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[[Imagem:Scriptorium.jpg|thumb|260px|[[Dionísio, o Exíguo]], monge [[Citas|cita]] (m. 540), foi o primeiro a utilizar o ano do nascimento de Cristo como referência na datação.]]
'''''Anno Domini''''' ('''''A.D.''''') é uma expressão em [[latim]] que significa
▲'''''Anno Domini''''' (expressão em [[latim]] que significa: "ano do Senhor"), também apresentado na sua forma abreviada '''''A.D.''''', é uma expressão utilizada para marcar os anos seguintes ao [[1|ano 1]] do [[calendário]] mais comumente utilizado no Ocidente, designado como "'''Era Cristã'''" ou, ainda, como "'''[[Era Comum]]'''".
== Era cronológica ==
Esta era cronológica ''("Era Cristã" ou "Era Comum")'', que é globalmente adotada, mesmo em países de cultura maioritariamente não cristã, para efeitos de unanimidade de critérios em vários âmbitos, como o científico e comercial, foi organizada de forma a contar o suposto ano do nascimento de [[Cristo]] como ano 1, marcando uma linha divisória no tempo a partir de então. A contagem dos anos assemelha-se à ordem dos [[número inteiro|números inteiros]] (com a exceção de que não existiu um ano zero - pelo que o ano {{AC|1|x}} foi imediatamente sucedido pelo ano {{DC|1|x}}), pelo que também é comum referir os anos antes de Cristo por números inteiros negativos e os anos depois de Cristo por números inteiros positivos.{{
Utiliza-se, nesta forma de datação, os calendários [[Calendário juliano|Juliano]] e [[Calendário gregoriano|Gregoriano]]. O termo ''Anno Domini'' é, por vezes, substituído pela expressão mais formal e descritiva '''''Anno Domini Nostri Iesu Christi''''' ("Ano de Nosso Senhor Jesus Cristo"). É, por vezes, ainda substituído pela expressão '''na era da Graça'''. A forma de datação segundo o ''Anno Domini'' foi primeiramente utilizada na [[Europa Ocidental]] durante o {{Séc|VIII}}. [[Portugal]] foi um dos últimos países a adotar o novo método, imposto pelo rei [[João I de Portugal|Dom João I]], a [[15 de Agosto]] de [[1422]], em substituição da "[[era de César]]". A [[Espanha]] já o usava desde meados do século precedente.{{
Nem todos os países seguem o calendário ocidental: [[judeu]]s e [[muçulmano]]s, por exemplo, organizam anos e meses de maneiras diferentes. Contudo, é o padrão internacional, sendo reconhecido por instituições internacionais como a [[Organização das Nações Unidas]] ou a [[União Postal Universal]]. Isso justifica-se tanto pelo peso da tradição ocidental quanto pelo facto de que o Calendário Gregoriano foi, durante muito tempo, considerado astronomicamente correto.{{
== Eras utilizadas pelos primeiros cristãos ==
A datação ''Anno Domini'' só foi adotada na [[Europa Ocidental]] a partir do {{Séc|VIII}}. Tal como os outros habitantes do Império Romano, os primeiros cristãos usavam diversos métodos para especificar os anos, inclusive no mesmo documento. Tal redundância tornou-se útil para os historiadores que puderam, assim, elaborar tabelas comparativas de reinados e outros períodos políticos, com dados de crónicas de diferentes regiões, sob os mesmos governantes.{{
=== Datação consular ===
Uma das formas mais comuns e mais antigas consistia na datação consular, que consistia em nomear os dois ''consules ordinarii'' que iniciavam o seu exercício a [[1 de Janeiro]] do ano civil. Por vezes, a designação para o cargo de um dos cônsules, ou mesmo dos dois, podia não ocorrer até Novembro ou dezembro do ano precedente, pelo que, como as notícias levavam meses a chegar aos pontos mais afastados do Império, existem documentos em que o ano é definido como "depois do consulado de...".{{
=== Datação a partir da fundação da cidade ===
Outro método de datação, raramente usado, consistia no ''[[anno urbis conditae]]'', ou "no ano da fundação da Cidade" (abreviadamente, AUC), sendo "a Cidade" [[Roma]]. (Note-se que, apesar de ser uma confusão
No início do {{séc|V}}, o historiador [[Península Ibérica|ibero]] [[Orósio]] usava a era ''ab urbe condita''. O papa [[Bonifácio IV]], no início do {{séc|VII}}, terá sido o primeiro a utilizar, simultaneamente, esta forma de datação, e o ''Anno Domini'', equivalendo a data de 607 = 1360 ''anno urbis conditae''.{{
=== Anos de reinado dos imperadores romanos ===
[[Imagem:Rome Statue of Augustus.jpg|thumb|250px|
Outro sistema, menos usado do que é frequente pensar-se, consistia na indicação do ano de reinado de cada [[imperador romano]]. No início, [[Augusto]] indicava os anos do seu governo contando as vezes em que foi investido no cargo de cônsul, ou as vezes em que o [[Senado de Roma]] renovava os seus privilégios tribunícios, alimentando a ideia de que os seus poderes lhe eram legitimamente adjudicados por estes órgãos de poder e não pelo fato de aproveitar o culto da personalidade de que já gozava, além do número de [[Legião romana|legiões]] sob o seu controlo. Os seus sucessores seguiram tal prática até que a memória da República Romana se foi esbatendo (nos final do {{Séc|II}} ou início do III), quando começaram a usar explicitamente o seu ano de reinado.{{
Também a pacificação de uma região por [[Augusto]] serviu como ponto de partida para um calendário. A [[Era de César|Era Hispânica]] ou
=== {{Âncora|Indicção}}Ciclos das indicções ===
Os ciclos de [[wikt:indicção|indicção]] (do [[latim]] ''indictio'') consistiam em quinze anos (cada um igual a uma ''indicção'') que marcavam um ciclo determinado por um imposto, contando-se os anos a partir da data em que este era pago. [[Jesus Cristo]] nasceu no quinto ano deste ciclo.<ref name="rutherford.995">[[Thomas Rutherford]], [http://books.google.com.br/books?id=vTBWAAAAYAAJ&pg=PA995&f=false ''A system of natural philosophy: being a course of lectures in Mechanics, Optics, Hydrostatics, and Astronomy, Volume 2''] (1748), 390. ''A indicção é um ciclo de 15 anos'', p.995</ref>
Tal sistema, usado na [[Gália]], no [[Egipto]] até à conquista Islâmica, no [[Império Bizantino|Império Romano do Oriente]] até à sua queda em [[1453]] e ainda na Santa Sé durante parte da [[Idade Média]].{{
=== Outros sistemas ===
Coexistiam, ainda vários sistemas locais de datação ou eras de alguma importância, tal como o ano de fundação de uma dada cidade, o ano de reinado dos imperadores [[Pérsia|persas]] e, mesmo, o ano de governo de um dado [[califa]]. Particularmente importantes foram a [[Selêucidas|Era dos selêucidas]] (em uso até ao {{Séc|VIII}}) e a [[Era Hispânica|Era de César]] (ou ''Era Hispânica'').{{
Da mesma forma, na Europa, até ao {{Séc|XVI}}, não existia unanimidade quanto ao primeiro dia do ano, não sendo consensual, exceto em [[Inglaterra]], datá-lo no primeiro dia de Janeiro.{{
== História ==
[[Imagem:Meister von San Vitale in Ravenna 004.jpg|thumb|180px|
Os primeiros cristãos nomeavam cada ano usando, combinadas, as datações consulares, os anos de reinado imperial e a datação a partir da [[Gênesis|criação do mundo]]. A datação consular foi extinta quando o imperador [[Justiniano I]] deixou de nomear cônsules em meados do {{Séc|VI}}. Pouco depois, tornava-se oficial a datação pelo ano de reinado imperial. O último cônsul a ser nomeado foi [[Anício Fausto Albino Basílio]] em [[541]]. A [[Santa Sé]] manteve, entretanto, um contato regular, durante a [[Idade Média]], com embaixadores do [[Império Bizantino]], pelos quais sabia com alguma certeza qual o imperador no trono, apesar do número elevado de mortes súbitas e deposições que se sucediam.{{
O sistema do ''Anno Domini'' foi desenvolvido em [[Roma]] por um monge [[Citas|cita]], [[Dionísio, o Exíguo]], em [[527]], como resultado secundário do seu trabalho no cálculo da data da [[Páscoa]] cristã. Cronistas bizantinos, como [[Teófanes, o Confessor]], mantinham, entretanto, critérios judaico-cristãos para as datas referidas nas suas crónicas universais, como a datação a partir da suposta data da criação do mundo por graça divina, de acordo com cálculos efetuados por estudiosos cristãos nos primeiros cinco séculos da Era Cristã. Tais eras, por vezes designadas como ''[[Anno Mundi]]'', "ano do Mundo" (de forma abreviada, AM), pelos acadêmicos atuais, nem sempre concordavam umas com as outras, existindo grandes discrepâncias. Nenhuma era de ''Anno Mundi'' dominava entre os vários estudiosos, ainda que a calculada por [[Eusébio de Cesareia]], historiador na época de [[Constantino I]]. [[Jerónimo de Estridão|São Jerónimo]], tradutor da [[Bíblia]] para o latim, foi um dos principais divulgadores no ocidente da era AM calculada por Eusébio. Outra era AM, especialmente adoptada no Oriente durante os primeiros séculos do Império Bizantino foi desenvolvida pelo monge [[Aniano de Alexandria]].{{
=== Sobre a data do nascimento de Jesus ===
Os cálculos feitos pelo monge [[Dionísio, o Exíguo]], para datar o nascimento de [[Jesus Cristo]] são, em geral, considerados incorretos pela maioria dos acadêmicos bíblicos, julgando-se que teria ocorrido entre 8 e {{AC|4|x}}. Sabe-se que Jesus terá nascido antes da morte de [[Herodes, o Grande]], no ano {{AC|4|x}} - ano este que é determinado pelas informações dadas por [[Flávio Josefo]] quanto aos eclipses lunares ocorridos na Páscoa e aos acontecimentos que acompanharam a sua morte, tal como foi calculado por [[Johannes Kepler|Kepler]].{{
=== Popularização
[[Imagem:Dürer karl der grosse.jpg|thumb|180px|
O primeiro historiador ou cronista a usar o Anno Domini como mecanismo de datação principal foi [[Vítor de Tununa]], escritor [[África|africano]] do {{Séc|VII}}. Poucas gerações depois, o [[historiador]] [[Anglo-saxões|anglo-saxão]] [[Beda]], que conhecia bem o trabalho de Dionísio, voltou a usar o ''Anno Domini'' na sua ''Historia eclesiástica gentis Anglorum,'' ("História eclesiástica do povo inglês) terminada em [[731]]. Foi nesta obra que se usou pela primeira vez o equivalente, em latim, de "antes de Cristo" (''Ante Christum'' - A.C.), estabelecendo o padrão da não existência de ano zero - ainda que tenha usado o zero no seu computus, ou determinação da [[Páscoa]] cristã. Tanto Dionísio como
A implantação do novo sistema foi gradual, primeiro em Itália e depois no resto do mundo cristão. A região de Inglaterra foi uma das primeiras a adotar o ''Anno Domini'', graças à influência dos missionários romanos, como se pode verificar em documentos do {{Séc|VII}}. No continente Europeu, o ''Anno Domini'' foi a era de eleição de [[Alcuíno de Iorque]], durante a [[Renascença Carolíngia]]. A adoção do novo sistema de datação por [[Carlos Magno]] e pelos seus [[Lista de reis merovíngios|sucessores]] está na origem do sucesso do mesmo nos séculos seguintes, até a época atual. Na Gália, o sistema só tornou-se vulgar a partir do ano 1000, o que justifica que os franceses usassem o termo ''millésime'' para designar os anos da era Cristã.{{
Fora do [[Império Carolíngio]], a [[Hispânia]] continuava a seguir a [[Era Hispânica]] (ou "dos Césares"), que se iniciara em {{AC|38|x}}, até bem tarde na [[Idade Média]]. A [[Era dos Mártires]], que numerava os anos a partir da ascensão ao trono de [[Diocleciano]], em [[284]], e que marcava o início da última e mais severa perseguição aos cristãos manteve-se no Oriente, sendo ainda atualmente utilizada pelos cristãos [[coptas]], bem como, durante muito tempo, pela [[Igreja Ortodoxa Etíope]]. Outro sistema recorria à datação a partir da data da crucificação de Jesus Cristo, que [[Antipapa Hipólito|Hipólito]], [[Lactâncio]], [[Agostinho de Hipona|Agostinho]] e [[Tertuliano]] situavam em {{DC|29|x}}, durante o consulado dos Gêmeos ([[Lúcio Rubélio Gêmino]] e [[Caio Fúfio Gêmino (cônsul em 29)|Caio Fúfio Gêmino]]).{{
Ainda que o ''Anno Domini'' já fosse comum no {{Séc|IX}}, a designação "antes de Cristo", ou outra equivalente só se tornou vulgar a partir do final do {{Séc|XV}}.{{
== Ver também ==
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* [[Antes do Presente]]
{{Notas}}
{{Referências}}
== Bibliografia ==
* [http://www.mar.mil.br/dhn/bhm/publicacao/download/cap19.pdf ''Medida do Tempo'' (em Pdf)]
* CUNNINGHAM, Philip A.; STARR, Arthur F.; ''Sharing Shalom: A Process for Local Interfaith Dialogue Between Christians and Jews'', Paulist Press, 1998
* DECLERCQ, Georges; ''Anno Domini: The origins of the Christian era.'', Turnhout: Brepols, 2000
* ———. ''Dionysius Exiguus and the Introduction of the Christian Era''. Sacris Erudiri 41; 2002 pp. 165–246.
* ''[http://www.newadvent.org/cathen/03738a.htm General Chronology]'' ''in'' Catholic Encyclopedia
* RIGGS, John. ''[https://web.archive.org/web/20060930095425/http://www.ucc.org/ucnews/jan03/asiseeit.htm Whatever happened to B.C. and A.D., and why?]'' - acesso a 4 de Maio de 2006
* SILVA, Isidoro R. da; ''A. D.'', ''in'' "Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira da Cultura, Edição {{Séc|XXI}}", Volume I, Editorial Verbo, Braga, Janeiro de 1998
{{Séculos}}
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[[Categoria:Termos cristãos]]
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