Getz/Gilberto: diferenças entre revisões

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O [[jazz]], por sua vez, sofria uma grave crise comercial e artística por conta do advento, no final dos anos 50 e início dos anos 60, de outros gêneros populares como o [[rock 'n roll]] e buscava desesperadamente uma renovação.<ref name="andre">Scarabelot, 2005, p.5.</ref><ref>Carlos Eduardo Lima, "[http://www.monkeybuzz.com.br/artigos/11442/50-anos-de-getz-gilberto---quando-a-bossa-nova-conquistou-a-america/ 50 anos de Getz/Gilberto - Quando a Bossa Nova Conquistou a América]". Monkey Buzz, 25/07/2014. Acesso: 15 de agosto, 2015.</ref> Em 1961, [[Tony Bennett]] fez viagem ao Brasil junto com o baixista [[Don Payne]] e ambos entraram em contato com a moderna música popular brasileira. Payne levou vários discos brasileiros quando retornou para os Estados Unidos e os mostrou para seu colega e vizinho Stan Getz.<ref>Mello, 2002.</ref> Não demorou muito para Getz se entusiasmar pela sonoridade da bossa nova: o lançamento do disco ''[[Jazz Samba]]'' e ''[[Big Band Bossa Nova (álbum de Stan Getz)|Big Band Bossa Nova]]'', ambos de 1962, atestam isso. A eferverscência era tanta que ''[[Big Band Bossa Nova]]'' foi título de outros três discos lançados em 1962: por [[Quincy Jones]], outro de [[Oscar Castro-Neves]] e um de [[Enoch Light]].
 
''Jazz Samba'', com participação de [[Charlie Byrd]], vendeu um milhão de cópias rapidamente.<ref>Castro, 1990.</ref>{{Nota de rodapé|Além disso, a versão de Getz e Byrd para "[[Desafinado]]" permaneceu setenta semanas nas paradas de sucesso da [[Billboard]] naquele ano de 1962.<ref name="andre" />}} Apesar dode o álbum receber repercussão positiva das resenhas críticas dos Estados Unidos, a pressa dos músicos em aprender o gênero brasileiro e também a avidez da gravadora por novidades estrangeiras fez com que muitas das canções tivessem erros graves de melodia e harmonia.<ref name="bollos58">Bollos, p.58.</ref>{{Nota de rodapé|Para se ter uma ideia, a partitura de "[[Desafinado]]" expressa no ''[[The New Real Book]]'' (1995), compêndio de grandes clássicos do jazz e da bossa, é a gravação cheia de erros do disco ''Jazz Samba'', ou seja, a música ainda corre o risco de ser aprendida erroneamente por estudantes e músicos em geral.<ref name="bollos58" />}} Houve um terceiro lançamento, ''[[Jazz Samba Encore!]]'', finalmente com um brasileiro, o cantor e violinista [[Luiz Bonfá]], que vendeu bem,{{Nota de rodapé|''Jazz Samba Encore!'' ficou 88º lugar nas paradas, em 11 semanas—esses três discos não concorreram em uma raia à parte, mas com outros lançamentos de gêneros com maior apelação midiática e popular, daí a "boa" colocação.<ref name="ruycastrobrasileiros" />}} mas a "trilogia" não satisfez os produtores comercialmente a ponto de competir com [[Elvis Presley]], [[Bobby Darin]], [[Pat Boone]], [[Henry Mancini]] e outros.<ref name="ruycastrobrasileiros">[[Ruy Castro]], "[http://brasileiros.com.br/2008/06/anatomia-de-um-disco/ Anatomia de um disco] {{Wayback|url=http://brasileiros.com.br/2008/06/anatomia-de-um-disco/ |date=20170811010357 }}". [[Revista Brasileiros]], 26/06/2008. Acesso: 15 de agosto, 2015.</ref>
 
Somente em 21 de novembro de 1962 o público norte-americano pôde ouvir a bossa nova ser tocada pelos próprios inventores brasileiros. O concerto Bossa Nova - New Brazilian Jazz, realizado no [[Carnegie Hall]], contou com a participação de João Gilberto, [[Tom Jobim]], Bonfá, [[Roberto Menescal]], [[Sérgio Mendes]], entre outros.<ref name="bollos56" /> De acordo com a crítica musical Liliana Harb Bollos,<ref name="bollos56" /> este concerto tinha "a função de divulgar a música popular brasileira na capital do jazz." Nessa época, a bossa nova já estava no fim de seu auge no Brasil, mas começava a efervescer no exterior.<ref>Ariza, 2006, p.31. </ref> Por conta disso, depois do concerto no Carnegie Hall, o produtor [[Creed Taylor]] considerou necessário o encontro entre Jobim e Gilberto com Getz para um registro histórico de execução do gênero,<ref name="rollingstonebra">Antônio do Amaral Rocha, "[http://rollingstone.uol.com.br/listas/os-100-maiores-discos-da-musica-brasileira/bigetzgilberto-gil-featuring-c-jobimi-stan-getz-joao-gilberto-e-antonio-carlos-jobim-1963-verveb/ Listas - Os 100 Maiores Discos da Música Brasileira - Getz/Gilberto Gil Featuring A. C. Jobim - Stan Getz, João Gilberto e Antonio Carlos Jobim (1963, Verve)]" (2007). Acesso: 15 de agosto, 2015.</ref><ref name="gazetadopovo">Roberto Muggiati, "[http://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/ha-50-anos-era-gravado-getzgilberto-o-lp-que-colocou-o-brasil-no-mapa-azyprk2lwl6vdp6b8crf8vrym Há 50 anos era gravado Getz/Gilberto o LP que colocou o Brasil no mapa]" (15/03/2013). [[Gazeta do Povo]], Caderno G. Acesso: 13 de agosto, 2015. </ref> o que veio se concretizar em 1963 com ''Getz/Gilberto'', lançado cinco anos depois do surgimento da bossa nova no Brasil.<ref>Ariza, 2006, p.75.</ref>
 
==Gravação e análise musical==
As gravações ocorreram em dois dias iniciados numa segunda-feira de manhã em 18 de março de 1963 em [[Nova York]] e terminadoterminados no dia 19.<ref name="pinheiro">Marcelo Pinheiro, "[http://brasileiros.com.br/2014/03/getzgilberto-50-anos-de-um-classico/ Getz/Gilberto: 50 anos de um clássico]". [[Revista Brasileiros]] (20/03/2014). Acesso: 12 de agosto, 2015. </ref> O mentor do projeto, [[Creed Taylor]], produziu o disco com Getz pela [[Verve Records]].<ref>Cunha, 2014, p. 40.</ref> A seção rítmica foi formada por Jobim no [[piano]], [[Milton Banana]], considerado o pai da batida de bossa nova na bateria,<ref name="pinheiro" /> e [[Sebastião Neto]], baixista, que terminou não saindo nos créditos por ser contratado da gravadora Audio Fidelity.{{Nota de rodapé|Com isso, o contrabaixista creditado em ''Getz/Gilberto'' foi Tommy Williams, músico regular de Getz que, no entanto, não participou das gravações.<ref name="ruycastrobrasileiros" /><ref name="souteiro">{{en}} [http://www.bjbear71.com/Wanderley/Other-pdfs/Trip-to-Brazil-1/Trip-7.pdf Comentários de Arnaldo Souteiro na compilação de 2004, mencionando o crédito errôneo]. Acesso: 12 de agosto, 2015.</ref> Ver também: Castro, 1990. Registros fotográficos das sessões de gravação comprovam Sebastião Neto como baixista.}} Assim como também ocorreu em ''[[Cannonball's Bossa Nova]]'' (1962), parceria do saxofonista norte-americano [[Cannonball Adderley]] com o grupo do pianista brasileiro [[Sergio Mendes]], a seção rítmica de ''Getz/Gilberto'' toca no típico [[Compasso (música)#Compasso binário|ritmo binário]] próprio do samba/bossa, mas os solistas, neste caso Getz, tendem para a [[Compasso (música)#Compasso quartenário|divisão quartenáriaquaternária]] vinda da tradição jazzística.<ref>Fabris, 2006, p.19.</ref>
[[Imagem:Contracapagetzgilberto.jpg|300px|thumb|Contracapa: [[João Gilberto]], [[Tom Jobim]] e [[Stan Getz]] ensaiam em 1964. Foto: [[David Drew Zingg]].]]
Astrud Gilberto, que nunca havia cantado profissionalmente antes, aceitou entrar no disco a convite do seu então marido João Gilberto.<ref name="dinizsoares6">Diniz e Soares, 2012, p.6.</ref><ref name="oglobo">Leonardo Lichote, "[http://oglobo.globo.com/cultura/disco-getz-gilberto-completa-50-anos-se-mantem-influente-7599249 Disco Getz/Gilberto completa 50 anos e se mantém influente]. ''[[O Globo]]'', 17/02/2013. Acesso: 12 de agosto, 2015.</ref><ref name="gazetadopovo" /> Ela participa das faixas "[[The Girl from Ipanema]]" e "[[Corcovado (canção)|Corcovado]]". Assim como ele, Astrud assume um estilo vocal sóbrio e quase sussurrado, sem excessos, que configuraria o vocal feminino na bossa nova.<ref name="dinizsoares6" /> Nos três primeiros discos de João Gilberto—''[[Chega de Saudade (álbum)|Chega de Saudade]]'', ''[[O Amor, o Sorriso e a Flor]]'' e ''[[João Gilberto (álbum de 1961)|João Gilberto]]''—o [[vibrato]] não é eliminado completamente como ocorre neste que os sucede.<ref>Pianta, 2010, p.57. </ref> As características típicas do gênero, tais como despojamento, contenção e objetividade da interpretação a serviço da composição, são potencializadas em ''Getz/Gilberto'' como consequência positiva desses três primeiros lançamentos.<ref>Pianta, 2010, p.17. </ref>
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As faixas 9 e 10 são ''[[single]]s'' lançadas como bônus no relançamento do álbum no formato de [[CD]] em 1997.<ref>[http://www.discogs.com/Stan-Getz-Jo%C3%A3o-Gilberto-Featuring-Antonio-Carlos-Jobim-Getz-Gilberto/release/1281346 Stan Getz / João Gilberto Featuring Antonio Carlos Jobim ‎– Getz / Gilberto]. ''discosg.com''. Acesso: 15 de agosto, 2015.</ref> A versão em ''single'' de "The Girl from Ipanema" teve os vocais de João Gilberto cortados, ficando apenas os de Astrud.<ref name="gazetadopovo" /> O primeiro relançamento em CD ocorreu em julho de 1994 pela [[Verve Records]].<ref>[http://www.discogs.com/Stan-Getz-Jo%C3%A3o-Gilberto-Featuring-Antonio-Carlos-Jobim-Getz-Gilberto/release/1927011 Stan Getz / João Gilberto Featuring Antonio Carlos Jobim ‎– Getz / Gilberto]. ''discosg.com''. Acesso: 15 de agosto, 2015.</ref>
 
Há uma versão que foi lançadolançada folheadofolheada em ouro 18 k.
 
==Créditos==
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* Produção: [[Creed Taylor]]<ref name="discogs" />
 
Os relançamentos creditam erroneamente Tommy Williams como baixista.<ref>Ver Castro, 1990. Registros fotográficos das sessões de gravação comprovam Sebastião Neto como baixista.</ref><ref name="souteiro" /> e [[Dori Caymmi]], filho de Caymmi, como compositor de "Doralice".<ref>[http://www.allbrazilianmusic.com/en/artists/Artists.asp?Status=ARTISTA&Nu_Artista=186 Dorival Caymmi]. ''allbrazilianmusic.com'' Acesso: 15 de agosto, 2015. </ref>
 
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