História do Camboja: diferenças entre revisões

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Pouco se sabe sobre a pré-história no território do Camboja.<ref name="História do Camboja 1">{{citar web|url= http://www.lonelyplanet.com/cambodia/history |titulo= Cambodia - History |publicado= Lonely Planet |autor= Destinations | lingua= inglês |acessodata=31 de julho de 2013 }}</ref> As esparsas evidências para a ocupação humana durante o [[Pleistoceno]] são algumas ferramentas feitas a partir de [[quartzo]] e [[quartzito]], encontrados ao longo dos terraços do [[rio Mekong]] nas províncias de [[Stung Treng]], [[Kratié]] e [[Kampot]], mas não há datas para essa ocupação até ao momento.<ref name="História do Camboja 2">{{citar livro|autor= Miriam Stark |editora=Ian|editor1-last=Glover|editor2-first=Peter S.|editor2-last=Bellwood|titulo=Southeast Asia: from prehistory to history|ano= 2005 |lingua=inglês |publicado=Routledge | ISBN=978-0415391177| capitulo= Pre-Angkorian and Angkorian Cambodia|chapter_url= http://www.anthropology.hawaii.edu/People/Faculty/Stark/pdfs/2004_PreAngkorian.pdf}}</ref>
 
Outras evidências arqueológicas mostram comunidades de [[caçadores-coletores]] habitando a região do atual Camboja durante o [[Holoceno]]. O sitio arqueológico considerado como mais antigo no país é a caverna de Laang Spean, em [[Battambang]], e pertence ao período [[hoabinhiano]]. Escavações nas camadas mais profundas indicam uma ocupação desde [[sétimo milénio a.C.|6000 a.C.]]<ref name="História do Camboja 1" /><ref name="História do Camboja 3">{{citar web |url= http://www.smartcambodia.com/index.php?option=com_content&view=article&id=841%3Athe-second-prehistoric-archaeological-excavation-in-laang-spean-2009&catid=80&lang=en |titulo= The Second Prehistoric Archaeological Excavation in Laang Spean (2009) |autor= Young, Michel |publicado= Tranet | lingua= inglês | data= 20 de outubro de 2009 |acessodata= 31 de julho de 2013 |arquivourl= https://web.archive.org/web/20110101174655/http://www.smartcambodia.com/index.php?option=com_content&view=article&id=841%3Athe-second-prehistoric-archaeological-excavation-in-laang-spean-2009&catid=80&lang=en |arquivodata= 2011-01-01 |urlmorta= yes }}</ref> Nas camadas mais superficiais do mesmo sítio, existem evidências de transição para o [[Neolítico]], contendo dados das primeiras cerâmicas cambojanas.<ref name="História do Camboja 4">{{citar web |url= http://www.smartcambodia.com/index.php?option=com_content&view=article&id=840%3Athe-oldest-ceramic-in-cambodias-laang-spean-1966-68&catid=80&lang=en |titulo= The Oldest Ceramic in Cambodia's Laang Spean (1966–68) |data= 20 de outubro de 2009 |acessodata= 20 de agosto de 2013 |arquivourl= https://web.archive.org/web/20110101163727/http://www.smartcambodia.com/index.php?option=com_content&view=article&id=840%3Athe-oldest-ceramic-in-cambodias-laang-spean-1966-68&catid=80&lang=en |arquivodata= 2011-01-01 |urlmorta= yes }}</ref>
 
Dados arqueológicos para o período entre o [[Holoceno]] e a [[Idade do Ferro]] são muito escassos. Outros sítios pré-históricos famosos na região são o Samrong Sen (não muito longe da antiga capital [[Oudong]]), onde as escavações na região se iniciaram em 1877<ref name="História do Camboja 5">{{citar livro |autor= Higham, Charles |titulo=The Archaeology of Mainland Southeast Asia | ano= 1989 |publicado=Cambridge University Press|ISBN=978-0521275255 | lingua=inglês}}, p.120</ref> e Phum Snay, na província do norte de [[Banteay Meanchey]].<ref name="História do Camboja 6">{{citar jornal|autor= Dougald J.W. O'Reilly; Angela von den Driesch; Vuthy Voeun |ano= 2006 |titulo= Archaeology and Archaeozoology of Phum Snay: A Late Prehistoric Cemetery in Northwestern Cambodia|volume= 45 |issue= 2|issn= 0066-8435|lingua=inglês}}</ref> Artefatos pré-históricos também foram encontrados em [[Ratanakiri]] durante uma mineração.<ref name="História do Camboja 1" />
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Com base nos testemunhos dos historiadores chineses, acredita-se que o Reino de Funan tenha se estabelecido no [[Século I|primeiro século]] d.C, no delta do rio Mekong, apesar de pesquisas arqueológicas apresentarem que a extensa ocupação humana na região tenha sido datada até o [[século IV a.C.]]<ref name="Reino de Funan 6" /> Embora considerado por autores chineses como uma única organização política unificada, alguns estudiosos modernos suspeitam de que Funan pode ter sido uma coleção de cidades-estados que, por vezes, guerrearam entre si e em outros momentos constituíam uma unidade política, como foi sugerido pelo historiador vietnamita [[Hà Văn Tấn]].<ref name="Reino de Funan 6">Ciências Sociais do Vietname, volumes 1, 2, 7 e 8; 1986, pp.91-101.</ref> Escavações em Angkor Borei, no sul do Camboja, também deixa evidências de que Funan era uma sociedade complexa e sofisticada, com alta densidade populacional, tecnologia avançada — possuindo um porto na costa litorânea entre o Vietname e Camboja — e abastecido por um sistema de canais.<ref name="Reino de Funan 7">Luong Ninh, "Reino de Funan: um ponto de viragem histórico", Arqueologia do Vietnã, 3/2007: 74-89.</ref><ref name="Reino de Funan 8">Charles Holcombe, Comércio e Budismo: o comércio marítimo, a imigração e a terra firme budista no início do Japão, p. 280</ref>
 
Na suposição de que Funan possuía uma única política unificada, os estudiosos avançaram vários argumentos linguísticos sobre a localização de sua "capital". Uma teoria, baseada na conexão presumida entre a palavra "Funan" e a palavra khmer "Phnom", sugere a capital do reino nas proximidades de Ba Phnoṃ, na província de [[Prey Veng (província)|Prey Veng]].<ref name="Reino de Funan 8" /> Outra teoria, proposta por George Coedes, é que a capital era uma cidade identificada em inscrições angkorianas como "Vyādhapura".<ref name="Reino de Funan 9">Coedes, George, Os Estados Indianizados do Sudeste Asiático, p.36</ref> Coedes baseou sua teoria em uma passagem nas histórias chinesas que identificam a capital como "Temu" (特 牧, pinyin: temu), atribuindo este nome a uma transcrição da palavra Khmer "dalmāk", que ele traduziu como "caça".<ref name="Reino de Funan 9" /> Esta teoria foi rejeitada por outros estudiosos, alegando que "dalmāk" significa "caçador", e não "caça".<ref name="Reino de Funan 10">Michael Vickery, Sociedade, Economia e Política no Camboja pré-angkoriano: O sétimo e oitavo séculos, pp 36.</ref> Embora haja discordãncia, os historiadores e estudiosos afirmam que a provável capital (ou capitais) do Reino de Funan estava localizada no sul do Camboja.<ref name="Reino de Funan 11">{{citar web |url= http://www.anthropology.hawaii.edu/People/Faculty/Stark/pdfs/AP1999%20article.pdf |titulo= Results of the 1995–1996 Archaeological Field Investigations at Angkor Borei, Cambodia” |publicado= University of Hawai'i |autor= T. Starkdata, Miriam |data= 1999 | lingua= inglês |acessodata= 18 de janeiro de 2014 |arquivourl= https://web.archive.org/web/20150923172419/http://www.anthropology.hawaii.edu/People/Faculty/Stark/pdfs/AP1999%20article.pdf |arquivodata= 2015-09-23 |urlmorta= yes }}</ref>
 
=== Reino Chenla ===
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{{Artigo principal|Império Khmer}}
[[Ficheiro:Angkor Wat Aerial View Siem Reap Cambodia 2011.jpg|thumb|direita|[[Angkor Wat]], um dos monumentos do país.]]
Durante os séculos III, IV e V, os [[História da Índia|estados indianizados]] de [[Reino de Funan|Funan]] e [[Reino Chenla|Chenla]] se uniram e tiveram domínio sobre o atual Camboja e sudoeste do Vietname.<ref name="Período pré-angkoriano 1">{{citar web|url= http://www.country-studies.com/cambodia/early-indianized-kingdom-of-funan.html |titulo= Early Indianized Kingdom of Funan |publicado= Country Studies |lingua=inglês |data= 25 de julho de 2006 |acessodata=20 de agosto de 2013 }}</ref> Esses estados são encarados por muitos estudiosos como sendo parte do Khmer.<ref name="Período pré-angkoriano 1" /> O domínio substituiu o [[budismo mahayana]] pelo [[hinduísmo]], no quesito religioso, que permaneceu como religião oficial durante toda a dominação de Funan e Chenla. Durante mais de {{fmtn|2000|anos}}, o Camboja, assim como [[Myanmar]], foi influenciado pela [[Índia]] e pela [[China (civilização)|China]], fazendo com que sua influência fosse para fora de seu atual território reduzido e passando esse conhecimento e cultura para outras civilizações do sudeste asiático, que correspondem hoje ao leste da Tailândia, sudoeste do Vietname e ao [[Laos]].<ref name="Período pré-angkoriano 2">{{citar web |url= http://global.britannica.com/EBchecked/topic/90520/Cambodia/129475/History |titulo= Cambodia - History |publicado= Encyclopedia Britannica |lingua= inglês |data= |acessodata= 20 de agosto de 2013 |arquivourl= https://web.archive.org/web/20130514024758/http://global.britannica.com/EBchecked/topic/90520/Cambodia/129475/History |arquivodata= 2013-05-14 |urlmorta= yes }}</ref> Em torno do [[século XIII]], o [[budismo teravada]] foi reintroduzido no país por monges do [[Sri Lanka]],<ref name="Período pré-angkoriano 3">{{citar web |url= http://asia.isp.msu.edu/wbwoa/southeast_asia/cambodia/religion.htm |titulo= Cambodia — Religion |publicado= Asian Studies Presents — Windows in Asia |lingua= inglês |data= |acessodata= 20 de agosto de 2013 |arquivourl= https://web.archive.org/web/20130614132009/http://asia.isp.msu.edu/wbwoa/southeast_asia/cambodia/religion.htm |arquivodata= 2013-06-14 |urlmorta= yes }}</ref> que eram vistos como os homens mais respeitáveis dentro das comunidades e vilas que surgiam em torno dos templos. Isso resultou no crescimento e predominância do budismo teravada e a perda de influência do hinduísmo e budismo mahayana.<ref name="Período pré-angkoriano 3" />
[[Ficheiro:Map-of-southeast-asia 900 CE.png|thumb|esquerda|Mapa do Sudeste Asiático em torno de 900 d.C. O território do [[Império Khmer]] está em vermelho.]]
 
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Ao visitar [[Pequim]] em 1970, Sihanouk foi deposto por um golpe militar liderado pelo primeiro-ministro General [[Lon Nol]] e o príncipe Sisowath [[Sirik Matak]]. O apoio dos Estados Unidos para o golpe ainda não foi provado.<ref name="República Khmer 1">Clymer, KJ, Os Estados Unidos e o Cambodja, Routledge, 2004, p.22</ref> No entanto, uma vez que o golpe foi concluído, o novo regime, que imediatamente exigiu que os comunistas vietnamitas deixassem o Camboja, ganhou o apoio político dos Estados Unidos.<ref name="República Khmer 1" /> Sihanouk se estabeleceu em Pequim, na China, onde foi forçado a adaptar-se aos comunistas chineses.<ref name="República Khmer 2">Sihanouk, Norodom (1973). Minha guerra com a CIA, As Memórias do príncipe Norodom Sihanouk como relacionado a Wilfred Burchett. Pantheon Books.</ref> As forças norte-vietnamitas e os [[Frente Nacional para a Libertação do Vietname|vietcongues]], desejando manter seus santuários e linhas de abastecimento do [[Vietnã do Norte]], lançaram imediatamente ataques armados contra o novo governo. Sihanouk pediu a seus seguidores para ajudarem a derrubar o golpe militar, apressando a eclosão da [[Guerra Civil do Camboja|Guerra Civil cambojana]].<ref name="República Khmer 2" /> Logo, rebeldes do [[Khmer Vermelho]] começaram a ganhar apoio. No entanto, de 1970 até ao início de 1972, o conflito cambojano foi, em grande parte, entre o governo e o exército do Camboja e as forças armadas do Vietnã do Norte. Como o novo regime político recuperou o controle do território cambojano, os comunistas vietnamitas impuseram uma nova infraestrutura política, que acabou por ser dominada pelos comunistas cambojanos, referidos agora como o Khmer Vermelho.<ref name="República Khmer 3">Stephen J. Morris (1999) Por que os vietnamitas invadiram o Camboja, Stanford University Press, pp. 48-51, ISBN 0804730490</ref> Entre 1969 e 1973, forças da [[República do Vietnã]] e dos Estados Unidos bombardearam o Camboja, em um esforço para interromper os vietcongues e o Khmer Vermelho.<ref name="República Khmer 4"> Shawcross, William (1987). Sideshow: Kissinger, Nixon ea destruição do Camboja . Estados Unidos: Touchstone.</ref>
 
Documentos descobertos a partir dos arquivos soviéticos, depois de 1991, revelam que a tentativa norte-vietnamita de invadir o Camboja em 1970 foi lançada a pedido explícito do Khmer Vermelho e negociado por [[Pol Pot]], e em seguida, por [[Nuon Chea]].<ref name="República Khmer 5">Dmitry Mosyakov (2004) [http://www.yale.edu/gsp/publications/Mosyakov.doc "The Khmer Rouge and the Vietnamese Communists: A History of Their Relations as Told in the Soviet Archives,"] {{Wayback|url=http://www.yale.edu/gsp/publications/Mosyakov.doc |date=20130309074636 }} in Susan E. Cook, ed., ''Genocide in Cambodia and Rwanda'', Yale Genocide Studies Program Monograph Series No. 1, pp. 54 ff.: "Em abril-maio de 1970, muitas forças norte-vietnamitas entraram no Camboja, em resposta ao pedido de ajuda dirigido ao Vietnã por Pol Pot e seu vice, Nuon Chea. Nguyen Co Thach lembra: Nuon Chea pediu ajuda e nós libertamos cinco províncias do Camboja em 10 dias"</ref>
 
Entre 1969 e 1973, os rebeldes bombardearam os aviões sul-vietnamitas e norte-americanos, em um esforço para combater o [[Frente Nacional para a Libertação do Vietname|Vietcong]] e o [[Khmer Vermelho]].<ref name="Independência e Guerra do Vietnã 2"> Shawcross, William (1987). Sideshow: Kissinger, Nixon ea destruição do Camboja . Estados Unidos: Touchstone.</ref> Dois milhões de cambojanos foram feitos refugiados pela guerra e fugiram para Phnom Penh. As estimativas do número de cambojanos mortos durante estes bombardeios varia, assim como o ponto de vista dos efeitos do bombardeio.<ref name="Independência e Guerra do Vietnã 2" /> A Sétima Força Aérea americana argumentou que o bombardeio impediu a queda de Phnom Penh em 1973, matando {{fmtn|16000}} dos {{fmtn|25500|combatentes}} do Khmer Vermelho sitiando a cidade.<ref name="Independência e Guerra do Vietnã 3">Shawcross, Sideshow s. 298.</ref> Outros têm argumentado que o bombardeio levou os camponeses a aderir ao Khmer Vermelho.<ref name="Independência e Guerra do Vietnã 4"> Eg. Chandler, David P. Assuntos do Pacífico , vol. 56, n. 2, Verão 1983, p. 295.</ref> Argumenta-se ainda que o Khmer Vermelho "teria vencido de qualquer maneira", mesmo sem a intervenção americana para ajudar a recrutar, mas que os Estados Unidos teriam tido um papel importante por detrás da principal causa do sucesso do Khmer Vermelho.<ref name="Independência e Guerra do Vietnã 5">Etcheson, Craig, A ascensão e queda de Kampuchea Democrática , Westview Press, 1984, p. 97</ref>