Privilégio branco: diferenças entre revisões
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Desfeita a edição 56753910 de Dianakc Etiqueta: Desfazer |
|||
Linha 1:
'''Privilégio branco''' é o [[privilégio social|privilégio]] que beneficia [[brancos]] sobre não-brancos, particularmente se estiverem nas mesmas circunstâncias sociais, políticas ou econômicas. As perspectivas acadêmicas como a [[teoria crítica da raça]] e estudos sobre a branquitude usam o conceito para analisar como o [[racismo]] e as [[sociedade racializada | sociedades racializadas]] afetam a vida de pessoas brancas ou de pele branca.
De acordo com [[Peggy McIntosh]],<ref name="Schaefer2006">{{cite book|author=Richard T. Schaefer|title=Sociologia|url=https://books.google.com/books?id=u_k4AgAAQBAJ&pg=PA249|edition=6|date=1/1/2006|publisher=AMGH Editora|isbn=978-85-8055-316-1|page=249|quote= A estudiosa feminista Peggy Mcintosh (1988) interessou-se pelo privilégio branco depois de notar que a maioria dos homens não reconhecia que existem privilégios relacionados ao fato de ser homem [...]}}</ref> os brancos nas sociedades ocidentais desfrutam de vantagens que os não-brancos não experimentam, como "um pacote invisível de ativos não adquiridos".<ref name="Unpacking">{{cite web|first1=Peggy|last1=McIntosh|title=White privilege: Unpacking the Invisible Knapsack|url=http://people.westminstercollege.edu/faculty/jsibbett/readings/White_Privilege.pdf}} Independent School, Winter90, Vol. 49 Issue 2, p31, 5p</ref><ref>McIntosh, Peggy. ''White Privilege and Male Privilege: A Personal Account of Coming to See Correspondences Through Work in Women’s Studies.'' Wellesley: Center for Research on Women, 1988. Print.</ref> O privilégio branco denota vantagens passivas óbvias e menos óbvias que os brancos podem não reconhecer que possuem. Isso inclui afirmações culturais do próprio valor, presunção de maior status social e liberdade de movimento, de comprar, trabalhar, brincar e falar livremente. Os efeitos podem ser vistos em contextos profissionais, educacionais e pessoais. O conceito de privilégio branco implica também o direito de assumir a universalidade de suas próprias experiências, marcando os outros como diferentes ou excepcionais, enquanto se percebe como [[Normalidade (comportamento) | normal]].<ref name="Vice">{{cite journal |last=Vice |first=Samantha |title=How Do I Live in This Strange Place? |journal=Journal of Social Philosophy |date=September 7
Alguns comentaristas dizem que o termo usa o conceito de "brancura" como um ''proxy'' para [[classe social | classe]] ou outro privilégio social ou como uma distração de problemas subjacentes mais profundos da desigualdade.<ref name="Arnesen">{{cite journal |first=Eric |last=Arnesen |url=http://journals.cambridge.org/action/displayAbstract?aid=92975&fileId=S0147547901004380 |title=Whiteness and the Historians' Imagination |journal=International Labor and Working-Class History |volume=60 |date=outubro de 2001 |pages=3–32}}</ref><ref name="Hartigan, 2005 pp. 1">Hartigan, ''Odd Tribes'' (2005), pp. 1–2.</ref> Outros afirmam que não é que a branquidade seja um proxy, mas que muitos outros privilégios sociais são interconectados, exigindo análises complexas e cuidadosas para identificar como a branquidade contribui para o privilégio.<ref name="Privilege">{{cite journal | last1 = Blum | first1 = Lawrence | year = 2008 | title = 'White Privilege': A Mild Critique1 | url = | journal = Theory and Research in Education | volume = 6 | issue = 3| pages = 309–321 | doi = 10.1177/1477878508095586 }}</ref> Outros comentaristas propõem definições alternativas de brancura e exceções ou limites da identidade branca, argumentando que o conceito de privilégio branco ignora diferenças importantes entre subpopulações de brancos e indivíduos e sugerindo que a noção de brancura não inclui todas as pessoas brancas,<ref name="uws.edu.au">{{cite journal |last1=Forrest |first1=James |last2=Dunn |first2=Kevin |title='Core' Culture Hegemony and Multiculturalism |journal=Ethnicities |date=
Os escritores observaram que o "conceito acadêmico do privilégio dos brancos" às vezes suscita defensividade e mal-entendidos entre os brancos, em parte devido à maneira como o conceito de privilégio dos brancos foi rapidamente trazido para o centro das atenções por meio de campanhas como a [[Black Lives Matter]] (EUA).<ref name="brydum">{{cite news |last1=Brydum |first1=Sunnivie |title=The Year in Hashtags: 2014 |url=http://www.advocate.com/year-review/2014/12/31/year-hashtags |accessdate=January 23
▲Alguns comentaristas dizem que o termo usa o conceito de "brancura" como um ''proxy'' para [[classe social | classe]] ou outro privilégio social ou como uma distração de problemas subjacentes mais profundos da desigualdade.<ref name="Arnesen">{{cite journal |first=Eric |last=Arnesen |url=http://journals.cambridge.org/action/displayAbstract?aid=92975&fileId=S0147547901004380 |title=Whiteness and the Historians' Imagination |journal=International Labor and Working-Class History |volume=60 |date=outubro de 2001 |pages=3–32}}</ref><ref name="Hartigan, 2005 pp. 1">Hartigan, ''Odd Tribes'' (2005), pp. 1–2.</ref> Outros afirmam que não é que a branquidade seja um proxy, mas que muitos outros privilégios sociais são interconectados, exigindo análises complexas e cuidadosas para identificar como a branquidade contribui para o privilégio.<ref name="Privilege">{{cite journal | last1 = Blum | first1 = Lawrence | year = 2008 | title = 'White Privilege': A Mild Critique1 | url = | journal = Theory and Research in Education | volume = 6 | issue = 3| pages = 309–321 | doi = 10.1177/1477878508095586 }}</ref> Outros comentaristas propõem definições alternativas de brancura e exceções ou limites da identidade branca, argumentando que o conceito de privilégio branco ignora diferenças importantes entre subpopulações de brancos e indivíduos e sugerindo que a noção de brancura não inclui todas as pessoas brancas,<ref name="uws.edu.au">{{cite journal |last1=Forrest |first1=James |last2=Dunn |first2=Kevin |title='Core' Culture Hegemony and Multiculturalism |journal=Ethnicities |date=Junho de 2006 |volume=6 |number=2 |doi=10.1177/1468796806063753 |url=http://www.uws.edu.au/__data/assets/pdf_file/0008/29645/A23.pdf |pages=203–230}}</ref><ref name="Blum 309–321">{{cite journal |last=Blum |first=L. |title='White privilege': A Mild Critique |journal=[[Theory and Research in Education]] |date=1/11/2008 |volume=6 |issue=3 |pages=309–321 |doi=10.1177/1477878508095586 }}</ref> notando um problema em reconhecer a diversidade de pessoas de cor e etnia dentro desses grupos.<ref name="Privilege"/>
▲Os escritores observaram que o "conceito acadêmico do privilégio dos brancos" às vezes suscita defensividade e mal-entendidos entre os brancos, em parte devido à maneira como o conceito de privilégio dos brancos foi rapidamente trazido para o centro das atenções por meio de campanhas como a [[Black Lives Matter]] (EUA).<ref name="brydum">{{cite news |last1=Brydum |first1=Sunnivie |title=The Year in Hashtags: 2014 |url=http://www.advocate.com/year-review/2014/12/31/year-hashtags |accessdate=23/1/2016 |agency=[[The Advocate (LGBT magazine)|The Advocate]] |date=31 de dezembro de 2014}}</ref> Como um conceito acadêmico que foi trazido recentemente apenas para o ''mainstream'', o conceito de privilégio branco é frequentemente mal-interpretado por não-acadêmicos; alguns acadêmicos, tendo estudado o privilégio dos brancos sem interferências por décadas, foram surpreendidos pela hostilidade aparentemente repentina dos críticos de [[direita política| direita]] desde 2014.<ref name="weinburg">{{cite news |last1=Weinburg |first1=Cory |title=The White Privilege Moment |url=https://www.insidehighered.com/news/2014/05/28/academics-who-study-white-privilege-experience-attention-and-criticism |accessdate=19 de janeiro de 2016 |agency=Inside Higher Ed |date=28/5/2014}}</ref>
== Definição ==
Linha 13 ⟶ 15:
== História do conceito ==
=== Antes dos anos 70 ===
Na obra de 1935 ''[[Black Reconstruction in America]]'', [[W. E. B. Du Bois]] introduziu o conceito de "salário psicológico"<ref name="Alexander2018">{{cite book|author=Michelle Alexander|title=A nova segregação|url=https://books.google.com/books?id=sXBGDwAAQBAJ&pg=PT409|date=15/1/2018|publisher=Boitempo Editorial|isbn=978-85-7559-604-3|page=409|quote="O que os brancos das classes inferiores tinham era o que W. E. B. Du Bois descreveu como um “salário psicológico”[...]'}}</ref> para trabalhadores brancos. Esse status especial, ele escreveu, dividia o movimento trabalhista, levando os trabalhadores brancos com baixos salários a se sentirem superiores aos trabalhadores negros com baixos salários.<ref name=DuBois/> Du Bois identificou a [[supremacia branca]] como um fenômeno global, afetando as condições sociais em todo o mundo por meio do [[colonialismo]].<ref name="Leonardo">{{cite journal | last1 = Leonardo | first1 = Zeus | year = 2010| title = The Souls of White Folk: critical pedagogy, whiteness studies, and globalization discourse | journal = Race Ethnicity and Education | volume = 5 | issue = 1| page = 2002 | doi = 10.1080/13613320120117180 }}</ref> Du Bois escreveu:
Linha 18 ⟶ 21:
== Aplicações na teoria crítica ==
=== Teoria crítica da raça ===
O conceito de privilégio branco tem sido estudado por teóricos dos estudos da brancura, buscando examinar a construção e as implicações morais da 'brancura'. Muitas vezes há sobreposição entre as teorias críticas da branquidade e da raça, como demonstrado pelo foco na construção legal e histórica da identidade branca e no uso de narrativas (seja discurso legal, testemunho ou ficção) como uma ferramenta para expor sistemas de poder racial.<ref>Veja, por exemplo, Haney López, Ian F. ''White by Law''. 1995; Lipsitz, George. ''Possessive Investment in Whiteness''; Delgado, Richard; Williams, Patricia; and Kovel, Joel.</ref>
Teóricos críticos da raça, como Cheryl Harris<ref name="Harris">{{cite journal |first=Cheryl I. |last=Harris|title=Whiteness as Property |journal=Harvard Law Review |volume=106 |issue=8|pages=1709–95 |date=
=== Brancura não dita ===
Linha 41 ⟶ 45:
Em algumas contas, o privilégio global de brancos está relacionado ao [[excepcionalismo americano]] e à [[hegemonia]].<ref>Melanie E. L. Bush, "[http://www.acrawsa.org.au/files/ejournalfiles/4acrawsa614.pdf White World Supremacy and the Creation of Nation: 'American Dream' or Global Nightmare?] {{webarchive|url=https://web.archive.org/web/20150228013350/http://acrawsa.org.au/files/ejournalfiles/4acrawsa614.pdf |date=28/2/2015 }}", ''ACRAWSA e-journal'' [http://www.acrawsa.org.au/ejournal/?id=1 6(1)] {{webarchive|url=https://web.archive.org/web/20130409210021/http://acrawsa.org.au/ejournal/?id=1 |date=9/4/2013 }}, 2010.</ref>
==Brasil==
Linha 55 ⟶ 56:
==Portugal==
No trabalho ''Racismo à portuguesa'',<ref name="Ribeiro2018"/> de Joana Gorjão Henriques, a artista Grada Kilomba explica sobre privilégio branco: “Quando falamos de branquitude estamos a falar de entidades e de estruturas políticas, não de uma pessoa que é boa ou má.” Ou seja, “não tem a ver com moral”. Tem a ver com o facto de, “por questões históricas, sociais e políticas” haver um grupo de pessoas com “acesso a privilégios” (…) “Há um privilégio branco que eu não tenho como mulher negra. Uma mulher branca tem acesso a estruturas, a uma representação, a uma voz que eu não tenho. Quando abro o jornal não me vejo representada, entro num supermercado e não vejo as minhas crianças nos champôs. Sou constantemente confrontada com uma imagem que não é a minha e com a falta de representação. É um privilégio ser representado.”<ref>M. Lima, [http://www.jornalmapa.pt/2018/01/03/do-privilegio-branco/ ''O que é isso do privilégio branco?''], 3 de Janeiro de 2018, Jornal MAPA</ref>
==Criticas==
Segundo Demétrio Magnoli, o conceito de privilégio branco seria mais uma tentativa de importar conceitos criados nos Estados Unidos para falar sobre a realidade das relações raciais no país anglo-saxão para o Brasil, onde as relações raciais teriam uma história e realidade diferentes <ref>{{Citar web|titulo=o mito da raça: em busca da pureza, com demétrio magnoli {{!}} instituto cpfl|url=http://www.institutocpfl.org.br/2015/02/13/o-mito-da-raca-em-busca-da-pureza-com-demetrio-magnoli/|acessodata=2019-11-17|lingua=pt-BR}}</ref>. De acordo com Antônio Risério, a racialização do debate público no Brasil, trazida pelo Movimento Negro Unificado, estaria de acordo com a proposta da Fundação Ford de tentar configurar as relações raciais brasileiras de acordo com o modelo binário norte americano, onde só existiriam o negro e o branco. Contudo, como se sabe, a própria ideia de branquitude versus negritude nos Estados Unidos nunca conheceu equivalente no Brasil, pois lá se fazia juridicamente presente o conceito da [[Regra de uma gota]], onde uma gota de sangue negro faria de alguém negro, mesmo tendo o fenótipo europeu, como foram os casos de [[Walter Francis White]] e Homer Plessy<ref name=":0">{{Citar web|titulo=Dicotomia racial e riqueza cromática, por Antônio Risério – Secretaria Especial da Cultura|url=http://cultura.gov.br/273746-revision-v1/|acessodata=2019-11-17|lingua=pt-BR}}</ref>. Além disso, a mesma fundação, responsável pelo financiamento do movimento [[Black Lives Matter]] <ref name=":1">{{Citar web|titulo=The Perils of Liberal Philanthropy|url=https://jacobinmag.com/2018/11/black-lives-matter-ford-foundation-black-power-mcgeorge-bundy|obra=jacobinmag.com|acessodata=2019-11-17|lingua=en-US}}</ref>, teria como escopo apagar a noção de mestiço presente na mente coletiva brasileira e que sempre foi uma das características simbólicas da noção de brasilidade<ref name=":2">{{Citar web|titulo=Antonio Risério: A mestiçagem brasileira foi um processo popular - Aliás|url=https://alias.estadao.com.br/noticias/geral,a-mesticagem-brasileira-foi-um-processo-popular,70002879220|obra=Estadão|acessodata=2019-11-17|lingua=pt-BR}}</ref>. De acordo com Wanderson Chaves, a tentativa de obrigar o Brasil a aceitar classificações raciais próprias aos Estados Unidos seria uma forma de imperialismo cultural, pois " o relacionamento estabelecido entre a Fundação Ford e o Departamento de Estado [Americano] e também com a Agência Central de Inteligência (CIA) constituía-se como aspecto definidor e estruturante, ainda que secreto ou sigiloso, de sua atuação internacional."<ref>{{Citar periódico|ultimo=Chaves|primeiro=Wanderson|data=2015-07-01|titulo=A Fundação Ford e o Departamento de Estado Norte-Americano: a montagem de um modelo de operações no pós-guerra|url=http://seer.ufal.br/index.php/criticahistorica/article/view/2977|jornal=Revista Crítica Histórica|lingua=pt|volume=6|numero=11|doi=10.28998/rchvl6n11.2015.0012|issn=2177-9961}}</ref>. Contudo, apesar de tentar imprimir o binarismo racial norte americano no Brasil, o Movimento Negro Unificado, também financiado pela Fundação Ford <ref>{{Citar web|titulo=www.tvcultura.com.br - Caminhos e Parcerias - Geleés|url=http://www2.tvcultura.com.br/caminhos/04geledes/geledes1.htm|obra=www2.tvcultura.com.br|acessodata=2019-11-17}}</ref>, não cogita aceitar a [[Regra de uma gota]]<ref>{{Citar web|titulo=A miséria do Movimento Negro Burguês brasileiro|url=http://www.gazetarevolucionaria.com.br/index.php/component/k2/item/610-negro-burgues|obra=www.gazetarevolucionaria.com.br|acessodata=2019-11-17|lingua=pt-br|primeiro=Super|ultimo=User}}</ref>, pois, caso contrário, por volta de 80% a 90% da população brasileira teria de ser classificada como negra ou indígena, de acordo com o geneticista Sérgio Pena <ref>{{Citar web|titulo=A África nos genes do povo brasileiro {{!}} Revista Pesquisa Fapesp|url=https://revistapesquisa.fapesp.br/2007/04/01/a-africa-nos-genes-do-povo-brasileiro/|obra=revistapesquisa.fapesp.br|acessodata=2019-11-17|lingua=pt-br}}</ref><ref>{{Citar web|titulo=Apartheid genético {{!}} Revista Pesquisa Fapesp|url=https://revistapesquisa.fapesp.br/2007/07/01/apartheid-genetico/|obra=revistapesquisa.fapesp.br|acessodata=2019-11-17|lingua=pt-br}}</ref>
{{referências}}
|