Pardos: diferenças entre revisões

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=====Comparação com os Estados Unidos=====
 
O antropólogo [[Kabengele Munanga]] afirma que a reunião de "pretos" e "pardos" sob a mesma categoria de "negros", que vem sendo adotada recentemente no Brasil, é uma tentativa dos brasileiros de copiar os Estados Unidos: "Trata-se, sem dúvida, de uma definição política embasada na divisão birracial ou bipolar norte-americana, e não biológica", afirmou ele.<ref>[https://revistacult.uol.com.br/home/colorismo-e-o-mito-da-democracia-racial/ https://revistacult.uol.com.br/home/colorismo-e-o-mito-da-democracia-racial/]</ref> O antropólogo [[Antonio Risério]] explica que, por pressão dos movimentos negros e racialistas, tem-se tentando impor no Brasil uma visão racial norte-americana, em oposição à brasileira, o que, segundo ele, é algo negativo: "E a importação desse modelo dicotômico falsifica a realidade brasileira. A experiência histórica de um povo não pode ser substituída pela experiência histórica de outro".<ref>[https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1612200701.htm Preto Básico]</ref>
 
A divisão birracial dos Estados Unidos tem origem na "regra de uma gota" ("[[one-drop rule]]"), que foi um conceito racista que imperou no país durante a maior parte do [[século XX]].<ref>[https://www.theguardian.com/world/deadlineusa/2008/apr/01/obamaandmixedraceinameric Obama and mixed race in America]</ref> Com o objetivo de garantir a "pureza racial" dos brancos americanos, os americanos de ascendência mestiça passaram a ser contados como "negros". Em consequência, os mestiços não poderiam fazer sexo ou se casar com brancos e, assim, se garantia a "pureza racial" dos brancos.<ref name=devil>{{Citation|páginas=81–84|título=The Devil and the One Drop Rule: Racial Categories, African Americans, and the U.S. Census|autor =Christine B. Hickman|capítulo=|ano=1997|publicado= The Michigan Law Review Association|}}</ref> Em 1920, a categoria "mulato", que existia nos Estados Unidos desde 1840, foi excluída do censo, o que forçou os mestiços a se identificarem como negros, criando-se dois polos antagônicos (brancos ''versus'' negros). Porém, juridicamente, o conceito da "regra de uma gota" já não existe há muito tempo nos Estados Unidos. Desde o ano 2000, os americanos podem escolher mais de uma "raça" com o qual se identificam ao responderem o censo, e o número de americanos que se identificam como "mestiços" tem crescido exponencialmente.<ref>[http://paa2012.princeton.edu/papers/121933 The End of the “One-drop” Rule?: Hypodescent in the Early 21st century]</ref><ref>[https://www.census.gov/mso/www/training/pdf/race-ethnicity-onepager.pdf United States Census Bureau]</ref> Ademais, devido ao aumento da [[Hispânicos|população oriunda de países da América Latina]], onde a miscigenação sempre foi muito intensa,<ref name="pew1">[http://www.pewresearch.org/fact-tank/2015/07/10/mestizo-and-mulatto-mixed-race-identities-unique-to-hispanics/ ‘Mestizo’ and ‘mulatto’: Mixed-race identities among U.S. Hispanics]</ref> uma identidade "brown" (parda) está cada vez mais presente nos Estados Unidos atuais.<ref>[http://www.alcoff.com/content/chap10latrace.html LATINOS AND THE CATEGORIES OF RACE]</ref>
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America]</ref>
 
Ademais, a história da miscigenação no Brasil e nos Estados Unidos foi muito diferente. Nos Estados Unidos, os colonos europeus chegavam com suas famílias inteiras, trazendo esposas, o que limitou o processo de miscigenação. Ademais, as leis anti-miscigenação nos Estados Unidos impediam que as pessoas pudessem escolher livremente seus parceiros sexuais.<ref>{{citar web|ssrn=283998|título=Preserving Racial Identity: Population Patterns and the Application of Anti-Miscegenation Statutes to Asian Americans, 1910-1950|publicado=}}</ref> No Brasil, por outro lado, os colonos portugueses quase sempre chegavam sozinhos, sem trazer esposas, o que os empurrou para um processo de mestiçagem com as mulheres indígenas e africanas. Além do mais, a ausência de leis anti-miscigenação no Brasil facilitou o contato sexual entre pessoas de origens étnicas diferentes.<ref name=darcy>{{citar livro |título = O Povo Brasileiro|autor=Darcy Ribeiro|páginas =435–|ano=2003|editora=[[Companhia de Bolso]]}}</ref> Estudos genéticos mostram essa diferença: em geral, os brancos americanos são mais europeus que os brancos brasileiros, assim como os negros americanos são mais africanos que os negros brasileiros. Segundo estudo genético de 2015, o americano branco médio tem 98,6% de ancestralidade europeia, 0,19% africana e 0,18% indígena, o negro médio tem 73,2% de ancestralidade africana, 24% europeia e 0,8% indígena e o latino médio tem 65,1% de ancestralidade europeia, 18% indígena e 6,2% africana.<ref name=ncbi>[https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4289685/ The Genetic Ancestry of African Americans, Latinos, and European Americans across the United States]</ref> Já no Brasil, segundo estudo de 2014, o branco médio tem 84,6% de ancestralidade europeia, 9,7% africana e 5,6% indígena, o negro médio 53,6% africana, 38,1% europeia e 8,3% indígena e o pardo médio 64,7% de ancestralidade europeia, 25,3% africana e 10% indígena, estando o pardo geneticamente mais próximo dos europeus do que dos africanos, portanto.<ref name=plos>[http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0112640 Exploring the Distribution of Genetic Markers of Pharmacogenomics Relevance in Brazilian and Mexican Populations]</ref>
 
Embora a maioria dos norte-americanos considerados negros tenham significativa ancestralidade europeia, eles mantiveram uma ancestralidade predominantemente africana: apenas 1% dos negros americanos têm 50% ou mais de ancestralidade europeia,<ref>Henry Louis Gates, Jr., ''In Search of Our Roots: How 19 Extraordinary African Americans Reclaimed Their Past'', New York: Crown Publishing, 2009, pp. 20–21.</ref> diferentemente dos pardos brasileiros, cuja ancestralidade é majoritariamente europeia, com uma média de 59% de ancestrais oriundos da Europa, segundo estudo genético de 2019. Portanto, a realidade racial dos norte-americanos é bastante diferente da dos brasileiros, porquanto os primeiros são muito menos miscigenados que os segundos.<ref name="Plos">https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6522012/ Context-dependence of race self-classification: Results from a highly mixed and unequal middle-income country</ref>
 
{| class="wikitable" style="float:center; margin:1em 0 1em 2em;"
|-
!colspan="4"|Ancestralidade genética de brasileiros e norte-americanos
|-
! style="width:110px;"| Nacionalidade|| style="width:120px;"| Cor/Etnia|| style="width:75px;"| Europeia || style="width:75px;"| Africana || style="width:75px;"| Indígena
|- style="text-align:right;"
| rowspan="3" style="text-align:left;"| Brasileiros<ref name=plos/> || style="text-align:left;"| Brancos|| 84,6% || 9,7% || 5,6%
|- style="text-align:right;"
| style="text-align:left;"| Pardos || 64,7% || 25,3% || 10%
|- style="text-align:right;"
| style="text-align:left;"|Negros || 53,6% || 38,1% || 8,3%
|- style="text-align:right;"
| rowspan="3" style="text-align:left;"|Norte-Americanos<ref name=ncbi/> || style="text-align:left;"|Brancos || 98,6% || 0,19% || 0,18%
|- style="text-align:right;"
| style="text-align:left;"| "Latinos" || 65,1% || 6,2% || 18%
|- style="text-align:right;"
| style="text-align:left;"|Negros || 24% || 73,2% || 0,8%
|}
 
Segundo o sociólogo Reginald Daniel da [[Universidade da Califórnia em Santa Bárbara]], os Estados Unidos têm abandonado a rígida estratificação de "brancos" e "negros" e estão cada vez mais parecidos com o Brasil em seu modelo de classificação racial: "Com a imigração latina e o crescimento de casamentos inter-raciais, cada vez mais americanos se veem como multirraciais". Já no Brasil, tem acontecido o caminho inverso: "cresce no país o número de pessoas que se identificam como pretas ou negras e repelem termos que designam grupos intermediários, como pardo ou mestiço", explicou ele.<ref>[https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160112_neymar_racismo_jf_cc EUA caminham para modelo brasileiro de identificação racial, diz sociólogo americano]</ref>