Natho Henn: diferenças entre revisões

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Foi iniciado na música pela mãe e teve uma infância marcada pela pobreza, tendo de trabalhar muito cedo como pianista em clubes noturnos na cidade uruguaia de Artigas. Já mais crescido foi viver em Montevidéu, onde estudou com Willians Kokler, que fora um discípulo de [[Arthur Rubinstein]], e depois completou sua formação com Eduardo Fabini, que despertou seu interesse pelo folclore regional.<ref name="Pianta">Pianta, Dante. "Seis anos de ausência". ''Diário de Notícias'', 02/08/1954</ref>
 
Lecionou música em Quaraí e Livramento, onde fundou um conservatório. Em 1935, por ocasião das festividades do Centenário da Revolução Farroupilha em Porto Alegre, apresentou sua obra ''Páginas do Sul'', de inspiração regionalista, que foi premiada pela Prefeitura e muito aplaudida pela crítica local. Estimulado pelo sucesso, decidiu fixar residência na capital, onde passou a dar recitais e obteve o cargo de fiscal do ensino musical da Secretaria da Educação. Também começou a dar aulas, formando intérpretes que mais tarde fariam renome, como [[Maly Weisenblum]], [[Rachel Gutierrez]] e [[Roberto Szidon]].<ref name="Pianta"/>
 
Na década de 1950 era "sobejamente conhecido" no estado,<ref>"O musicista Natho Henn". ''Jornal do Dia'', 07/09/1954</ref> e até falecer ainda ministrava aulas particulares, dava recitais e concertos, e suas composições era apresentadas com alguma frequência por solistas e pela [[Orquestra Sinfônica de Porto Alegre]], sendo muito apreciadas.<ref>"Próximo concerto de Natho Henn". ''Diário de Notícias'', 10/06/1956</ref><ref name="Berry">Berry, Ruth Mary. "O notável Natho Henn foi aprendiz de ferreiro". ''Diário de Notícias'', 26/01/1958</ref><ref name="Pianta"/> Fundou e dirigiu nesta época a [[Discoteca Pública Natho Henn|Discoteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul]], onde organizava audições comentadas,<ref name="Berry"/><ref>"Vida artística". ''Jornal do Dia'', 19/05/1956</ref> além de participar da direção musical da [[Rádio da Universidade|Rádio da UFRGS]]. Ao falecer em 1958 era figura consagrada no estado. Seu obituário no Jornal do Dia dizdisse que era "dono de dotes invulgares", e "sempre recebera da crítica os mais entusiasmados elogios".<ref name="Morreu">"Morreu Natho Henn". ''Jornal do Dia'', 02/08/1958</ref> Não tendo parentes próximos, seus espólio foi vendido em hasta pública e seu acervo musical em sua maioria foi disperso. A Divisão de Cultura do Estado, contudo, conseguiu conservar seu piano, alguns livros e algumas partituras originais.<ref>"Dispersados em leilão os bens deixados pelo pianista Natho Henn". ''Diário de Notícias'', 19/10/1958</ref>
 
Comemorando o primeiro aniversário do seu desaparecimento, em 1959 o Diário de Notícias publicou matéria de página inteira chamando-o de "lenda na vida musical do Rio Grande do Sul",<ref>Nequete, Edison. "Natho Henn: legenda na vida musical do Rio Grande do Sul". ''Diário de Notícias'', 16/07/1959</ref> o [[Theatro São Pedro (Porto Alegre)|Theatro São Pedro]] inaugurou uma placa de bronze no seu saguão,<ref>"Placa de bronze para Natho Henn". ''Diário de Notícias'', 16/07/1959</ref> e a Discoteca Pública foi batizada com seu nome, reconhecendo-se a sua virtuosidade como pianista, seu "entusiasmo e brilho" no magistério, seu "indiscutível mérito" como compositor e a "magnífica originalidade ao expressar as coisas de nossa terra e de nossa gente".<ref>"Denominada Natho Henn a Discoteca Pública da Secretaria de Educação". ''Jornal do Dia'', 01/08/1959</ref> Foi homenageado em 1962 pela Prefeitura de Porto Alegre com um festival musical e uma exposição,<ref>"Homenagem a Natho Henn". ''Diário de Notícias'', 18/07/1962</ref> e no mesmo ano a Galeria de Arte de Porto Alegre instituiu um prêmio com seu nome para destacar professores de música notáveis.<ref>"Prêmio Natho Henn a professores de música". ''Diário de Notícias'', 01/04/1962</ref> e naNa década de 1970 a PUCRS instituiu um concurso nacional de piano com seu nome.<ref>Gargioni, Paulo. "Vários recitais no Juvenil". ''Pioneiro'', 16/08/1981</ref> Seu nome também batiza ruas em Porto Alegre e Viamão.
 
Estilisticamente pode ser descrito como um pós-[[música do romantismo|romântico]], mas aproveitou muito material do folclore do Rio Grande do Sul e não foi insensível a alguma influência [[modernista]].<ref name="Benetti">Benetti, Gustavo Frosi. "Renovação estética na música do Rio Grande do Sul entre as décadas de 1920 e 1940: iniciativas pontuais ou um movimento articulado?" In: ''Música em Perspectiva'', 2015; 8 (2): 107–118</ref> Deixou obra pequena mas de interesse pela sua originalidade, dedicada basicamente ao [[piano]], incluindo ''Tema com variações'', ''Pastoral'',<ref name="Berry"/> ''Feitiço'', ''A Carreta'' e ''Rolinha'',<ref name="Olinda">"Olinda Allessandrini apresenta Recital de Piano na Unisinos". ''Universia'', 24/09/2003</ref> algumas canções para voz e piano sobre textos de Edison Nequete,<ref>[http://dicionariompb.com.br/edison-nequete/dados-artisticos "Edison Nequete"]. In: ''Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira''. Instituto Cultural Cravo Albin, 2002-2020 </ref> o bailado ''Lenda do Imembuí'' e o [[poema sinfônico]] ''Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes''.<ref name="Ramos">Pagano, Leticia. ''Dicionário de Compositores, Regentes e Instrumentistas''. Santos, 2019, p. 261</ref> [[Armando Albuquerque]], que revisou e anotou suas peças de piano,<ref name="Benetti"/> assim se referiu a ele:
 
::"Suas grandes preocupações, como intérprete: o som e o fraseio musical, ambos estes elementos se coordenavam, eram fundidos pela sensibilidade do artista, alcançando a forma perfeita, a que vem envolta em beleza, que acaricia e empolga. Sua obra como compositor, por outro lado, atesta suas qualidades criadoras. Transpôs para a pauta musical uma boa parte da riqueza do nosso folclore, que conhecia pelo contato direto com as populações da campanha rio-grandense. Mas foi, principalmente, um inventor de melodias, um pesquisador de sonoridades. [...] Numa linguagem musical simples — expressão de um gosto exigente — Natho vazou sua lírica, sua musicalidade, seu ímpeto artístico. E por tão bem ter sabido interpretar a terra natal, a obra que produziu perdurará, como perduram, na alma do povo, as histórias e gestos, seus heróis e seus cantores".<ref>Albuquerque, Armando. "O musicista Natho Henn". ''Jornal do Dia'', 23/08/1963</ref>