Batalha de Stalingrado: diferenças entre revisões

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|descr = A fonte Barmaley, um dos símbolos de Stalingrado, logo após a batalha.
|conflito = [[Frente Oriental (Segunda Guerra Mundial)|Frente Oriental]], [[Segunda Guerra Mundial]]
|data= [[17 de julho]] de [[1942]] - [[2 de fevereiro]] de [[1943]]
|local = [[Volgogrado|Stalingrado]], [[União Soviética]]
|resultado = Vitória soviética decisiva
|combatente1 ={{USR}}
|combatente2 = [[Ficheiroimagem:Flag of Germany 1935.svg|borda|22px]] [[Alemanha Nazista]]<br /> [[Ficheiroimagem:Flag of Italy (1861-1946) crowned.svg|borda|22px]] [[Itália fascista|Itália]]<br /> {{ROMb}} [[Reino da Romênia|Romênia]]<br />[[Ficheiroimagem:Flag of Hungary 1940.svg|borda|22px]] [[Reino da Hungria (1920-1946)|Hungria]]<br />[[Ficheiroimagem:Flag of Independent State of Croatia.svg|borda|22px]] [[Estado Independente da Croácia|Croácia]]
|comandante1 = {{URSb}} [[Josef Stalin]]<br />{{URSb}} [[Vassili Chuikov]]<br /> {{URSb}} [[Andrei Yeremenko]]<br />{{URSb}} [[Georgy Zhukov]]<br /> {{URSb}} [[Aleksandr Vasilievsky]]
|comandante2 = [[Ficheiroimagem:Flag of Germany 1935.svg|borda|22px]] [[Adolf Hitler]]<br />[[Ficheiroimagem:Flag of Germany 1935.svg|borda|22px]] [[Friedrich Paulus]] {{rendição}}<br />[[Ficheiroimagem:Flag of Germany 1935.svg|borda|22px]] [[Erich von Manstein]]<br />[[Ficheiroimagem:Flag of Germany 1935.svg|borda|22px]] [[Wolfram von Richthofen]]<br />[[Ficheiroimagem:Flag of Italy (1861-1946) crowned.svg|borda|22px]] [[Italo Gariboldi]]<br />{{ROMb}} [[Petre Dumitrescu]]<br />[[Ficheiroimagem:Flag of Hungary 1940.svg|borda|22px]] [[Gusztáv Jány]]
|for1 = 1 143 500 soldados<br /><small>(no auge)</small>
|for2 = ~ 1 000 000 de soldados <small>(incluindo 400 mil alemães)</small>
|baixas1 = 1 129 619 soldados mortos, feridos, desaparecidos ou capturados</small><br />4 341 tanques destruídos<br />2 769 aeronaves abatidas<br />15 728 canhões e armas pesadas destruídas<br />mais de 40 mil civis mortos<ref>Geoffrey Roberts (2002). [https://books.google.com/books?id=OWOQAv01lYEC ''Victory at Stalingrad: the battle that changed history'']. Pearson Education. p.77. ISBN 0-582-77185-4</ref>
|baixas2 = 647 300 – 868 374 mortos, feridos, desaparecidos ou capturados<ref>Craig, William (1973). ''Enemy at the Gates: the Battle for Stalingrad''. NewNova YorkIorque: Penguin Books (ISBN 0-14-200000-0 & ISBN 1-56852-368-8).</ref><br />1 500 tanques destruídos<br />900 aeronaves abatidas<br />6 000 canhões e armas pesadas destruídas
|nome_cat = Stalingrado
|campanha =
}}
A {{PBPE|Batalha de Stalingrado|Batalha de Estalinegrado}} foi um grande [[Batalha|combate]] travado entre as [[Wehrmacht|forças alemãs]] e seus aliados contra as tropas da União Soviética pela posse da cidade de Stalingrado (atual [[Volgogrado]]), às margens do [[rio Volga]], entre [[17 de julho]] de [[1942]] e [[2 de fevereiro]] de [[1943]], durante a [[Segunda Guerra Mundial]].<ref>Hakim, Joy (1995). A History of Us: War, Peace and all that Jazz. NewNova YorkIorque: Oxford University Press. ISBN 0-19-509514-6</ref> A batalha foi o ponto de virada da guerra na [[Frente Oriental (Segunda Guerra Mundial)|Frente Oriental]], marcando o limite da expansão [[Alemanha Nazi|alemã]] no território soviético, a partir de onde o [[Exército Vermelho]] empurraria as [[Deutsches Heer#Wehrmacht (1935-1945)|forças alemãs]] até [[Berlim]], e é considerada uma das maiores e mais sangrentas batalhas de toda a história, causando a morte e ferimentos em cerca de dois milhões de soldados e civis.
 
Marcada por sua extrema brutalidade e desrespeito às perdas [[Militar|militares]] e civis de ambos os lados, a ofensiva [[Alemanha|alemã]] sobre a cidade de [[Stalingrado]], a batalha dentro da cidade e a contra-ofensiva [[União Soviética|soviética]] que cercou e destruiu todo o 6º Exército alemão e outras forças do [[Potências do Eixo|Eixo]], foi a segunda derrota em larga escala da [[Alemanha nazista|Alemanha Nazista]] na [[Segunda Guerra Mundial]] e a mais decisiva<ref>Gerd R. Ueberschär, „Das Scheitern des ‚Unternehmens Barbarossa'“, in Gerd R. Ueberschär and Wolfram Wette (eds.), Der deutsche Überfall auf die Sowjetunion: “Unternehmen Barbarossa” 1941, Frankfurt am Main, 2011, p. 120</ref>; a partir daí, a ofensiva no leste forçou os alemães cada vez mais em direção ao seu território, e, com a ajuda vinda do Oeste pelos [[Aliados da Segunda Guerra Mundial|Aliados]], juntamente com os [[Estados Unidos]], com o "[[Desembarques da Normandia|Dia D]]", deu-se a vitória final contra o [[Terceiro Reich]], em [[8 de maio]] de [[1945]].
 
Até [[1925]], "Stalingrado" ou "Estalinegrado", chamava-se "Tsaritsyn", e desde [[1961]] tem o nome de [[Volgogrado]]. Com a mudança de nome, a nomenclatura do memorial dedicado aos defensores da cidade também mudou, mas em [[2004]], o presidente [[Vladimir Putin]] autorizou a mudança da nomenclatura, que hoje encontra-se novamente como ''Stalingrado''.<ref>[http://www.freerepublic.com/focus/f-news/1177460/posts Russia's Putin orders 'Stalingrad' on tomb]</ref>
 
== A invasão à URSS ==
A [[22 de junho]] de [[1941]], a [[Alemanha Nazi|Alemanha]] e os seus aliados do [[Potências do Eixo|Eixo]] invadiram a [[União Soviética]], na chamada [[Operação Barbarossa]], avançando rapidamente para dentro de território soviético. Sofrendo derrota após derrota no [[verão]] e no [[inverno]] de [[1941]], as forças soviéticas contra-atacaram em larga escala próximo à capital do país, na chamada [[Batalha de Moscou]], iniciada a [[5 de dezembro]] de [[1941]]. Os alemães, exaustos, com problemas de reposição logística (a maioria das [[Panzer|divisões Panzer]] estava com a maior parte de seus [[carro de combate|carros de combate]] inoperantes) e ainda, com as tropas mal equipadas para a guerra no inverno e com linhas de suprimentos muito longínquas, acabaram sendo afastados das portas da cidade.
 
Os alemães estabilizaram sua frente de batalha na primavera de [[1942]]. Apesar disso, as baixas da campanha de 1941 somadas às perdas de blindados e de material militar tornaram impossível a retomada de uma ofensiva em toda a frente oriental, obrigando [[Adolf Hitler]] a ter como ponto de partida uma ofensiva apenas setorial em 1942.
 
Planos para lançar uma segunda ofensiva contra Moscou foram rejeitados, não apenas porque o Grupo Central do Exército estava demasiadamente enfraquecido para um ataque, mas, ainda, pela concepção de Hitler que um ataque na direção sudeste da URSS – ([[Ucrânia]]) – propiciaria vantagens econômicas (cereais e petróleo) favoráveis a um futuro prosseguimento da guerra.<ref>Gerd R. Ueberschär, „Das Scheitern des ‚Unternehmens Barbarossa'“, in Gerd R. Ueberschär and Wolfram Wette (eds.), Der deutsche Überfall auf die Sowjetunion: “Unternehmen Barbarossa” 1941, [[Frankfurt]] am [[Main]], 2011, p. 95</ref> Os alemães mantiveram-se no controle, não obstante, de dois salientes nas proximidades de Moscou, de maneira a permitir um blefe que tornasse crível a possibilidade de uma nova ofensiva contra a capital russa.
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== Operação Azul ==
 
[[Ficheiroimagem:Eastern Front 1942-05 to 1942-11.png|thumb|right|400px|'''Operação Azul''': Avanço alemão entre [[7 de maio]] e [[18 de novembro]] [[1942]]
{{legend|#fff8d5| [[7 de julho]] de [[1942]]}}
{{legend|#ffd2b9|[[22 de julho]] de [[1942]]}}
{{legend|#ebd7ff|[[1 de agosto]] de [[1942]]}}
{{legend|#ccffcd|[[18 de novembro]] de [[1942]]}}]]
O [[Grupo de Exércitos Sul]] foi escolhido para a ofensiva pelas [[estepe]]s do sudoeste da [[União Soviética]] em direção ao [[Cáucaso]], para capturar os vitais poços de [[petróleo]] ali situados.<ref>Bernd Wegner, “Hitlers zweiter Feldzug gegen die Sowjetunion: Strategische Grundlagen und historische Bedeutung“, in Wolfgang Michalka (ed.), Der Zweite Weltkrieg: Analysen – Grundzüge – Forschungsbilanz, München and Zurich, 1989, p.654-656</ref> Em vez de concentrar suas atenções num esforço final contra [[Moscou]], como seus planejadores militares aconselhavam, Hitler continuou a enviar homens e suprimentos para o leste da [[Ucrânia]]. Os alemães continuaram usando as táticas estratégicas do [[Blitzkrieg]] (guerra-relâmpago) muito eficiente nas grandes extensões de campos abertos da [[Rússia]] mas que seriam anuladas nas ruínas de Stalingrado.
 
A planejada ofensiva de verão deveria incluir o [[6º Exército|6º]] e o 17º Exército e o 1º e o [[4º Exército Panzer|4º Exércitos Panzer]]. O Grupo Sul havia atravessado a Ucrânia durante a ofensiva de [[1941]]. Assim, seria a [[ponta de lança]] da nova ofensiva até o [[rio Volga]].
 
O início da chamada Operação Azul estava previsto para o fim de maio de 1942. Entretanto, numerosas unidades dos exércitos alemão e [[Romênia|romeno]] que deveriam fazer parte da operação, ainda estavam envolvidas no cerco de [[Sebastopol]] e da península da [[Crimeia]]. Atrasos em terminar o cerco adiaram a data da operação por várias vezes e Sebastopol não caiu até o fim de junho.
 
A ofensiva finalmente foi iniciada em 28 de junho, com o Grupo Sul atacando no sudoeste da [[Rússia]]. Os ataques foram bem sucedidos no começo, com as forças soviéticas oferecendo pouca resistência na vastidão das estepes e recuando para leste em desordem. Várias tentativas de restabelecer uma linha defensiva fracassaram ao serem atacadas nos flancos pelas forças alemãs. Dois grandes bolsões de resistência se formaram e foram destruídos na semana seguinte, ao nordeste de [[Kharkov]] e na província de [[Rostov]]. Ao mesmo tempo, forças [[Reino da Hungria|húngaras]], junto com o 4º Exército Panzer, lançaram um assalto a [[Voronej]], capturando a cidade em [[5 de julho]] de 1942.
 
No fim de julho, os alemães haviam empurrado os soviéticos para trás do [[rio Don]] e nesse ponto da ofensiva eles começaram a utilizar as forças [[Reino de Itália (1861–1946)|italianas]], húngaras e romenas, suas aliadas do [[Potências do Eixo|Eixo]], para guardar seu flanco norte. O 6º Exército alemão encontrava-se então a algumas dezenas de quilômetros de Stalingrado e o 4º Panzer, que atacava ao sul dele, foi direcionado ao norte para ajudar a tomar a cidade. Mais ao sul, o Grupo de Exércitos adentrava fundo no Cáucaso, mas seu avanço se tornava lento devido à extensão das linhas de suprimento que, não acompanhando a velocidade do avanço, não chegavam a linha de frente com a rapidez necessária. Os dois grupos de exército alemães não estavam em posição nem em condições de ajudarem um ao outro devido à grande distância entre eles.
 
Com as intenções de [[Adolf Hitler]] se tornando claras pelo fim de julho, [[Josef Stalin]] nomeou o [[marechal]] [[Andrei Yeremenko]] comandante da frente sudeste em [[1 de agosto]] de 1942. [[Andrei Yeremenko]] e o [[Conselho de Ministros da União Soviética|comissário político]] [[Nikita Kruschev]] foram encarregados do planejamento da defesa de Stalingrado. O lado leste da cidade se estendia ao longo do rio Volga e por sobre o rio os soviéticos trouxeram mais tropas do interior do país para sua defesa. Todas estas unidades combinadas, as que recuavam e os reforços trazidos pelo rio, formaram o [[62º Exército]] soviético e seu comando foi entregue ao general [[Vassili Chuikov]] em [[1 de setembro]]. As ordens de Chuikov foram as de defender Stalingrado a qualquer preço.
 
== O começo da batalha ==
[[Ficheiroimagem:Bundesarchiv Bild 183-B28822, Russland, Kampf um Stalingrad, Infanterie.jpg|thumb|right|250px|Infantaria alemã apoiada por um tanque [[Sturmgeschütz III|StuG III]] atacam o perímetro da cidade.]]
Antes que a [[Wehrmacht]] alcançasse a cidade propriamente dita, a [[Luftwaffe]] havia atacado no [[rio Volga]], via vital para o movimento de suprimentos em direção à cidade, deixando-o praticamente inutilizável para a [[navegação]] de barcos soviéticos. Entre 25 e [[31 de julho]], 32 navios e balsas foram afundados no rio.<ref>Bergström 2007, p. 69.</ref>
A batalha começou sob pesado bombardeio da força aérea alemã a Stalingrado, com cerca de mil toneladas de bombas jogadas sobre a cidade e seus arredores,<ref name="Bergström 2007, p. 122">Bergström 2007, p. 122.</ref> transformando-a quase em destroços, apesar de algumas estruturas de fábricas ainda sobreviverem e continuarem sua produção de guerra em turnos de 24 horas.
 
[[Josef Stalin]] havia impedido os civis de deixarem o lugar, sob a premissa de que sua presença ali encorajaria ainda mais as forças soviéticas a defenderem-na, sendo postos a ajudar cavando [[trincheira]]s e fortificações defensivas em todo o perímetro urbano.<ref>Beevor 1998, p106</ref> Em [[23 de agosto]], teve início um forte bombardeio aéreo que durou 5 dias, causando um grande incêndio, matando cerca de 40 mil civis<ref>{{citar web|URL = http://ww2today.com/23rd-august-1942-black-sunday-in-stalingrad|título = World War II Today: Black Sunday in Stalingrad|data = |acessadoem = 9 de Junho do 2015|autor = |publicado = }}</ref> e transformando Stalingrado numa paisagem repleta de destroços e ruínas fumegantes. Noventa por cento do bairro de Voroshilovsky foi destruído.<ref>Bergström 2007, p.73.</ref><ref>Bergström quotes: Soviet Reports on the effects of air raids between 23-26 August 1942. This indicates 955 people were killed and another 1,181 wounded</ref>
 
A impotente força aérea soviética foi esmagada pela Luftwaffe, perdendo 201 aviões no período de uma semana no fim de agosto.<ref>Bergström 2007, p.74.</ref> Apesar de reforços aéreos trazidos, as perdas continuaram grandes durante o mês de setembro, fazendo com que a força aérea alemã tivesse o domínio completo dos céus sobre Stalingrado e regiões próximas durante as primeiras semanas de combate.<ref>Daniel Bourgeois, Business helvétique et troisième Reich : Milieux d'affaires, politique étrangère, antisémitisme, Lausanne, 1998, pp. 123, 127</ref>
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O peso da defesa inicial da cidade caiu em cima de um regimento de artilharia antiaérea, composto por jovens mulheres voluntárias, sem treinamento específico de tiro para alvos terrestres. Apesar disto, e sem nenhum apoio de outras unidades soviéticas, suas atiradoras continuaram em seus postos disparando contra os tanques [[panzer]]s. O comando da divisão panzer que as enfrentou, comunicou que foi necessário eliminar uma a uma até que todas as baterias estivessem destruídas. Neste começo da batalha, os soviéticos se valeram de [[milícia]]s de trabalhadores que não estivessem diretamente envolvidos na produção de guerra. Por algum tempo, tanques continuaram a ser produzidos nas fábricas e a ser tripulados por operários. Eles eram transportados direto da fábrica para a frente de combate, muitas vezes sem pintura nem aparelho de mira do [[canhão]].<ref name="ReferenceA">Beevor, Antony [1999]. Stalingrad (in English). Viking Press, Penguin Books. ISBN 0-14-024985-0 (Pbk).</ref>
 
[[Ficheiroimagem:24. PzD Stalingrad 15 09 1942.jpg|250px|esquerda|miniaturadaimagem|Militares alemães da 24ª Divisão Panzer, em setembro de 1942.]]
No fim de agosto, o Grupo de Exércitos Sul (B) havia finalmente atingido o [[rio Volga]], ao [[norte]] de Stalingrado, seguido de outro avanço pelo rio até o sul da cidade. No começo de setembro, os soviéticos podiam apenas reforçar e realimentar suas tropas dentro da cidade por perigosos caminhos ao longo do Volga, sob constante bombardeio aéreo e de artilharia terrestre alemã. Em [[5 de setembro]], dois exércitos soviéticos organizaram um ataque maciço contra o ''Panzerkorps'' – as divisões blindadas [[nazista]]s, mas foram contidos pela [[Luftwaffe]], que bombardeou a artilharia soviética de apoio ao ataque e as linhas defensivas. Dos 120 tanques usados na ofensiva, 30 foram perdidos nos bombardeios.<ref>Bergström 2007, p. 75</ref> Nos dias seguintes, ataques de [[Stuka]]s alemães ajudaram a destruir mais tanques russos da contra-ofensiva blindada soviética.
 
Na cidade em ruínas, dois exércitos russos estabeleceram suas linhas de defesa entre casas e fábricas destruídas, numa luta dura e desesperada. A expectativa de vida de praças recém-chegados à batalha era de menos de 24 horas e a dos oficiais, três dias. Em [[27 de julho]], [[Josef Stalin]] havia baixado a [[ordem número 227]], decretando que todos os comandantes locais que aprovassem uma retirada não-autorizada em sua área devessem ser levados imediatamente a um tribunal militar. O slogan soviético era: "''Nenhum passo para trás!''". Isto fez com que o avanço alemão para dentro de Stalingrado lhes custasse pesadas baixas.
 
A doutrina militar alemã era baseada no princípio do combate com forças armadas combinadas e uma cooperação próxima e conjunta dos blindados, [[infantaria]], engenharia, artilharia e bombardeio aéreo do solo inimigo. Para conter isto, os soviéticos adotaram a tática de simplesmente se colocar nas linhas de frente o mais próximo que fosse fisicamente possível, escapando o máximo que pudesse da artilharia e bombardeios aéreos, geralmente feitos às suas costas. Isto fazia com que as tropas alemãs tivessem que avançar por seu próprio risco num combate corpo a corpo. Combates cruéis aconteciam em cada rua, sótão, fábrica ou porão de cada casa ou construção. Os alemães brincavam amargamente com isso, ao dizerem que capturavam uma cozinha, mas ainda lutavam na sala de estar. A [[estação de trem]] de Stalingrado mudou de mãos quatorze vezes em seis horas de combates.
 
== Combates corpo a corpo ==
A luta na proeminente colina [[Mamayev Kurgan]], que se ergue sobre a cidade, era particularmente sem piedade. A posição mudava de mãos diversas vezes.<ref name="Craig 1973">Craig 1973</ref> Durante um contra-ataque soviético, eles perderam uma [[Divisão (militar)|divisão]] inteira de 10 mil homens num único dia, a [[13ª Divisão de Guardas de Rifle]], que matou número aproximado de inimigos alemães. Em [[1944]], durante o começo da restauração da cidade, dois corpos foram encontrados na colina: um alemão e um soviético, que, aparentemente, se haviam matado um ao outro simultaneamente a golpes de [[baioneta]] no peito e que haviam sido sepultados por tiros de artilharia na colina.
[[Ficheiroimagem:Bundesarchiv Bild 183-E0406-0022-001, Russland, Kesselschlacht Stalingrad.jpg|miniaturadaimagem|250px|Posição defensiva soviética.]]
No "Grain-Silo", um grande complexo de processamento de grãos encimado por um grande [[silo]], o combate era tão próximo que soldados podiam ouvir a respiração do inimigo lutando. Quando os alemães finalmente tomaram a posição, apenas quarenta corpos soviéticos foram encontrados, apesar do número muito maior de combatentes estimado pelos alemães devido à ferocidade e à demora do combate, que havia perdurado por semanas. Todos os grãos estocados foram queimados pelos soviéticos quando se retiraram.
 
Em outra parte da cidade, um [[pelotão]] de soldados, sob o comando do sargento [[Yakov Pavlov]], transformou um edifício de apartamentos numa [[Fortaleza (arquitetura militar)|fortaleza]] impenetrável. O prédio, mais tarde conhecido como a "[[Casa de Pavlov]]", dominava uma praça no centro da cidade. Seus soldados a cercaram com [[Mina terrestre|minas]], montaram [[metralhadora]]s nas janelas e selaram as janelas no porão para melhor comunicação.<ref>Beevor, Antony [1999]. Stalingrad (in English). Viking Press, Penguin Books. ISBN 0-14-024985-0 (Pbk)</ref> Eles não tiveram substituição nem reforços por dois meses e aguentaram a posição até o fim do conflito. Muito tempo depois, o general [[Vassili Chuikov|Chuikov]] brincava que talvez mais alemães tenham morrido tentando capturar a ''Casa de Pavlov'' que tentando tomar [[Paris]]. Após cada onda de ataques, durante todo o segundo mês da batalha, os russos tinham que sair do prédio e chutar e empurrar as pilhas de corpos dos alemães mortos, de maneira a que a linha de tiro para a praça das metralhadoras e armas antitanques ficasse livre. Após a batalha, o sargento Pavlov recebeu a medalha e o título de [[Herói da União Soviética]], maior condecoração militar da [[União Soviética]], por sua bravura e heroísmo.
[[Ficheiroimagem:Bundesarchiv Bild 101I-617-2571-04, Stalingrad, Soldaten beim Häuserkampf Recolored.jpg|esquerda|250px|miniaturadaimagem|Uma posição de militares alemães no subúrbio de Stalingrado.]]
Sem possibilidade de vitória rápida à vista, os nazistas começaram a transferir artilharia pesada para a cidade, incluindo o gigantesco canhão de 800&nbsp;milímetros, transportado por [[estrada de ferro]], [[Schwerer Gustav|Dora]]. Os atacantes, entretanto, não fizeram grandes esforços para mandar tropas através do Volga, permitindo aos soviéticos instalar um grande número de baterias de artilharia ao longo do rio, que continuava a bombardear as posições alemãs. Os defensores, na cidade, usavam as ruínas resultantes destes bombardeios como posições de defesa. Os ''panzers'' se tornavam inúteis no meio de montes de destroços que chegavam a formar pilhas de oito metros de altura e eram varridos pela artilharia antitanque inimiga.
 
[[Franco-atirador]]es soviéticos fizeram história na Batalha de Stalingrado, ao usarem as ruínas para infligir pesadas baixas entre as tropas alemãs. O mais bem sucedido e famoso deles – que viria a ter suas façanhas contadas em livros e filmes – foi [[Vasily Zaitsev]].<ref>{{Citar web |url=http://www.wio.ru/galgrnd/sniper/sniper.htm |título=WW2 Snipers |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref> Zaitsev teve creditadas 242 mortes confirmadas durante a batalha e um total geral de mais de 300. Ele fixava uma mira telescópica no seu fuzil [[Mosin-Nagant]] modelo M91/30, calibre 7,62 x 54 mm, que facilmente penetrava os [[capacete]]s dos alemães, causando dezenas de mortes por tiros certeiros na cabeça.
 
Tanto para [[Adolf Hitler]] quanto para [[Josef Stalin]], a posse de Stalingrado havia se transformado numa questão de prestígio além da significância estratégica da cidade. O comando soviético transferiu as forças do [[Exército Vermelho]] da área de Moscou para o baixo [[rio Volga|Volga]] e sua aviação de todo o resto do país para a cidade. A tensão dos dois comandantes militares inimigos era extrema: [[Friedrich Paulus]], o comandante do 6º Exército alemão, desenvolveu um [[tique]] incontrolável nos olhos que afetava a face esquerda de seu rosto, enquanto Chuikov teve um [[eczema]] que fez com que fosse obrigado a cobrir suas mãos com [[Curativo|bandagem]] o tempo todo.
 
== Luftwaffe ==
Em outubro, determinada a quebrar a resistência soviética, a [[Luftwaffe]], comandada pelo [[marechal do ar]] [[Wolfram von Richthofen]], intensificou seus bombardeios com mais de duas mil saídas de missões em [[14 de outubro]] de [[1942]], atacando as posições ao longo do rio, ao redor da cidade e na [[fábrica de tratores Dzherzhinskiy]], local de uma das mais encarniçadas resistências de toda a batalha, que matou centenas de soldados e dizimou regimentos inteiros. Nesta altura dos combates, a aviação soviética praticamente havia deixado de existir em Stalingrado e o 62º Exército, cortado em dois, havia sido paralisado pela interrupção nas linhas de suprimentos.
[[Ficheiroimagem:Bundesarchiv Bild 183-J20510, Russland, Kampf um Stalingrad, Luftangriff crop.jpg|250px|miniaturadaimagem|Um avião [[Junkers Ju 87|Stuka]] alemão bombardeando a cidade.]]
Com os soviéticos encurralados numa pequena faixa de 900 metros na margem oeste do [[rio Volga]], mais de 1 200 ataques de bombardeiros de mergulho [[Stuka]] foram feitos contra as tropas ali entrincheiradas, na tentativa dos alemães de finalmente eliminá-las.<ref>Bergström 2007, p. 84.</ref> Apesar do forte bombardeio – Stalingrado foi mais bombardeada na guerra que [[Sedan]] ou [[Sebastopol]] – o 62º, resumido a 47 mil homens e 19 tanques, resistiu a todas as tentativas alemãs de tomar a margem oeste do rio.
 
A Luftwaffe continuou dominando os céus em novembro e a resistência aérea soviética durante o dia era inexistente, mas, após dois meses de ataques, sua flotilha original de 1 600 aeronaves havia sido reduzida para 950 aviões. A força de bombardeiros tinha sido duramente atingida, com 232 aviões sobreviventes de um total inicial de 480.<ref>Hayward 1998, p.195.</ref> Apesar de superioridade em qualidade contra os soviéticos e tendo a seu dispor 80% dos recursos da Luftwaffe na frente oriental, os alemães não puderam impedir o paulatino crescimento do poder aéreo do inimigo. Quando a contra-ofensiva começou, os soviéticos já tinham superioridade numérica sobre a Luftwaffe.
 
A força soviética de bombardeiros, ''Aviatsiya Dalnego Destviya'' (ADD), tendo sofrido pesadas baixas durante dezoito meses de guerra, estava limitada a voar à noite e seus ataques aos alemães nos primeiros dois meses da batalha causaram danos muito pequenos.<ref>Bergström 2007, p. 82.</ref> Entretanto, a situação da Luftwaffe começava a ficar difícil. Em [[8 de novembro]], esquadrilhas foram retiradas da frente oriental para combater os desembarques [[Estados Unidos|norte-americanos]] no norte da [[África]]. A armada aérea alemã se viu espalhada através de toda a [[Europa]] e lutando para manter sua força em outros setores da guerra contra a União Soviética.<ref>8,314 German aircraft were produced from July-December 1942, but this could not keep pace with an attritional three front aerial war</ref>
 
Após três meses de carnificina e um avanço lento e custoso em vidas, os alemães finalmente atingiram as margens do rio, capturando 90% da cidade arruinada e dividindo as forças inimigas remanescentes em dois pequenos bolsões. Além disso, no começo do rigoroso inverno russo, blocos de gelo se acumulavam nas águas geladas do Volga, dificultando a navegação e o abastecimento das forças defensoras. Mas, apesar de todas as dificuldades de [[logística]] e da inclemência do tempo, a luta continuava violenta nas encostas da colina Mamayev e dentro da área de fábricas na parte norte da cidade. As batalhas na [[fábrica de aço Outubro Vermelho]], na fábrica de tratores e na fábrica de armamentos Barricada tornaram-se [[manchete]]s em todo o mundo. Enquanto os soldados soviéticos defendiam suas posições mantendo os alemães sob fogo, os operários reparavam os tanques e outros armamentos próximos ao campo de batalha, muitas vezes na própria linha de fogo. Estes civis também se apresentavam voluntariamente para tripular os tanques, substituindo os soldados mortos ou feridos, apesar de não terem nenhuma experiência em combate nem na operação destas armas de guerra.
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== A contra-ofensiva soviética ==
Reconhecendo que as tropas alemãs estavam mal preparadas para uma ofensiva durante o inverno, a Stavka - o comando das forças armadas - decidiu realizar uma contra-ofensiva geral na frente de Stalingrado, para aproveitar esta fraqueza temporária do inimigo.
[[Ficheiroimagem:RIAN archive 44732 Soviet soldiers attack house.jpg|250px|miniaturadaimagem|Soldados soviéticos atacando posições alemãs.]]
A ofensiva alemã havia sido paralisada por uma combinação da violenta resistência do Exército Vermelho dentro da cidade com as péssimas condições climáticas. O planejamento da contra-ofensiva foi feito com [[tática]]s que viriam a encurralar e destruir o 6° Exército alemão e demais tropas do [[Potências do Eixo|Eixo]] em torno de Stalingrado, tornando essa a segunda derrota em larga escala do [[Terceiro Reich]] durante a [[Segunda Guerra Mundial]].
 
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== Operação Urano ==
[[Ficheiroimagem:Map Battle of Stalingrad-en.svg|thumbnail|right|225px|'''Plano Urano''': contra-ataques soviéticos em Stalingrado:.
{{legenda-linha|solid #dd0000 2px|Frente alemã, [[19 de novembro]]}}
{{legenda-linha|solid #ff6600 2px|Frente alemã, [[12 de dezembro]]}}
{{legenda-linha|solid #ccffcd 2px|Frente alemã, [[24 de dezembro]]}}
{{legenda|#c3c3c3|Avanço soviético, [[19 de novembro|19]]-[[28 de novembro]]|borda=solid grey 1px}}]]
{{artigo principal|Operação Urano}}
No outono, os generais soviéticos [[Aleksandr Vasilievsky]] e [[Georgy Jukov]], responsáveis pelos planos estratégicos na área de Stalingrado, concentraram maciças forças soviéticas nas [[estepe]]s ao norte e ao sul de Stalingrado. O flanco norte dos alemães era particularmente vulnerável, já que era defendido apenas pelas tropas húngaras, romenas e italianas, com um nível de equipamento, treinamento e moral muito inferior às tropas da ''Wehrmacht''. Esta fraqueza era conhecida e explorada pelos soviéticos, que preferiam enfrentar tropas não-alemãs sempre que possível, assim como os ingleses preferiam atacar as tropas italianas em vez dos alemães do [[Afrika Korps]], no norte da [[África]].
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O plano era manter os alemães lutando em Stalingrado e então atacar os flancos guarnecidos pela outras tropas do Eixo com todas as forças e fechar os alemães dentro da cidade. Durante os preparativos para a ofensiva, o marechal Jukov visitou pessoalmente a frente, o que era raro para um general soviético de tão alta patente.<ref name="ReferenceA"/> A operação recebeu o nome-código de Urano.
 
Em [[19 de novembro]], o comando do [[Exército Vermelho]] lançou a "Operação Urano". As forças soviéticas atacantes consistiam de três exércitos completos, compostos de dezoito divisões de [[infantaria]], oito [[brigada]]s de tanques, duas brigadas motorizadas, seis divisões de [[cavalaria]] e uma brigada antitanques. Os preparativos do ataque puderam ser ouvidos pelos romenos, que pediam reforços a seu comando insistentemente, sempre recusados. Mal equipado e em pouco número, disperso em linhas frágeis e finas de defesa, o 3º Exército romeno, que guardava o flanco norte do 6º Exército alemão, foi esmagado pelos atacantes.
 
No dia 20, os soviéticos lançaram outro ataque, desta vez ao sul da cidade, contra o 4º Corpo de exército romeno, composto em sua maioria apenas de tropas de infantaria, que foi destruído quase imediatamente. Os atacantes, ao sul e ao norte, se movimentaram rapidamente em forma de pinça e dois dias depois se encontraram em [[Kalach]], cidade a cerca de 50&nbsp;km de Stalingrado. O exército alemão estava cercado e a notícia alcançou repercussão mundial.
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O comandante da 4º Frota Aérea da Luftwaffe (Luftflotte 4), von Richthofen, tentou fazer com que ele e Hermann Goering cancelassem essa decisão sem sucesso, sabedor da impossibilidade de meios para suprir um exército cercado de mais de 300 mil homens. O 6º Exército alemão era o maior exército do mundo naquela época da guerra, duas vezes maior que um exército alemão regular, em quantidade de soldados e equipamentos. Além dele, cercado, também se encontrava grande parte do [[4º Exército Panzer]], formado de blindados alemães. Suas necessidades básicas eram de 800 toneladas diárias e a frota aérea alemã só seria capaz de abastecê-los com menos de ¼ do necessário.<ref>J. Hayward 1998, p.310</ref> Richtoffen sabia disso, mas apoiado na garantia de Goering, Hitler ordenou a resistência a qualquer custo. O 6º Exército seria abastecido por ar.
 
[[Ficheiroimagem:Heinkel HE111K.jpg|thumb|leftesquerda|300px| [[Heinkel He 111]]K, um dos aviões [[bombardeiro]]s usados como transporte na ponte aérea para Stalingrado.]]
 
A ponte-aérea fracassou. Além das péssimas condições do tempo no rigoroso inverno russo, falhas técnicas, uma pesada [[Defesa anti-aérea|artilharia antiaérea]] e interceptações de caças russos cada vez em maior número, levaram os alemães a perderem 488 aeronaves. Um média de 97 toneladas de suprimentos era descarregada diariamente, menos de um oitavo do necessário e por diversas vezes o carregamento que chegava era supérfluo ou inútil, como um avião que aterrissou com vinte toneladas de vodca e uniformes de verão.<ref name="Craig 1973"/> O transporte que conseguia pousar era utilizado para evacuar feridos, doentes e especialistas técnicos do [[enclave]] cercado – um total de 42 mil conseguiu ser evacuado.
 
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== Operação Saturno ==
[[Ficheiroimagem:Germans in Stalingrad.jpg|250px|miniaturadaimagem|Soldados alemães lutando em Stalingrado.]]
As forças soviéticas consolidaram suas posições ao redor de Stalingrado e os esforços alemães para romper o bolsão começaram. Uma tentativa de romper o cerco do exército cercado no sul da cidade foi impedida em dezembro. O impacto do rigoroso inverno russo começou a fazer efeito em favor dos atacantes. O [[rio Volga]] congelou, o que permitiu aos soviéticos transportar suprimentos para suas forças em Stalingrado de maneira mais rápida e segura. Os alemães cercados rapidamente começaram a ficar sem combustível e suprimentos médicos e milhares começaram a morrer de fome, doenças, e congelamento.
 
Em [[16 de dezembro]], os soviéticos lançaram uma segunda ofensiva, a Operação Saturno, que visava empurrar as forças do [[Potências do Eixo|Eixo]] pelo [[rio Don]] e capturar [[Rostov]]. Se bem sucedido, este ataque cercaria todo o resto do Grupo de Exércitos Sul, um terço de todas as forças do Eixo na [[União Soviética]]. No dia 27, o marechal de campo [[Erich von Manstein]], assumiu apressadamente o comando do recém criado grupo de exércitos do Don, composto por aniquilados remanescentes dos 3º e 4º Exércitos Romenos, do 4º Exército Panzer, do 6º Exército cercado e de uns poucos reforços que puderam ser retirados do [[Cáucaso]] e da Frente Norte.
 
A 6ª Divisão Panzer foi trazida da [[Bretanha]], na [[França]], para constituir a ponta de lança das novas unidades. As 80 composições ferroviárias que transportavam estes equipamentos e tropas foram retardadas devido as pontes destruídas, trilhos arrancados e ataques de guerrilheiros. Missão de Manstein: romper o cerco russo e auxiliar a "Fortaleza de Stalingrado". Era uma missão tremenda; em 21 de dezembro, Manstein chegou a 48&nbsp;km dos postos avançados do 6º Exército, no entanto era tarde demais para salvá-los.
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== A vitória soviética ==
[[Ficheiroimagem:62. armata a Stalingrado.jpg|250px|miniaturadaimagem|Soldados soviéticos avançando numa posição entrincheirada.]]
Os alemães presos no cerco na área de Stalingrado se retiraram para os subúrbios da cidade. A perda de dois aeroportos, em janeiro, pôs um fim à ponte aérea e a evacuação de feridos.<ref>MacDonald 1986, p. 98.</ref> A partir daí não houve mais pousos da Luftwaffe em Stalingrado, que, entretanto, continuou a jogar sobre a parte da cidade ocupada por suas tropas, comida e [[munição]] até a rendição final. De qualquer maneira, mesmo com poucos meios, eles continuaram resistir, em parte por não querer cair prisioneiros nas mãos dos soviéticos, acreditando que seriam executados sumariamente. Em particular, os ''[[hiwis]]'' (voluntários soviéticos anticomunistas lutando ao lado dos alemães) não tinham a menor ilusão sobre seu destino se fossem capturados.
 
Os soviéticos, por seu lado, ficaram surpresos com o grande número de soldados que eles haviam cercado e tiveram que reforçar suas tropas no cerco. A guerra urbana recomeçou com fúria, mas desta vez eram os nazistas que eram empurrados para as margens do Volga. Eles fortificaram suas posições nos distritos industriais e os soviéticos encontraram a mesma dificuldade para desalojá-los, numa luta casa-a-casa, que haviam causado aos invasores no começo da batalha. Os alemães usaram uma defesa que consistia em fixar redes de arame na janela dos edifícios e casas onde se escondiam, para se proteger das [[Granada (arma)|granadas]] lançadas. Os soviéticos responderam fixando ganchos de anzol nas granadas, que prendiam nas redes e explodiam as janelas. Sem combustível, os tanques dos alemães eram inúteis na cidade, sendo usados como canhões imóveis, alvos fáceis para as armas antitanques soviéticas.
[[Ficheiroimagem:Bundesarchiv Bild 183-E0406-0022-011, Russland, deutscher Kriegsgefangener.jpg|thumb|250px|Soldado russo armado com um prisioneiro de guerra alemão.]]
No dia [[24 de janeiro]], foi enviada a [[Adolf Hitler]] mais uma mensagem desesperada assinada por Von Paulus que traduzia a real situação do 6º Exército:
 
''"Tropas sem munição ou alimento. Contato mantido com elementos de apenas seis divisões. Indícios de fragmentação nas frentes norte,sul e oeste. Pouca alteração na frente leste. Dezoito mil feridos sem atendimento, ataduras ou medicamentos. As 44º, 76º, 100º, 305º,e 384º Divisões de Infantaria destruídas. Não mais possível exercício de comando. Frente rompida em consequência de penetrações profundas por três lados. Só existem pontos fortes e abrigos no interior da cidade. Inútil continuar defesa. Colapso inevitável. Exército solicita autorização imediata para rendição a fim de salvar vidas das tropas restantes."''
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Em fins de janeiro, um enviado soviético fez uma oferta generosa aos sitiados levada pessoalmente ao general Von Paulus: caso os alemães se rendessem em 24 horas, eles receberiam garantias de vida para todos os prisioneiros de guerra, cuidados médicos para os feridos e doentes. Rações de comida normais e repatriação de prisioneiros para onde eles desejassem ao fim da guerra. Paulus, sob as ordens de Hitler de não se render, recusou a oferta, assegurando a total destruição do 6º Exército e o futuro calvário de seus sobreviventes.
 
Adolf Hitler promoveu Friedrich Paulus a [[marechal-de-campo]] em [[30 de janeiro]] de [[1943]], o dia do décimo aniversário da sua ascensão ao poder na Alemanha. Como jamais um marechal alemão havia sido feito prisioneiro de guerra, Hitler supôs que com a promoção Von Paulus fosse lutar até a morte ou se suicidar, mas quando as forças soviéticas na cidade se aproximaram de seu quartel-general, num grande departamento de lojas, no dia seguinte, ele se rendeu.
 
Hitler fizera chover promoções e condecorações sobre Paulus e seus oficiais e praças que ainda viviam, mas o destino estava traçado.
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O marechal telegrafou ''" O 6º Exército, fiel ao seu juramento e consciência da sublime importância de sua missão, manteve a posição até o último homem e o último tiro pelo Fuhrer e pela Pátria até o fim"''.
 
Em [[31 de janeiro]] de [[1943]], o quartel-general do 6º Exército transmitiu sua última mensagem ; ''" Os russos chegaram na porta do nosso abrigo. Estamos destruindo nosso equipamento. CL (esta estação não transmitirá mais)"''<ref>Baldwin, Hanson. Batalhas Ganhas e Perdidas, Bibliex - 1978.pg 220</ref>
 
Os remanescentes do exército alemão renderam-se a [[2 de fevereiro]]; 91 mil homens esfomeados, doentes e exaustos foram feitos prisioneiros, entre eles 22 generais, para comemoração dos soviéticos.
 
[[Ficheiroimagem:Paulus POW2.jpg|thumb|leftesquerda|250px| Marechal Friedrich Paulus e seus oficiais após a rendição.|alt=]]
Os remanescentes do exército alemão renderam-se a [[2 de fevereiro]]; 91 mil homens esfomeados, doentes e exaustos foram feitos prisioneiros, entre eles 22 generais, para comemoração dos soviéticos.
 
[[Ficheiro:Paulus POW2.jpg|thumb|left|250px| Marechal Friedrich Paulus e seus oficiais após a rendição.|alt=]]
De acordo com o documentário alemão ''Stalingrad'', cerca de 11 mil alemães e soldados do [[Potências do Eixo|Eixo]] recusaram a rendição oficial, achando que lutar até a morte seria melhor que uma morte lenta no [[campos de concentração]] soviéticos. Estas forças continuaram a lutar em pequenas unidades até o começo de março de 1943, escondidos em porões e sótãos, com seu número diminuindo enquanto as tropas soviéticas iam fazendo a limpeza da cidade. De acordo com documentos mostrados no documentário, 2418 destes homens foram mortos e 8646 capturados.
 
Apenas 5 mil dos 91 mil prisioneiros de guerra alemães em Stalingrado sobreviveram ao cativeiro e retornaram para casa depois da guerra. Após a rendição, eles foram mandados para campos de trabalho por toda a [[União Soviética]], doentes, sem cuidados médicos e com fome, e a grande maioria deles morreu de maus tratos, má nutrição e trabalhos forçados. Alguns oficiais mais graduados foram levados a [[Moscou]] e usados para propaganda antinazista e alguns deles fundaram o [[Comitê Nacional por uma Alemanha Livre]]. Alguns, incluindo Von Paulus, assinaram um discurso anti-Hitler que foi transmitido por rádio pelos soviéticos para as tropas alemãs na frente oriental. O general [[Walther von Seydlitz-Kurzbach]] ofereceu-se para formar um exército anti-Hitler com sobreviventes alemães de Stalingrado, mas a oferta não foi aceita pelos soviéticos. Só em [[1955]] os últimos dos poucos combatentes restantes de Stalingrado foram repatriados para a Alemanha.
 
A [[opinião pública]] alemã não foi oficialmente informada do desastre até o fim de janeiro de 1943. Stalingrado não foi a primeira derrota nazista na guerra, nem a primeira grande derrota na história das forças armadas alemãs, mas sua escala não tinha paralelo histórico até então. Alguns dias depois da rendição, em [[16 de fevereiro]] de 1943, o ministro da propaganda nazista [[Joseph Goebbels]], fez seu famoso discurso em [[Berlim]], onde conclamou a nação a uma [[guerra total]], que necessitaria de todos os recursos do país e todos os esforços da população alemã.
 
== Legado ==
A Batalha de Stalingrado durou 199 dias e foi uma das maiores batalhas da história humana. O número de baixas é difícil de ser calculado exatamente, pelo tamanho e duração do conflito e pelo fato de o governo soviético não ter permitido que cálculos oficiais fossem feitos, temendo que o custo de vidas demonstrado fosse muito alto.
[[Ficheiroimagem:Stalingrad aftermath.jpg|right|thumb|300px|Imagem de Stalingrado após a batalha.]]
Alguns estudiosos de guerra estimam que as tropas do [[Potências do Eixo|Eixo]] sofreram cerca de 850 mil baixas entre todas as armas das forças alemãs e de seus aliados, muitos deles sendo prisioneiros de guerra dos soviéticos que morreram em cativeiro entre 1943 e 1955; 400 mil alemães, 200 mil romenos, 130 mil italianos e 120 mil húngaros morreram, foram feridos ou capturados.<ref name="Craig 1973"/> Dos 91 mil alemães feitos prisioneiros em Stalingrado, 27 mil morreram em questão de semanas<ref>Rayfield 2004, p.396.</ref> e apenas 5 mil voltaram à [[Alemanha]], muitos deles apenas dez anos após o fim da [[Segunda Guerra Mundial]]; os demais morreram nos campos de concentração ou de trabalho soviéticos;<ref>J W. Baird, 1969, pp. 196.</ref> 50 mil hiwis, voluntários soviéticos que se juntaram às tropas alemãs, foram mortos ou aprisionados pelo Exército Vermelho.
 
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Além de ser um ponto de virada na guerra, Stalingrado também revelou a extrema disciplina e determinação tanto dos soldados da [[Wehrmacht]] quanto os do [[Exército Vermelho]]. No princípio, os soviéticos defenderam a cidade de todas as maneiras contra uma força arrasadora alemã. Suas perdas eram tão grandes que a expectativa de vida de um novo soldado em combate na frente era de um dia.<ref name="ReferenceA"/> O sacrifício destes homens por Stalingrado foi imortalizado por um [[soldado]] do general [[Aleksandr Rodimtsev]], um dos comandantes locais, que escreveu na parede da [[estação ferroviária]] da cidade – que mudou de mãos quinze vezes durante a batalha – a frase: "os homens da guarda de Rodimtsev aqui lutaram e morreram pela [[pátria|mãe-pátria]]".
[[Ficheiroimagem:Medal stalingrad USSR.jpg||thumb|200px|esquerda|Medalha pela defesa de Stalingrado]]
Pelo heroísmo de seus defensores, a cidade recebeu o título de [[Cidade-Herói]], em [[1945]]. Após a guerra, nos anos 1950, um colossal [[monumento]] chamado [[Mãe Pátria (monumento)|Mãe Pátria]], foi erguido na colina de [[Mamayev Kurgan]]. A enorme estátua faz parte do complexo de um memorial que inclui paredes e construções arruinadas, conservadas no estado em que se encontravam após a batalha. O "Grain Silo" e a casa de Pavlov, mantida por seus defensores por dois meses contra os ataques alemães, também podem ser visitados como memorial de guerra. Ainda hoje, turistas encontram lascas de ossos e pedaços de material enferrujado no terreno da colina, símbolos do sofrimento humano dos dois lados e da bem sucedida e custosa resistência soviética ao ataque nazista.
 
Por outro lado, os alemães mostraram admirável disciplina após terem sido cercados, na primeira vez em que lutaram sob condições adversas desta escala na guerra. Durante as últimas semanas do cerco, muitos soldados morreram de fome e frio<ref name="ReferenceA"/> mas, ainda assim, a disciplina foi mantida até o fim, quando a resistência já não tinha mais sentido. Mesmo o comandante do 6º Exército, [[Friedrich Paulus]], obedeceu às ordens de [[Adolf Hitler]] de não tentar romper o cerco, contra todos os conselhos dos generais do alto-comando da Werhmacht, incluindo [[Erich von Manstein]], que ainda tentou levar suas tropas até às proximidades de Stalingrado debaixo de luta, mas foi obrigado a recuar e deixá-los entregues à própria sorte, sem comida, munição e agasalhos. Quando finalmente se rendeu, o primeiro marechal alemão a se render em combate na história da Alemanha declarou: "Não tenho intenção de me suicidar por aquele [[Cabo (militar)|cabo]] da [[Baviera]]".
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