Anarcocomunismo: diferenças entre revisões
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 19:
A história do anarquismo comunista pode ser entendida como a história de um conceito, assumido por diversos anarquistas em contextos distintos.{{Sfn|Turcato|2018|p=237}} Inicialmente, o movimento anarquista era predominantemente [[anarquismo coletivista|coletivista]]. O coletivismo se diferenciava do comunismo na medida em que defendia que a distribuição dos frutos do trabalho deveria se dar de acordo com o trabalho realizado. Os primeiros anarquistas interpretaram o comunismo como parte de uma tradição estatista e autoritária, representada por [[Étienne Cabet]], [[Wilhelm Weitling]] e [[Karl Marx]]. [[Mikhail Bakunin]] afirmou ser contrário ao comunismo, pois ele necessariamente levaria à centralização da propriedade coletiva nas mãos de um Estado. O coletivismo, para ele, permitiria que os trabalhadores pudessem usufruir completamente dos frutos de seu trabalho, sem que fossem apropriados por um capitalista ou por um Estado centralizado, permitindo que a organização da sociedade e da propriedade coletiva se desse de baixo para cima, por meio da [[livre associação (comunismo e anarquismo)|livre associação]]. Até meados da década de 1870, a maior parte dos anarquistas abraçaram o coletivismo.{{Sfn|Turcato|2018|p=238}}
Entre 1874 e 1876, alguns anarquistas começaram a tecer críticas ao coletivismo e passaram a defender a adoção do comunismo, entre eles os proeminentes militantes italianos [[Carlo Cafiero]] e [[Errico Malatesta]]. Para eles, seria impossível exigir de todos o mesmo nível de produtividade, uma vez que, por exemplo, a fertilidade do solo poderia variar de um lugar para outro e as capacidades físicas e mentais variam muito de indivíduo para indivíduo. Além disso, seria também impossível determinar a contribuição de cada indivíduo para a produção, já que a produção seria um processo inerentemente social, no qual o trabalho de cada indivíduo dependia do trabalho de outras pessoas. O coletivismo, segundo eles, poderia restabelecer a concorrência e a desigualdade. Em 1876, sob a influência de Cafiero e Malatesta, a seção italiana da [[Associação Internacional dos Trabalhadores]] (AIT) — nessa altura, já dividida após a cisão com os marxistas — abandonou o coletivismo e adotou o comunismo, a partir das discussões realizadas em um congresso realizado na cidade de [[Florença]].{{Sfn|Turcato|2018|p=238}} Nos anos seguintes, especialmente a partir de 1880, o comunismo passou a ser adotado pela maior parte dos militantes anarquistas europeus. O russo [[Piotr Kropotkin]] se tornou dos seus mais importantes proponentes e propagandistas do anarquismo comunista. Ao contrário de Malatesta, que reconhecia que a adoção do comunismo na sociedade futura pressupunha a abundância de recursos e um aprofundamento ético sem precedentes para a sua realização, e por isso, aceitava um período de transição coletivista antes da adoção completa do comunismo, Kropotkin sustentou que a adoção do comunismo logo após a revolução era possível e necessária.{{Sfn|Turcato|2018|p=238-239}}
== Funcionalidade e teoria econômica ==
|