Gueorgui Júkov: diferenças entre revisões

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=== Origens ===
Júkov nasceu no vilarejo rural de Strelkovka, no [[Império Russo]], e que atualmente é parte da [[Jukov (cidade russa)|cidade de Júkov]], no [[Distrito de Maloyaroslavetski|Distrito de Maloiaroslavetski]] do [[Oblast de Kaluga]]. Seu pai, Konstantin, nascera em 1841 e, órfão ainda pequeno, fora criado por uma velha senhora, Anna Júkova. Anna morreu em 1849, obrigando Konstantin a trabalhar desde cedo. Ele empregou-se inicialmente em uma [[sapateiro|sapataria]] de um vilarejo vizinho, e aos onze anos partiu para [[Moscou]] para trabalhar em uma famosa fabrica de botas.{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 1|p=4}} Ele se casou pela primeira vez em 1870 com Anna Ivanova, e o casal teve dois filhos, Grigori e Vassili (este último morto antes dos dois anos). Anna Ivanova morreu de [[tuberculose]] em 1892, e no mesmo ano Konstantin desposou Ustienia Artémievna,{{sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=26}} nascida em 26 de setembro de 1863 em uma aldeia próxima, Tchernaia Griaz. Filha mais velha de [[camponês|camponeses]] cuja situação beirava a [[servidão]], seus pais inicialmente não possuíam sobrenome, mas na década de 1880 adotaram o nome Pilikhin. Em 1885 ela havia se casado com Faddei Stefanovitch, que quatro anos depois morrera também de tuberculose, deixando-lhe um filho pequeno, Ivan. Em 1886 ela havia dado à luz outro filho, Gueorgui, que morrera ainda bebê.{{sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=26}}
 
Quando de seu casamento com Konstantin, em 1892, Ustienia tinha vinte e nove anos, e o noivo quarenta e um.{{sfn|Roberts|p=14|2012}} Konstantin trouxe ao par um pouco de renda, graças ao seu trabalho como sapateiro, e Ustienia possuía um pequeno lote de terra cultivável.{{sfn|Chaney|1996|p=3}} O casal adquiriu uma vaca e uma égua para transportar mercadorias entre [[Maloiaroslavets]] e sua aldeia. O casal teve um primeiro filho em 1894, Maria, e dois anos depois nasceu Gueorgui, em 19 de novembro de 1896 de acordo com o [[calendário juliano]], ou em 1 de dezembro{{#tag:ref|Sobre a data de nascimento de Júkov, alguns autores afirmam que teria sido o dia 2 de dezembro do mesmo ano.|group="nota"}} no [[calendário gregoriano]].{{sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=26}} O nome dado à criança possuía dupla significância. De um lado, era costume dar o nome de um filho morto ao próximo filho nascido.{{sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=26}} De outro, no antigo calendário comemorava-se em 26 de novembro o dia de [[São Jorge]], que aparece no [[brasão de armas da Rússia]]. O casal teve ainda um terceiro filho em 1901, Aleksei, que morreu aos dezoito meses,{{sfn|Roberts|p=14|2012}} provavelmente de [[desnutrição]].{{sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=21}} Enquanto a família permanecia em Strelkovka, Konstantin trabalhava em Moscou.{{sfn|Chaney|1996|p=3}}
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=== Operação Bagration (1944) ===
{{Artigo principal|Operação Bagration}}Embora a paternidade das ofensivas do verão de 1944 seja tradicionalmente atribuída a Júkov,{{sfn|Le Tissier|1996|p=9}} ela também é reivindicada por outros membros do Estado-Maior General.{{sfn|Shtemenko|1971|p=228}} Seu planejamento ocorreu a partir de 15 de abril de 1944, e foi discutido durante sete reuniões chefiadas por Stalin, que envolveram Antónov, Chtemenko, Júkov e Vassilevski, dentre outros. Trata-se de uma série de operações, sobretudo na Bielorrússia ([[operação Bagration]]) e no sul da Polônia ([[Ofensiva Lviv-Sandomir]] e [[Ofensiva Kovel-Lublin]]). A Operação Bagration foi, usada como isca, a fim de atrair as reservas mecanizadas alemãs.{{Sfn|Lopez|2014|p=44-51}}) e no sul da Polônia ([[Ofensiva Lviv-Sandomir]] e [[Ofensiva Kovel-Lublin]]). Em 30 de maio, Stalin assinou diretrizes dando às frentes as suas missões, meios e cronogramas. Em Bagration, quatro frentes soviéticas atacariam o Grupo de Exércitos Centro (do marechal [[Ernst Busch]]) em um arco de setecentos quilômetros: A [[Primeira Frente Báltica]] (de Bagramian), a [[Terceira Frente Bielorrussa]] (de [[Ivan Tcherniakhovski]]), a [[Segunda Frente Bielorrussa]] (de [[Georgi Zakharov|Gueorgui Zakharov]]) e metade da [[Primeira Frente Bielorrussa]] (de Rokossovski). O marechal Vassilevski coordenaria as duas frentes do norte, e o marechal Júkov outras duas ao sul.{{Sfn|Lopez|2014|p=68-69}}[[Ficheiro:Zhukov-LIFE-1944.jpg|miniaturadaimagem|Capa da edição de 31 de julho de 1944 da revista americana [[Life (revista)|Life]], exaltando o papel de Júkov na guerra.|230x230px]]De 5 a 23 de junho, Júkov visitou os estados-maiores dasde suas tropas sob sua responsabilidade, verificando se todos compreendiam seu papel, fazendo reconhecimento de campo, supervisionando a logística e ajudando com exercícios. A ''maskirovka'' mais uma vez desempenhadesempenhou seu papel, tentando fazer crer em um ataque mais ao sul, enquanto as unidades na Bielorrússia recolhiam-se na defensiva.{{Sfn|Lopez|2014|p=95-97}} O assalto soviético começou em 22 de junho. Em uma semana, foram destruídos três quartos do [[3.º Grupo Panzer (Alemanha)|3.º Grupo Panzer]]; o [[4.º Exército (Alemanha)|4.º Exército]] foi quase completamente aniquilado entre [[Orcha]] e o [[rio Berezina]], e depois no bolsão de Minsk; o [[9.º Exército (Alemanha)|9.º Exército]] foi batido nos bolsões de [[Bobruisk]] e Minsk.{{Sfn|Lopez|2014|p=389}} Nesse episódio, os soviéticos fizeram 57,6 mil prisioneiros alemães, incluindo dezenove generais, que em julho foram exibidos no [[desfile dos prisioneiros de guerra alemães em Moscou]] de 17 de julho.{{Sfn|Lopez|2014|p=234-235}} O reagrupamento do exército alemão se deu por trás do [[rio Neman]], por fim esgotando a logística soviética.{{Sfn|Lopez|2014|p=286}}
 
Em 8 de julho, Stalin confiou a Júkov a coordenação da Primeira Frente Bielorrussa e da Primeira Frente Ucraniana, encarregadas de avançar até [[Lublin]] e o [[Rio Vístula|Vístula]], e no dia 9 reuniu na [[datcha de Kuntsevo]] Júkov e os membros do futuro [[Comitê Polonês de Libertação Nacional]].{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=619}} No dia 11 Júkov se juntou a seu Estado-Maior em [[Lutsk]], entre as duas frentes.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=619}} A Primeira Frente Ucraniana, comandada por Konev, atacou na [[Galícia (Europa Central)|Galícia]], a partir de 13 de julho, mas as reservas do [[Grupo de Exércitos A|Grupo de Exércitos Norte da Ucrânia]] contra-atacaram efetivamente. {{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=616}} Mesmo assim, [[Lviv]] e [[Przemyśl]] foram conquistadas em 27 de julho, e [[Sandomir]] em 18 de agosto.{{Sfn|Lopez|2014|p=304-320}} A ala esquerda da Primeira Frente Bielorrussa também atacou em 18 de julho, e imediatamente perfurou as linhas inimigas, permitindo ao 2.º Exército de Tanques da Guarda introduzir-se. Lublin foi conquistada em 25 de julho, o rio Bug foi atravessado, e duas cabeças de ponte foram instaladas na margem esquerda do Vístula. O 2.º Exército de Tanques da Guarda avançou para o norte, ameaçando a retaguarda do 2.º Exército alemão, mas, devido à uma falta de gasolina entre 1 e 4 de agosto, acabou cercado a nordeste de [[Varsóvia]] e quase totalmente destruído por cinco ''Panzerdivisionen''.{{Sfn|Lopez|2014|p=342-343}} Por sua contribuição nas operações Bagration e Lviv-Sandomir, Júkov recebeu em 29 de julho sua segunda estrela de Herói da União Soviética.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=617}}
 
Reconvocado a Moscou no dia 23 de agosto, ele conheceu o búlgaro [[Georgi Dimitrov]]. Em 5 de setembro, a União Soviética declarou guerra à [[Bulgária]], e no dia 8 Júkov foi enviado para perto da [[Terceira Frente Ucraniana]], que se encontrava junto à fronteira romeno-búlgara. Na noite do dia 8 de agosto, um golpe de Estado derrubou o governo em [[Sófia]]. O novo governo assinou imediatamente um armistício com os soviéticos, e estabeleceu a [[República Popular da Bulgária]]. Em 12 de setembro, Júkov voltou a Moscou, antes de passar o mês de outubro na Polônia.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=618-619}}
 
=== Ofensiva no Vístula-Oder (1945) ===
{{Artigo principal|Ofensiva no Vistula–Oder}}Em 1 de novembro de 1944 Júkov participou de reuniões do Estado-Maior General, a fim de discutir operações para concluir a guerra: atacar nos Países Bálticos e na Hungria, a fim de comprometer o máximo de tropas alemãs, enquanto uma ofensiva decisiva se concentraria no eixo Varsóvia-[[Berlim]]. Em 29 de outubro, Stalin informou por telefone a Júkov e Vassilevski que as dez frentes soviéticas seriam geridas diretamente por ele, e que portanto a função de "representante da Stavka" não era mais necessária.{{Sfn|Lopez|2010|p=129}} Stalin acreditava que os comandantes poderiam cooperar melhor dessa forma, e buscava se beneficiar pessoalmente do prestígio que traria a vitória final. Em 11 de novembro, ele nomeou Júkov responsável pela Primeira Frente Bielorrussa, em lugar de Rokossovski, que foi transferido para a Segunda Frente Bielorrussa. A Primeira Frente estandoestava direcionada a Berlim, e o marechal polaco devia dar lugar ao marechal russo. Isso acaba por terminar as boas relações entre os dois militares.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=620-625}}
 
Em 14 de novembro, Júkov chegou em [[Siedlce]], a oeste de [[Brest (Bielorrússia)|Brest-Litovsk]], junto ao Estado-Maior da Primeira Frente Bielorrussa. Essa frente era o peso-pesado do Exército Vermelho, e em janeiro de 1945 contava com cerca de um milhão de combatentes, agrupados em dez exércitos (dois de tanques), sete corpos blindados ou mecanizados, 63 divisões de infantaria independentes e um exército aéreo.{{Sfn|Lopez|2010|p=89; 155}} Sua missão era avançar sobre [[Łódź]], [[Poznań|Posnânia]], [[Frankfurt an der Oder|Francoforte do Óder]] e Berlim.{{Sfn|Lopez|2010|p=137; 154}} Em seu flanco direito, a Segunda Frente Bielorrussa devia conquistar [[Danzigue]], e a [[Pomerânia Oriental]] até [[Estetino|Stetino]]. Em seu flanco esquerdo, a Primeira Frente Ucraniana movia-se no eixo Cracóvia - [[Breslávia]] - [[Dresden]]. Contudo, a ofensiva teve de esperar que a logística soviética fosse capaz de fornecerfornecesse às suas unidades combustível, munição, equipamento, alimentos e vodkaalimentos, o que implicava refazer ferrovias, estradas e pontes na Bielorrússia, destruídas pelos alemães em retirada, para então acumular estoques nas três cabeças de ponte a oeste do Vístula. Além disso, cabia treinar recrutas, preparar equipes e coletar inteligência, o que levou a mais atrasos.{{Sfn|Lopez|2010|p=134-138}} Em 8 de dezembro de 1944 Stalin fez circular a todos os generais e marechais soviéticos uma diretiva do Comando Supremo, em que cancelava "as ordens [...] emitidas pelo vice-ministro da Defesa, camarada Júkov, para a validação do manual de DCA". Nessa instrução, Stalin ordena "ao marechal Júkov que não se permita qualquer precipitação quando tiver que tomar decisões sérias". Desde pelo menos o final de 1944, quando anunciara seus [[Dez Golpes de Stalin|"dez golpes"]], Stalin vinha buscando apropriar-se do mérito pela melhoria da situação soviética na guerra, e a partir dessa época ele passou a montar um [[dossiê]] contra Júkov, temeroso de que este viesse a lhe lançar sombra e precisasse ser neutralizado.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=638-640}}
[[Ficheiro:Lodz liberation2.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|250x250px|Tropas soviéticas entram na cidade de [[Łódź]], guiadas por um canhão automotor ISU-152 (janeiro de 1945).]]
Os ataques por fim foram lançados em ondas: as tropas de Konev no dia 12 de janeiro, as de Júkov e de Rokossovski no dia 14 de manhã. A Primeira Frente Bielorrussa atacou com cinco exércitos: no oeste da Polônia, as duas primeiras linhas alemãs foram evisceradas pela preparação de artilharia soviética (meio milhão de [[obus]]es e [[Artilharia de foguetes|foguetes]] de [[Katyusha|Katiusha]] sobre dezesseis quilômetros de largura e sete quilômetros de profundidade, totalizando 5.540 toneladas entregues em 25 minutos). Júkov se encontrava junto ao comando do 5.º Exército de Choque, em companhia do chefe do 2.º Exército de Tanques da Guarda,{{Sfn|Lopez|2010|p=192-195}} e decidiu que no dia seguinte lançaria os dois exércitos de blindados ao ataque. UmO contra o -ataque de duas divisões Panzer durante a tarde atrasou a estréia do 1.º Exército de Tanques da Guarda, mas mais ao norte dois exércitos (incluindo o 1.º Exército polonês) atacaram buscando avançar até Varsóvia. Na noite do dia 15 os dois exércitos de blindados atravessam as linhas inimigas, e as tropas buscaram ampliar a brecha para cem quilômetros de largura, juntando-se a outras tropas vindas do sul e cercando duas divisões alemãs em retirada.{{Sfn|Lopez|2010|p=201-202}}
 
No dia 16 Varsóvia, ameaçada de cerco, foi evacuada pelos alemães. Júkov ordenou às tropas que avançassem, e os soviéticos deixaram para trás muitos bolsões sob controle alemão. Eles liberaram Łódź, no dia 18; Posnânia, no dia 22; [[Bydgoszcz|Bromberg]], no dia 24 (dez dias antes do previsto); e o rio Oder foi atingido no dia 31, ao norte de [[Kostrzyn nad Odrą|Kostrzyn nad Odra]].{{Sfn|Lopez|2010|p=204-224}} As tropas de Júkov param antes de chegar a Berlim, que ficava a apenas oitenta quilômetros de distânciaBerlim (uma viagem de uma hora pela ''Reichsstraße 1''). As razões da paralisação soviética, que durou dois meses e meio, são objeto de algum debate entre historiadores.{{Sfn|Chuĭkov|1967||p=120}} Vários elementos explicam esta medida: primeiro, a 1.ª Frente da Bielorrússia era ameaçada em seu flanco direito, pois a 2.ª Frente da Bielorrússia (Rokossovski) havia sido parada antes de [[Elbląg|Elbing]] e [[Grudziądz|Graudenz]].{{Sfn|Lopez|2010|p=292-296}} Para proteger-se contra uma contraofensiva vinda da [[Pomerânia]], Júkov destacara quatro exércitos, que lhe faziam falta no Oder. Depois, a logística carecia de preparos, e caminhões com combustível e munição deviam percorrer de quinhentos a seiscentos quilômetros em terreno em degelo.{{Sfn|Lopez|2010|p=300-303}} Finalmente, grande parte das forças soviéticas estava fora de controle, empenhando-se em pilhagens e estupros em massa desde a sua entrada em território alemão: levou tempo para que Júkov e seus generais retomassem o controle sobre as tropas.{{Sfn|Lopez|2010|p=298-300}}
 
=== Seelow (1945) ===
{{Artigo principal|Batalha de Seelow}} Em fevereiro e março de 1945, os alemães lançaram ataques (cerca de quarenta) contra as cabeças de ponte de ambos os lados de [[Kostrzyn nad Odrą|Küstrin]], a maioria da atividade da Luftwaffe concentrando-se em atacar caminhões e pontes a leste do Oder (incluindo trinta missões suicidas).{{Sfn|Lopez|2010|p=308-309; 496}} Simultaneamente, desde 15 de fevereiro foi lançada na Pomerânia a [[Operação Solstício]], uma contra-ofensiva que falhou dias depois.{{Sfn|Lopez|2010|p=321-327}} Em 1 de março, Júkov lançou ao ataque suas tropas ao leste, introduzido em seguida, pela brecha de duzentos quilômetros, duas unidades: o 2.º Exército de Tanques da Guarda rumou para a [[Ilha Wolin]] e [[Estetino]]; e o 1.º Exército de Tanques da Guarda dirigiu-se para o Báltico, perto de [[Colberga]], para então seguir ao longo da costa para [[Gdynia|Gottenhafen]] e Danzigue. As cidades cercadas caem uma a uma: [[Piła|Schneidemühl]] em 14 de fevereiro, Colberga no dia 17, [[Poznań|Posen]] no dia 23; Gottenhafen em 28 de março e Küstrin no dia 29; [[Glogóvia|Glogau]] em 1 de abril e Estetino no dia 26.{{Sfn|Lopez|2010|p=343-348}} [[Ficheiro:Bundesarchiv Bild 183-E0406-0022-012, Sowjetische Artillerie vor Berlin.jpg|miniaturadaimagem|250x250px|Artilharia soviética bombardeando posições alemãs durante a [[Batalha de Seelow]] (abril de 1945).]]
Em 30 de março, observando o [[Invasão dos Aliados Ocidentais da Alemanha|progresso dos Aliados ocidentais no oeste]], Júkov e Stalin discutiram o ataque a Berlim, definindo que ele ocorreria "em duas semanas, no mais tardar".{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 2|p=269-270}} Durante a reunião de 1 de abril de 1945, com Júkov e Konev, Stalin traçou no mapa a fronteira entre as duas frentes até cerca de cem quilômetros de Berlim, pondo assim os dois marechais em concorrência para tomar a capital alemã.{{Sfn|Haskew|2018a}} De acordo com Chtemenko, Stalin teria acrescentado: "O primeiro dos dois a passar [as defesas alemãs] tomará Berlim".{{Sfn|Shtemenko|1971|p=308}} Esse episódio é a culminação de uma rivalidade que desde 1941 vinha sendo encorajada por Stalin, e Júkov encontrava-se em desvantagem, carecendo reagrupar suas forças e supri-las, o que envolvia reconstruir ferrovias.{{sfn|Le Tissier|1996|p=5-6}}
 
De 5 a 7 de abril, ele reuniu os líderes de suas tropas a fim depara planejar o ataque a Berlim, e o plano resultante previa um ataque frontal a partir da margem esquerda do Oder. O ataque ocorreria à noite, duas horas antes do amanhecer, iluminado por 143 holofotes de uso anti-aéreoaéreos. Quatro exércitos se deslocariam para o norte de Berlim, junto ao rio [[Rio Elba|Elba]]; o 2.º Exército de Tanques da Guarda entraria na cidade pelos subúrbios do nordeste; dois exércitos (5,º de Choque e 8.º da Guarda) pelo leste de Berlim; o 1.º Exército de Tanques da Guarda pelos subúrbios do sul; e dois exércitos (69,º e 33,º) avançariam para [[Zossen]], apoiados por três exércitos da 1.ª Frente Ucraniana (3.º Exército da Guarda, e 3,º e 4,º Exércitos de Tanques da Guarda) e chegariam a [[Potsdam]] e [[Brandemburgo|Brandenburgo]], no sudoeste.{{sfn|Le Tissier|1996|p=36-37}}
 
Para chegar a Berlim, era preciso conquistar as [[colinas de Seelow]] no primeiro dia, os subúrbios berlinenses no quarto dia, cercar a cidade no sexto dia, e alcançar o Elba no dia décimo quinto dia, isso é, no [[Dia do Trabalhador]].{{Sfn|Lopez|2010|p=440}} O 9.º Exército alemão os opunha, reconstruído com recursos da reserva ([[Volkssturm]], cadetes de escolas militares, membros da [[Juventude Hitlerista]], convalescentes da ''[[Reichsarbeitsdienst]]'', dentre outros) e liderado pelo general [[Theodor Busse]]. A superioridade soviética era de seis para um, em carros; de sete para um, em infantaria; de dez para um, em aviação; e de onze para um, em artilheria.{{Sfn|Lakowski|1994|p=69}}{{Sfn|Lopez|2010|p=444}}
 
Um reconhecimento foi realizado em 14 e 15 de abril de 1945,{{Sfn|Lopez|2010|p=466}} e, no dia 16 às 4h, Júkov lançou sua Primeira Frente Bielorussa ao ataque, precedida de uma enorme preparação de artilharia que durou 30trinta minutos (mais de 15quinze mil canhões,bocas morteirosde e foguetesfogo, mas ineficazes porque as duas primeiras linhas alemãs haviam sido quase totalmente evacuadas durante a noite),{{Sfn|Lopez|2010|p=470-472}} e levantou uma nuvem poeira que dificultaria a visibilidade durante a operação. As tropas terminaram encalhadas em um vale pantanoso e coberto de minas terrestres, no sopé das colinas de Seelow, de onde a terceira linha alemã atirava com baterias anti-tanques. Por volta do meio-dia, Stalin anunciou a Júkov que Konev o havia ultrapassado no sul do [[rio Neisse]].{{Sfn|Lopez|2010|p=444}}{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 2|p=285}} Júkov decidiu então utilizar o 1.º Exército de Tanques da Guarda, mas isso resultou em um enorme engarrafamento com as unidades do 8.º Exército da Guarda.{{Sfn|Lopez|2010|p=485-487}} O ataque consumiu grande número demuitos obuses e as baixas foram pesadas,{{Sfn|Haskew|2018a}} mas os soviéticos avançaram. À noite, Júkov contatou Stalin e este informou-o que ordenaria a Konev atacar Berlim pelo sul. O ataque de Júkov foi retomado em 17 de abril, às 6 da manhã, e Seelow foi tomada.{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 2|p=285-286}} No dia 18 Konev atacou Berlim pelo sul, encontrando dificuldades. As tropas de Júkov rapidamente tomaram [[Münchberg]] e avançaram rumo a Berlim.{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 2|p=288-290}}
 
=== A conquista de Berlim (1945) ===
{{Artigo principal|Batalha de Berlim}}
[[Ficheiro:Ivan Konev 1945.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|212x212px|[[Ivan Konev]] disputou com Júkov a distinção de libertar Berlim.]]
Em 20 de abril de 1945, às 19h45min, o líder da Primeira Primeira Frente Ucraniana escreveu a seus dois exércitos de tanques (3.º e 4.º da Guarda), dizendo: "As tropas do marechal Júkov estão a dez quilômetros do leste de Berlim. Eu ordeno que vocês sejam os primeiros a entrar em Berlim, nesta noite. Mantenham-me informado da execução. [assinado] Konev, Krainiukov". Às 21h50min do mesmo dia, o líder da Primeira Frente Bielorrussa enviou um telex aos seus dois exércitos de tanques (1.º e 2.º da Guarda), comandando: "O Exército de Tanques recebeu a missão histórica de entrar primeiro em Berlim e içar a bandeira da vitória. Eu me responsabilizo pessoalmente pela execução e organização. Mande a melhor brigada de cada corpo [de exército] para Berlim, e atribua-lhes a missão de estar, a todo custo, às beiras de Berlim no dia 21 de abril às 4h da tarde. Aguardarei receber um relatório imediato, para poder anunciar o evento ao camarada Stalin e publicá-lo pela imprensa. [assinado] Júkov, Telegulin". Assim, embora nenhuma das ordens fosse viável naquela noite, a corrida pelo [[Reichstag]] estava lançada.{{Sfn|Lopez|2010|p=568}}
 
A realidade do teatro de batalha, contudo, logo se impôs, e Júkov modificou seu plano: o 61.º Exército protegeria o flanco direito, alinhando-se ao longo do canal ligando o [[Rio Havel|Havel]] ao Oder; o 1.º Exército polonês avançaria para [[Oranienburg]]; o 47.º Exército evitaria Berlim e seguiria para Potsdam; o 2.º Exército de Tanques da Guarda entraria na parte norte de Berlim, pelo distrito de Pankow; o 3.º Exército de Choque entraria no nordeste, por Weissensee; o 5.º Exército de Choque invadiria o leste de Berlim, por Karlshorst e pela avenida Frankfurter Allee; o 1.º Exército de Tanques da Guarda e o 8.º Exército da Guarda desceriam pela ''Reichsstraße 1'' e cruzariam o [[Rio Spree|Spree]] e o Dahme, para então cercaremcercar todo o sul de Berlim; os 3.º, 69.º e 33.º exércitos cercariam as tropas em fuga do 9.º Exército alemão.{{Sfn|Lopez|2010|p=568}}
 
Em 21 de abril, os exércitos de Júkov entram na [[Lei da Grande Berlim|Grande Berlin]] pelo norte e pelo nordeste;{{Sfn|Lopez|2010|p=571, 573-574}} e no dia seguinte os de Konev fizeram o mesmo, no sul. Embora teoricamente a coordenação entre ambos fosse assegurada pela Stavka, na prática elas combatiam independentemente. No dia 23 o 8.º Exército da Guarda, comandado por Chuikov, penetrou nos subúrbios orientais de Berlim, enquanto os tanques do 3.º Exército da Guarda foram parados no Canal Teltow. No dia 24 esses dois exércitos reuniram-se perto de Berlim, no [[Aeroporto de Berlim-Schönefeld|Aeroporto de Schönefeld]],{{Sfn|Lopez|2010|p=551}} e à noite Chuikov recebeu um telefonema de Júkov questionando-o sobre o avanço das tropas de Konev e ordenando-lhe que monitorasse o seu movimento. Na noite de 24 a 25 Stalin mudou o limite entre as frentes de Júkov e Konev, e a região do Reichstag passou a ser uma extensão do setor Konev.{{Sfn|Chuĭkov|1967|p=169-170}}
 
No dia 25 as tropas de Júkov buscarampretendiam organizar a conquista deconquistar Brandemburgo, mas Konev antecipou-se, lá chegando na manhã desse dia.{{Sfn|Erickson et al.|1998|p=71}} Ainda em 25 de abril, Júkov ordenou que o 8.º Exército da Guarda e o 1.º Exército de Tanques da Guarda atacassem pelo noroeste, através do distrito de [[Tempelhof-Schöneberg]], cortando a rota de Konev. Na manhã do dia 26, Chuikov tomou a estação de ''Papestraße'' e o trecho mais à oeste do anel rodoviário que circunda Berlim.{{Sfn|Lopez|2010|p=582}} No mesmo dia, o 9.º Corpo Mecanizado (subordinado ao 3.º Exército de Tanques da Guarda) de Konev foi bombardeado por aeronaves soviéticas que não conseguiam identifica-lo.{{Sfn|Lopez|2010|p=583}} A noroeste, o 2.º Exército de Tanques da Guarda chegou ao distrito de Siemensstadt, que ele levaria quatro dias para conquistar. Na tarde do dia 25, Júkov anunciou a Stalin que suas unidades haviam alcançado a [[Alexanderplatz]], no centro da cidade.{{Sfn|Lopez|2010|p=583}} No dia 26 os homens de Chuikov chegam à fronteira com o Landwehrkanal, continuando pelo noroeste para a região em que combatia o 9.º Corpo Mecanizado, no distrito de Schöneberg. Ali, o 8.º Exército da Guarda foi vítima de fogo fratricida: no dia 28, no início da manhã, metade da preparação da artilharia do 3.º Exército de Tanques caiu sobre os homens de Chuikov.{{Sfn|Lopez|2010|p=584, 589-590}}[[Ficheiro:Raising a flag over the Reichstag 2.jpg|miniaturadaimagem|250x250px|A fotografia "A bandeira vermelha sobre o Reichstag". Tomada em 2 de maio de 1945, no telhado do [[Reichstag]], ela se tornou símbolo do fim da [[Batalha de Berlim]] e da queda do [[Alemanha Nazi|Terceiro Reich]].]] No dia 28 de abril, às 20h45min, Konev contatoupediu a Júkov por telex, pedindo-lhe que desviasse a marcha de Chuikov; Júkov não respondeu, mas enviou um relatório para Stalin às 22h, reclamando do "ataque de Konev sobre as costas do 8.º Exército da Guarda e do 1.º Exército de Tanques da Guarda", que teria levado à desordem e afetado a capacidade de ataque de ambos. Júkov pediu então a Stalin que estabelecesse "um limite entre as tropas das duas frentes".{{Sfn|Erickson et al.|1998|p=73-74}} Às 21h20min do dia 28 a Stavka anunciou que a nova fronteira entre os dois passaria pela estação Tempelhof, pela praça Victoria-Louise, depois pelas estações Savignyplatz, Charlottenburg e Westkreuz, excluindo Konev do distrito de [[Tiergarten]].{{Sfn|Lopez|2010|p=591}}
 
Em 29 de abril a competição pela conquista do Reichstag começou a se definir a favor de Júkov, com o 3.º Exército de Choque, que chegava do norte, e o 8.º Exército da Guarda, que chegava do sul. O primeiro foi parado na ponte Moltke, e o segundo na sede da [[Gestapo]], mas, em 30 de abril, às 22h40, uma [[Bandeira da vitória|bandeira vermelha]] foi plantada no frontão do Reichstag, por homens da 150.ª Divisão de Fuzileiros (do 39.º Corpo do 3.º Exército de Choque).{{Sfn|Sakaida|2004}} Imagens desse evento foram amplamente difundidas em todostodo o mundo como prova da conquista de Berlim, embora a batalha nos arredores do Reichstag tenha continuado até o dia 2 de maio às 13h.{{Sfn|Lopez|2010|p=594}}
 
=== As capitulações alemãs (1945) ===
{{Artigo principal|Instrumento da rendição alemã}}Em 30 de abril de 1945, por rádio, a [[Chancelaria do Reich]] pediu um cessar-fogo para negociar.{{Sfn|Beevor|2002|p=507}} No dia 1 de maio, às 3h50min, o general [[Hans Krebs (general)|Hans Krebs]] (Chefe de Gabinete do [[Oberkommando des Heeres]], fluente em russo porque havia sido adido militar em Moscou entre 1936-1939) reuniu-se com o Estado-Maior do 8.º Exército da Guarda, que recebera de Júkov autorização para negociar. Krebs anunciou-lhes a [[morte de Adolf Hitler]] no dia anterior, e propôs negociarem a paz. Júkov telefonou imediatamente Stalin, informando-o imediatamente da situação. "É uma pena que não o pegamos vivo. Onde está o corpo dele?" Júkov informou-lhee que, de acordo com o generalsegundo Krebs, o cadáver de Hitler havia sido queimado. "DigaStalin a Sokolovskirespondeu que "não haverá negociações, salvo nos termos de uma rendição incondicional, seja com Krebs ou com qualquer outro membro do bando de Hitler". Krebs foi então escoltado de volta, e o combate reiniciou às 10h40min.{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 2|p=301-302}} Na manhã do 2 de maio, o general [[Helmuth Weidling]] apresentou a Chuikov e Sokolovski a capitulação do que restara da guarnição de Berlim; o cessar-fogo foi marcado para as 13h, algumas horas depois. Na parte da tarde, Júkov foi à Chancelaria, onde a [[SMERSH]] lhe proíbiuproibiu o acesso ao [[Führerbunker]] e aoseu jardim (eles encontraram os restos do cadáver de Hitler no dia 5, e secretamente os evacuaram).{{Sfn|Beevor|2002|p=535-538, 548-549}} Júkov assistiu ao interrogatório de [[Hans Fritzsche]], contando os últimos dias de Hitler e do comando alemão. Em Moscou, 24 salvas foram atiradas por 324 canhões, em honra das duas frentes que tomaram a capital adversária.{{Sfn|Lopez|2010|p=596}}[[Ficheiro:Подписание акта капитуляции Германии 1945 г. 2.jpg|miniaturadaimagem|A assinatura do [[Instrumento da rendição alemã|instrumento de rendição alemão]], na sede soviética em Berlim (8 de maio de 1945).|250x250px|alt=]]Em 3 de maio, Júkov visitou as ruínas do Reichstag, gravando seu nome em uma das colunas (no meio de outras centenas).{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=700}} Em 7 de maio, Stalin anunciou-lhe por telefone a rendição das forças armadas alemãsalemã em Reims, no [[Quartel General Supremo das Forças Expedicionárias Aliadas]], argumentando que era inválido: "O peso da guerra recaiu sobre os ombros do povo soviético [...]. A capitulação deve, portanto, ser assinada diante do comando de todos os países da coalizão anti-Hitler". O ditador disse que o documento de Reims podia ser aceito como um protocolo preliminar, e ordenou que o ato de rendição, dessa vez do Estado alemão, fosse assinado em Berlim, capital do país vencido.{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 2|p=306}}
 
Em 8 de maio de 1945, no prédio que abrigavaabrigara os oficiais da escola de Karlshorst e no qual se instalara a administração militar soviética, Júkov recebeu as delegações britânica, americana e francesa. Por volta da meia-noite, foi a vez da delegação alemã.{{sfn|Boudoux|1975}} [[Wilhelm Keitel]] cumprimentou a todos com seu bastão de marechal, e dirigiu-se a Júkov, que abriu a sessão e perguntou a Keitel, em russo: "Você tem plenos poderes para assinar o ato de rendição em nome da Alemanha?".{{sfn|Boudoux|1975}} Depois de obter uma resposta afirmativa, Júkov leu em voz alta o texto do ato, e passou-se para a sua assinatura em nove cópias (três em russo, três em inglês e três em alemão). A partir das 0h21min assinaram o marechal Keitel, o almirante [[Hans-Georg von Friedeburg]] e o general [[Hans Jurgen Stumpf|Hans-Jürgen Stumpff]] (para a Alemanha), e, abaixo, o marechal Júkov (para a URSS) e o marechal-do-ar [[Arthur Tedder]] (para os Aliados ocidentais). Um militar americano e um francês assinam como testemunhas.{{sfn|Boudoux|1975}} Depois que os alemães partiram, Júkov e seus generais felicitaram-se alegremente; Júkov dirigiu-se aos seus compatriotas, evocando os mortos, e depois houve um grande banquete.{{Sfn|Lopez|2010|p=701-702}}
 
== Pós-guerra ==
[[Ficheiro:Bundesarchiv Bild 183-14059-0018, Berlin, Oberbefehlshaber der vier Verbündeten.jpg|miniaturadaimagem|Os líderes militares Aliados na recém capturada Berlim, em frente ao [[Portão de Brandeburgo]]. À frente, da esquerda para a direita: [[Bernard Montgomery|Montgomery]], [[Dwight D. Eisenhower|Eisenhower]], Júkov e [[Jean de Lattre de Tassigny|De Lattre]] (5 de junho de 1945).|250x250px|esquerda]] Júkov retornou a Moscou em 19 de maio de 1945, e foi convidado para jantar no Kremlin, com todos os outrosdemais marechais e líderes do partido. Stalin dedicou o primeiro brinde aos "grandes capitães da guerra", com Júkov na liderança.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=702-703}}
 
Em 31 de maio, Stalin nomeou Júkov representante da URSS para o [[Conselho de Controle Aliado]], o órgão responsável por gerir [[zonas ocupadas pelos Aliados na Alemanha]].{{Sfn|Haskew|2018b}} Em 1 de junho, ele foi feito pela terceira vez Herói da União Soviética, pela captura da capital adversária. A primeira reunião do Conselho de Controle Aliado foi realizada em Berlim em 5 de junho, com [[Dwight D. Eisenhower|Dwight Eisenhower,]] [[Bernard Montgomery]] e [[Jean de Lattre de Tassigny]], os outros três comandantes-em-chefe dos exércitos da ocupação, episódio em que assinam uma declaração conjunta.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=706}}
[[Ficheiro:Field Marshal Montgomery Decorates Russian Generals at the Brandenburg Gate in Berlin, Germany, 12 July 1945 TR2911.jpg|miniaturadaimagem|250x250px|Júkov e [[Bernard Montgomery|Montgomery]], durante a entrega da faixa de Grã-Cruz da [[Ordem do Banho]] (12 de julho de 1945). Júkov recebeu numerosas honrarias estrangeiras por seu papel na guerra.]]
 
Em 7 de junho, [[Harry Hopkins]], assessor diplomático dos presidentes americanos [[Franklin Delano Roosevelt|Roosevelt]] e [[Harry S. Truman|Truman]], esteve em Berlim e reuni-se com Júkov. Ele lhe anunciou a realização próxima de uma conferência aliada na capital ocupada, que de fato ocorreu em Potsdam por recomendação de Júkov, mas sem a sua presença.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=706}} Mais tarde, no dia 7 Júkov deu uma entrevista coletiva internacional em sua residência, à beira do [[Wannsee]]. O correspondente do [[The Sunday Times]] perguntou-lhe o que achava da declaração alemã de que ele aprendera a arte militar da Wehrmacht, ao que Júkov respondeu: "Deixe os alemães dizerem o que querem. [...] sempre considerei, e ainda considero, que nossa arte operativa é superior à alemã. Esta guerra acaba de prová-lo incontestavelmente".{{sfn|Werth|2010|p=613}} Em 10 de junho, Júkov foi recebido na sede americana em Frankfurt, iniciando uma amizade com Eisenhower que se estenderia por muitos anos.{{sfn|Ambrose|1990|p=217; 225; 390}}{{sfn|Chaney|1996|p=367}}{{#tag:ref|Essa amizade levou a um episódio curioso da biografia de ambos, relacionados à criação de uma versão incolor da [[Coca-Cola]]. Apresentado à bebida por Eisenhower, Júkov, temeroso de ser visto bebendo esse símbolo americano, pediu ao general [[Mark W. Clark]] que buscasse obter a bebida disfarçada. Este, repassou o pedido ao presidente [[Harry S. Truman]], que mandou contatar o setor de exportação da [[The Coca-Cola Company]] no sudeste da Europa. A empresa adicionou à bebida um produto químico capaz de remover a sua cor, e essa versão incolor da Coca-Cola foi engarrafada usando garrafas de vidro lisas, com uma tampa branca estampada com uma estrela vermelha. O primeiro carregamento dessa "Coca-Cola branca" consistiu em 50cinquenta caixas.{{Sfn|Pendergrast|2000|p= 210–211}}{{Sfn|Eckes|Zeiler|2003|p=118–119}}.|group="nota"}}. Este, celebrou-o durante o brinde: "A nenhum homem as Nações Unidas devem mais do que ao marechal Júkov".{{sfn|Ambrose|1990|p=217}}{{#tag:ref|"To no one man do the United Nations owe a greater debt than to Marshal Zhukov".|group="nota"}}
 
=== Apoteose ===
{{Artigo principal|Desfile da Vitória de Moscou de 1945}}[[Ficheiro:Georgy Zhukov 9.jpg|miniaturadaimagem|Júkov foi o principal honrado no [[Desfile da Vitória de Moscou de 1945|desfile da vitória de 24 de junho de 1945]], em Moscou.|250x250px]]
Júkov foi convocado por Stalin em 18 ou 19 de junho, e este lhe anunciou que o havia escolhido para inspecionar a [[Desfile da Vitória de Moscou de 1945|grande parada militar]] que estava sendoera preparada em Moscou,{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 2|p=329}} e portanto como o principal homenageado do evento. Mais tarde autores descreveriam esse episódio como o principal momento de glória da carreira de Júkov.{{sfn|Roberts|p=3|2012}}{{sfn|Le Tissier|1996|p=258}}
Em 24 de junho de 1945, precisamente às 10h, sob a garoa, Júkov saiu a cavalo do portão da Torre de Spasskaia, no Kremlin, seguido pelo major-general Piotr Zelenski, e então atravessou metade da Praça Vermelha a galope, enquanto 1,4 mil músicos tocavam ''Seja Glorificado'' de [[Mikhail Glinka]].{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=710-712}}{{sfn|Roberts|p=3|2012}} Ao pé do [[Mausoléu de Lenin]], o marechal Rokossovski e o tenente-coronel Klikov, em dois cavalos negros, o saudaram. O quarteto então revisou os destacamentos militares, que por sua vez também lhes saudaram. Júkov então desmontou, foi até a plataforma, e fez seu discurso, que terminou dizendo:<blockquote>"Se nós vencemos, é porque fomos guiados pelo nosso grande ''vojd'', pelo nosso incrível capitão, o marechal da União Soviética Stalin! Glória ao nosso povo soviético, ao povo libertador! Glória ao inspirador e organizador da nossa vitória, ao grande Partido de Lenin e Stalin! Glória ao nosso ''vojd'', ao sábio capitão, marechal da União Soviética, o grande Stalin! Hurra!".{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=713}}</blockquote>
Em 2 de agosto, o embaixador norte-americano apresentou a Júkov um convite de Truman para visitá-lo nos [[Estados Unidos]]. De 11 a 17 de agosto, Eisenhower visitou Moscou e Leningrado, e encontrando-se com Stalin, e,sempre devidoacompanhado à sua boa relação comde Júkov, este foi encarregado de acompanhá-lo em todos os lugares. Dias depois de retornar ao seu país, Eisenhower escreveu a Júkov reiterando o convite para visitar os Estados UnidosEUA,{{sfn|Ambrose|1990|p=225}} mas em outubro recebeu uma amável recusa. Júkov alegou motivos de saúde e excesso de trabalho, mas suas razões eram de fato políticas, sobretudo o gradual desgaste das relações entre a URSS e os EUA.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=719}}
 
=== Marginalização ===
No final do outono de 1945 Josef Stalin levou a cabo uma espécie de "expurgo suave", mirando seus colaboradores que haviam conquistado muito poder e prestígio. A popularidade de Júkov, em particular, se aproximava da de Stalin.{{sfn|Chaney|1996|p=366}} O primeiro a pagar o preço foi Viatcheslav Molotov, que fez sua autocrítica no início de dezembro de 1945. Então foi a vez de Lavrenti Beria, que perdeu sua posição de Ministro do Interior em 29 de dezembro de 1945. Contra [[Geórgiy Malenkov|Gueorgui Malenkov]] e Gueorgi Júkov, Stalin confiou à MGB (que mais tarde daria lugar à [[KGB]]), a tarefa de estabelecer uma acusação. O marechal-do-ar Sergei Khudiakov foi preso em 14 de dezembro de 1945 e, sob tortura, confessou ser um espião britânico e denunciou como seus supostos cúmplices Alexander Repine e o Alexei Shakhurin. Os dois últimos, presos em 8 de abril de 1946, denunciaram o marechal-comandante [[Alexander Nóvikov]], chefe da aviação soviética. Preso em 23 de abril, e, torturado e ameaçado, Nóvikov denunciou 74 pessoas, dentre as quais Malenkov e Júkov. Malenkov perdeu o Secretariado do Comitê Central do Partido, em 4 de maio de 1946, enquanto Júkov foi chamado de volta a Moscou no início de março 1946, para assumir o cargo de Comandante-em-Chefe das Forças terrestres soviéticas.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=724-726}}
 
Em 1 de junho de 1946, no início de uma reunião do Conselho Superior Militar, Stalin ordenou que Sergei Chtemenko (então vice-chefe do Estado-Maior General) lesse diante dos membros do Politburo a confissão do marechalde Novikov, denunciando o comportamento de Júkov e sua auto-glorificação (atribuindo-se quase todas aspelas vitórias na guerra). Stalin então pediu que ele se justificasse, e anunciou sua desgraça. A diretriz de 9 de junho de 1946, assinada por todos os presentes nopelo Conselho Superior, menospreza o papel de Júkov em todas as batalhas da guerra. Em 2 de junho de 1946 Júkov passou de Comandante das Forças Terrestres Soviéticas para o posto inferior de comandante do Distrito Militar de Odessa.{{sfn|Spahr|1993|p=200–205}}{{sfn|Chaney|1996|p=368}}
 
==== Odessa ====
Júkov assumiu seu novo posto em 13 de junho, e passou a inspecionar, fortalecer a disciplina e organizar manobras militares com fogo real. Na sequência, ele viajou a lazer com sua esposa Alexandra Dievna e as filhas, enquanto continuava seu relacionamento com sua amante Lida Zakharova.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=732}}
 
Em 1946 a cidade de [[Odessa]], em ruínas e a população faminta, enfrentava uma onda sem precedentes de crime, controlada principalmente por uma organização chamada Gato Negro,{{#tag:ref|Em russo: черный кот.|group="nota"}}, que assumira controle dos armazéns e trens militares da região. A fim de subjugar essa milícia, Júkov montou umaa operação de codinome ''Maskarad'',{{#tag:ref|Em russo: Маскарад.|group="nota"}} na qual pequenos grupos de militares, disfarçados de civis, foram espalhadasespalhados por toda apela cidade para derrubar os criminosos. Em poucos meses, o crime no distrito de Odessa caiu 74 por centrosignificativamente, segundo um relatório enviado paraa Stalin.{{sfn|RTR|2011}}
 
Em paralelo, Júkov continuava na mira dedo Stalin''vojd''. Em 23 de Agosto de 1946 [[Nikolai Bulganin]], o Ministro-Adjunto da Defesa, informou Stalin que funcionários aduaneiros haviam apreendido sete carros carregados com 194 móveis pertencentes ao marechal, provenientes da Alemanha e rumo a Odessa.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=732}} Em 21 de julho de 1947 Júkov recebeu uma reprimenda pública por ter condecorado a cantora Lidia Ruslanova com a [[Ordem da Guerra Patriótica]].{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=734}}
 
==== Acusação de pilhagem ====
No início de 1948 Stalin autorizou buscas na casa de Júkov e na sua [[datcha]]. Um relatório da MGB informou que haviam sido apreendidos numerosos artigos saqueados na Alemanha, e descreveu sua datcha como um museu: dezenas de relógios de ouro, pinturas, peças de pele, tapeçarias; centenas de talheres de prata; lotes de tecidos de veludo e seda, armas e livros preciosos. Em 20 de janeiro de 1948 o Politburo emitiu uma resolução contra Júkov, acusando-o de ter cometido "erros que desonram o título de membro do Partido e comandante do Exército Soviético" e definindo-o como "um homem degradado do ponto de vista político e moral". O mesmo documento anunciou sua demissão do posto de comandantecomando do Distrito Militar de Odessa, e que ele entregaria ao Estado todos os bens dos quais ele teria se apropriado ilegalmente.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=734-738}} Existe consenso, dentre os historiadores, de que as acusações contra Júkov foram motivadas por razões políticas.{{Sfn|Bering|2012}}
 
Em 4 de fevereiro de 1948 Júkov foi notificado de seu apontamento como chefe do pequeno Distrito Militar dos Urais, em [[Ecaterimburgo|Sverdlovsk]]. O Pravda não mencionou o seu nome durante o aniversário da Vitória, e seus amigos e colaboradores também foram afetados. Seu motorista foi aposentado em janeiro de 1948, depoise preso em 27 de abril de 1950, acusado de ser um espião da [[Central Intelligence Agency|CIA]]. Outros, foram torturados. A cantora Lidia Ruslanova e seu marido foram presos em 18 de setembro e sentenciados a trabalhos forçados. O coronel-general [[Vassili Gordov]] e o chefe de seu Estado-Maior foram presos em 12 de janeiro de 1947, e fuzilados em agosto de 1950, por terem defendido Júkov e criticado Stalin.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=736}}
 
==== Exílio no Urais ====
Em 14 de fevereiro de 1948 Júkov foi transferido para [[Ecaterimburgo|Sverdlovsk]], no que de fato constituía um exílio.{{Sfn|Haskew|2018b}} Lá ele conheceu a médica militar Galina Alexandrovna Semionova, à época com 24 anos de idade, e que substituiu Lida Zakharova como sua amante. Em 19 de junho de 1957 Galina deu à luz uma filha, Maria Júkova.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=740}}
 
O filme [[A Queda de Berlim (filme)|A Queda de Berlim]], uma grande produção soviética lançada em janeiro de 1950, retrata Stalin como o único responsável pela liderança das forças soviéticas na guerra. Um ator no papel de Júkok aparece brevemente em algumas cenas. Nesse mesmo ano, Júkov foi autorizado a concorrer à eleição para o Soviete Supremo, tornando-se o representante de Sverdlovsk.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=741}}
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=== Re-emergência ===
[[Ficheiro:Joseph Stalin and Nikita Khrushchev, 1936.jpg|miniaturadaimagem|250x250px|A morte de [[Josef Stalin|Stalin]] (direita), e a ascensão de [[Nikita Khrushchov|Khrushchov]] (esquerda), permitiram a Júkov retornar à cena política.]]
Em 3 de Março de 1953, Bulganin, então vice-presidente do [[Conselho de Ministros da União Soviética]], convocou Júkov a Moscou, em urgência e sem informar o motivo. Chegando no dia 5, ele participou de uma reunião do Comitê Central do Partido Comunista,{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=745-746}} durante a qual anunciou-se que Stalin estava sofrendo uma hemorragia cerebral e iria morrer. Um novo governo foi imediatamente formado: Malenkov tornou-se Presidente do Conselho de Ministros; Beria, Ministro da Segurança, compreendendo o MVD e o MGB; Khrushchov, Secretário do Comitê Central do Partido; Molotov, Ministro das Relações Exteriores; [[Anastas Mikoyan|Anastas Mikoian]], Ministro do Comércio Exterior; Bulganin, Ministro da Defesa, com Júkov, Vassilevski e Kuznetsov como assistentes. A morte de Stalin ocorreu às 21h50min, e foi anunciada no rádio a partir das 6h do dia seguinte. Em 9 de março, Júkov fez parte da guarda de honra velando o corpo de Stalin.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=747-750}}
 
Os ministros do novo governo temiam Beria, que detinha muito poder. Em junho de 1953, enquanto este último estava em [[Berlim Oriental]], formou-se uma conspiração liderada por Khrushchov. De acordo com as memórias de Júkov, Bulganin convocou os cinco outros oficiais no escritório de Malenkov, que teria lhe dito que Beria se tornara um homem muito perigoso para o Partido e para o Estado. Júkov foi então encarregado de prende-lo.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=750}} Em 26 de junho de 1953 ele abordou Beria durante uma reunião no Kremlin, acompanhado de dois outros generais armados com pistolas. Em suas palavras, "eu me aproximei rapidamente de Beria e disse-lhe em voz alta: Levante-se, Beria! Você está preso! Peguei-o pelos braços, levantei-os, procurei nos bolsos dele. Ele não estava armado".{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=751}} De acordo com Khrushchov e Malenkov, a prisão de Beria teria sido organizada por outros militares, que teriam convidado Júkov a participar.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=752}} Em todo caso, Beria foi removido do Kremlin e levado para um abrigo, e, no dia seguinte, transferido para a sede do Distrito Militar de Moscou, sempre guardado por uma equipe de oficiais.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=751}} Por ordem de Bulganin, tropas foram transferidas para Moscou, a fim de reforçar a segurança e desincentivar tentativas de libertar o prisioneiro,{{sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=752}} que acabou executado alguns meses mais tarde.{{sfn|Chaney|1996|p=388}}
 
==== Vice-Ministro da Defesa (1953-1955) ====
Júkov continuou como adjunto de Bulganin, e tornou-se membro efetivo do Comitê Central do Partido. Um busto seu foi instalado em Ugodski Zavod, a cidade próxima à sua aldeia natal, em 3 dezembro de 1953, na presença de suas filhas Era e Ella. Ele transferiu sua amante Galina Semionova para Moscou, conseguindo-lhe um posto no hospital militar Burdenko (ela era coronel do Corpo Médico).{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=753-754}}
 
O problema militar nesse momento girava em torno das [[Bomba nuclear|armas nucleares]], especialmente o [[Arma nuclear de uso tático|seu uso tático]], em um momento em que os Estados UnidosEUA detinham um significativo avanço tecnológico. No outono de 1953 Júkov presenciou um exercício liderado por Ivan Konev, simulando um [[ataque nuclear]]. Os resultados foram inconclusivos quanto à adaptabilidade do pessoal e do equipamento a uma explosão atômica, e quanto à possibilidade de luta e comunicação em uma [[zona de radiação]]. Júkov organizou então a Operação Bola de Neve,{{#tag:ref|Em russo: Снежок.|group="nota"}} que simulou o uso de uma arma nuclear para defender-se de um ataque. Um total de 44 mil homens foram mobilizados em Totskoie, no [[Oblast de Oremburgo]]. Em 14 dezembro de 1954 um [[Tupolev Tu-4]] lançou uma bomba [[RDS-4]], que explodiu às 9h34min, a 350 metros de altitude. Perto do meio dia, unidades mecanizadas devidamente equipadas foram movimentadas em campo, algumas até a quinhentos metros do epicentro.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=755}} O exercício foi produtivo, e permitiu concluir que forças convencionais podem lutar em cenário de uso de armas nucleares: os veículos devem ser reforçados e realmente vedados, e as formações devem ser muito diluídas. Pouco tempo depois, o comando das forças nucleares passou do Ministério do Interior (Beria coordenara o [[Projeto soviético da bomba atômica|projeto atômico soviético]]) para o da Defesa.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=755}}
 
==== Ministro da Defesa (1955-1957) ====
Em janeiro de 1955 Khrushchov recebeu a renúncia de Malenkov, nomeando Bulganin em seu lugar, como Presidentepresidente do Conselho de Ministros. Em 7 de fevereiro, Júkov foi promovido a Ministro da Defesa; ao mesmo tempo, foi criado o Conselho Geral de Defesa da URSS, e Khrushchov tornou-se o líder supremo das forças armadas. Júkov apoiou Khrushchov na [[desestalinização]], e durante o 20.º [[Congresso do Partido Comunista da União Soviética|Congresso do Partido]], em fevereiro de 1956, acusou Molotov de liderar os últimos stalinistas.{{Sfn|Haskew|2018b}} Júkov apreciou o [[discurso secreto]] de Khrushchov sobre o [[culto da personalidade]], e mais tarde foi acusado de ter escrito um relatório sobre o papel de Stalin na guerra.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=768-770}} Na disputa pela liderança da URSS, seu apoio a Khrushchov foi decisivo.{{Sfn|Haskew|2018b}}
 
Em maio de 1955 Júkov foi capa da Revista Time pela segunda vez.{{Sfn|Time Magazine|1955}} Como ministro, em junho ele restaurou a dotação financeira para condecorações militares, que Stalin havia abolido em 1948. Ele propôs em 1955 a construção de estátuas monumentais nas [[Cidade-Herói|cidades-herói]] de Leningrado, Stalingrado,{{#tag:ref|Lá foi construída a [[Mãe Pátria (monumento)|Mãe Pátria]].|group="nota"}} [[Sebastopol]] e Odessa. [[Murmansk]] e Kiev depois foram adicionadas à lista, com construções progressivas até a década de 1980. No mesmo ano, Júkov restaurou os comandos individuais das forças terrestres, de aviação, marinhas e de defesa aérea, abolidos por Stalin em 1950. Ele também criou o cargo de Vice-Ministro da Defesa para Mísseis Estratégicos, confiado a [[Mitrofan Ivanovich Nedelin|Mitrofan Nedelin]]. Sob o seu ministério, [[Cosmódromo de Baikonur|Baikonur]] (1955) e [[Cosmódromo de Plesetsk|Plesetsk]] (1957) foram selecionadas para a instalação de [[Base de lançamento espacial|cosmódromos]].{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=759}}
[[Ficheiro:Bundesarchiv Bild 183-30373-003, Präsident Pieck empfing die Sowjetische Regierungsdelegation.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|250x250px|Uma delegação soviética, liderada pelo Ministro Júkov, é recebida pelo presidente da [[Alemanha Oriental]], [[Wilhelm Pieck]] (6 de maio de 1955).]]
Júkov também chefiou a comissão, que, em abril de 1956, obteve do Comitê Central o fim das perseguições contra os 1,8 milhões de soldados soviéticos aprisionados pelos alemães, com o pagamento de seus soldos atrasados, e em janeiro 1957 conseguiu a reabilitação póstuma de Mikhail Tukhachevski e Dmitri Pavlov.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=757-759}}
 
Em 29 de outubro de 1955 o encouraçado Novorossisk naufragou, depois de romper o casco em uma mina alemã esquecida na baía de Sebastopol. Júkov foi duro com os responsáveis,{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=763-764}} e usou o episódio para reduzir o papel da [[Marinha Soviética]] nas forças armadas. No exército, com grande número de violações da disciplina, acidentes e crimes, Júkov fez cumprir o despacho n.º 90 de 12 de maio de 1956, que reforçou a autoridade do comandante militar em relação aos seus oficiais políticos.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=760-764}} Esse episódio culminou a longa oposição de Júkov à interferência política nas forças armadas,{{sfn|Le Tissier|1996|p=9}}, e lhe valeu a hostilidade da Direção Política Principal do Exército. A fim de melhorar a qualidade das forças armadas, ele apoiou a redução do número de tropas (que passou de 4,8 milhões de pessoas em 1955 para 3três milhões em 1957) e o encurtamento do serviço militar.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=763}}
 
Sua posição como Ministro da Defesa lhe conferiu um pequeno papel na [[Guerra Fria]]. Em 14 maio de 1955 ele assinou pela URSS o [[Pacto de Varsóvia]], documento que ele ajudara a redigir em reação à entrada da Alemanha Ocidental na [[Organização do Tratado do Atlântico Norte]].{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=764}} Essas tensões não impediram decisões mais pacíficas, incluindo a proclamação da neutralidade austríaca em 15 de maio de 1955 e a evacuação da base Porkkala na Finlândia, implementada em 1956. De 18 a 23 de julho de 1955 Júkov fez parte de uma delegação soviética em Genebra, onde se reencontrou com D. Eisenhower, agora presidente dos Estados UnidosEUA, com quem trocou presentes e gentilezas.{{sfn|Ambrose|1990|p=390}}{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=765-766}}[[Ficheiro:Zhukov, Pokryshkin, Kozhedub.jpg|miniaturadaimagem|240x240px|Júkov com pilotos de caça russos (1957)]]
Júkov também teve papel importante nas instabilidades que assolaram a URSS no final da década.{{sfn|Chaney|1996|p=405-410}} Em 28 de junho de 1956 o exército polonês reprimiu protestos trabalhistas em [[Poznań]], e o [[Partido Operário Unificado Polaco]], aproveitando-se da desestalinização, passou a exigir maior autonomia. Khrushchov previu uma ação militar, mas Mikoian e Júkov convencem-no a [[Outubro polaco de 1956|ceder às exigências polonesas]].{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=772}} Em 21 de outubro, foi a vez da polícia húngara atirar em manifestantes, provocando [[Revolução Húngara de 1956|uma rebelião]]. Na noite do dia 23 Júkov fez agir o corpo de exército soviético estacionado localmente, e outras três divisões, da Romênia e do Distrito dos Cárpatos, que cruzaram as fronteiras em apoio. A demonstração de força acabou transformandotransformou-se em confronto, e Júkov ordenou um cessar-fogo, no dia 29, e a evacuação das tropas soviéticas, no dia seguinte. No dia 31 o primeiro-ministro húngaro [[Imre Nagy]] anunciou a saída da [[República Popular da Hungria]] do Pacto de Varsóvia, enquanto ao mesmo tempo começava a [[Crise de Suez|crise do Canal de Suez]]. O Comitê Central soviético decidiu por uma intervenção militar, solução apoiada por Júkov. Em 4 de novembro, foi lançada a Operação Turbilhão, buscando desarmar o exército húngaro e retomar todas as cidades. Vinte dias depois, o confronto contabilizava 3,2 mil mortos e 20,7 mil feridos, e Nagy e seu ministro [[Pál Maléter]] enforcados por conduta contra-revolucionária. A Hungria, agora com [[János Kádár]] à frente, continuou membro do bloco comunista, guardada por cinco divisões soviéticas. Em 1 de dezembro de 1956, por ocasião do seu sexagésimo aniversário, Júkov recebeu uma quarta Ordem de Lenin, e foi feito Herói da União Soviética pela quarta vez.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=776-780}}
 
=== Aposentadoria ===
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|Arma honoraria – espada com o emblema da URSS.{{Sfn|Presidential Library|2019}}
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