sentado) e seu grupo no seu laboratório psicológico, o primeiro desse tipo. Wundt é creditado pela criação da psicologia como um campo de investigação científica independente da filosofia e biologia.

Perspectivas históricas editar

"A psicologia possui um longo passado, mas uma história curta".[13] Com essa frase descreveu Hermann Ebbinghaus, um dos primeiros psicólogos experimentais, a situação da psicologia — tanto em 1908, quando ele a escreveu, como hoje: desde a Antiguidade pensadores, filósofos e teólogos de várias regiões e culturas dedicaram-se a questões relativas à natureza humana — a percepção, a consciência, a loucura. Apesar de teorias "psicológicas" fazerem parte de muitas tradições orientais, a psicologia enquanto ciência tem suas primeiras raízes nos filósofos gregos, mas só se separou da filosofia no final do século XIX.

O primeiro laboratório psicológico foi fundado pelo fisiólogo alemão Wilhelm Wundt[14] em 1879 tendo publicado seu livro "Principles of Physiological Psychology" em Leipzig, na Alemanha. Seu interesse se havia transferido do funcionamento do corpo humano para os processos mais elementares de percepção e a velocidade dos processos mentais mais simples. O seu laboratório formou a primeira geração de psicólogos. Alunos de Wundt propagaram a nova ciência e fundaram vários laboratórios similares pela Europa e os Estados Unidos. Edward Titchener foi um importante divulgador do trabalho de Wundt nos Estados Unidos. Mas uma outra perspectiva se delineava: o médico e filósofo americano William James propôs em seu livro "The Principles of Psychology (1890)" — para muitos a obra mais significativa da literatura psicológica — uma nova abordagem mais centrada na função da mente humana do que na sua estrutura. Nessa época era a psicologia já uma ciência estabelecida e até 1900 já contava com mais de 40 laboratórios na América do Norte[11]

Estruturalismo editar

Em seu laboratório, Wundt se dedicou a criar uma base verdadeiramente científica para a nova ciência. Assim, realizava experimentos para levantar dados sistemáticos e objetivos que poderiam ser replicados por outros pesquisadores. Para poder permanecer fiel a seu ideal científico, Wundt se dedicou principalmente ao estudo de reações simples a estímulos realizados sob condições controladas. Seu método de trabalho seria chamado de estruturalismo por Edward Titchener, que o divulgou nos Estados Unidos. Seu objeto de estudo era a estrutura consciente da mente e do comportamento, sobretudo as sensações. Um dos métodos usados por Titchener era a introspecção: nela o indivíduo explora sistematicamente seus próprios pensamentos e sensações a fim de ganhar informações sobre determinadas experiências sensoriais. A tônica do trabalho era assim antes compreender o que é a mente, os comos e porquês de seu funcionamento. As principais críticas levantadas contra o Estruturalismo foram:

  • Por ser reducionista, ou seja, querer reduzir a complexidade da experiência humana a simples sensações;
  • Por ser elementarista, ou seja, dedicar-se ao estudo de partes ou elementos ao invés de estudar estruturas mais complexas, como as que são típicas para o comportamento humano e;
  • Por ser mentalista, ou seja, basear-se somente em relatórios verbais, excluindo indivíduos incapazes de introspecção, como crianças e animais, do seu estudo. Além disso a introspecção foi alvo de muitos ataques por não ser um verdadeiro método científico objetivo.[11]

Funcionalismo editar

 Ver artigo principal: Funcionalismo (filosofia da mente)

William James concordava com Titchener quanto ao objeto da psicologia — os processos conscientes. Para ele, no entanto, os estudos desses processos não se limitavam a uma descrição de elementos, conteúdos e estruturas. A mente consciente é, para ele, um constante fluxo, uma característica da mente em constante interação com o meio ambiente. Por isso sua atenção estava mais voltada para a função dos processos mentais conscientes. Na psicologia, a seu entender, deveria haver espaço para as emoções, a vontade, os valores, as experiências religiosas e místicas — enfim, tudo o que faz cada ser humano único. As ideias de James foram desenvolvidas por John Dewey, que dedicou-se sobretudo ao trabalho prático na educação.[11]

Gestalt, ou Psicologia da Forma editar

 Ver artigo principal: Gestalt

Uma importante reação ao funcionalismo e ao comportamentalismo nascente (ver abaixo) foi a psicologia da gestalt ou da forma, representada por Max Wertheimer, Kurt Koffka e Wolfgang Köhler. Principalmente dedicada ao estudo dos processos de percepção, essa corrente da psicologia defende que os fenômenos psíquicos só podem ser compreendidos, se forem vistos como um todo e não através da divisão em simples elementos perceptuais. A palavra gestalt significa "forma", "formato", "configuração" ou ainda "todo", "cerne". O gestaltismo assume assim o lema: "O todo é mais que a soma das suas partes".[11]

Distinta da psicologia da gestalt, escola de pesquisa de significado basicamente histórico fora da psicologia da percepção, é a gestalt-terapia, fundada por Frederic S. Perls (Fritz Perls).

O legado dos primórdios editar

Apesar de terem perspectivas já ultrapassadas, tanto o estruturalismo como o funcionalismo e a gestalt ajudaram a determinar o rumo que a psicologia posterior viria a tomar. Hoje em dia os psicólogos procuram compreender tanto as estruturas como a função do comportamento e dos processos mentais absolutos.

História da Psicologia no Brasil editar

É relevante afirmar que desde o período Colonial no Brasil, já havia preocupações com o fenômeno psicológico, contudo não podemos afirmar que se tratava propriamente de Psicologia. O homem sendo parte fundante e personagem principal do desenvolvimento das ideias, cria e elabora ideias psicológicas, dentre tantas outras. É possível entender que também no Brasil, a Psicologia vai se desenvolvendo como ideias e posteriormente como ciência.

A pesquisa de Massimi (1990)[15] evidencia que os conhecimentos psicológicos foram sendo elaborados ao longo do tempo em várias culturas e que este objeto de estudo se denomina História das ideias psicológicas. Numa análise sobre o período colonial brasileiro, esta autora pontua que temas relevantes no que diz respeito a conhecimentos e práticas psicológicas foram produzidos. É conveniente evidenciar também que durante o século XIX, principalmente no final deste, a psicologia esteve presente em várias partes do Brasil, vinculadas a outras áreas de conhecimento. Havia uma preocupação com os fenômenos psicológicos no interior da Medicina e da Educação. Para Antunes (2004),[16] este processo vai aos poucos contribuindo com o reconhecimento da Psicologia como área específica de saber.

Destaca-se em 1854 como primeira obra sobre a área o livro "Investigações de Psychologia" do médico baiano Eduardo Ferreira França, que foi influenciado pela filosofia de Maine de Biran, e as teses Psicofisiologia acerca do Homem (1851), de Francisco Tavares da Cunha, e Relação da Medicina com as Ciências Filosóficas: Legitimidade da Psicologia (1864), por Ernesto Carneiro Ribeiro. A psicologia experimental foi iniciada no Brasil no final do século XIX, quando em 1897 Medeiros e Albuquerque criou no Pedagogium um laboratório de Psicologia Pedagógica, que teve curta duração, e outros posteriormente foram estabelecidos por Maurício de Medeiros e Manuel Bomfim.[17][18] Em 1914, Ugo Pizzoli funda o Laboratório de Psicologia em São Paulo, e em 1929 em Belo Horizonte é criado o Laboratório de Psicologia destinado a estudos Pedagógicos, dirigido por muitos anos por Helena Antipoff.[17] Em 1900, foi defendida por Henrique Roxo a primeira tese de psicologia experimental, "Duração dos atos psíquicos elementares nos alienados".[19] A primeira obra sobre a história da psicologia no Brasil foi A Psicologia Experimental no Brasil (1944), de Plínio Olinto.[19]

O polonês Waclaw Radecki é considerado por Rogério Centofanti aquele que mais influenciou o desenvolvimento inicial da psicologia no Brasil, promovendo intensamente a atividade como área separada, publicando diversas obras no Brasil, como "Resumo do Curso de Psychologia" (1928), Tratado de Psicologia (1929) e Tratado de Psicoterapia (1926), divulgando suas pesquisas e aplicações em um laboratório de acordo com os estudos psicológicos contemporâneos de sua época e lecionando-a em cursos a profissionais.[17][18][20] Ele veio ao Brasil em 1923 com sua esposa, Halina Radecka, que também contribuiu na teoria e prática, tendo publicado o livro "Psicologia Social" em 1960. e passou a administrar o laboratório do que era a Colônia de Psicopatas em Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, fundado por Gustavo Riedel, e que se tornou o "Instituto de Psicologia" em 1932. Radecki estabeleceu um programa de formação superior profissional em psicologia que duraria quatro anos, mas o Instituto foi encerrado no mesmo ano durante o governo Vargas e não pôde desempenhar suas atividades. Radecki mudou-se para o Uruguai e Argentina, enquanto o setor do Instituto foi continuado por médicos brasileiros que eram seus discípulos.[17][20]

Uma portaria de 1946 reconhece o diploma de psicólogo, mas é em 1962 pela Lei nº 4.119 que o curso de formação profissional em psicologia é oficializado no MEC. Em 20 de dezembro de 1971 foi promulgada a Lei nº 5.766 que cria os Conselhos Federal e Regionais de Psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo, e no mesmo ano foi realizado o I Encontro Nacional das Sociedades de Psicologia.[19]

Perspectivas atuais editar

Segue uma descrição sucinta das principais correntes de pensamento que influenciam a moderna psicologia. Para mais informações, ver os artigos principais indicados e ainda psicoterapia.

A perspectiva biológica editar

 Ver artigo principal: Psicologia biológica
 
O caduceu de Asclépio é apenas uma cobra enrolada em um bastão. O erro cometido acima é bastante comum todavia, já que por ignorância, algumas entidades ligadas a medicina acabam utilizando o símbolo do Caduceu, o bastão do deus Hermes, símbolo visto em áreas voltadas ao comércio e a comunicação. Enquanto símbolo da psicologia médica é usado juntamente com o emblema da psicologia, a letra grega "psi" = Ψ

A base do pensamento da perspectiva biológica é a busca das causas do comportamento no funcionamento dos genes, do cérebro e dos sistemas nervoso e endócrino. O comportamento e os processos mentais são assim compreendidos com base nas estruturas corporais e nos processos bioquímicos no corpo humano, de forma que esta corrente de pensamento se encontra muito próxima das áreas da genética, da neurociência e da neurologia e por isso está intimamente ligada ao importante debate sobre o papel da predisposição genética e do meio ambiente na formação da pessoa. Essa perspectiva dirige a atenção do pesquisador à base corporal de todo processo psíquico e contribui com conhecimento básico a respeito do funcionamento das funções psíquicas como pensamento, memória e percepção.[11]

O campo contemporâneo da biopsicologia ou neurociência comportamental concentra-se nas causas físicas que sustentam o comportamento. Por exemplo, psicólogos fisiológicos usam modelos animais, geralmente ratos, para estudar os mecanismos neurais, genéticos e celulares que fundamentam comportamentos específicos, como aprendizagem e memória e respostas de medo.[21] Neurocientistas cognitivos investigam os correlatos neurais de processos psicológicos em humanos usando ferramentas de imagem neural, e neuropsicólogos conduzem avaliações psicológicas para determinar, por exemplo, aspectos específicos e extensão do déficit cognitivo causado por dano cerebral ou doença. O modelo biopsicossocial é uma perspectiva integrada para a compreensão da consciência, do comportamento e da interação social. Assume que qualquer comportamento ou processo mental afeta e é afetado por fatores biológicos, psicológicos e sociais dinamicamente inter-relacionados.[22]

A psicologia evolucionista examina a cognição e os traços de personalidade de uma perspectiva evolutiva. Essa perspectiva sugere que adaptações psicológicas evoluíram para resolver problemas recorrentes em ambientes ancestrais humanos. A psicologia evolucionista oferece explicações complementares para as explicações mais proximais ou de desenvolvimento por outras áreas da psicologia: isto é, ela se concentra principalmente sobre perguntas mais últimas do tipo "por quê?", em vez de aproximar a questões do tipo "como?". Questões "como?" são abordadas mais diretamente pela pesquisa de genética comportamental, que visa compreender como os genes e o ambiente impactam o comportamento.[23] Assim, a genética do comportamento costuma enfatizar mais as diferenças individuais, como nas psicopatologias, ao invés das características evolutivas gerais da espécie. Nessa perspectiva, pesquisas de herdabilidade são conduzidas para indicar o grau de contribuição de fatores inatos e adquiridos à constituição da mente, enfatizando o debate natureza versus criação. O esforço de síntese entre esses diferentes níveis de análise, de interação genética ao ambiente físico e sociocultural, é buscado atualmente na área chamada de sociobiologia.[24] Novos fatores estão sendo descobertos como pontes de conexão, tal como a epigenética do comportamento.[25]

Psicologia médica editar
 Ver artigo principal: Psicologia médica

O processo saúde-doença tem uma atenção especial e pode ser compreendido de diferentes formas além do direcionado ao tratamento do distúrbio mental propriamente dito. Inicialmente abordado pela psicopatologia, advinda da distinção progressiva do objeto da neurologia e psiquiatria, e consolidação destas como especialidades médicas, a percepção da importância dos fatores emocionais no adoecimento e recuperação da saúde já estavam presentes na medicina hipocrática e na homeopatia, contudo foi somente em meados do século XX que surgiram aplicações da psicologia nas intervenções clínicas atualmente denominadas por medicina psicossomática, psicologia médica, psicologia hospitalar e psicologia da saúde.[26]

A perspectiva psicodinâmica editar

 Ver artigo principal: Psicologia dinâmica

Segundo a perspectiva psicodinâmica, o comportamento é movido e motivado por uma série de forças psíquicas internas, e descreve a mente com base em conceitos de energia, tensão, instintos, pulsões e desejos, como as necessidades internas de um lado e as exigências sociais de outro.

A perspectiva psicodinâmica ficou mais conhecida na forma da teoria psicanalítica, a partir dos trabalhos do médico vienense Sigmund Freud (1856–1939) com pacientes psiquiátricos; mas ele acreditava serem esses princípios válidos também para o comportamento normal. O modelo freudiano é notoriamente reconhecido por enfatizar que a natureza humana não é sempre racional e que as ações podem ser motivadas por fatores não acessíveis à consciência. Além disso, Freud dava muita importância à infância, como uma fase importantíssima na formação da personalidade. A teoria original de Freud, que foi posteriormente ampliada por vários autores mais recentes e influenciou fortemente muitas áreas da psicologia, tem sua origem não em experimentos científicos, mas na capacidade de observação de um homem criativo, inflamado pela ideia de descobrir os mistérios mais profundos do ser humano.[11]

A perspectiva analítica editar

 Ver artigo principal: Psicologia analítica

Em reação à perspectiva psicodinâmica, Carl Gustav Jung começou a desenvolver um sistema teórico que chamou, originalmente, de "Psicologia dos Complexos", mais tarde chamando-o de "Psicologia Analítica", como resultado direto de seu contato prático com seus pacientes. Utilizando-se do conceito de "complexos" e do estudo dos sonhos e de desenhos, esta corrente se dedica a entender profundamente aos meios pelos quais se expressa o inconsciente. Nessa teoria, enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, considera-se também provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico contendo alguma analogia com os instintos.

A perspectiva comportamentalista editar

 Ver artigo principal: Behaviorismo

A perspectiva comportamentalista procura explicar o comportamento pelo estudo de relações funcionais interdependentes entre eventos ambientais (estímulos) e fisiológicos (respostas). A atenção do pesquisador é assim dirigida para as condições ambientais em que determinado indivíduo enquanto organismo se encontra, para a reação desse indivíduo a essas condições, para as consequências que essa reação lhe traz e para os efeitos que essas consequências produzem. Os adeptos dessa corrente entendem o comportamento como uma relação interativa de transformação mútua entre o organismo e o ambiente que o cerca na qual os padrões de conduta são naturalmente selecionados em função de seu valor adaptativo.[27] Trata-se de uma aplicação do modelo evolucionista de Charles Darwin ao estudo do comportamento que reconhece três níveis de seleção — o filogenético (que abrange comportamentos adquiridos hereditariamente pela história de seleção da espécie), o ontogenético (que abrange comportamentos adquiridos pela história vivencial do indivíduo) e o cultural (restrito à espécie humana, abrange os comportamentos controlados por regras, estímulos verbais, transmitidos e acumulados ao longo de gerações por meio da linguagem). A Análise do Comportamento, ciência que verifica tais postulados teóricos, baseia-se sobretudo em experimentos empíricos, controlados e de alto rigor metodológico com animais que levaram ao descobrimento de processos de condicionamento e formulação de muitas técnicas aplicáveis ao ser humano. Foi uma das mais fortes influências para práticas psicológicas posteriores, a maior no hemisfério norte atualmente. Destaca-se das demais correntes da Psicologia por não se fundamentar em abordagens restritamente teóricas e pela exclusiva rejeição do modelo de pensamento dualista que divide a constituição humana em duas realidades ontologicamente independentes, o corpo físico e a mente metafísica — ou seja, nessa perspectiva processos subjetivos tais como emoções, sentimentos e pensamentos/cognições são entendidos como substancialmente materiais e sujeitos às mesmas leis naturais do comportamento, sendo logo, classificados como eventos ou comportamentos encobertos/privados. Tal entendimento não rejeita a existência da subjetividade, como popularmente se imagina, mas destituí a mesma de um funcionamento automatista. As práticas terapêuticas derivadas desse tipo de estudo estão entre as mais eficientes e cientificamente reconhecidas[carece de fontes?] e são, portanto, preferencialmente empregadas no tratamento de transtornos psiquiátricos. O modelo de estudo analítico-comportamental é também vastamente empregado na Farmacologia moderna e nas Neurociências.

A perspectiva humanista editar

 Ver artigo principal: Psicologia humanista

Em reação às correntes Comportamentalista e Psicodinâmica, surgiu nos anos 50 do século XX a perspectiva existêncial-humanista, que vê o homem não como um ser controlado por pulsões interiores nem por condições impostas pelo ambiente, mas como um ser ativo e autônomo, que busca, conscientemente, seu próprio crescimento e desenvolvimento, apresentando uma tendência à auto realização. A principal fonte de conhecimento da abordagem psicológica humanista é o estudo biográfico, com a finalidade de descobrir como a pessoa vivencia sua existência e entende sua experiência, por meio de um introspeccionismo. Ao contrário do Comportamentalismo, que valoriza a observação externa, a perspectiva humanista procura um entendimento holístico do ser humano e está intimamente relacionada à epistemologia fenomenológica. Exerceu grande influência sobre a psicoterapia.[11]

A perspectiva cognitiva editar

 Ver artigo principal: Psicologia cognitiva

A "virada cognitiva" foi uma reação teórica às limitações instrumentais do comportamentalismo que excluía a análise inferencial da investigação psicológica. O foco central desta perspectiva é o pensar humano e todos os processos baseados no conhecimento — atenção, memória, compreensão, recordação, tomada de decisão, linguagem etc. Moldar o comportamento do paciente através da reflexão para adequá-lo à realidade pelo questionamento retórico e a reorganização de crenças. A perspectiva cognitivista se dedica assim à compreensão dos processos cognitivos que influenciam o comportamento — a capacidade do indivíduo de imaginar alternativas antes de se tomar uma decisão, de descobrir novos caminhos a partir de experiências passadas, de criar imagens mentais do mundo que o cerca — e à influência do comportamento sobre os processos cognitivos — como o modo de pensar se modifica de acordo com o comportamento e suas consequências. Logo, nota-se que apesar de fortemente influenciada pelo Comportamentalismo, posto que técnicas terapêuticas envolvem, na maioria das vezes, a planificação de metas de condicionamento operante, a Psicologia Cognitivista retoma o modelo convencional das demais correntes psicológicas por afirmar a existência de uma dicotomia entre processos mentais e comportamentais, ainda que reconhecendo uma interdependência entre eles.

A perspectiva evolucionista editar

 Ver artigo principal: Psicologia evolucionista

A perspectiva evolucionista procura, inspirada pela teoria da evolução, explicar o desenvolvimento do comportamento e das capacidades mentais como parte da adaptação humana ao meio ambiente. Por recorrer a acontecimentos ocorridos há milhões de anos, os psicólogos evolucionistas não podem realizar experimentos para comprovar suas teorias, mas contam somente com sua capacidade de observação e com o conhecimento adquirido por outras disciplinas como a antropologia e a arqueologia.[11]

A perspectiva cultural editar

 Ver artigo principal: Psicologia cultural-histórica

Já em 1927 o antropólogo Bronislaw Malinowski criticava a psicologia — na época a psicanálise de Freud — por ser centrada na cultura ocidental. Essa preocupação de expandir sua compreensão do homem além dos horizontes de uma determinada cultura é o cerne da perspectiva sociocultural. A pergunta central aqui é: em que se assemelham pessoas de diferentes culturas quanto ao comportamento e aos processos mentais, em que se diferenciam? São válidos os conhecimentos psicológicos em outras culturas? Essa perspectiva também leva a psicologia a observar diferenças entre subculturas de uma mesma área cultural e sublinha a importância da cultura na formação da personalidade.[11]

A perspectiva social editar

 Ver artigo principal: Psicologia social

A psicologia social é composta por diversas teorias e práticas, sendo que, de forma geral, seu ensino nos cursos de graduação em Psicologia também não apresentam uma congruência de diretrizes. Em discussões mais calorosas a respeito do tema sobressai a busca por uma forma de atuação com compromisso social, o que acaba desencadeando à procura por teorias e metodologias de intervenção social.[28]

Seu início se deu nos Estados Unidos no período pós-guerra, já em nosso país o desenvolvimento desta foi condicionado por um conjunto de determinações históricas que condicionaram seus fundamentos e suas características. O contexto histórico no qual surgiu a sistematização dos estudos dos fenômenos psicossociais (I Guerra Mundial) impulsionou a necessidade de compreender as crises pelas quais a sociedade estava passando, seus pontos de ruptura e reconstrução, e impacto sobre os indivíduos da mesma.

A força da pesquisa do viés pragmático e seus procedimentos experimentais chegou a seu ponto mais forte durante a segunda Guerra Mundial. O intuito da psicologia social norte-americana na época era encontrar fórmulas de adequamento individual perante a sociedade. Em toda América Latina, incluindo o Brasil, foi possível notar as influências norte-americanas nos estudos, pesquisa e formação de profissionais da área da psicologia social, porém, apenas na década de 60 foi fundada a Associação Latino-Americana de Psicologia Social (ALAPSO), cujas atividades, inicialmente, tomaram a psicologia social norte-americana como referencial.

A criação da ABRAPSO (Associação Brasileira de Psicologia social, 1980), ocorreu a partir da mobilização de pesquisadores brasileiros, como um ato de rompimento com a psicologia social norte-americana. Ela abre uma vertente da psicologia social no Brasil, cujas pesquisas se voltam para o debate sobre problemas sociais, econômicos e políticos.[29]

Segundo o cientista Gustave Le Bon, a psicologia social possui uma proposição básica de entendimento, sendo que os indivíduos que compõem um grupo, por mais distintos que sejam no caráter individual, passam a compartilhar ideais e tomam suas atitudes baseadas em uma mente coletiva, puramente distinta de suas crenças e diretrizes individuais.[30]

Uma série de experimentos importantes para a Psicologia Social foram os experimentos de conformidade de Solomon Asch, de 1951. Considerado um dos pais da psicologia social, Asch dedicou grande parte de sua carreira ao estudo da influência que os outros podem ter em nosso comportamento, com uma série de pesquisas que visavam provar que os indivíduos tendem a submeter-se a pressão de um grupo.

 
As cartas usadas no experimento. A carta da esquerda é a linha de referência e a da direita mostra as três linhas para comparar

Os experimentos consistiam em unir um grupo de pessoas em que todos os participantes, exceto um, eram cúmplices do pesquisador. Algumas linhas eram mostradas a eles, e o pesquisador pedia que cada um indicasse duas linhas do mesmo tamanho. Embora a resposta correta fosse muito evidente, os cúmplices selecionavam a linha que era visivelmente menor como se fosse a opção correta, fazendo com o que o sujeito que estava de fato sendo avaliado sentisse uma forte pressão do grupo para responder a mesma opção. Asch constatou que a maioria dos sujeitos experimentais acabou trocando sua resposta, entretanto, quando dados a opção de responder de forma privada, o número de pessoas que escolheram a linha errada diminuiu consideravelmente, permitindo que o pesquisador concluísse que a influência se manifestava pelo fato de os outros participantes verem sua resposta.[31]

Dessa forma, a ação de concordar com o grupo ocorre pois o indivíduo é convencido, pela unanimidade das respostas, de que eles estão corretos, o que é chamado de “conformidade informacional”. Contudo, o indivíduo também pode sentir-se pressionado a concordar por temer ser repreendido pelo grupo por destoar, chamado de “conformidade normativa”.[31]

Assim, a psicologia social representa o estudo científico da psicologia dos indivíduos nas suas relações com outros indivíduos, sendo influenciados ou agindo sobre eles, uma vez que o ser humano pensa e sente de determinada maneira por sua condição de ser social, e o mundo em que vive é, em parte, produto da maneira como pensa.[30]

A perspectiva biopsicossocial e a multidisciplinaridade editar

 Ver artigo principal: Modelo biopsicossocial

A enorme quantidade de perspectivas e de campos de pesquisa psicológicos corresponde à enorme complexidade do ser humano. O fato de diferentes escolas coexistirem e se completarem mutuamente demonstra que o ser humano pode e deve ser estudado, observado, compreendido sob diferentes aspectos. Essa realidade toma forma no modelo biopsicossocial, que serve de base para todo o trabalho psicológico, desde a pesquisa mais básica até a prática psicoterapêutica. Esse modelo afirma que o comportamento e os processos mentais humanos são gerados e influenciados por três grupos de fatores:

  • Fatores biológicos — como a predisposição genética e os processos de mutação que determinam o desenvolvimento corporal em geral e do sistema nervoso em particular, etc.;
  • Fatores psicológicos — como preferências, expectativas e medos, reações emocionais, processos cognitivos e interpretação das percepções, etc.;
  • Fatores socioculturais — como a presença de outras pessoas, expectativas da sociedade e do meio cultural, influência do círculo familiar, de amigos, etc., modelos de papéis sociais, etc..[32]

Para ser capaz de ver o homem sob tantos e tão distintos aspectos a psicologia se vê na necessidade de complementar seu conhecimento com o saber de outras ciências e áreas do conhecimento. Assim, na parte da pesquisa teórica, a psicologia se encontra (ou deveria se encontrar) em constante contato com a fisiologia, a biologia, a etologia(ciência dos costumes), a neurologia e às neurociências (ligadas aos fatores biológicos) e à antropologia, à sociologia, à etnologia, à história, à arqueologia, à filosofia, à metafísica, à linguística à informática, à teologia e muitas outras ligadas aos fatores socioculturais.

Um exemplo dessa multidisciplinaridade é a epistemologia na psicologia. O conceito é originário da filosofia, e se refere ao conhecimento humano. É a área da filosofia que busca entender a origem, estruturação, validação e sustentação do conhecimento e, por isso, acaba sendo um conceito muito utilizado na psicologia. A epistemologia na psicologia procura entender a validação e a qualidade dos conhecimentos adquiridos através do estudo da relação entre sujeito e o objeto de estudo, além da busca do homem sobre o conhecimento do mundo e de si mesmo, tornando-o cada vez mais complexo. Assim, isso torna possível a existência das diversas correntes teóricas da psicologia, como a psicanálise e o behaviorismo, que dizem coisas variadas sobre seus objetos de estudo: a partir da epistemologia, foi possível validar o conhecimento obtido por essas correntes.

Assim, a noção do “eu” passou por grandes transformações, desde conceitos baseados na religião até conceitos elaborados por grandes filósofos como René Descartes, Immanuel Kant e Auguste Comte. A corrente positivista, elaborada por Comte, por exemplo, teve grande importância epistemológica para a psicologia e reinou absoluta por vários anos na psicologia. Além disso, essa teoria, baseada em quatro correntes centrais (o empirismo, o reducionismo cartesiano, o mecanicismo e o determinismo), foi responsável pela consolidação da psicologia experimental, assim como determinou o status de ciência instrumentalizada e sistematizada à psicologia.

Além disso, a concepção de ciência surgiu a partir da necessidade de se entender e explicar as coisas que aconteciam. Algumas ideias sobre o mundo eram criadas baseadas no que era observado pelas pessoas ou ideias passadas por gerações eram reproduzidas. Com o passar do tempo, explicações racionais, baseadas em métodos e experimentos foram comprovando e identificando ordens que descreviam leis, nascendo, assim, a ciência, uma nova forma de produzir conhecimento e conclusões.

No trabalho prático a necessidade de interdisciplinaridade não é menor. O psicólogo, de acordo com a área de trabalho, trabalha sempre em equipes com os mais diferentes grupos profissionais: assistentes sociais e terapeutas ocupacionais; funcionários do sistema jurídico; médicos, enfermeiros e outros agentes de saúde; pedagogos; fisioterapeutas, fonoaudiólogos e muitos outros — e muitas vezes as diferentes áreas trazem à tona novos aspectos a serem considerados. Um importante exemplo desse trabalho interdisciplinar são os comitês de Bioética, formados por diferentes profissionais — psicólogos, médicos, enfermeiros, advogados, fisioterapeutas, físicos, teólogos, pedagogos, farmacêuticos, engenheiros, terapeutas ocupacionais e pessoas da comunidade onde o comitê está inserido, e que têm por função decidir aspectos importantes sobre pesquisa e tratamento médico, psicológico, entre outros.

Crítica editar

O status científico editar

A psicologia é frequentemente criticada pelo seu caráter "confuso" ou "impalpável". O filósofo Thomas Kuhn afirmou em 1962 que a psicologia em geral estava em um estágio "pré-paradigmático" por lhe faltar uma teoria de base unanimemente aceita, como é o caso em outras ciências mais maduras como a física e a química.

Por grande parte da pesquisa psicológica ser baseada em entrevistas e questionários e seus resultados terem assim um caráter correlativo que não permite explicações causais, alguns críticos a acusam de não ser científica. Além disso muitos dos fenômenos estudados pela psicologia, como personalidade, pensamento e emoção, não podem ser medidos diretamente e devem ser estudados com o auxílio de relatórios subjetivos, o que pode ser problemático de um ponto de vista metodológico.

Erros e abusos de testes estatísticos foram apontados em trabalhos de psicólogos que não demonstravam ter um conhecimento aprofundado em psicologia experimental e em estatística. Muitos psicólogos confundem significância estatística (ou seja, uma probabilidade maior do que 95% de o resultado obtido não ser fruto do acaso, mas corresponder à realidade empírica) com importância prática. Inclusive a obtenção de resultados estatisticamente significantes e na prática "irrelevantes" é um fenômeno comum em estudos envolvendo grande número de pessoas.[33] Em resposta, muitos pesquisadores começaram a mais frequentemente utilizar o "tamanho do efeito" estatístico (effect size) como medida da relevância prática.

Muitas vezes os debates críticos ocorrem dentro da própria psicologia, por exemplo entre os psicólogos experimentais e os psicoterapeutas. Desde há alguns anos tem aumentado a discussão a respeito do funcionamento de determinadas técnicas psicoterapêuticas e da importância de tais técnicas serem avaliadas com métodos objetivos.[34] Algumas técnicas psicoterapêuticas são acusadas de se basearem em teorias sem fundamento empírico. Por outro lado muito tem sido investido nos últimos anos na avaliação das técnicas psicoterapêuticas e muitas pesquisas, apesar de também elas terem alguns problemas metodológicos, mostram que as psicoterapias das escolas psicológicas tradicionais (mainstream), isto é, das escolas mencionadas mais acima neste artigo, são efetivas no tratamento dos transtornos psíquicos. Hoje, há pessoas que defendam que a Psicologia virou algo mais voltado para a opinião pública do que para uma área de pesquisa.[35]

Terapias "alternativas" não psicológicas editar

Um dos maiores problemas relacionados à distância que separa a teoria científica da psicologia e sua prática terapêutica é a multiplicação indiscriminada do números de "terapias alternativas" que se vê atualmente, muitas das quais baseadas em princípios de origem duvidosa e não pesquisados. Muitos autores[36] já haviam apontado o grande crescimento no número de tratamentos e terapias realizados sem treinamento adequado e sem uma avaliação científica séria. Lilienfeld (2002) constata com preocupação que "uma grande variedade de métodos psicoterapêuticos de funcionamento duvidoso e por vezes mesmo danosos — incluindo "comunicação facilitada" para o autismo infantil, técnicas sugestivas para recuperação da memória, (ex. regressão etária hipnótica, trabalhos com a imaginação), terapias energéticas e terapias new-age de todos os tipos possíveis (ex. rebirthing, reparenting, regressão de vidas passadas, terapia do grito original, programação neurolinguística, terapia por abdução alienígena) surgiram ou mantiveram sua popularidade nas últimas décadas.".[37] Allen Neuringer (1984) fez críticas semelhantes partindo da análise experimental do comportamento.[38]

Especializações editar

A Resolução CFP 13/07 institui a Consolidação das Resoluções relativas ao Título Profissional de Especialista em Psicologia e dispõe sobre normas e procedimentos para seu registro.[39]

É importante esclarecer que as especialidades regulamentadas são profissionais, isto é, são especialidades no campo do exercício profissional do psicólogo. Claro que há um número maior de especialidades, mas foram regulamentadas algumas que se configuraram como mais definidas e consensuais.

Novas especialidades poderão ser regulamentadas, pelo CFP, sempre que sua produção teórica, técnica e institucionalização social assim as justifiquem:

  • Psicologia Escolar/Educacional;
  • Organizacional e do Trabalho;
  • Psicologia de Trânsito;
  • Psicologia Jurídica;
  • Psicomotricidade;
  • Psicologia do Esporte;
  • Psicologia Clínica;
  • Psicologia Hospitalar;
  • Psicopedagogia;
  • Psicologia Social;
  • Neuropsicologia.

Ver também editar

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Notas

  1. Apesar da forte associação com a psicanálise e outras formas de psicologia profunda, outras escolas de pensamento também estudam o inconsciente, como os behavoristas que consideram-no como condicionamento clássico e condicionamento operante, enquanto os cognitivistas estudam conceitos como inconsciente adaptativo, memória implícita, automaticidade e mensagem subliminares.

Referências

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Bibliografia editar

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Ligações externas editar