Antigo Egito: diferenças entre revisões

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Nacada fabricou uma gama diversificada de bens materiais, reflexo do crescente poder e riqueza da elite: vasos (em basalto, marfim, cobre, osso e cerâmica), adornos pessoais (em osso, [[lápis-lazúli]], conchas, faiança, madeira, [[ouro]], [[prata]] e cobre), paletas antropo e zoomórficas (em [[grauvaque]] e [[ardósia]]), esteatita vítrea, figurinhas zoo e antropomórficas (em [[terracota]] e marfim), cabeças de clava discoides e depois peroides;<ref name=By2011b />{{sfn|Byrnes|2005f}} e esferas de [[ferro]] [[Siderito|meteorítico]], o mais antigo uso de ferro no mundo;{{sfn|Tylecote|1992|p=3}}{{sfn|Grajetzki|2000e}}{{sfn|Geerlings|2000}} em Nacada&nbsp;I, há os primeiros exemplos de habitações feitas com [[tijolo]]s.{{sfn|Redford|1992|p=7}}{{sfn|Reynes|2000|p=183}}{{sfn|Hoffman|1979|p=159}}{{sfn|Hassan|1988|p=155}} Durante Nacada, há transformações socioeconômicas importantes: intensa importação ([[obsidiana]], cobre, vasos, lápis-lazúli, marfim, [[ébano]], [[incenso]], pele de gatos selvagens, óleos, pedras e conchas) e exportação ([[alabastro]], [[Miçanga|contas]] de ouro, faiança, lâminas, [[amuleto]]s de "cabeças [[Bovídeos|bovídeas]]");{{sfn|Aston|2000|p=46-47}}{{sfn|Aston|1994|p=23-26}}<ref name=By2011c />{{sfn|Grimal|1988|p=28}}{{sfn|Byrnes|2005g}} aparecimento de costumes religiosos (uso de [[estela]]s e [[sarcófago]]s) e alguns deuses do [[Religião no Antigo Egito|panteão]] ([[Hórus]], [[Bat (deusa)|Bate]], [[Seti (divindade)|Seti]], [[Necbete]] e [[Mim]]);{{sfn|Byrnes|2005h}} os [[escrita hieroglífica|hieróglifos]] (quiçá com base na escrita [[Antiga civilização mesopotâmica|mesopotâmica]]{{sfn|Trigger|1983|p=37}});{{sfn|Allen|2000|p=1}}{{sfn|Kemp|1989|p=37}} arte e [[iconografia]], ambas representadas em paletas;{{sfn|Wilkinson|2000|p=31}} acentuada elevação da produção agrícola devido maior número de áreas cultivadas e melhoria das habilidades empregadas.{{sfn|Butzer|1976|p=103}} Muitos sítios deltaicos dedicaram-se só ao comércio com o Oriente, enquanto nômades do Deserto Oriental, porventura devido à degradação das condições ambientais locais, foram ativos mediadores do comércio.{{sfn|Friedman|1992|p=232}}{{sfn|Hoffman|1979|p=247}}
 
Um termo contextual (dinastia 0) é usado para agrupar os reis conhecidos de Nacada&nbsp;IIIb-IIIc, embora não formaram uma dinastia;<ref name=Ke25 /> apesar de não totalmente aceito, o termo dinastia 00 por vezes é usado para distinguir reis atestados entre Nacada&nbsp;IIc-&nbsp;IIIa2. {{ref label2|a}}<ref name=Ra2004 /> Até Nacada&nbsp;IIIa2, há em Nacada ([[Cemitério T]]), Gebeleim, Abidos ([[Cemitério U]]), Hieracômpolis ([[Tumba 100|T100]] e [[Tumba 11|11]]), [[Custul]] (L24) e [[Seiala]] (137.1) túmulos quiçá atribuíveis a chefes locais que emergiam do seio das famílias da elite.{{sfn|Wilkinson|1999|p=52}} Cerâmicas incisas, paletas (sobretudo a [[Paleta Líbia]]) e um [[grafite (arqueologia)|grafite]] nos [[Colossos de Copto]] forneceram os nomes de possíveis reis locais que reinaram até a ascensão dos reis tinitas: [[Órix (faraó)|Órix]], [[Concha (faraó)|Concha]], [[Peixe (faraó)|Peixe]], [[Elefante (faraó)|Elefante]], [[Touro (faraó)|Touro]], {{lknb|Boi|I}} (?) [[Cegonha (faraó)|Cegonha]], [[Canídeo (faraó)|Canídeo]], {{lknb|Boi|II}}, {{lknb|Escorpião|I}}, {{lknb|Falcão|I}}, [[Mim (faraó)|Mim + planta]] [...] {{lknb|Falcão|II}}, [[Leão (faraó)|Leão]], [[Falcão Duplo]] (e [[sereque]]s no [[Sinai]] e delta) [...] [[Iri-Hor]], [[ (faraó)|]], {{lknb|Escorpião|II}}, [[Narmer]]; talvez houve dois Touros, o dos colossos (Touro&nbsp;I) e outro da [[Paleta do Touro]] (Touro&nbsp;II);{{sfn|Dreyer|1998|p=178}} Escorpião&nbsp;I, cuja tumba ([[Túmulo U-j|U-j]], Abidos) tinha muitos bens e os primeiros hieróglifos conhecidossabidos, foi associado aoa um grafite de Gebel Tjauti, no deserto entre Abidos e Nacada, que exibe possível vitória sobre outro cheferei.{{sfn|name=Ra2002|Raffaele|2002}} Há também outros achados com [[sereque]]ssereques: Falcão Duplo ([[Sinai]] e delta), [[Hate-Hor]] (túmulo 1702 em [[Tarcã]]), [[Ni-Hor]] ([[Tora (Egito)|Tora]] e Tarcã), [[Hedju-Hor]] (delta Oriental e Tora) e [[Crocodilo (faraó)|Crocodilo]] (túmulos 315, 414 e 1549 de Tarcã), que quem sabeacaso foi usurpador no tempo de Narmer.{{sfn|Raffaele|2004a}} Alguns dos primeiros faraós tiveram seus jazigos localizadosdetectados: [[Iri-Hor]] (túmulo B1-B2, Abidos), [[Ka (faraó)|Ká]] (túmulo B7-B9, Abidos), Escorpião&nbsp;II (acasoquem sabe 4ª camada do túmulo B50 em Abidos ou túmulo 1 do local 6 em Hieracômpolis) e Narmer (túmulo B17-B18, Abidos).{{sfn|Wilkinson|1999|p=68}}
{{limpar}}
 
=== Época Tinita {{-nwrap||3100|2686}} ===
[[Imagem:NarmerPalette ROM-gamma.jpg|thumb|Duas faces da [[Paleta de Narmer]]. Nela há a suposta unificação do Egito{{sfn|Robins|2001|p=32}}]]
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[[Imagem:Khufu CEM.jpg|thumb|upright|esquerda|[[Estatueta de Quéops|Estatueta]] em [[marfim]] de [[Quéops]] {{-nwrap|r.|2589|2566}}. [[Museu Egípcio do Cairo]]]]
 
No Império Antigo ocorreram diversas expedições para exploração mineral nas minas do Sinai e Mar Vermelho assim como campanhas militares contra núbios e líbios. Concomitantemente, o comércio com o [[Oriente Próximo]] ([[Líbano]], Palestina, [[Mesopotâmia]]) e o [[PuntPunte]] intensificou-se e, juntamente com os sucessos militares, possibilitou ao Egito fundar acampamentos estratégicos e uma [[frota]] marítima, assim como adquirir ouro, cobre, turquesa, madeira de cedro, [[mirra]], [[malaquita]] e [[eletro]].<ref name=Go12/>
 
Durante o Império Antigo, uma administração central bastante desenvolvida tornou possível o aumento da produtividade agrícola, o que serviria de motor para impressionantes avanços nos campos da arquitetura, arte e tecnologia.{{sfn|James|2005|p=40}} Sob a direção do ''[[tjati]]'' ([[vizir]]), funcionários do Estado arrecadavam impostos, coordenavam projetos de irrigação para melhorar o rendimento das culturas, recrutavam camponeses para trabalhar em projetos de construção e estabeleceram um sistema de justiça que assegurava a manutenção da ordem e da paz.{{sfn|Shaw|2002|p=102}} Com os excedentes dos recursos disponibilizados por uma economia produtiva e estável, o Estado foi capaz de patrocinar a construção de monumentos colossais e a excepcional comissão de obras de arte às oficinas reais.{{sfn|name=Salles13|Salles|2008|p=13}}
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Por volta de {{AC|1785|n}}, com o poder dos faraós do Império Médio enfraquecido, os imigrantes asiáticos residentes na cidade de [[Aváris]] assumiram o controle da região e forçaram o governo central a se retirar para [[Tebas (Egito)|Tebas]], onde o faraó era tratado como um vassalo e era obrigado a pagar tributo.{{sfn|name=Ryholt310|Ryholt|1997|p=310}} Os [[hicsos]] (''Heka-khasut'', governantes estrangeiros) imitaram o modelo de governo egípcio e se apresentaram como faraós, integrando elementos egípcios na sua cultura da [[Idade do Bronze|Idade do Bronze Médio]].{{sfn|Shaw|2002|p=189}} Introduziram também elementos novos como o [[cavalo]], os [[biga|carros de guerra]], novos métodos de fiação e [[tecelagem]] e novos instrumentos musicais.<ref name=Pe29/>
 
Depois da retirada, os reis de Tebas se viram presos entre os hicsos no norte e os aliados núbios dos hicsos, os [[Reino de Cuxe|cuxitas]], no sul. Após anos de inatividade, Tebas reuniu força suficiente para desafiar os hicsos em um conflito que duraria mais de 30 anos, até {{AC|1555|n}}<ref name=Ryholt310 /> Os faraós {{lknb|Taá|II}} e [[KamésCamés]] acabaram por derrotar os núbios, mas foi o sucessor de KamésCamés, [[Amósis]], que empreendeu com sucesso uma série de campanhas que permanentemente erradicaram os hicsos no Egito. No [[Império Novo]] que se seguiu, o poder militar se tornou uma prioridade central para os faraós, que procuraram expandir as fronteiras do Egito e garantir o domínio completo do [[Oriente Próximo]].{{sfn|Shaw|2002|p=224}}
 
=== Império Novo {{-nwrap||1550|1069}} ===
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{{AP|Império Novo}}
 
Os faraós do Império Novo estabeleceram um período de prosperidade sem precedentes, ao assegurar as fronteiras e reforçar os laços diplomáticos com seus vizinhos. Campanhas militares levadas a cabo sob o comando de {{lknb|Tutmés|I}} e seu neto {{lknb|Tutmés|III}}, alargaram a influência dos faraós para o maior império que o Egito já havia visto.{{sfn|name=Go22|Gomes|2010|p=22-34}} Quando Tutmés morreu em {{AC|1425|n}}, o Egito prolongava-se desde {{ilc|Nia|Reino de Nia|Niya (reino)|Reino de Niya|Niya}} no norte da [[Síria]] até à quarta catarata do Nilo, na [[Núbia]], cimentando fidelidades e abrindo caminho para importações essenciais como [[bronze]] e madeira.{{sfn|James|2005|p=48}} Os faraós do Império Novo iniciaram uma campanha de construção em grande escala para promover o deus [[Amom (deus)|Amom]], com culto assente em [[Carnaque]].<ref name=Pe29/> Também construíram monumentos para glorificar suas próprias realizações, tanto reais como imaginárias. A faraó [[Hatexepsute]] usou tais meios como propaganda para legitimar sua pretensão ao trono.{{sfn|Grajetzki|2000g}} Seu reinado bem sucedido foi marcado por expedições comerciais a [[PuntPunte]], um elegante [[Deir el-Bahari|templo mortuário]], um par de [[obelisco]]s colossais e uma {{ilc|Capela em Carnaque|Capela Vermelha}}. Apesar de suas realizações, o sobrinho e enteado de Hatexepsute, {{lknb|Tutmés|III}} tentou fazer desaparecer o seu legado perto do fim de seu reinado, possivelmente em represália pela usurpação do seu trono.{{sfn|Clayton|1994|p=108}}
 
[[Imagem:SFEC EGYPT ABUSIMBEL 2006-003.JPG|thumb|esquerda|upright|As quatro estátuas colossais de {{lknb|Ramessés|II}} na entrada do templo de [[Abul-Simbel]]]]
 
Sob {{lknb|Tutmés|IV}} ({{AC|1397-1388|n}}) o Egito realizou uma aliança com [[Mitani]] para empreender ataques contra o [[Império Hitita]]. Com {{lknb|Amenófis|III}} foram edificados os templos de [[Luxor]], o palácio de [[Malcata (Egito)|Malcata]] e o [[Templo de Milhões de Anos]], do qual atualmente só restam os conhecidos "[[Colossos de Memnon]]", além do templo de Amom em Carnaque ter sido ampliado.{{sfn|name=Salles53|Salles|2008|p=53}} Durante seu reinado, colheitas férteis e excedentes, permitiram a Amenófis&nbsp;III assegurar relações com os reinos orientais e com os nobres das cidades sírio-palestinas por meio de acordo diplomáticos, alguns dos quais envolvendo casamentos reais. Cerca de {{AC|1350|n}}, a estabilidade do Império Novo foi ameaçada quando {{lknb|Amenófis|IV}} subiu ao trono e instituiu uma série de reformas radicais e caóticas. Após mudar o seu nome para ''Aquenáton'' (''O Esplendor de Aton''), decretou como a divindade suprema o até aí obscuro deus Sol [[Atom (mitologia)|Atom]], suprimindo o culto de outras divindades e atacando o poder religioso instalado.{{sfn|Aldred|1988|p=259}} Mudando a capital à nova cidade de ''AquetatonAquetáton'' (''Horizonte de Atom'', atual [[Amarna]]), Aquenáton tornou-se desatento aos negócios estrangeiros, deixando-se absorver pela devoção a Atom e pela sua personalidade de artista e pacifista.<ref name=Go22/> Durante seu reinado as relações comerciais com o [[Mar Egeu]] ([[Civilização Minoica|minoicos]] e [[Civilização Micênica|micênios]]) são cortadas e os hititas começam a fazer perigar a soberania egípcia na Síria.{{sfn|Herold|2008|p=43}} Após sua morte, o culto de Atom foi rapidamente abandonado, e os faraós [[Tutancâmon]], [[Ay (faraó)|Ay]] e [[HoremebHoremebe]] apagaram todas as referências à [[heresia]] de Aquenáton, agora conhecida como [[Período Amarna]].{{sfn|Cline|2001|p=273}}
 
[[Imagem:Istanbul - Museo archeol. - Trattato di Qadesh fra ittiti ed egizi (1269 a.C.) - Foto G. Dall'Orto 28-5-2006.jpg|thumb|esquerda|upright|Fragmentos do tratado de paz entre os egípcios e hititas]]
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[[Imagem:Saqq Horemheb 11.jpg|thumb|250px|esquerda|Relevo da tumba de [[Horemebe]]]]
 
Os exércitos empreenderam expedições militares no Sinai para proteção das minas locais durante o [[Império Antigo]]{{sfn|Gomes|2010|p=12-20}} e lutaram em guerras civis durante o [[Primeiro Período Intermediário|Primeiro]] e [[Segundo Período Intermediário|Segundo Períodos Intermediários]]. Foram importantes à manutenção de fortificações ao longo de rotas comerciais importantes, tais como as encontradas na cidade de [[{{ilc|Buém||Buhen]]}} no caminho à Núbia. Também foram construídos fortes nas fronteiras com guarnições de 50 a 100 homens, para servirem como bases militares,{{sfn|name=Be64|Beting|2009|p=64}} tais como a [[fortaleza de Sile]], a qual foi uma base de operações para expedições no [[Levante (Mediterrâneo)|Levante]]. No Império Novo, uma série de faraós usaram o exército para atacar e conquistar o [[Reino de Cuxe]] e partes do Levante.{{sfn|Shaw|2002|p=245}} Há informações que alegam que houve a prática de [[espionagem]] entre os exércitos egípcios.{{sfn|Beting|2009|p=56}}
 
Os equipamentos militares típicos incluíram [[Arco (arma)|arcos]] e [[flecha]]s de [[sílex]], [[machado]]s, [[Porrete|clavas]], [[lança]]s de cobre e [[escudo]]s redondos feitos por [[estiramento]] de pele de animais sobre uma armação de madeira. No Império Novo, os militares começaram a usar [[biga]]s e cavalos que haviam sido introduzidos pelos invasores [[hicsos]] durante o Segundo Período Intermediário.<ref name=Be64/> As armas e [[armadura]]s continuaram a melhorar com a introdução do [[bronze]]: os escudos eram agora feitos de madeira sólida com uma fivela de bronze, lanças receberam pontas de bronze e o ''[[khopesh]]'', uma espécie de [[espada]] com a extremidade curva, foi adotado a partir de modelos asiáticos.{{sfn|Manuelian|1998|p=366-367}} O faraó, na arte e literatura, anda à frente do exército e há evidências de que pelo menos alguns faraós, como {{lknb|Taá|II}} e seus filhos, o fizeram.{{sfn|Clayton|1994|p=96}}
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[[Imagem:TurinPapyrus1.jpg|thumb|esquerda|O [[Mapa de Turim]] descreve as minas de [[Uádi Hamamate]] e é o mapa de cunho topográfico conhecido mais antigo]]
 
O Egito é rico em pedras de decoração e construção, cobre e [[minério]]s de [[chumbo]], [[ouro]] e [[Gema (mineralogia)|pedras semipreciosas]]. Estes [[recursos minerais]] permitiram aos egípcios construir monumentos, esculpir estátuas, fazer ferramentas e [[Joalharia|joias]].{{sfn|Greaves|1929|p=123}} Os [[embalsamamento|embalsamadores]] utilizavam [[sal|sais]] de [[Uádi Natrum]] ([[natrão]]) para [[mumificação]], que também proporcionou a [[gipsita]] necessária para fazer [[gesso]].{{sfn|Lucas|1962|p=413}} Formações rochosas de minérios foram encontradas em barrancos inóspitos e distantes do Deserto Oriental e no Sinai, exigindo grandes expedições controladas pelo Estado para obter os recursos naturais ali encontradoslocalizados. Havia extensas minas de [[ouro]] na [[Núbia]], e um dos primeiros mapas conhecidos é de uma mina de ouro na região. [[Uádi Hamamate]] foi uma importante fonte de [[granito]], [[grauvaque]] e ouro. O [[sílex]] foi o primeiro mineral coletado e usado para fazer ferramentas e machadinhas líticas. Nódulos do mineral eram cuidadosamente lascados para fazer lâminas e pontas de flechas, mesmo depois do [[cobre]] passar a ser usado para essa finalidade.{{sfn|Aston|2000|p=28}}
 
Os egípcios trabalharam em depósitos de minério de chumbo e [[galena]] em Gebel Rosas para fazer chumbo líquido, [[prumo]]s e pequenas figuras. O cobre foi o material mais importante à fabricação de ferramentas no Antigo Egito e foi fundido em fornos de minério de [[malaquita]] e [[turquesa]] extraídas do [[Sinai]].{{sfn|Scheel|1989|p=14}} Através de lavagem, eram coletadas [[pepita]]s de ouro de sedimentos de depósitos aluviais. Outro processo para obter ouro, mais trabalhoso, era a moagem e lavagem de [[quartzito]] de ouro. Depósitos de ferro encontradosachados no norte do Egito, foram utilizados na [[Época Baixa]].{{sfn|Ogden|2000|p=166}} Pedras de construção de alta qualidade eram abundantes no Egito; os antigos egípcios extraíram [[calcário]] ao longo do Vale do Nilo, [[granito]] de Assuão e [[basalto]] e [[arenito]] dos barrancos do Deserto Oriental. Depósitos líticos decorativos, tais como [[pórfiro]], [[quartzo]], [[feldspato|feldspato verde]], [[ágata]], [[diorito]], grauvaque, [[berilo]], [[alabastro]] e [[cornalina]] pontilhada dos desertos oriental e ocidental foram coletadas antes mesmo da primeira dinastia. Nos período ptolomaico e romano, os mineiros trabalharam em jazidas de [[esmeralda]]s de Uádi Sicaite e [[ametista]] em Uádi Elhudi.{{sfn|Aston|2000|p=51}}
 
=== Comércio ===
 
[[Imagem:Relief of Hatshepsut's expedition to the Land of Punt by Σταύρος.jpg|thumb|Expedição comercial ao [[Punt|Reino de PuntPunte]]]]
[[Imagem:Musée_du_Louvre_-_Antiquités_égyptiennes_-_Salle_06_-_06c.jpg|thumb|Pesos egípcios em forma de animal]]
 
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Os antigos egípcios estiveram envolvidos no comércio com os povos vizinhos para obter mercadorias raras e exóticas não encontradas no Egito. No período pré-dinástico, estabeleceram o comércio com a [[Núbia]] à obtenção de ouro, [[Pena|plumas]] de [[avestruz]], peles de [[leopardo]], [[incenso]] e [[marfim]].{{sfn|Santiago|2006|p=99}} Também estabeleceram o comércio com a [[Palestina (região)|Palestina]], como evidenciado por jarros de óleos de estilo palestino encontrados nas sepulturas dos faraós da primeira dinastia.{{sfn|Shaw|2002|p=72}} Uma colônia fundada no sul de [[Canaã]] foi anterior à primeira dinastia.{{sfn|Porat|1992|p=433-440}} Na época de [[Narmer]] se produziu cerâmica em Canaã que era exportada ao Egito.{{sfn|name=Naomi|Porat|1987|p=109-129}}
 
Em meados da segunda dinastia, o contato do Antigo Egito com [[Biblos]] rendeu um intenso comércio de madeira de boa qualidade não encontrada no Egito. Durante a quinta dinastia, o comércio com [[PuntPunte]] abastecia o Egito com ouro, resinas aromáticas, [[ébano]], marfim e animais silvestres, como [[macaco]]s e [[babuíno]]s.{{sfn|Shaw|2002|p=322}} Houve também comércio com a [[Anatólia]] para adquirir [[estanho]] e para o fornecimento suplementar de [[cobre]], dois metais necessários à fabricação de [[bronze]]. Os antigos egípcios valorizaram a pedra azul [[lápis-lazúli]], que tinha de ser importada do [[Afeganistão]]. Os parceiros do Egito no comércio [[Mediterrâneo|mediterrânico]] também incluíram [[Civilização Minoica|Creta]] e a [[Grécia Antiga|Grécia]], que forneciam, entre outras mercadorias, [[azeite]].{{sfn|Manuelian|1998|p=145}} Em troca de suas importações de luxo e de matérias-primas, o Egito exportava principalmente grãos, ouro, [[linho]] e [[papiro]], além de outros produtos acabados, incluindo objetos de vidro e pedra.{{sfn|Haris|1990|p=13}}
 
== Sociedade ==
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{{Hiero | ''r n kmt''<br /> 'Língua egípcia' | <hiero>r:Z1 n km m t:O49</hiero> | align=right | era=default}}
 
A [[língua egípcia|língua]] é uma [[Línguas afro-asiáticas|língua afro-asiática setentrional]] intimamente relacionada com o [[Línguas berberes|berber]] e as [[línguas semíticas]].{{sfn|Loprieno|1995b|p=2137}} Tem a história mais antiga a seguir ao [[Língua suméria|sumério]], tendo sido escrita desde {{AC|3200|n}} até à [[Idade Média]], permanecendo como uma língua falada por mais tempo. Distinguem-se as fases do [[Língua egípcia arcaica|egípcio arcaico]], [[Língua egípcia antiga|egípcio antigo]], [[Língua egípcia média|egípcio médio]] (egípcio clássico), [[Língua egípcia tardia|egípcio tardio]], [[Egípcio demótico|demótico]] e [[Língua copta|copta]].{{sfn|Loprieno|2004|p=161}} Os escritos egípcios não apresentam diferenças antes do dialeto copta, no entanto, provavelmente existiam dialetos orais regionais nas regiões de [[Mênfis]] e, posteriormente, de [[Tebas (Egito)|Tebas]].{{sfn|Loprieno|2004|p=162}}
 
O egípcio antigo foi uma [[Línguas sintéticas|língua sintética]], tornando-se posteriormente em uma [[Línguas isoladas|língua mais analítica]]. O egípcio tardio desenvolveu [[Artigo (gramática)|artigos]] prefixais definidos e indefinidos, que substituíram os [[Caso gramatical|sufixos]] flexionais anteriores. Há uma mudança da [[Ordem dos constituintes|velha ordem]] [[Verbo Sujeito Objeto]] para [[Sujeito Verbo Objeto]].{{sfn|Loprieno|1995b|p=2137-2138}} Os [[hieróglifos]] egípcios, a [[Hierático|escrita hierática]] e o [[Egípcio demótico|demótico]] acabaram por ser substituídos pelo [[alfabeto copta]], mais fonético. O copta ainda é usado na [[liturgia]] da [[Igreja Ortodoxa Copta|Igreja Ortodoxa do Egito]], e vestígios dela são encontrados no [[árabe egípcio]] moderno.{{sfn|Vittman|1991|p=197-227}}
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O gênero conhecido como ''[[Sebayt]]'' (''instruções'') foi desenvolvido para comunicar os ensinamentos e orientações dos nobres famosos. Deste género destaca-se o ''[[Ensinamento de Ptaotepe]]'', que em trinta e seis máximas expõe as reflexões do seu autor (um vizir) sobre as relações humanas. O ''[[Papiro Ipuur]]'', um poema de lamentações descrevendo catástrofes naturais e agitação social, é um papiro contraditório, pois até o presente não se chegou a um consenso quanto a seu período, podendo ser um poema descritivo do [[Primeiro Período Intermediário|Primeiro]] ou [[Segundo Período Intermediário]]. A ''[[Aventuras de Sinué|história de Sinué]]'', escrita em egípcio médio, é um clássico da literatura, contando as peripécias da personagem homônima.{{sfn|Lichtheim|1975|p=11}} O ''[[Papiro Westcar]]'' também escrito nesse período, é um conjunto de histórias contadas a [[Quéops]] por seus filhos, relatando as maravilhas realizadas pelos sacerdotes.{{sfn|Lichtheim|1975|p=215}} A obra ''[[Instruções de Amenemés]]'' é considerada uma obra-prima da literatura do [[Oriente Próximo]].{{sfn|Day|1997|p=23}} Outras histórias famosas são o ''[[Conto do Náufrago]]'' (história de um marinheiro que naufragou em uma ilha habitada por uma serpente), do ''Príncipe predestinado'' (história de um príncipe amaldiçoado), dos ''Dois Irmãos'' (história de vinganças causada pela mulher de um dos irmãos) e a ''Sátira das profissões'' ([[sátira]] realizada por escribas para mostrar os incômodos das outras profissões que não fossem o ofício de escriba).<ref name=Be78/>
 
O egípcio tardio foi falado no [[Império Novo]] e ocorre em documentos administrativos do [[Império Novo|período raméssida]], poesias de amor e contos, bem como em textos demóticos e coptas. No final do Império Novo, a língua vernácula foi mais frequentemente empregada para escrever peças populares como a ''[[História de Unamón]]'' e a ''[[Instrução de AnyAni]]''. O primeiro conta a história de um nobre que é roubado quando se dirigia ao [[Fenícia|Líbano]] para comprar madeira de [[cedro-do-líbano|cedro]] e as suas peripécias para voltar ao Egito. Durante este período, papiros como o ''[[Papiro Cester Beatty I|Papiro Cester Beatty&nbsp;I]]'', ''[[Papiro Harris 500]]'' e um fragmento do ''[[Papiro de Turim]]'' mostram um tipo de poesia amorosa, com temas de paixão e [[erotismo]]. A partir de cerca de {{AC|700|n}}, histórias narrativas e instruções, como a popular ''Instruções de Onchsheshonqy'', bem como documentos pessoais e empresariais foram escritos em [[Egípcio demótico|demótico]]. A ação de muitas histórias escritas em demótico durante o período greco-romano decorria em épocas históricas anteriores, de quando o Egito era uma nação independente governada por grandes faraós como {{lknb|Ramessés|II}}.{{sfn|Lichtheim|1980|p=159}}
 
== Religião ==
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[[Imagem:Hermitage Egyptian statuettes.jpg|thumb|upright|Tríade de Abidos (Osíris, Hórus e Ísis)]]
 
[[Imagem:Ka Statue of horawibra.jpg|thumb|upright|Estátua ''[[Ka|Cá]]'']]
 
O Antigo Egito fundamentou-se por sua plena relação com o divino e na vida após a morte de tal modo que o reinado [[Faraó|faraônico]] foi baseado no direito divino dos reis;{{sfn|Shaw|1995|p=153}} considerava-se o faraó filho do deus [[Rá]] (depois conhecido como Amom-Rá ao ser fundido com [[Amom (deus)|Amom]]<ref name=Pe28 />).{{sfn|name=Ri82|Ribeiro|2006|p=82-83}} A religião teve influência tanto em âmbito ideológico (a história foi explicada em viés divinos) como em carácter prático (a sociedade assim como a economia moldaram-se por influência de tal instituição); durante a história a economia local esteve intimamente relacionada com os templos. Na religiosidade, o culto às divindades sobressaía as crenças gerais, o que faz da religião mais [[ortopraxia|ortoprática]] do que [[ortodoxia|ortodoxa]].<ref name=Go42/>
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Os deuses, a mando dos faraós, eram adorados nos templos e os cultos eram administrados por sacerdotes que diariamente lavavam, perfumavam, [[maquilhagem|maquilavam]] e alimentavam a estátua do deus que permanecia trancada em um [[Nau (santuário)|nau]] no centro do templo. Os templos não eram locais para adoração pública, e somente em dias comemorativos ou em festas selecionava-se um santuário para onde se transportava a estátua para que houvesse adoração pública;<ref name=Be48/> as procissões que transportavam as estátuas, que eram assistidas pela população, contavam com a participação de músicos e cantores. Cidadãos comuns podiam ter estátuas cultuais privadas, assim como amuletos de proteção.<ref name=Go42/> Após o [[Império Novo]] o papel do faraó como intermediário espiritual foi ofuscado devido ao desenvolvimento de um sistema de oráculos para comunicar as vontades divinas diretamente a população.{{sfn|Shaw|2002|p=313}}
 
Os egípcios durante sua história desenvolveram um pleno conceito de vida após a morte. Inicialmente acessível apenas para os faraós, a partir do [[Primeiro Período Intermediário]] alargou-se para toda a população, o que provocou um considerável aumento do uso de práticas como a [[mumificação]].<ref name=Go42/> Segundo a visão egípcia os seres humanos eram compostos por cinco partes: corpo, sombra (''šwt''), alma (''ba''), força vital (''ka'') e nome.{{sfn|Allen|2000|p=79; 94-95}} O [[coração]], ao invés do [[cérebro]], era considerado a sede de todos os pensamentos e emoções. Após a morte de um indivíduo seus aspectos espirituais são liberados e estes necessitam de restos físicos ou uma estátua para habitarem permanentemente. Todo defunto almejava voltar a seu ''ka'' e ''ba'' de modo a se tornar um ''anque'' (''akh''). Para isto acontecer era necessário que o defunto fosse julgado digno no [[Tribunal de Osíris]], onde seu coração era pesado;<ref name=Bra106/> caso considerado digno, este poderia continuar a existir na terra em forma espiritual;{{sfn|Wasserman|1994|p=150-153}} caso contrário seria devorado por um monstro que consistia na mistura de três animais, [[leão]], [[crocodilo]] e [[hipopótamo]].{{sfn|name=Be48|Besozzi|2005|p=48-63}}
 
=== Práticas funerárias ===
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As cores possuíam uma função simbólica nas pinturas: o preto (sobrancelhas, perucas, olhos e bocas) simbolizava a noite, a morte, a fertilidade, a regeneração e as inundações do Nilo; o branco (vestes dos sacerdotes, objetos rituais, casas, flores e templos) a pureza, verdade, alegria e triunfo; o azul, o Nilo e o céu; o verde, a regeneração e a vida; o amarelo, a eternidade; e o vermelho, a energia, o poder, a sexualidade e [[Seti (divindade)|Seti]]. A pele dos homens era pintada de vermelho-ocre e a das mulheres de amarelo-ocre.<ref name=Go58/><ref name=Be84/> As tintas eram obtidas a partir de minerais, como [[Minério de ferro|minérios de ferro]] ([[ocre]] vermelho e amarelo), [[Minério de cobre|minérios de cobre]] (azul e verde), [[fuligem]] ou [[carvão]] (preto), e [[calcário]] (branco). As tintas podem ser misturadas com [[goma-arábica]] como aglutinante e prensadas em bolos, que podiam ser umedecidos com água quando necessário.{{sfn|Lee|2000|p=105}} No entanto, análises de múmias de cerca de {{AC|3200|n}} mostram sinais de [[anemia hemolítica]] e outros distúrbios, causados por intoxicação com metais pesados ([[chumbo]], [[Mercúrio (elemento químico)|mercúrio]], [[arsênio]], [[cobre]]) que eram usados como pigmentos, corantes e maquiagem, especialmente pelas classes dominantes.{{sfn|Teebi|2010|p=283}}
 
Os artesãos do Antigo Egito usavam pedra ([[basalto]], [[pórfiro]], [[xisto]], [[diorito]] e o [[granito]]) para esculpir estátuas e finos relevos, mas usavam madeira como um substituto barato e fácil de esculpir. Algumas estátuas serviam objetivos políticos, sendo colocadas diante dos templos para que o povo as visse, mas tinham sobretudo um objetivo religioso.{{Carece de fontes|data=fevereiro de 2018}} No geral as estátuas têm figura que olha à frente, numa linha perpendicular ao plano dos ombros, com os braços colados ao corpo. As estátuas que se encontravam nos túmulos eram consideradas como uma espécie de corpo de substituição; o ''ka'' e o ''ba'' deveriam reconhecer o rosto onde habitavam, não sendo por isso relevante mostrar os defeitos do corpo. Algumas estátuas atingiam proporções grandiosas, como a Esfinge de Giza e os [[Colossos de Memnon]].<ref name=Go12/><ref name=Salles53/>
 
Os cidadãos comuns tiveram acesso a obras de [[Arte tumular|arte funerária]], tais como estátuas [[chauabti]]s e o livro dos mortos, que acreditavam que iria protegê-los na vida após a morte.<ref name=Ja122 /> Durante o [[Império Médio]], modelos de madeira ou de barro com cenas da vida diária tornaram-se populares aditamentos aos túmulos. Em uma tentativa de duplicar as atividades da vida após a morte, estes modelos mostram operários, casas, barcos e até mesmo formações militares que são representações à escala do ideal de vida após a morte dos antigos egípcios.{{sfn|Robins|1998|p=74}}
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Os egípcios foram os primeiros a afirmar que as doenças têm causas naturais, o que os motivou a produzir [[medicamento]]s para combatê-las. Os egípcios produziram a primeira [[farmacopeia]] conhecida. Entre os medicamentos podem-se citar ervas medicinais, sangue de [[lagartos]], [[fezes]] animais, [[leite]] de mulher grávida e livro velho fervido.{{sfn|name=Go64|Gomes|2010|p=64-65}}<ref name=Be100/> Feridas foram tratadas por bandagem com carne crua, linho branco, suturas, redes e cotonete encharcado com mel para evitar infecções,{{sfn|Strouhal|1989|p=250}} enquanto ópio foi usado para aliviar a dor. [[Alho]] e [[cebola]] foram usados regularmente para promover boa saúde e acreditava-se que aliviavam os sintomas de [[asma]]. Os cirurgiões egípcios antigos costuravam feridas, colocavam braços quebrados no lugar, e amputavam membros doentes, mas também reconheceram que alguns ferimentos eram tão graves que a única coisa a fazer era confortar o paciente até sua morte.{{sfn|Filer|1995|p=38}}
 
A previsão do futuro era praticada através da interpretação dos sonhos.; Foi encontrado um papiro com uma relação de sonhos e interpretações.{{sfn|name=Be83|Besozzi|2005|p=83}}
 
=== Construção naval ===