Filosofia da história: diferenças entre revisões

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Kant seguiu um caminho análogo ao do Iluminismo francês, principalmente em relação à confiança no progresso da razão humana. No [[Aufklärung]] (''Esclarecimento'') alemão, a história era a busca humana da liberdade [[moral]] no uso pleno da razão. Essa finalidade da razão é conduzida pelos ''planos da natureza''. A natureza, como campo de atuação do ser humano, deve articular-se para o máximo da atuação humana, sendo esse o ápice do uso da liberdade e da razão. Assim, na filosofia da história de Kant, mesmo que a história da humanidade apresente traços de barbárie e regresso, essas ações também fazem parte de um ''plano da natureza'' que conduziria, mesmo que inconscientemente, à razão.{{Sfn|Menezes|2006|p=61-63}} A filosofia da história kantiana também é marcada pelo conflito entre a natureza e o individual: a natureza, ligada aos ''planos da natureza'' e ao intuito coletivo do bem-estar racional entra em conflito com o indivíduo, ganancioso e egoísta. Essa disputa constante é o que vai produzir a cultura e os valores sociais, sendo essa discórdia fundamental para o desenvolvimento do homem rumo à liberdade e à razão.{{Sfn|Batista|2014|p=4-5}}
 
Quanto a Herder, foi um dos primeiros a usar o termo filosofia da história como uma matéria independente das outras áreas da filosofia nas primeiras publicações de ''Ideias para a filosofia da história da humanidade'' (1774).{{sfn|Walsh|1978|p=7}} Entre as características da filosofia da história de Herder podemos identificar o populismo, o expressionismo e o pluralismo. No caso de Herder, o populismo enfatizava a importância do convívio coletivo mediante um grupo ou cultura específico e era uma crítica ao [[nacionalismo]] agressivo, vinculado ao [[imperialismo]] e ao [[etnocentrismo]], geradores de guerras. Herder considerava que o natural no ser humano é viver em harmonia orgânica com as diversas populações. A multiplicidade de populações não implica conflitos, pois a diversidade era algo natural.{{Sfn|Berlin|1982|p=142-149}} Já o expressionismo é a doutrina que diz que a produção do homem é uma extensão de sua personalidade, sua mente, seu sentir. Nessa doutrina, entende-se que qualquer auto-expressão do homem pode ser um tipo de arte, como a linguagem. Em Herder, a linguagem é fundamental para entender a dinâmica dos povos, pois ela é o mecanismo pelo qual damos sentido às coisas, aos sentimentos, à imaginação, à memória, criando as relações, a história e a cultura. Na medida em que os seres humanos se comunicam, também criam.{{Sfn|Berlin|1982|p=149-155}} Por último, o pluralismo pode ser identificado como a noção de que não só há múltiplas naturezas e sociedades humanas, mas que seus valores são incomensuráveis, ou seja, cada nação possui uma cultura particular e válida, não sendo passível de juízos morais que digam qual é melhor ou pior. Essa concepção vai contra a corrente da época que determinava uma natureza humana única, mediada pela razão do [[iluminismo]].{{Sfn|Berlin|1982|p=140}} De forma geral, as considerações de Herder eram feitas com base na cultura dos povos, incluindo sua linguagem, literatura, arte e história. A história, assim, funcionaria como uma educadora da humanidade ao mostrar a [[Diversidade cultural|diversidade]] e a pluralidade de povos e nações, revelando esse caráter múltiplo da humanidade ao educá-la para a vida em harmonia com as demais populações.{{Sfn|Gómez|2011|p=1-3}}
 
=== Século XIX ===
A filosofia da história ganhou uma multiplicidade de orientações no {{séc|XIX}}, como o [[idealismo]], o [[materialismo]], o [[positivismo]] e o [[historicismo]]. Além das filosofias da história metafísicas e racionalistas, como o idealismo de [[Georg Wilhelm Friedrich Hegel|Hegel]], que se prendia à força subjacente da razão na história, as filosofias da história também acompanharam mudanças da própria história enquanto [[Disciplina|gênero disciplinado]] separado da [[retórica]]. Nesse momento, as questões relacionadas à história ganharam mais peso entre os historiadores que se preocupavam não só com a filosofia da história, mas também com a própria escrita da história.{{Sfn|Reis|1996|p=5-6}} Para Allan Megill, foi no {{séc|XIX}} que começou a surgir a [[historiologia]], algo como uma filosofia da escrita da história que viria a se concretizar no século seguinte.{{Sfn|Megill|2016|p=36}}
 
Contudo, em dissonância com as principais vertentes da filosofia da história no século XIX, em ''O nascimento da tragédia'' (1872), Nietzsche propõe uma filosofia da história a ser entendida a partir do princípio de pulsão estética [[Apolíneo e Dionisíaco|apolínea e dionisíaca]]. [[Dioniso|Dionísio]] seria o impulso criativo e [[Apolo]] a representação do dionisíaco e também única forma de conhecê-lo. Ambos são indissociáveis, não há um antecessor e sucessor, são mútuos. Esses impulsos são o que constitui a natureza e tudo o que deriva dela, bem como o homem e suas sucessivas construções, o mundo e a cultura. Dessa forma, as culturas e os homens, por possuírem também a pulsão artística, estão em constante mudança conforme o tempo e o contato uns com os outros, ou seja, eles possuem uma história. Além disso, a própria história das culturas poderia ser interpretada a partir desses impulsos apolíneos e dionisíacos, como o fez Nietzsche com as culturas dos [[Grécia Clássica|helenos]], que seriam marcadas pelas características apolíneas no [[Antiguidade Clássica|período clássico]].{{Sfn|Alves|2011|p=128-132}}
 
==== Idealismo ====