Imigração italiana no Rio Grande do Sul: diferenças entre revisões

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No entanto, a maior parte dos italianos nunca chegou a materializar seus desejos, tendo sido direcionados para as fazendas de café de São Paulo, encontrando condições às vezes muito difíceis de sobrevivência, e sem disporem, em sua maioria, de terras próprias, o que reproduzia mais ou menos a mesma situação da qual tinham querido fugir.<ref name="Rovílio"/><ref name="Iotti"/><ref name="Alvin"/> Relatos da época testemunham o desalento e desespero dos recém-chegados aos cafezais, privados da iniciativa própria, imobilizados pelos termos dos contratos, impossibilitados de reconstruir a paisagem de modo que se assemelhasse à sua terra de origem, enfiados em casinhas minúsculas de pau-a-pique emprestadas pelo patrão, e constrangidos a uma submissão que devia expressar-se agradecida, pela "bondade dos patrões em tirá-los da miséria e dar-lhes trabalho". Muitos se rebelaram contra tais condições de exploração e opressão, ou abandonaram o campo buscando as cidades e engrossando a massa marginalizada.<ref name="Alvin"/>
 
No Rio Grande foi mantida a ideia original de criar minifúndios produtivos para homens livres proprietários. Depois de criar quatro novas colônias alemãs, em 1869 o governo provincial solicitou ao Império a concessão de mais [[terras devolutas]] para outras duas. No ano seguinte foram destinadas 32 léguas quadradas no nordeste da província, onde foram fundadas as colônias Conde d'Eu (atualmente a cidade de [[Garibaldi]]) e Dona Isabel (atualmente [[Bento Gonçalves (Rio Grande do Sul)|Bento Gonçalves]]). Pretendia-se introduzir 40 mil colonos alemães em dez anos, mas menos de 4 mil secandidatos prontificaramforam arrolados, e grande parte não foram alemães, mas portugueses, e o projeto entrou em recesso.<ref name="Rovílio"/><ref name="Iotti"/>
[[Ficheiro:Caxias do Sul em torno de 1876.jpg|thumb|O núcleo urbano primitivo da Colônia Caxias em torno de 1876-77.]]
 
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A zona colonial italiana primitivamente era coberta por uma [[floresta ombrófila mista|mata virgem]], com alguns trechos esparsos de campo. Ali ainda viviam diversas tribos indígenas, que foram erradicadas ou expulsas para possibilitar um assentamento tranquilo dos colonos. Embarcavam depois de dias ou semanas de espera nos cais de Gênova, de onde a maioria partiu, ou de Havre, na França, sempre mal alojados; muitos dormiam nas ruas, e eram sistematicamente roubados, enganados e extorquidos por vigaristas e oficiais corruptos. Porém, os relatos não são sempre iguais, e para diversos grupos o embarque foi rápido e descomplicado.<ref name="Alvin"/>
 
A viagem marítima durava um mês ou mais, feita em navios superlotados, onde as condições de alojamento eram más, estavam mal vestidos, e a higiene era precária, embora a maioria dos relatos diga que lhes davam comida muito melhor e mais abundante do que tinham acesso em suas antigas casas. Chegavam aos portos do Rio de Janeiro ou de Santos, onde eram alojados temporariamente em um pavilhão à espera de encaminhamento. Se houvesse suspeita de doenças, o que era comum, passavam por uma [[quarentena]].<ref name="Alvin"/> Se não fossem para São Paulo, partiam já para o sul em navios menores, até aportar na capital [[Porto Alegre]], onde descarregavam e esperavam translado em outro pavilhão. De Porto Alegre, por barco, seguiam pelo rio Caí até [[São Sebastião do Caí]], um importante entreposto comercial e um centro de apoio aos viajantes. A partir dali a viagem seria feita em caravanas, geralmente a pé, ou em lombo de burro, conduzidos por guias experientes, subindo as escarpadas serras do Nordeste, até um outro pavilhão de acolhimento situado na 1ª Légua da Colônia Caxias, no local hoje chamado [[Nova Milano]], de onde seriam distribuídos para as demais colônias demarcadas pelo governo. Muitos grupos chegaram à Colônia Conde d'Eu pelo atalho que saía de Montenegro, um pouco antes do Caí. As condições eram sempre precárias e havia uma alta taxa de mortalidade nas viagens e nesse período de mudança e primeira instalação, especialmente entre crianças e idosos.<ref name="Maestri">Maestri, Mário. "A travessia e a mata: memória e história". In: Dal Bó, Juventino; Iotti, Luiza Horn; Machado, Maria Beatriz Pinheiro (orgs). ''Imigração Italiana e Estudos Ítalo-Brasileiros — Anais do Simpósio Internacional sobre Imigração Italiana e IX Fórum de Estudos Ítalo-Brasileiros''. EDUCS, 1999, pp. 190-207</ref><ref name="César">César, Pedro de Alcântara Bittencourt et al. [https://www.ucs.br/ucs/eventos/seminarios_semintur/semin_tur_7/arquivos/07/04_45_49_Cesar_Vianna_Lorencet_Nunes.pdf "A formação de roteiro turístico-cultural e a estrutura urbana regional: estudo da Serra Gaúcha (RS)"]. In: ''VII Seminário em Turismo do MERCOSUL''. Universidade de Caxias do Sul, 16-17/11/2012</ref>
 
Apesar de várias dificuldades, a iniciativa foi bem sucedida, levando à formação de novos centros de povoamento: [[Encantado]] em 1878, Núcleo Norte ([[Ivorá]]) e Núcleo Soturno ([[Nova Palma]]) em 1883, [[Alfredo Chaves]] em 1884, [[São Marcos (Rio Grande do Sul)|São Marcos]] em 1885, [[Antônio Prado]] em 1886, [[Jaguari]] em 1889, [[Ijuí]] e [[Guarani]] em 1890, [[Guaporé (Rio Grande do Sul)|Guaporé]] em 1892 e [[Erechim]] em 1908.<ref name="Pessin">Pessin, Alexandre; Thum, Adriane Brill; Todt, Viviane. "Diferença entre Projeto e Implantação - Colônia de Alfredo Chaves, 1884". In: ''Anais do Congresso Brasileiro de Cartografia''. Gramado, 2014</ref> As estatísticas oficiais apontam a entrada de mais de um milhão e meio de italianos em todo o Brasil entre 1819 e 1940,<ref name="Alvin"/> 76.168 deles radicados no Rio Grande entre 1824 e 1914, mas esses dados não são muito confiáveis; estima-se que até 100 mil italianos tenham entrado neste período no estado, cerca de 10% deles emigrados espontaneamente em boas condições econômicas, ou deslocados de grupos anteriormente fixados no Uruguai e Argentina. A maciça maioria vinha do norte da Itália ([[Vêneto]], [[Lombardia]], [[Tirol]], [[Friuli]]), e cerca de 75% eram agricultores. Em 1914 o governo formalizou o encerramento do programa colonizador subvencionado pelo Estado, mas muitos ainda viriam mais tarde.<ref name="Rovílio"/>