Alexandra Feodorovna (Alice de Hesse e Reno): diferenças entre revisões

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Numa carta dirigida à rainha Vitória, a princesa Alice escreveu que a sua quarta filha era uma menina ''doce e alegre. Está sempre a rir-se e a mostrar uma covinha numa bochecha''.<ref>Massie, Robert K., "''Nicholas and Alexandra''", Dell Publishing, Nova Iorque, 1967</ref> Devido à sua disposição alegre, quase desde que nasceu, deram-lhe a alcunha de ''Sunny'' (algo como, "cheia de sol"). Ao contrário da sua mãe Vitória, Alice envolvia-se muito na educação dos filhos, prestando atenção e relatando cada pormenor do seu desenvolvimento. Era uma mulher pouco comum para o seu tempo, uma vez que se dedicava ao estudo de anatomia e se informava sobre métodos de educação de crianças de forma a poder cuidar dos seus filhos da melhor forma possível caso estes passassem pelas inevitáveis doenças de infância. Embora se dedicasse de corpo e alma aos seus filhos, Alice não acreditava que os devia "mimar" demasiado. Os escassos recursos económicos da família, em comparação com outras casas reais europeias, obrigavam-na a economizar nos gastos.
 
Em novembro de 1878, Hesse-Darmestádio foi atingida por uma onda de [[difteria]]. A própria Alice, as suas irmãs [[Vitória de Hesse e Reno|Vitória]], [[Irene de Hesse e Reno|Irene]] e [[Maria de Hesse e Reno|May]] e o irmão [[Ernesto Luís, Grão-Duque de Hesse|Ernie]] foram afectados. Enquanto as suas irmãs e irmão recuperaram, a pequena May de 4 anos não resistiu, acabando por morrer pouco antes do final do mês. Entretanto, a sua mãe, agora sob o título de grã-duquesa de Hesse, acabou também por ser afectada depois de cuidar do seu filho Ernie quando ele ficou doente. Quando a pequena Alice tinha apenas 6seis anos de idade, a sua mãe morreu no dia 14 de dezembro de 1878, exactamente 7sete anos depois da morte do príncipe [[Alberto de Saxe-Coburgo-Gota|Alberto]].
 
A princesa Alice tornou-se muito próxima da sua avó materna, passando grande parte da sua infância no [[Reino Unido]] entre as propriedades do [[Castelo de Balmoral]], na [[Escócia]], da Casa Osborne e da Ilha de Wright. Quando era mais nova, tinha a alcunha de ''Sunny'', mas após a morte da sua mãe e da irmã mais nova, ela tornou-se mais amarga e solitária. Em 1892, quando tinha 20 anos, o seu pai morreu e o seu irmão, [[Ernesto Luís, Grão-Duque de Hesse|Ernesto Luís]], sucedeu-o como Grão-Duque de Hesse e do Reno.
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== Juventude e perspectivas de casamento ==
[[Imagem:Alix and Nicky formal in 1894.jpg|thumb|left|upright=1.0|Alexandra e Nicolau em 1894]]
Alice casou-se relativamente tarde tendo em conta a idade própria para casar da altura, principalmente por ter recusado casar-se com o príncipe [[Alberto VitorVítor, Duque de Clarence e Avondale|Alberto Vítor]], Duque de Clarence (filho mais velho do príncipe [[Eduardo VII do Reino Unido|Eduardo]]), apesar da forte pressão familiar. Há quem diga que a rainha [[Vitória do Reino Unido|Vitória]] queria que os seus dois netos se casassem, mas como gostava muito de Alice, aceitou a sua decisão. A velha rainha chegou mesmo a afirmar que estava orgulhosa da sua neta por esta a enfrentar, algo que muitas pessoas, incluindo o seu próprio filho, não se atreviam a fazer.<ref>Pope-Hennesy, James ''Queen Mary'' (1960) p.183</ref>
 
Alice, contudo, tinha já conhecido e estava apaixonada pelo czarevich [[Nicolau II da Rússia|Nicolau]], cuja mãe era cunhada do seu tio, o príncipe [[Eduardo VII do Reino Unido|Eduardo]] e cujo tio, o grão-duque [[Sérgio Alexandrovich da Rússia|Sérgio Alexandrovich]], era casado com a sua irmã [[Isabel Feodorovna]]. Além disso, ambos eram primos em segundo grau, uma vez que eram bisnetos da princesa [[Guilhermina de Baden]] (o avô paterno de Alice, [[Carlos de Hesse e Reno]], era irmão da avó paterna de Nicolau, a czarina [[Maria Alexandrovna (Maria de Hesse e Reno)|Maria Alexandrovna]]).
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Alexandra Feodorovna tornou-se imperatriz da Rússia no dia do casamento, no entanto a coroação oficial decorreu apenas no dia 14 de maio de 1896 no interior do [[Kremlin]] de [[Moscovo]].
 
No dia seguinte, a tragédia atingiu as celebrações da coroação quando se tornaram conhecidas as mortes de vários milhares de pessoas. As vítimas morreram no Campo de Khodynka em [[Moscovo]] quando pensaram que não haveria presentes comemorativos da coroação para todos. Quando a polícia chegou, o campo parecia um campo de batalha. Nessa tarde os hospitais da cidade estavam sobrelotados com feridos e todos sabiam o que tinha acontecido. Nicolau e Alexandra ficaram chocados e o novo czar declarou que não podia ir ao baile organizado pelo embaixador francês, Marquis da Montebello nessa noite. No entanto os seus tios imploraram-lhe para o fazer, pois, caso contrário, ofenderia os franceses. Tragicamente, como aconteceria muitas vezes ao longo do seu reinado, Nicolau assentiu e foi ao baile com a sua esposa. Sergio Witte comentou:''Estávamos à espera que a festa fosse cancelada, mas em vez disso, decorreu na mesma, como se nada tivesse acontecido e o baile foi aberto por Suas Majestades a dançar graciosamente.''<ref name="Massie, R p.80">Massie, R, ''Nicholas and Alexandra'', p.80</ref>
 
Foi uma noite dolorosa. ''A imperatriz apareceu em grande angústia, com os olhos avermelhados das lágrimas'', escreveu o embaixador britânico à rainha [[Vitória do Reino Unido|Vitória]].<ref name="Massie, R p.80"/> Muitos russos mais supersticiosos, viram o desastre do campo Khodynka como um presságio de que o reinado seria infeliz. Outros, mais sofisticados ou mais vingativos, usaram a tragédia para expor a falta de humanismo da autocracia e a completa superficialidade do jovem czar e da sua "mulher alemã".<ref>Massie, R, ''Nicholas and Alexandra'', p.81</ref>
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Durante um baile, Alexandra reparou numa jovem mulher que, na sua opinião, tinha o decote demasiado baixo. Uma dama-de-companhia foi enviada a essa mulher e disse-lhe: ''Minha senhora, Sua Majestade deseja informá-la de que em Darmestádio, não usamos os nossos vestidos dessa maneira.'' A mulher respondeu, ''A sério?'', ao mesmo tempo que puxava o decote um pouco mais para baixo. ''Então, por favor, diga à Sua Majestade que na Rússia, é assim que usamos os vestidos.''<ref name="King, G, The Last Empress, p.93">King, G, ''The Last Empress'', p.93</ref>
 
Alexandra fez poucas tentativas para formar laços de amizade com os outros membros da grande família [[Romanov]] e, regra geral, frequentava o menor número de ocasiões da corte possível. A imperatriz era comparada negativamente em relação à mãe do czar, [[Maria Feodorovna (Dagmar da Dinamarca)|Maria Feodorovna]], filha do rei [[Cristiano IX da Dinamarca]] e irmã mais nova de [[Alexandra da Dinamarca|Alexandra]], Princesa de Gales.<ref name="King, G, The Last Empress, p.93"/> Na Rússia, Maria Feodorovna, ofuscava a sua nora, ao contrário do que acontecia na maioria das cortes europeias. A atitude teimosa de Alexandra não lhe permitia que aprendesse nada com a sua experiente sogra, que a poderia ter ajudado muito. Maria Feodorovna tinha vivido na Rússia durante 17 anos antes de subir ao trono, enquanto que Alexandra tinha passado pouco mais de um mês no país antes de se casar. A tia da czarina, [[Vitória, Princesa Real do Reino Unido|Vitória]], disse numa carta à rainha [[Vitória do Reino Unido|Vitória]] que ''Alice é muito autoritária e insiste em ter tudo feito à maneira dela. Ela nunca vai conseguir manejar nem um pouco do poder que ela acha que tem…''<ref name="King, G, The Last Empress, p.93"/>
[[Imagem:Family Tsar in 1904.jpg|thumb|right|upright| Alexandra e Nicolau com os filhos Tatiana, Maria, Anastásia, Olga e Alexei.]]
 
A incapacidade de Alexandra em gerar um herdeiro para o trono russo nas suas primeiras quarto tentativas foi fonte de grande desapontamento.
 
Alexandra era fervorosamente protectora do papel do seu marido como czar e apoiava activamente o seu direito de governar de forma [[Autocracia|autocrática]]. Ela defendia o seu direito divino e acreditava ser desnecessário pensar na aprovação de outras pessoas.<ref name="Massie, R p.186"/>
 
== Relacionamento com os filhos ==
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[[Imagem:Alix háború.jpg|thumb|left|upright| Alexandra no seu uniforme de enfermeira durante a [[Primeira Guerra Mundial]]]]
 
O rebentar da [[Primeira Guerra Mundial]] foi um momento crucial para a Rússia e para Alexandra. A guerra devastou o império da dinastia [[dinastia Romanov]] contra o [[Império Alemão]] da [[dinastia Hohenzollern]], muito mais forte.<ref>The Last Tsar by Virginia Cowles, p.4</ref> Quando Alexandra soube das mobilizações russas, entrou de rompante no escritório do seu marido. [[Anna Vyrubova]], uma amiga da imperatriz, sentou-se do lado de fora, à espera, ouvindo as vozes zangadas a sair da sala e que se exaltavam cada vez mais à medida que o tempo passava. A meio da conversa, a porta abriu-se e Alexandra saiu, com Anna a correr atrás de si. Quando chegou ao quarto, encontrou Alexandra deitada na cama, a chorar histericamente, ''Guerra! E eu nem sequer sabia! Isto é o fim de tudo!''<ref>King, G, ''The Last Empress'', p.213</ref>
 
O Ducado de Hesse, governado pelo seu irmão [[Ernesto Luís de Hesse|Ernesto Luís]], fazia parte do [[Império Alemão]] e era, claro, o local de nascimento de Alexandra. Este facto fez com que ela se tornasse ainda mais odiada pelo povo russo, que a acusava de colaborar com os alemães.<ref>The Last Empress by Greg King p.223</ref> Para piorar as coisas, o kaiser [[Guilherme II da Alemanha|Guilherme II]] era primo directo de Alexandra. Ironicamente, a única coisa que a czarina e a sogra, [[Maria da Dinamarca|Maria Feodorovna]] tinham em comum era o grande ódio que sentiam pelo kaiser alemão.
 
Quando o czar viajou para a linha da frente em 1915 para se encarregar pessoalmente do comando do [[Exército da Rússia]], deixou Alexandra responsável pela regência de [[São Petersburgo]]. O seu cunhado, o grão-duque [[Alexandre Mikhailovich]], disse, ''Quando o imperador foi para a guerra, claro que ficou a sua mulher a governar em vez dele.''<ref name="King, G p.244">King, G, ''The Last Empress'', p.244</ref>
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Alexandra ficou assim numa situação perigosa, como esposa do czar deposto, odiada pelo povo russo. Nicolau recebeu finalmente autorização para regressar ao [[Palácio de Alexandre]] em [[Tsarskoye Selo]] onde ficou sob prisão domiciliária juntamente com a sua família. Apesar do facto de ser primo tanto de Alexandra como de Nicolau, o rei [[Jorge V do Reino Unido]] recusou-se a deixar com que a família fosse evacuada para o seu país, uma vez que tinha receio da má fama da família no seu país e que a sua presença pudesse ter repercussões no seu trono.<ref>Tames, R, ''Last of the Tsars'', p.57</ref>
 
O governo provisório, formado depois da revolução, manteve Nicolau, Alexandra e os seus filhos limitados à sua residência no Palácio de Alexandre em CzarskoeTsarskoye Selo, até serem deslocados para [[Tobolsk]] a 1 de agosto de 1917, uma decisão tomada pelo governo de [[Alexander Kerensky]] com o objectivo de manter a família afastada da capital e do perigo. De Tobolsk, Alexandra conseguiu enviar uma carta à sua cunhada [[Xenia Alexandrovna da Rússia|Xenia Alexandrovna]] que se encontrava na [[Crimeia]],
 
''Minha querida Xenia, Os meus pensamentos estão contigo, imagino que, contigo, esteja tudo mágico, bom e bonito – tu és as flores. Mas é indescritível como tudo é doloroso aqui, não consigo explicar. Estou feliz por ti que estás novamente reunida com a tua família de quem tinhas sido separada. Gostaria de ver a [[Olga Alexandrovna|Olga]] (irmã do czar casada durante o exílio da família) na sua nova felicidade. Todos estão saudáveis, mas eu, durante as últimas 6 semanas, tenho tido dores insuportáveis na cara por causa do meu maxilar. Muito tormentoso…''
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Alexandra e a sua família permaneceram em Tobolsk até depois da [[Revolução de Outubro]], mas acabaram por ser deslocados pelos [[bolcheviques]] para a cidade de [[Ecaterimburgo]] em abril de 1918. Alexandra e Nicolau acabaram por fazer a viagem em primeiro lugar com a sua filha [[Maria Nikolaevna|Maria]] e chegaram à Casa Ipatiev no dia 30 de abril de 1918.
 
Quando entraram na sua nova prisão, foi-lhes ordenado que abrissem a sua bagagem. Alexandra protestou imediatamente. Nicolau tentou defendê-la afirmando: ''Até agora temos sido tratados educadamente por homens que eram cavalheiros, mas agora…''<ref name="King, G p.344">King, G, ''The Last Empress'', p.344</ref> O antigo czar foi rapidamente interrompido e informado pelos guardas de que já não se encontrava em CzarskoeTsarskoye Selo. Qualquer recusa ao cumprimento das regras resultaria na sua separação do resto da família, uma segunda ofensa seria recompensada com trabalho pesado e, partir daí, a sentença era a morte. Temendo pela segurança do marido, Alexandra desistiu rapidamente e permitiu que a revistassem. Na parede daquele que seria o seu último quarto, Alexandra desenhou uma [[suástica]], o seu símbolo preferido de boa sorte e escreveu debaixo a data 17/30 de abril de 1918.<ref name="King, G p.344"/> Em maio, o resto da família chegou a [[Ecaterimburgo]]. Alexandra ficou feliz por ter a sua família novamente reunida.
 
=== Vida em Ecaterimburgo ===
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Alexandra assistiu à morte do marido e de dois servos antes do comissário Peter Ermakov a matar com uma bala que perfurou o lado direito da sua cabeça antes de a permitir fazer o sinal da cruz. Ermakov, bêbado, apunhalou o seu cadáver e o do seu marido, partindo-lhes várias costelas. Alexandra estava deitada junto ao seu marido Nicolau, banhada numa poça de sangue.<ref>King, G, ''The Last Empress'', p.364</ref>
 
Alexandra Feodorovna morreu aos 46 anos de idade. Encontra-seEstá sepultada na [[Fortaleza de São Pedro e São Paulo]], [[São Petersburgo]] na [[Rússia]].<ref>{{findagrave|8391065}}</ref>
 
== Canonização ==
{{principal|Canonização dos Romanovs}}Em 2000, [[Alexandra Feodorovna]] e sua família foram canonizados como [[Portador da Paixão|Portadores da Paixão]] pela [[Igreja Ortodoxa Russa]]. A família foi anteriormente canonizada em 1981 pela Igreja Ortodoxa Russa no exterior como [[neomártir]]es. Os corpos do czar Nicolau II, da czarina Alexandra e de três filhas foram finalmente enterrados na Catedral de São Pedro e Paulo em São Petersburgo em 17 de julho de 1998, oitenta anos após seu assassinato.<ref>Shevchenko, Maxim (2000) "The Glorification of the Royal Family" Nezavisimaya Gazeta url=http://www.struggler.org/GlorificationOfTheRoyalFamily.html {{Wayback|url=http://www.struggler.org/GlorificationOfTheRoyalFamily.html |date=20050824094901 }}</ref><ref>{{citar web |url = http://www.pravoslavie.ru/english/tsarcanonization.htm |obra = |autor = |título = GROUNDS FOR CANONIZATION OF THE TSAR FAMILY |língua = inglês |data = |acessodata = 28/06/2013 |publicado = Pravoslavie |arquivourl = https://web.archive.org/web/20090526060208/http://www.pravoslavie.ru/english/tsarcanonization.htm |arquivodata = 2009-05-26 |urlmorta = yes }}</ref>
 
== Títulos e honrarias ==
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=== Títulos e estilos ===
*6 de junho de 1872 – 2 de novembro de 1894: [[Sua Alteza Grão-ducal]], a princesa Alice de Hesse e do Reno
*2 de novembro de 1894 – 5 de novembro de 1894: [[Sua Alteza Imperial]], a Grãgrã-duquesa Alexandra Feodorovna da Rússia
*5 de novembro de 1894 – 15 de março de 1917: [[Sua Majestade Imperial]], a Imperatriz de Todas as Rússias
**15 de março de 1917 – 17 de julho de 1918: Alexandra Feodorovna Romanova
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== Descendência ==
[[Ficheiro:Russian Imperial Family 1913.jpg|centro|miniaturadaimagem|500x500px|''A Famíliafamília Imperialimperial Russa''russa em 1913 no [[Palácio de Livadia]]. Esquerda para direita: Olga, Maria, Nicolau II, Alexandra Feodorovna, Anastácia, Alexei e Tatiana.]]
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