Usina hidrelétrica: diferenças entre revisões

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Diz de um conjunto de usinas hidrelétricas que são planejadas e construídas em uma mesma [[bacia hidrográfica]] de forma conjunta, para melhor aproveitar o potencial energético dos rios.
 
==Impactos ambientais, sociais e econômicos==
===Ambiente e sociedade===
 
Por muito tempo as hidrelétricas foram divulgadas como fontes de [[energia limpa]], mas uma quantidade de estudos recentes vem dando uma outra visão do cenário. A formação das bacias de reservatório, especialmente as de grandes dimensões, muitas vezes exige um grande [[desmatamento]], por si um fator de emissão de [[gases estufa]] produtores do [[aquecimento global]], além de produzir severos impactos ambientais e sociais paralelos: bloqueia os ciclos de cheia e vazante dos rios; impede os ciclos reprodutivos de peixes migrantes; modifica em larga escala [[ecossistema]]s e a distribuição geográfica de espécies; pode prejudicar a oferta de alimentos para muitas espécies aquáticas, afetar negativamente povos ribeirinhos que dependem da pesca e [[povos indígenas]], dificultar o acesso à água, pode exigir remoção forçada de populações destruindo comunidades inteiras, e muitas vezes gera importantes conflitos sociais, culturais, políticos, jurídicos e fundiários difíceis de resolver.<ref name="Cernea">Cernea, Michael M. [http://documents.worldbank.org/curated/en/446311468761673943/pdf/multi-page.pdf ''Hydropower Dams and Social Impacts: A Sociological Perspective'']. The World Bank. Environment Department Papers. Social Assessment Series, 1997</ref><ref>Fearnside, Philip M. [https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0305750X15001965 "Environmental and Social Impacts of Hydroelectric Dams in Brazilian Amazonia: Implications for the Aluminum Industry"]. In: ''World Development'', 2016; 77:48-65</ref><ref name="International">International Rivers. [https://www.internationalrivers.org/resources/the-world-commission-on-dams-framework-a-brief-introduction-2654 ''The World Commission on Dams Framework - A Brief Introduction'']</ref><ref>Santos, E. S.; Cunha, A. C.; Cunha, H. F. A. [http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-753X2017000400191 "Hydroelectric Power plant in the Amazon and Socioeconomic Impacts on Fishermen in Ferreira Gomes County - Amapá State"]. In: ''Ambiente & Sociedade'', 2017; 20 (4)</ref><ref name="McCartney">International Union for Conservation of Nature / United Nations Environment Programme / World Commission on Dams [McCartney, M. P.; Sullivan, C.; Acreman, M. C. (eds.)]. [https://www.researchgate.net/publication/45165880_Ecosystem_Impacts_of_Large_Dams ''Ecosystem Impacts of Large Dams — Executive Summary'']. Background Paper Nr. 2, 2001, pp. v-vi</ref>
[[Imagem:RAONI et sa pétition internationale contre le barrage de Belo Monte.jpeg|thumb|O cacique [[Raoni]] apresentando uma petição contra a Usina de Belo Monte.]]
 
Os programas oficiais de compensação ambiental em regra são pouco eficientes e a inundação muitas vezes provoca graves danos diretos e indiretos à [[biodiversidade]] regional.<ref name="International"/> Uma revisão da bibliografia sobre os impactos sobre a biodiversidade das usinas em nível mundial concluiu que eles são geralmente subestimados, em particular nas regiões tropicais, e devido à escassez de estudos específicos, os impactos reais tendem a ser dissimulados e os legisladores e responsáveis tendem a tomar decisões inadequadas e adotar estratégias de manejo ineficientes.<ref>Branquinho, Amanda & Brito, Daniel. [http://revistas.unisinos.br/index.php/neotropical/article/view/nbc.2016.112.07 "Impact of dams on global biodiversity: A scientometric analysis"]. In: ''Neotropical Biology and Conservation'', 2016; 11 (2) </ref> Para as populações removidas ou afetadas negativamente de outras formas a construção de uma grande barragem frequentemente significa desemprego, problemas de saúde, pobreza, marginalização, insegurança e perda de raízes e patrimônios culturais, além de desencadear impactos negativos na economia regional tradicional. Raramente essas populações recebem a devida compensação pelos seus prejuízos. Os programas de reassentamento geralmente são morosos e complicados e seus resultados são insatisfatórios para os afetados.<ref name="Cernea"/> Em todo o mundo de 40 a 80 milhões de pessoas já foram removidas de seus locais de habitação contra sua vontade nos últimos 60 anos, e a maioria delas jamais recuperou seu antigo nível de vida. Povos indígenas e comunidades tradicionais são os mais prejudicados. A remoção forçada não é o único aspecto a considerar. Junto com as barragens vêm estradas, canais, linhas de transmissão da energia, projetos de irrigação e outros, que têm impactado negativamente milhões de outras pessoas, prejudicando seu acesso à água, a fontes de alimento e a outros recursos naturais. De 400 a 800 milhões de pessoas em todo o mundo já foram prejudicadas de alguma forma pelas múltiplas interferências nos sistemas hidrológicos causadas pelas barragens.<ref>International Rivers. [https://www.internationalrivers.org/human-impacts-of-dams ''Human Impacts of Dams'']</ref> Frequentemente a construção de usinas envolve violações de [[direitos humanos]] e aumento nas desigualdades sociais.,<ref>Juss, Satvinder ''et al''. [https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/18804/GDHeE_Scabin%3B%20Poppovic.%20The%20environmental%20and%20social%20impacts%20of%20dams.pdf?sequence=1&isAllowed=y "The environmental and social impacts of dams"]. Law Schools Global League – Human Rights and Infrastructure Projects Group — Common Paper. Istanbul, 2014</ref> e poucos são os casos de programas de construção realizados com transparência, sendo quase uma regra haver alguma ilegalidade envolvida. São frequentes as denúncias de propinas e corrupção, interferências indevidas nas agências fiscalizadoras, pressão política contra recomendações científicas e mudanças arbitrárias na legislação, para facilitar a execução dos projetos.<ref name="Anderson"/>
[[File:Balbina Dam-5.jpg|thumb|left|Troncos de árvores não removidas no lago da Usina de Balbina.]]
 
As barragens também causam efeitos negativos muito distantes do seu local, especialmente pelas alterações no regime de vazão dos rios e pelas alterações na qualidade e temperatura da água a jusante, ameaçando a conservação de [[mata ciliar|matas ciliares]] ao longo dos rios, modificando os ecossistemas aquáticos e interferindo em sistemas de [[irrigação]] e abastecimento de água. Bloqueando as inundações periódicas naturais, fica impedida a fertilização natural das terras contíguas aos leitos fluviais, e, por consequência, afeta a agricultura e a oferta alimentos de grandes regiões. Os danos ambientais do represamento muitas vezes podem ser vastos e imprevisíveis.<ref name="McCartney"/> Os reservatórios coletam grandes quantidades de sedimentos suspensos e material orgânico, que se depositam e oxidam, podendo criar águas ácidas e mal oxigenadas que depois são liberadas rio abaixo. O represamento também eleva a temperatura da água, um fator importante porque os seres aquáticos como peixes e invertebrados mantêm seu metabolismo em estrita dependência da temperatura do meio.<ref name="Parshley"/> As bacias são altas emissoras de gases estufa, especialmente se localizadas em zonas tropicais e se a área inundada é vasta, devido à decomposição de matéria orgânica residual (troncos, folhas e material no solo) após a inundação. Bacias que não são limpas adequadamente antes da inundação emitem mais gases por longos períodos do que plantas produtoras de energia equivalente baseadas em [[combustíveis fósseis]].<ref>Faria, Felipe A M de ''et al''. [https://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-9326/10/12/124019/meta "Estimating greenhouse gas emissions from future Amazonian hydroelectric reservoirs"]. In: ''Environmental Research Letters'', 2015; 10 (12) </ref><ref>Fearnside, Philip M. & Pueyo, Salvador. [https://www.nature.com/articles/nclimate1540.epdf?referrer_access_token=EnkjVdDL44kD0MG-qq3kqtRgN0jAjWel9jnR3ZoTv0P_GRwOZUvGoIx30fxe4Be2dvP0TCnmelzG86WiPpfSFwYWnugsOinNp2m6QCiJTHiDEp6dWTlJ95eLrNoY9qJkP3k80RIVG435nFIPhwTtA_cpckMRIEPJDGHYe3yBPOEEmMQjlGHSIC75SpY1UleHp4Az0-a6ZabYGCLFN1GpMoW8CTiavngFK8Y4wbXzfdDrr8cgSTYxOMXdkOIHCHkS0WAQkrKLjoRuhIHHJpIuovtymJ68mD8YNiXUYAn2W_X4r6YndDZkAvB0wzw1boEseevrGf3CBSdA2kQxrjlpYuiFBN2k_7cqtpPQ0_Csct06u5OItdaNd0oSBHH-KOGLmE4odUOfEal16p6cLWUWmfmhXMkVFVRcDZOIzOJzhwHjc2qpXivotouSPMfJjeIe&tracking_referrer=news.mongabay.com "Greenhouse-gas emissions from tropical dams"]. In: ''Nature Climate Change'', 2012, 2 </ref> Um estudo recente calculou que as usinas de todo o mundo podem emitir até 1 bilhão de toneladas de gases estufa a cada ano, principalmente na forma de [[metano]], o que equivale a mais do que toda a emissão anual do Canadá.<ref name="Parshley"> Parshley, Lois. [https://www.smithsonianmag.com/innovation/costs-and-benefits-hydropower-180967691/ "The Costs and Benefits of Hydropower"]. ''Smithsonian Magazine'', 05/2/2018</ref> Projetos mal planejados também significam baixa eficiência e altos custos. É um exemplo clássico a [[Usina Hidrelétrica de Balbina|Usina de Balbina]], no estado do Amazonas. Implantada em uma região de planície, alagou 2360 km<sup>2</sup> de floresta tropical para produzir apenas 112,2 MW de energia. A floresta não foi removida antes do alagamento, perdendo-se uma vasta quantidade de madeira aproveitável, e sua decomposição acidificou e desoxigenou a água do reservatório, corroendo as turbinas, além de emitir desde sua construção dez vezes mais gases estufa do que uma [[usina termelétrica]] de potência equivalente, num total de 3 milhões de toneladas de carbono por ano. Pela escassa declividade do terreno, foram formadas várias áreas de água permanentemente estagnada. Um terço da população existente da etnia indígena [[Waimiri]]-[[Atroari]], que ali vivia, teve de ser realocada.<ref>Fearnside, Philip M. Brazil's [https://link.springer.com/article/10.1007%2FBF01867675 "Balbina Dam: Environment versus the legacy of the Pharaohs in Amazonia"]. In: ''Environmental Management'', 1989; 13 (4):401–423</ref><ref>Lourenço, Luana. [http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2007-11-02/usina-de-balbina-e-dez-vezes-pior-para-efeito-estufa-que-termeletrica-estima-pesquisador "Usina de Balbina é dez vezes pior para efeito estufa que termelétrica, estima pesquisador"]. ''Agência Brasil'', 02/11/2007</ref>
 
A construção de múltiplas usinas em uma mesma bacia hidrográfica, como é o caso da Amazônia, onde 142 usinas já operam e está prevista a construção de mais 160, produz um impacto negativo de grande escala não apenas nos níveis ambientais, sociais e culturais, mas também em nível geográfico e geomorfológico, modificando a própria paisagem devido principalmente às interferências nos processos de distribuição de sedimentos e de formação de meandros, planícies e terras alagadas.<ref name="Anderson"/> A retenção de materiais sólidos pela barragem afeta a estrutura do próprio rio a jusante, privando-o de materiais para formação de habitats para as espécies.<ref name="Parshley"/> Essa alta proliferação de usinas na [[Bacia Amazônica]] foi identificada como uma das 15 principais ameaças ambientais do mundo, e os seus impactos têm sido sistematicamente subestimados pelas instâncias oficiais.<ref name="Anderson">Anderson, Elizabeth P. ''et al''. [http://advances.sciencemag.org/content/4/1/eaao1642 "Fragmentation of Andes-to-Amazon connectivity by hydropower dams"]. In: ''Science Advances'', 2018; 4 (10)</ref> O mesmo problema de multiplicação de usinas afeta as bacias dos rios Congo e Mekong, que juntos com a bacia amazônica reúnem a maior biodiversidade aquática do mundo.<ref>Winemille, K. O. ''et al''. [http://science.sciencemag.org/content/351/6269/128.summary "Balancing hydropower and biodiversity in the Amazon, Congo, and Mekong"]. In: ''Science'', 2016; 351 (6269):128-129</ref> De modo geral rios não represados têm uma água de melhor qualidade e com mais biodiversidade. É significativo que desde a década de 1970, quando iniciou uma fase de grande proliferação de usinas em todo o mundo, a biodiversidade dos rios caiu em 80%, e embora a construção de usinas não seja o único elemento na equação, é relevante.<ref name="Anderson"/>
 
A construção de pequenas usinas vem sendo incentivada e vem ganhando impulso, pois por algum tempo gera emprego e desenvolvimento local e é vista geralmente como de baixo impacto ambiental.<ref name="Midzic">Midzic-Kurtagic, Sanda ''et al.'' "Environmental impact assessment of small hydropower plants". In: ''24th International Conference on Efficiency, Cost, Optimization, Simulation and Environmental Impact of Energy Systems''. Novi Sad, Serbia, 2011</ref> Em todo o mundo existem cerca de 83 mil plantas, e milhares de outras estão em projeto.<ref name="Opperman"/> Contudo, o fato é que os efeitos globais das plantas pequenas são muito mal conhecidos, pois os estudos especializados são relativamente escassos neste tópico. Por isso, sua implantação em larga escala, sem um bom conhecimento sobre seus efeitos, tem o potencial de representar uma grande ameça pelos impactos cumulativos.<ref name="Benejam">Benejam, Lluís ''et al''. [https://www.researchgate.net/publication/269727208_Ecological_impacts_of_small_hydropower_plants_on_headwater_stream_fish_From_individual_to_community_effects "Ecological impacts of small hydropower plants on headwater stream fish: From individual to community effects"]. In: ''Ecology of Freshwater Fish'', 2016; 25 (2):295–306</ref><ref name="Salisbury">Salisbury, Claire. [https://news.mongabay.com/2018/03/small-hydropower-a-big-global-issue-overlooked-by-science-and-policy/ "Small hydropower a big global issue overlooked by science and policy"]. ''Mongabay'', 13/03/2018 </ref> Numerosos trabalhos têm surgido recentemente analisando casos específicos, questionando as alegadas vantagens das usinas de pequena escala e demonstrando a existência de efeitos negativos diversificados. Vários impactos são registrados já ao longo do processo de construção, como desmatamento, modificação na paisagem pela abertura de estradas e acessos, perturbação da rotina das comunidades afetadas pelo contínuo trânsito de materiais e equipamentos, levantamento de nuvens de poeira, produção de muito ruído, fumaça, lixo e resíduos, alteração da qualidade da água do rio, bloqueios temporários no fluxo, morte de muitos animais, possíveis contaminações da água e solo pelo derramamento acidental de óleos, combustíveis e outras substâncias tóxicas. Isso depende muito da competência das construtoras e sua adequação às normas legais, bem como da fiscalização oficial, e muitos desses problemas são temporários. A ocorrência desse tipo de problemas, naturalmente, se verifica também na construção de grandes usinas, em escala muito maior.<ref name="Midzic"/>
[[File:Veazie Dam Removal (9353217918).jpg|thumb|Demolição do reservatório da Usina Veazie no rio Penobscot.]]
 
Outros impactos de pequenas usinas são permanentes. Uma revisão da bibliografia indicou que os principais são relacionados à criação de obstáculos nas correntes, a modificações no volume de fluxo e no nível da água e a variações na disponibilidade de alimentos para as espécies aquáticas e as dependentes das aquáticas. Esses impactos se potencializam com a construção de várias plantas no mesmo rio, uma solução comum em áreas de montanha.<ref name="Midzic"/> Uma análise de 116 pequenas usinas construídas na Suíça mostrou que elas produziram prejuízos significativos para o deslocamento de espécies migratórias e provocaram uma dramática redução na vazão das correntes durante a maior parte do ano, prejudicando a biodiversidade e a disponibilidade de água. Também foi apontado que elas prejudicaram a beleza cênica das paisagens. O benefício em termos de produção energética foi muito pequeno, atendendo a menos de 1% do consumo nacional. Outros exemplos são ilustrativos. Duas pequenas usinas construídas no rio Elwha nos Estados Unidos provocaram o desaparecimento de 99% da população dos salmões que reproduziam neste rio, levando o governo a decidir pela sua demolição e criação de um plano de repovoamento, a um custo de 350 milhões de dólares. Três usinas no rio Penobscot, que produziam juntas apenas 18 MW, também foram demolidas devido ao desaparecimento de espécies nativas.<ref name="Opperman">Opperman, Jeff. [https://www.forbes.com/sites/jeffopperman/2018/08/10/the-unexpectedly-large-impacts-of-small-hydropower/#6eba75557b9d "The Unexpectedly Large Impacts Of Small Hydropower"]. ''Forbes'', 10/08/2018</ref> Uma pesquisa sobre 16 usinas na bacia do rio Ter na Catalunha apontou declínio na biodiversidade, declínio na qualidade e quantidade dos [[habitat]]s e níveis de água mais baixos.<ref name="Benejam"/> Um estudo analisando os efeitos da construção de cinco usinas em um mesmo rio na China encontrou mudanças na velocidade e nível da água e impactos difusos em todas as 4656 espécies de invertebrados estudados, especialmente em termos de redução na abundância geral e nos predadores e filtradores em particular.<ref>Xiaocheng, Fu ''et al.'' [https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1872203208600190 "Impacts of small hydropower plants on macroinvertebrate communities"]. In: ''Acta Ecologica Sinica'', 2008; 28 (1):45-52</ref> 40 usinas estudadas na Turquia revelaram a produção de significativa degradação ambiental, perda de matas ciliares, redução no fluxo de água, erosão e dificuldades para espécies migratórias. Grande parte das plantas não atendia aos requisitos de segurança ambiental e a recuperação de áreas degradadas no entorno foi em geral ineficiente.<ref>Başkaya, Ş.; Başkaya, E.; Sari, A. [http://www.academicjournals.org/app/webroot/article/article1380902069_Baskaya%20et%20al.pdf "The principal negative environmental impacts of small hydropower plants in Turkey"]. In: ''African Journal of Agricultural Research''; 2011; 6 (14):3284-3290 </ref> Três estudos recentes conduzidos na Espanha, China e Noruega concluíram que as usinas pequenas produzem impactos negativos no ambiente proporcionalmente maiores que as grandes usinas para cada MW produzido.<ref name="Opperman"/> Segundo David Kaplan, chefe de um grupo de pesquisa da [[Universidade da Flórida]], as pequenas usinas podem causar um impacto proporcionalmente até dez vezes maior do que as grandes. Isso se agrava porque o licenciamento ambiental desses projetos em muitos países é pouco exigente ou é inexistente, e sua baixa produtividade energética impõe a grande multiplicação das plantas para suprir a demanda.<ref name="Salisbury"/> Em

Segundo termosum econômicosgrande elasestudo tendemelaborado asob seros proporcionalmenteauspícios menosda vantajosasComissão que as grandes plantas, embora seu custo absoluto seja menor. Alguns estudos indicam que sua energia custa cercaMundial de 15%Represas maisem paraparceria ser gerada do quecom a das grandes usinas.<ref name="Opperman"/> Um levantamento realizado pela [[AgênciaUnião Internacional de Energia Renovável]] (AIER) chegoupara a conclusõesConservação similares,da mostrandoNatureza]] quee oso custos[[Programa instaladosdas sãoNações maiores do que as grandesUnidas para cadao KWMeio produzidoAmbiente]], numaa relaçãoconstrução de 1050usinas atem 7650um dólareslado paralegítimo cadano KWaspecto nas grandes usinashumano, parapela 1300 a 8000 dólares para cada KW nas pequenas. Os custosgeração de operaçãoenergia e manutençãoconcomitante tambémregularização podemdos serfluxos proporcionalmente maiores: 2 a 2fluviais,5% dosmas custosos instaladosimpactos nas grandesambientais e 1sociais, aespecialmente 4%no nascaso pequenas.<refdas name="Renewable">Internationalgrandes Renewableusinas, Energysão Agency.geralmente [https://www.irena.org/documentdownloads/publications/re_technologies_cost_analysis-hydropower.pdfaltos ''Hydropower''].e In:poucas Renewablevezes Energysão Costlevados Analysis:em Hydropower,consideração Volumeadequada 1:pelos Powerpromotores Sector, Issue 3/5, 2012,dos pprojetos. i</ref>Ao Namesmo mesma direção aponta um levantamento da [[Agência Internacional de Energia]]tempo, indicandoimpactos custosambientais finaisgeram deimpactos geraçãoadicionais de energia de 40para a 110sociedade, dólaresda pormesma MWforma naspoucas grandesvezes usinasbem contraavaliados 45ou a 120 dólares por MW nas pequenascompensados.<ref>International AsUnion microusinasfor têmConservation custosof relativosNature ainda/ maiores:United 55Nations aEnvironment 185 dólares para cada MW.<ref> IEAProgramme / ETSAPWorld [Lako, PaulCommission &on TosatoDams, Giancarlo (eds.)/. [https://iea-etsap.org/E-TechDS/PDF/E06-hydropower-GS-gct_ADfina_gs''op.pdf cit''Hydropower'']. Technology Brief E06, 2010pp. 65-66</ref>
 
===Economia===
[[Ficheiro:Itaipu Aerea.jpg|thumb|Usina de Itaipu.]]
 
Também por muito tempo as hidrelétricas foram divulgadas pelos governos e companhias como fontes de energia barata, mas isso não corresponde bem aos fatos. OUm relatório da [[Agência Internacional de Energia Renovável]] (AIER) em parte corrobora essa afirmação, dizendo que os custos da energia hidrelétrica de um modo geral tendem a ser mais baixos do que outras fontes de energia, mas advertiu que cada planta tem características únicas e há expressivas diferenças de caso para caso.<ref name="Renewable"/> As grandes usinas, em particular, têm um custo real que em regra ultrapassa em muito as estimativas oficiais, geralmente levam muito mais tempo para construir do que o previsto, e segundo a Comissão Mundial de Represas, no melhor dos casos, as grandes represas são apenas marginalmente viáveis em termos econômicos.<ref>International Rivers. [https://www.internationalrivers.org/economic-impacts-of-dams ''Economic Impacts of Dams''].</ref><ref name="Anderson"/> Uma revisão da bibliografia publicada em 2014 indicou que em países emergentes o balanço é negativo, inclusive gerando [[inflação]] e alto endividamento público. Cerca de metade das usinas estudadas tiveram um custo tão alto a ponto de serem dadas como perdidas. A maioria nunca consegue recuperar o seu custo de construção, e muito menos elevar a qualidade de vida das populações locais. No Brasil, a construção de [[Usina Hidrelétrica de Itaipu|Itaipu]] prejudicou as finanças nacionais por três décadas, e a despeito da sua importância central no sistema energético do país, economicamente ela provavelmente nunca pagará seus custos de construção e manutenção.<ref>Ansar, Atif ''et al''. [https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2406852 "Should We Build More Large Dams? The Actual Costs of Hydropower Megaproject Development"]. In: ''Energy Policy'', 2014; 69:43-56</ref><ref name="Flyvbjerg"/><ref name="Anderson"/> A [[Usina de Belo Monte]] também é um caso de megaprojeto em que os custos provavelmente ultrapassarão os benefícios,<ref name="Flyvbjerg">Flyvbjerg, Bent & Ansar, Atif. [https://www.theguardian.com/sustainable-business/hydroelectric-dams-emerging-economies-oxford-research "Hydroelectric dams are doing more harm than good to emerging economies"]. ''The Guardian'', 07/04/2014 </ref> além de estar envolvida em uma grande controvérsia desde o início por uma série de irregularidades em sua construção, omissão de dados relevantes, violação de direitos humanos e prejuízos múltiplos causados à comunidade e ambiente regionais.<ref>Prates, Camila Dellagnese & Almeida,
Jalcione. [http://www.ufrgs.br/temas/artigos/2015_Gianezini_e_Libardoni.pdf "Controvérsias tecnocientíficas no licenciamento da usina hidrelétrica de Belo Monte: a tecnociência sob a agência do Direito"]. In: Gianezini, K. & Libardoni, J. P. (orgs.). ''Estudos contemporâneos em Ciências Jurídicas e Sociais'', vol. III. Editora CRV, 2015, pp. 187-209</ref><ref> Sullivan, Zoe. [https://pt.mongabay.com/2017/02/brasil-desprovido-barragem-belo-monte-devastadora-as-culturas-indigenas/ "Brasil desprovido: a barragem de Belo Monte é devastadora para as culturas indígenas"]. ''Mongabay'', 15/02/2017</ref> Segundo os economistas James Robinson e Ragnar Torvik, a própria ineficiência desses grandes projetos é os que os torna politicamente sedutores, pois oferecem grandes oportunidades para desvios de verbas.<ref name="Anderson"/>
 
No caso das pequenas usinas, em termos econômicos elas tendem a ser proporcionalmente menos vantajosas que as grandes plantas, embora seu custo absoluto seja menor. Alguns estudos indicam que sua energia custa cerca de 15% mais para ser gerada do que a das grandes usinas.<ref name="Opperman"/> Um levantamento realizado pela AIER chegou a conclusões similares, mostrando que os custos instalados são maiores do que as grandes para cada KW produzido, numa relação de 1050 a 7650 dólares para cada KW nas grandes usinas, para 1300 a 8000 dólares para cada KW nas pequenas. Os custos de operação e manutenção também podem ser proporcionalmente maiores: 2 a 2,5% dos custos instalados nas grandes e 1 a 4% nas pequenas.<ref name="Renewable">International Renewable Energy Agency. [https://www.irena.org/documentdownloads/publications/re_technologies_cost_analysis-hydropower.pdf ''Hydropower'']. In: Renewable Energy Cost Analysis: Hydropower, Volume 1: Power Sector, Issue 3/5, 2012, p. i</ref> Na mesma direção aponta um levantamento da [[Agência Internacional de Energia]], indicando custos finais de geração de energia de 40 a 110 dólares por MW nas grandes usinas contra 45 a 120 dólares por MW nas pequenas. As microusinas têm custos relativos ainda maiores: 55 a 185 dólares para cada MW gerado.<ref> IEA / ETSAP [Lako, Paul & Tosato, Giancarlo]. [https://iea-etsap.org/E-TechDS/PDF/E06-hydropower-GS-gct_ADfina_gs.pdf ''Hydropower'']. Technology Brief E06, 2010 </ref>
Segundo um grande estudo elaborado sob os auspícios da Comissão Mundial de Represas em parceria com a [[União Internacional para a Conservação da Natureza]] e o [[Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente]], a construção de usinas tem um lado legítimo no aspecto humano, pela geração de energia e concomitante regularização dos fluxos fluviais, mas os impactos ambientais e sociais, especialmente no caso das grandes usinas, são geralmente altos e poucas vezes são levados em consideração adequada pelos promotores dos projetos. Ao mesmo tempo, impactos ambientais geram impactos adicionais para a sociedade, da mesma forma poucas vezes bem avaliados ou compensados.<ref>International Union for Conservation of Nature / United Nations Environment Programme / World Commission on Dams, ''op. cit''., pp. 65-66</ref>
 
== Ver também ==