Guerra do Pacífico (século XIX): diferenças entre revisões

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{{Ver desambig|prefixo=Se procura|um dos teatros de operações da [[Segunda Guerra Mundial]]|Guerra do Pacífico}}
{{mais fontes|data=abril de 2016}}
{{Ver desambig|prefixo=Se procura|um dos teatros de operações da [[Segunda Guerra Mundial]]|Guerra do Pacífico}}
{{Info/Batalha
| cores = background:#c0c0c0;
| nome_batalha= Guerra nodo Pacífico
| imagem = Map of the War of the Pacific.en.svg
| legenda = Territórios pré guerra (em cores) e pós guerra (linhas em preto).
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| comandante2 = {{CHIb}} [[Aníbal Pinto]]<br />{{CHIb}} [[Domingo Santa María]]
| for1 = '''1879 (pré-guerra)''':<br />
* Bolívia: 1 687{{fmtn|1687}} homens (exército)
* Peru: 5 557{{fmtn|5557}} homens (exército), 4 navios de guerra com blindagem de metal, 7 navios de guerra de madeira, 2 barcos torpedeiros
'''1880''':<br />
25 000{{fmtn|25000}}35 000{{fmtn|35000}} homens
| for2 = '''1880''':<br />
* Exército Chileno:<br />30 000{{fmtn|30000}} soldados
* Marinha Chilena: 21 navios de guerra (incluindo 3 com blindagem de metal)
| baixas1 = 12 934{{fmtn|12934}}18 213{{fmtn|18213}} mortos<br />7 891 – 7 896 feridos
| baixas2 = 2 425{{fmtn|2425}}2 791{{fmtn|2791}} mortos<br />6 247{{fmtn|6247}}7 193{{fmtn|7193}} feridos
| notas = + 30 000{{fmtn|30000}} mortos, incluindo civis (total)
}}
A '''Guerra do Pacífico''' foi um conflito ocorrido entre 1879 e 1883, confrontando o [[Chile]] às forças conjuntas da [[Bolívia]] e do [[Peru]]. No final da guerra, o Chile anexou áreas ricas em recursos naturais de ambos os países derrotados. O Peru perdeu a província de Região de [[Tarapacá (região)|Tarapacá]], e a Bolívia teve de ceder a província de [[Região de Antofagasta|Antofagasta]], ficando sem uma saída soberana para o mar, o que se tornou uma matéria de fricção na [[América do Sul]], chegando até os dias atuais, e que é para a Bolívia uma questão nacional (a recuperação do acesso ao [[oceano Pacífico]] consta como um objetivo nacional boliviano na sua atual constituição).
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Existiam muitas controvérsias acerca dos reais limites entre os países depois da descolonização. Todas as novas nações herdaram os interesses imperialistas do já combalido império espanhol. Bolivianos e chilenos discordavam quanto à soberania da região, embora ela já estivesse sendo explorada por companhias chilenas dotadas de capital britânico. O [[Chile]] tinha uma economia mais robusta e instituições mais fortes que a maioria dos outros países latino-americanos. No entanto, quando da proclamação da independência da [[Bolívia]] por [[Simón Bolívar]], este deixou claro que ela herdara dos espanhóis uma saída soberana para o mar.
 
Somente em 1866 foi assinado um tratado entre Chile e Bolívia estabelecendo limites territoriais, fixando o 24º paralelo sul como fronteira e determinando que ambos os países dividiriam os impostos sobre os recursos situados entre o 23º e o 24º paralelos. Um segundo tratado foi assinado em 1874, cedendo os impostos sobre os produtos entre os paralelos 23º e 24º inteiramente à Bolívia, mas fixando taxas para as companhias chilenas nos próximos 25 anos seguintes. As companhias chilenas se expandiram rapidamente, controlando a indústria mineira e deixando a Bolívia temerosa da perda de seu território.
 
=== Crise e guerra ===
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* Recuperou os barcos peruanos ''Clorinda'' e ''Caquetá''
* Destruiu baterias de artilharia em Antofagasta
* Destruiu cabos de comunicação entre Antofagasta e [[Valparaíso (Chile)|Valparaíso]]
 
A marinha chilena levou um dia todo navegando com seis navios para conseguir encurralar o ''Huáscar'', e depois, duas horas de combate sangrento para captura-lo, com seus barcos ''Blaco Encalada'', ''Covadonga'' e ''Cochrane'', na [[Combate Naval de Angamos]], em 8 de outubro de 1879. Junto com o navio, morreu o almirante Grau
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Em 2 de novembro de 1879, bombardeios navais e ataques anfíbios foram direcionados ao porto de Pisagua e à enseada de Junín(cerca de quinhentos quilômetros ao norte de Antofagasta). Em Pisagua, 2 100 soldados desembarcaram e tomaram a cidade, enquanto o ataque a Junín fora menor mas bem sucedido. Ao fim do dia, o general Erasmo Escala e uma tropa de 10 mil sodados isolou a província de Tarapacá do resto do Peru.
 
O exército chileno marchou então ao sul, com cerca de 6.000{{fmtn|6000}} soldados, em direção à cidade de [[Iquique]]. Os aliados contra-atacaram com 7 400{{fmtn|7400}} soldados, causando muitas baixas em ambos os lados, no que ficou conhecido como [[Batalha de San Francisco]] (19 de novembro). Durante o confronto, as forças bolivianas bateram em retirada, forçando o exército peruano a recuar para a cidade de Tarapacá. Quatro dias depois, o exército chileno capturou Iquique, enfrentando pouca resistência.
 
O general Escala enviou então um destacamento de 3 600{{fmtn|3600}} soldados, cavalaria e artilharia para destruir o que sobrara do exército peruano, estimado em não mais do que 2.000{{fmtn|2000}} homens, mal treinados e desmoralizados. Em 27 de novembro aconteceu a [[Batalha de Tarapacá]], quando forças chilenas atacaram a província peruana, encontrando dificuldades ao perceber que as forças inimigas continuavam com o moral rígido e em número superior ao anteriormente estimado. Liderados pelo Coronel [[Andrés Avelino Cáceres|Andrés Cáceres]], o exército peruano afugentou o destacamento chileno, capturando quantias significativas de munição e suprimentos. A vitória peruana em Tarapacá teve pouco impacto no resultado da guerra, apesar de tudo. O general peruano Buendía e suas tropas tiveram de recuar para o norte (Arica), em 18 de dezembro.
 
Uma nova expedição chilena deixou Pisagua e no dia 24 de fevereiro de 1880 desembarcou com quase 12.000{{fmtn|12000}} homens na [[Baíabaía de Pacocha]]. Comandados pelo general [[Manuel Baquedano]], esta força isolou as províncias de Tacna e Arica, destruindo esperanças de novos reforços peruanos.
 
Em 7 de junho 7.000{{fmtn|7000}} soldados chilenos apoiados pela marinha atacaram com sucesso a guarnição de Arica, que estava sob o comando do coronel [[Francisco Bolognesi]]. As tropas chilenas, dirigidas pelo coronel [[Pedro Lagos]], tiveram de subir o [[Morro de Arica]], para enfrentar as tropas peruanas.
[[Imagem:Ejercito chileno en Antofagasta (1879).jpg|direita|thumbnail|250px|Tropas do [[Exército do Chile]] ocupam a cidade de [[Antofagasta]], então território da [[Bolívia]]]]
 
O ataque ficou conhecido como a ''Batalha de Arica'', que veio a ser um dos mais trágicos e ao mesmo tempo emblemático evento da guerra: Morreram 474 chilenos, enquanto quase 1.000{{fmtn|1000}} peruanos perderam a vida, incluindo o coronel Bolognesi. Outros oficiais peruanos de alta patente que também morreram foram o coronel [[Alfonso Ugarte]] e o coronel [[Mariano Bustamante]].
 
Já que o ''Morro de Arica'' era o último reduto defensivo das tropas aliadas na cidade, sua ocupação pelo Chile se tornou uma data de relevância histórica para ambos os países. Um fato que acentua a importância desta batalha na memória coletiva do Peru e do Chile é que ambos os países têm o dia de 7 de junho como uma data especial para seus militares: No Chile é o '''Dia da Infantaria''', e no Peru é o '''Dia do Juramento à Bandeira'''.
 
Em outubro de 1880, os [[Estados Unidos|EUA]] mediaram sem sucesso o conflito a bordo do navio ''USS Lackawanna'', na [[baía de Arica]], numa tentativa de por fim à guerra por meios diplomáticos. Representantes do Chile, Peru e Bolívia se encontraram para discutir as disputas territoriais, mas o Peru e a Bolívia rejeitaram a perda de seus territórios para o Chile, que abandonou a conferência. Em janeiro de 1881, o [[exército chileno]] marchou em direção a [[Lima]], capital peruana.
 
O que sobrara o exército e civis mal armados se prepararam para defender a capital. No entanto, foram derrotados nas batalhas de San Juan e [[Miraflores (distrito de Lima)|Miraflores]], e a cidade capitulou em janeiro de 1881 ante a [[Ocupação de Lima|invasão das forças]] do general Baquedano. Os subúrbios ao sul de Lima foram saqueados e queimados.
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Depois de [[Lima]], as forças chilenas continuaram avançando rumo ao norte do Peru, mas não conseguiram subjugar por completo o combalido país. Como espólio de guerra, o Chile confiscou bens da Biblioteca Nacional Peruana, levando-os para [[Santiago (Chile)|Santiago]].
 
A resistência peruana continuou por mais três anos, com aparente encorajamento estadunidense. O líder da resistência era o Generalgeneral Andrés Cáceres (apelidado de ''Mago dos Andes''), que seria mais tarde eleito presidente do Peru. Os soldados remanescentes do exército peruano, liderados por Cáceres, derrotaram o [[Exército do Chile]] em diversas ocasiões, mas após a derrota na [[Batalha de Huamachuco]], não houve mais resistência. Finalmente, em 20 de outubro de 1883, Peru e Chile assinaram o [[Tratado de Ancón]], em que a província de Tarapacá foi cedida ao Chile.
 
== Características da guerra ==
=== Controle estratégico do mar ===
O cenário da guerra entre 1879 e 1881 foi um deserto, esparsamente povoado e demasiadamente longe de grandes cidades ou centros de reabastecimento; é um local, todavia, próximo ao [[oceano Pacífico]]. Era evidente, desde o princípio, que o controle do espaço marítimo seria essencial para a vitória. O abastecimento de água, comida, munição, cavalos, ração e reforços seriam feitos muito mais facilmente por mar do que pelo deserto ou pelo alto planalto boliviano.
[[Imagem:Angamos.jpg|esquerda|thumbnail|230px|Cena da Batalha Naval de Angamos, por [[Thomas Somerscales]].]]
 
Enquanto a marinha chilena tratou de fazer um bloqueio econômico e militar sobre os portos inimigos, o Peru teve a iniciativa e utilizou sua pequena porém eficaz marinha como uma força surpresa. O Chile foi forçado a atrasar a invasão por terra em seis meses, e mudar sua estratégica naval: ao invés do bloqueio, priorizou a caça e captura do encouraçado ''Huáscar''.
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== Consequências ==
=== Termos de paz ===
Sob os termos do [[Tratado de Ancón]], o [[Chile]] ocupou as províncias de Tacna e [[Arica (província)|Arica]] por dez anos, onde depois do tempo estipulado seria realizado um [[plebiscito]] que decidiria a nacionalidade da região. Os dois países nunca concordaram com os termos do plebiscito. Finalmente, em [[1929]], sob o intermédio do presidente estadunidense [[Herbert Hoover]], um acordo foi feito no qual o Chile ficou com Arica; Oo Peru readquiriu Tacna e recebeu $6 milhões em indenizações.{{esclarecer}}
 
Em 1884, a [[Bolívia]] assinou uma trégua que deu total controle da costa pacífica ao [[Chile]], com suas valiosas reservas de [[cobre]] e [[nitratos]]. Um tratado de 1904 tornou este arranjo permanente. Em retorno, o Chile concordou em construir uma ferrovia ligando [[La Paz]], capital boliviana, ao porto de Arica, garantindo liberdade de trânsito ao comércio boliviano pelos portos chilenos.
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Para os bolivianos, a perda de um acesso soberano ao [[oceano Pacífico]] ainda é um assunto delicado, evidente durante os [[Guerra do Gás|tumultos]] internos de 2004 acerca da nacionalização das reservas de gás e na [[Eleições presidenciais da Bolívia de 2005|eleição]] de [[Evo Morales]] para a presidência da república em 2005.
 
Muitos dos problemas do país ainda são atribuídos à falta de um acesso ao mar. Em 1932, este foi um fator determinante para a [[Guerra do Chaco]], contra o [[Paraguai]], sobre territórios que davam acesso ao [[rio Paraguai]] e, por consequência, ao [[oceano Atlântico]]. Nas últimas décadas, todos os presidentes bolivianos têm feito de plataforma política pressionar o [[Chile]] por um acesso soberano ao mar. Este acesso inclusive consta como objetivo nacional da Bolívia em sua constituição, tornado-se numa área de fricção da [[América do Sul]]. Em 1976, o Chile fez uma proposta para a Bolívia cedendo-lhe um acesso ao oceano Pacífico em troca de uma área boliviana de 5.000&nbsp;{{fmtn|5000|km²}} próximo à lagoa Colorada que forneceria água em abundância para a indústrias de cobre chilena. Porém, o Peru interveio nas negociações e o acordo não deu certo. O principal jornal boliviano, ''El Diario'',<ref>{{citar web|url=http://www.eldiario.net|título=“Proceso de cambio” declarado perpetuo|primeiro =El|último =Diario|publicado=}}</ref> ainda dedica uma nota editorial por semana ao assunto. Na atualidade, oO presidente Evo Morales pretendepretendia retomar as negociações com o Chile pela via diplomática.
 
Os peruanos desenvolveram um culto aos heroicos defensores da pátria, como o almirante Miguel Grau, o coronel [[Francisco Bolognesi]], ambos mortos em batalha, e o general Andrés Cáceres, que se tornou um figura política de destaque, depois de encerrado o conflito. A derrota engendrou uma forte vontade de vingança entre as classes dominantes, levando ao fortalecimento das forças armadas durante todo o século XX.
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== Comandantes militares proeminentes ==
<!-- Sugestão: patente, nome (adicionar † se morto durante a guerra) -->
 
; Bolívia
<!-- Comentário: Sr. Avaroa, um civil, é considerado um herói nacional na Bolívia - tem um lugar na lista, mesmo não sendo militar -->
* [[Eduardo Abaroa Hidalgo|Eduardo Abaroa]] †, um engenheiro, morto enquanto liderava uma tropa de civis na [[Batalha de Topater]].
* General [[Narciso Campero Leyes]], presidente militar da Bolívia (1880-1884).
* General [[Hilarión Daza]], presidente militar da Bolívia (1876-1879).
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* Lugar-tenente coronel [[Roque Saenz Peña]], soldado argentino que serviu no exército peruano durante as batalhas de [[Batalha de Tarapaca]] e [[Batalha de Arica|Arica]], mais tarde eleito presidente da Argentina.
 
== BibliografiaVer também ==
* [[História da Bolívia]]
* [[História do Chile]]
* [[História do Peru]]
== Notas ==
# {{note|Treaty_1866}} Tratado de fronteiras de 1866 entre Bolívia e Chile ([http://es.wikisource.org/wiki/Tratados_firmados_entre_Bolivia_y_Chile#Tratado_de_l.C3.ADmites_de_1866_entre_Bolivia_y_Chile ''Tratado de límites de 1866 entre Bolivia y Chile'']) {{es}}
# {{note|Treaty_1874}} Tratado de fronteiras de 1874 entre Bolívia e Chile ([http://es.wikisource.org/wiki/Tratados_firmados_entre_Bolivia_y_Chile#Tratado_de_l.C3.ADmites_de_1874_entre_Bolivia_y_Chile ''Tratado de límites de 1874 entre Bolivia y Chile'']) {{es}}
# {{note|Treaty_1873}} Tratado de aliança defensiva de 1873 entre Bolívia e Peru ([http://es.wikisource.org/w/index.php?title=Tratado_de_Alianza_Defensiva_firmado_entre_Bolivia_y_Per%C3%BA_en_1873 ''Tratado de alianza defensiva de 1873 entre Bolivia y Perú'']) {{es}}
# {{note|Foster_p190-192}} Foster, John B. & Clark, Brett. (2003). [http://www.nodo50.org/cubasigloXXI/taller/foster_clark_301104.pdf "Ecological Imperialism: The Curse of Capitalism"] (accessed September 2, 2005). ''The Socialist Register 2004'', p190-192. Also available in print from Merlin Press. {{en}}
* Latin America's Wars. The Age of the Caudillo, 1791-1899. Robert L. Scheina. V. 1. 2003.
 
{{Referências}}
 
== Ver tambémBibliografia ==
# {{note|Foster_p190-192}}* Foster, John B. & Clark, Brett. (2003). [http://www.nodo50.org/cubasigloXXI/taller/foster_clark_301104.pdf "Ecological Imperialism: The Curse of Capitalism"] (accessed September 2, 2005). ''The Socialist Register 2004'', p190-192. Also available in print from Merlin Press. {{en}}
* [[História da Bolívia]]
* Latin America's Wars. The Age of the Caudillo, 1791-1899. Robert L. Scheina. V. 1. 2003.
* [[História do Chile]]
* [[História do Peru]]
 
== Ligações externas ==