Venda de esposas na Inglaterra: diferenças entre revisões

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{{Caixa de citação
| citação = Senhores, eu ofereço minha esposa, Mary Anne Thomson [...]. É o seu desejo, assim como o meu, se separar para sempre. Ela tem sido para mim apenas uma serpente. Eu a escolhi para o meu conforto e bem da minha casa; mas ela se tornou meu torturador, uma maldição doméstica, uma invasão noturna e um diabo diário. Senhores, falo a verdade do meu coração quando digo - Que Deus nos livre de esposas problemáticas e mulheres irresponsáveis! [... Agora] Vou apresentar o lado bom e ensolarado dela [...] Ela pode ler romances e ordenhar vacas leiteiras, e rir e chorar com o a mesma facilidade com que você toma um copo de cerveja quando está com sede [...] Ela sabe fazer manteiga e repreender a empregada; ela sabe cantar [...] e costurar [...]; ela não sabe fazer rum, gim ou uísque, mas é um bom juiz da qualidade dessas bebidas, com a experiência de quem as vem bebendo desde muito tempo. Eu, portanto, a ofereço com suas vantagens e desvantagens, pela soma de cinquenta xelins.|
| autor = ''The Book of Days'', 1869.{{Sfn|Chambers|1864|p=487}}
| posição = right
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| posição-autor = center
| citado = true
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}}Os relatos de vendas de esposas revelam que os motivos que as suscitavam eram particularmente variados, e sugerem que o divórcio e outros métodos de separação serviam a propósitos semelhantes aos que continuam a servir.{{Sfn|Thompson|1991|p=444}} Embora os envolvidos em vendas de esposas fossem frequentemente acusados de serem degenerados ou ignorantes,{{Sfn|Thompson|1991|p=410}} antes de o divórcio se tornar amplamente disponível casamentos infelizes frequentemente levavam a uma vida de penúria.{{Sfn|Drummond|2019}} Documentos das paróquias revelam numerosas situações de violência e de grave incompatibilidade entre cônjuges, e para um grande número de mulheres, "a viuvez era, na verdade, a única oportunidade de alcançar independência".{{Sfn|Brabcová|2004|p=23}} Em um episódio emblemático, quando uma jovem foi levada perante juízes em um caso relacionado à sua venda, os magistrados lhe disseram que, se todo marido insatisfeito com a sua esposa pudesse resolver a situação vendendo-a, o mercado local não seria grande o suficiente para abrigar todas as vendas que ocorreriam. Isso parece confirmar que casamentos infelizes eram pouco raros,{{Sfn|Drummond|2019}} e à luz disso a venda de esposas tem sido interpretada sobretudo como uma solução pragmática adotada por casais que já não desejavam permanecer juntos.{{Sfn|Vaessen|2006|p=11}}
 
Embora na maioria das vezes a intenção da venda fosse acabar com o casamento de uma forma definitiva,{{Sfn|Hill|1994|p=216}} sobreviveram relatos de vendas irrefletidas e precipitadas por brigas domésticas.{{Sfn|Thompson|1991|p=433-434}} Mas, embora com a venda o casal desejasse acabar com a sua relação conjugal, isso nem sempre significava que as relações entre os cônjuges eram violentas ou impediam consideração para com o outro. Por exemplo, em um episódio ocorrido em 1787, um fazendeiro vendeu sua esposa por cinco [[Guinéu|guinéus]], e deu parte do dinheiro à ex-companheira, para que ela comprasse um novo vestido.{{Sfn|Thompson|1991|p=447}} Em outra ocasião o marido pagou uma carruagem para que transportasse a esposa e o comprador para seu novo lar, em uma outra cidade.{{Sfn|Thompson|1991|p=447}} Em um caso, ocorrido em 1775 em Rotherham, sabe-se que um marido vendeu sua esposa por 21 guinéus e devolveu ao comprador 1 guinéu, um costume praticado em algumas regiões inglesas até o {{séc|XX}} como um meio de demonstrar boa vontade e zelo para com animais vendidos. O retorno de parte do preço pago, ou a oferta de um bem pelo vendedor, era comum em vendas de esposas{{Sfn|Thompson|1991|p=416; 424}} e visava assegurar que o comprador garantisse o bem-estar da ex-esposa do vendedor.{{Sfn|Drummond|2019}}
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De fato, por vezes o motivo por trás da venda era proteger a esposa, como em um episódio ocorrido em [[Birmingham]] em 1823, em que uma esposa foi vendida a seu irmão, que buscava "redimi-la" do tratamento brutal que recebia do seu marido.{{Sfn|Thompson|1991|p=432}} Existem relatos também de esposas sendo vendidas para suas mães e outros familiares, com intuito semelhante.{{Sfn|Thompson|1991|p=436}} Em outros casos, era a própria esposa quem arranjava a sua venda, e sobreviveram relatos de esposas comprando a si mesmas{{Sfn|Thompson|1991|p=440}} e fornecendo o dinheiro para que agentes as comprassem de seus maridos.{{Sfn|Thompson|1991|p=440–441}}
 
A venda também podia visar reparar uma situação de fato, por exemplo quando a esposa possuía um amante ou já se encontrava separada do seu marido. Uma reportagem publicada no ''The Times'' em 1849, por exemplo, relatou um episódio ocorrido em Goole em dezembro do mesmo ano, em que uma esposa fugiu com um "amante", "levando com ela uma grande parte dos bens do marido", enquanto este recebia um tratamento médico prolongado em um hospital. Quando o marido traído descobriu o que tinha acontecido, ele rastreou os dois amantes e, após negociações, as partes concordaram em uma venda. Um leilão público ocorreu em um mercado, e, depois de uma pequena competição, a esposa foi vendida a seu amante por 5cinco [[Xelim|xelins]] e 9nove [[Pêni|pênis]].{{Sfn|Padgett|2016}}
 
== A venda ==