Dialeto da costa norte: diferenças entre revisões

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{{Info/Língua
| nome = Dialeto da Costa Norte
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{{Dialetos do Brasil}}
O '''dialeto da costa norte''', por vezes também chamado de '''dialeto cearense''' por ser notoriamente descrito como o principal dialeto do estado do Ceará, é uma [[Dialetos do português brasileiro|variante]] do [[português brasileiro]] falada no [[Estados do Brasil|estado]] do [[Ceará]] e em partes do [[Piauí]] e do [[Maranhão]]. No Ceará, seu estado raiz, conta com aproximadamente 8,5 milhões de falantes.
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== Características ==
=== Fonéticas ===
 
Existem diversos traços fonológicos característicos do dialeto da costa norte. Entre eles, podemos citar:
 
==== Vogais ====
 
* '''Abertura das vogais pré-tônicas [e] e [o]''': A abertura das vogais médias pré-tônicas [e] e [o] (que passam para [ɛ] e [ɔ]) é típica dos dialetos do Norte-Nordeste do Brasil, distinguindo-os nitidamente dos dialetos do Centro-Sul. No dialeto da costa norte, porém, esse fenômeno é de caracterização peculiar, estando relacionado a uma regra de [[harmonia vocálica]] de traço em que a vogal da sílaba pré-tônica se assimila à vogal da sílaba tônica posterior, além da neutralização e redução vocálicas, diferentemente do que ocorre no dialeto baiano e outros.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Lee|primeiro=Seung Hwa|url=http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/edicoesanteriores/4publica-estudos-2006/sistema06/shl.pdf|título=Sobre as vogais pré-tônicas no Português Brasileiro|jornal=Estudos Linguísticos|volume=XXXV|paginas=166-175|ano=2006|acessadoem=23 de abril de 2012}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Lee|primeiro=Seung Hwa|coautores=Oliveira, Marco A. de|url=http://www.ich.pucminas.br/posletras/Producao%20docente/Marco%20Antonio/Variacao%20Inter-%20e%20Intra-Dialetal%20no%20Portugues%20Brasileiro_2005.pdf|título=Variação inter-e intra-dialetal no português brasileiro: um problema para a teoria fonológica|acessadoem=23 de abril de 2012|jornal=|arquivourl=https://web.archive.org/web/20131014222541/http://www.ich.pucminas.br/posletras/Producao%20docente/Marco%20Antonio/Variacao%20Inter-%20e%20Intra-Dialetal%20no%20Portugues%20Brasileiro_2005.pdf|arquivodata=2013-10-14|urlmorta=yes}}</ref> Assim, os cearenses pronunciam as vogais /e/ e /o/ abertas ou fechadas, nas sílabas pré-tônicas, conforme a vogal da sílaba tônica posterior induza sua abertura ou fechamento: por exemplo, tem-se "hotel" [ɔ'tɛw], mas "loteria" [lote'ɾiɐ], e "detesto" [dɛtɛʃtʊ], porém "pretexto" [pɾeteʃtʊ], o que não exclui as ocorrências de redução vocálica também presentes em outros dialetos do português, como em "desleixo" [dzlejʃʊ]. Ocorre também influência morfológica nos termos formados por derivação, o que faz com que vogais que, pela regra da harmonização vocálica, seriam abertas sejam realizadas de modo distinto em razão da influência do termo originário, a exemplo de "mesada" ([mezadɐ], não [mɛzadɐ]) e "cebolal" ([seboˈlaʊ], não [sebɔˈlaʊ]).<ref name=Monteiro1>{{Citar periódico|ultimo=Monteiro|primeiro=José Lemos|url=http://www.protexto.ufc.br/genero_academico/artigo_cientifico/AAC12.doc|título=As descrições fonológicas do português do Ceará: de Aguiar a Macambira|acessadoem=23 de abril de 2012|jornal=|arquivourl=https://web.archive.org/web/20140405142847/http://www.protexto.ufc.br/genero_academico/artigo_cientifico/AAC12.doc|arquivodata=2014-04-05|urlmorta=yes}}</ref>
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* '''Ditongação e monotongação''': O dialeto da costa norte, assim como outros do português brasileiro, destaca-se por apresentar simultaneamente tendências de ditongação de vogais e monotongação de ditongos. Na fala cearense, é mais significativa a ditongação nas vogais de sílabas tônicas precedidas por /s/ ou /z/, como em "pés" [pɛjs] e "feroz" [fɛˈɾɔjs]. Por outro lado, é mais frequente a monotongação nos ditongos precedidos de [ʃ], [ʒ] e [ɾ] (especialmente se o vocábulo for polissilábico), a exemplo de "caixa" [kaʃɐ], "feijão" [feˈʒɐ̃ʊ̃] e "feira" [feɾɐ].<ref>{{Citar periódico|ultimo=Aragão|primeiro=Maria do Socorro Silva de|url=http://www.abralin.org/site/data/uploads/revistas/2009-vol-8-n-1/mariasocorro.pdf|título=Os estudos fonético-fonológicos nos estados da Paraíba e do Ceará|ano=2009|volume=8|numero=1|paginas=163-184|jornal=Revista da ABRALIN|acessodata=17-04-2013|arquivourl=https://web.archive.org/web/20171011052325/http://www.abralin.org/site/data/uploads/revistas/2009-vol-8-n-1/mariasocorro.pdf|arquivodata=2017-10-11|urlmorta=yes}}</ref>
 
==== Consoantes ====
 
* '''Apagamento/ iotização de "lh" [ʎ] e "nh" [ɲ]:''' O "nh" e o "lh" são frequentemente iotizados em sílabas mediais e finais, juntamente com o apagamento da última vogal, geralmente [ʊ] ("tamanho" > [tɐ̃mɐ̃j̃] - "tamãe" - ou [tɐ̃mɐ̃j̃ʊ]; paninho > [pɐ̃'nĩ] ou [pɐ̃nĩʊ̃ ]; "filho" > [fij]; "velho" > ([vɛj]). Antes da vogal i, o "nh" é, em vez disso, apagado ("rainha" > [ha'ĩɐ]). Os casos em que esses fonemas não são apagados ou iotizados parecem ser influenciados pela presença de vogais abertas ([a] [ɛ] [ɔ]) posteriores a esses fonemas.<ref>{{Citar periódico|url=http://www.profala.ufc.br/Trabalho1.pdf|título=A despalatalização e consequente iotização no falar de Fortaleza|acessadoem=23 de abril de 2012|jornal=|arquivourl=https://web.archive.org/web/20111101023330/http://www.profala.ufc.br/Trabalho1.pdf|arquivodata=2011-11-01|urlmorta=yes}}</ref>
* '''Glotalização do "r":''' Assim como na maior parte do Nordeste, os cearenses tendem a usar a letra "r" de uma maneira bem forte ([ɦ]), o qual é dado o nome de "r" sonoro, em qualquer situação, até mesmo no dígrafo "rr", como em "carro" ['kaɦu], "verso" ['vɛɦsu] e "ramo" ['ɦɐmu], porém, iniciando sílabas e formando encontros consonantais se usa [ɾ], como em boa parte dos falantes da língua portuguesa: "grito" ['gɾitu] e "aranha" [a'ɾɐɲɐ]. Outra característica marcante de vários dialetos nordestinos, em particular o cearense, é o desuso do som da letra "r" em palavras que terminam com "r", ou seja, o "r" é comumente mudo no fim de palavras, como em "andar" [ɐ̃ 'da] e "caviar" [kavi'a].No entanto,assim como em outros dialetos brasileiros,é comum a sua pronúncia como [ɾ] quando precedendo uma palavra que se inicia com vogal.
* '''Neutralização de [v], [ʒ] e [z]:''' Um fenômeno típico do falar cearense, muito usado em imitações humorísticas do dialeto, é a neutralização dos fonemas [v], [ʒ] e [z] como [ɦ], variante do fonema /r/ típico do Nordeste brasileiro, em várias situações, por exemplo: "estava" ([iʃ'tahɐ]); "mesmo" ([meɦmu] ou até ['meɦum]); e "gente" ([ɦẽt(ʃ)i]). De início, via-se esse fenômeno como típico da fala plebéia e rural, gerando estigmatização do falante. Mais tarde, segundo alguns autores, essa transformação passa a ser vista como ocorrendo principalmente na linguagem rápida e descontraída, para fins de facilitar a articulação, representando assim uma variante dialetal usada em situações de familiaridade e relaxamento. Outros, contudo, consideram que ela é causada principalmente por fatores lexicais e interacionais. Assim, as causas que influenciaram essa mudança seriam a natureza da consoante ou da vogal seguinte e a presença do morfema do pretérito imperfeito "ava".<ref>{{Citar periódico|ultimo=Aragão|primeiro=Maria do Socorro Silva de|url=http://www.profala.ufc.br/Trabalho3.pdf|título=A neutralização dos fonemas / v – z - Z / no falar de Fortaleza|acessadoem=23 de abril de 2012}}</ref>
* '''A letra s com três sons distintos''': Antes das consoantes b, d, g, l, m, n, v o som da letra s é de /z/. Antes da consoante t, o som é palatizado /ʃ'/ e antes das demais consoantes o somo do s é de /s/, assim como no final das palavras.<ref name=":0" />
* '''Palatalização dos grupos /di/ e /ti/:''' Preferencialmente, na [[Região Metropolitana de Fortaleza]] e microrregiões adjacentes ([[Mesorregião do Noroeste Cearense|Noroeste Cearense]], [[Microrregião do Sertão de Crateús|Sertão de Crateús]] e algumas cidades do Sertão Central e do Baixo Jaguaribe), assim como no norte do Piauí e no nordeste do Maranhão (e suas respectivas capitais, [[Teresina]] e [[São Luís]]) ocorre a presença de palatalização das consoantes alveolares /d/ e /t/, onde são realizadas africadas pós-alveolares surdas /tʃ/ e sonoras /dʒ/ antes do som da vogal /i/, mesmo nas sílabas "te" e "de", ficando os sons [tʃi] e [dʒi], assim como ocorre em boa parte do [[português brasileiro]]. Acredita-se que o fenômeno da palatalização, no estado do Ceará, deve-se à influência do [[dialeto nortista]] (pela proximidade regional). Porém, há algumas distinções fonéticas de região para região do estado com relação à presença ou não de palatalização das consoantes dentais e alveolares "d" e "t", particularmente com relação às microrregiões do [[microrregião do Médio Jaguaribe|Médio Jaguaribe]] e do [[microrregião do Sertão de Senador Pompeu|Sertão de Senador Pompeu]], além de algumas cidades fronteiriças com o estado do [[Rio Grande do Norte]] (como [[Limoeiro do Norte]], [[Tabuleiro do Norte]] e [[Alto Santo]]), que assim como no [[português europeu]] e nas outras regiões do [[Nordeste brasileiro]], que vão do [[Rio Grande do Norte]] a [[Alagoas]], também por influência do [[dialeto nordestino]] dada a proximidade regional, o /t/ e /d/ podem ser dentais como ocorre no dialeto citado ou palatalizados antes do som de /i/.
 
==== Traços arcaizantes ====
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* '''Substantivos:''' galalau (homem alto), vara-pau (pessoa muito magra e alta), cambito (perna muito fina), batoré (pessoa muito baixa), curubau ou canelau (gente rude, ralé), catiroba (mulher feia, desajeitada), catita (também mulher feia, desajeitada), etc.
*'''Verbos e expressões verbais:''' segurar vela (acompanhar um casal), magote de gente (multidão), estar avexado (estar com pressa), arroxar (apertar), sentar a mãozada no peduvido (dar um tapa ao pé do ouvido), tomar umas (beber drinks), riscar a faca ( brigar ou se preparar para a briga), amancebar-se (casar), tirar uma pestana (cochilar), meter o pé na carreira (correr), dar cabimento (dar liberdade), arrodiar (dar a volta), pedir pinico (desistir), ariado (desorientado), ser cagado (ser sortudo), emburacar em algum lugar (entrar sem avisar), estar de bode (estar menstruada), estar liso (estar sem dinheiro), alisar (alisar, perder todo o dinheiro), estar na bagaceira (estar solteiro, estar solteiro numa festa), rebolar no mato (jogar fora, jogar no lixo), dar fé (perceber), lascar-se (ficar na pior), pastorar (vigiar), botar para moer (divertir-se), etc.
 
 
{{Referências}}