Dialeto baiano: diferenças entre revisões

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O [[dialeto baiano]] é classificado como um dialeto brasileiro meridional (juntamente com o fluminense, o mineiro e o sertanejo) com características intermediárias entre os dois grupos<ref>{{Citar periódico |ultimo=Romano |primeiro=Valter Pereira |ultimo2=Romano |primeiro2=Valter Pereira |data=2018-06 |titulo=Brazilian lexical areas: a new approach regarding the proposal of Antenor Nascentes in data of the Linguistic Atlas Project of Brasil |url=http://www.scielo.edu.uy/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S2079-312X2018000100113&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |jornal=Lingüística |volume=34 |numero=1 |paginas=113–143 |doi=10.5935/2079-312x.20180007 |issn=2079-312X}}</ref>, enquanto o [[Dialeto nordestino|Dialeto Nordestino]], [[Dialeto recifense|Recifense]], [[Dialeto da costa norte|Costa Norte]] e [[Amazofonia|Nortista]] são classificados como setentrionais<ref name=":0">{{Citar periódico |ultimo=Meireles |ultimo6=Scherre |ultimo2=Gambarini |primeiro2=Viviany de Paula |ultimo3=Scherre |primeiro3=Maria Marta Pereira |ultimo4=Meireles |primeiro4=Alexsandro Rodrigues |ultimo5=Gambarini |primeiro5=Viviany de Paula |primeiro=Alexsandro Rodrigues |data=2017-03 |primeiro6=Maria Marta Pereira |titulo=Análise acústica e sociolinguística das vogais médias pretônicas faladas em Montanha – ES |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-77262017000100058&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |jornal=Letras de Hoje |lingua=pt |volume=52 |numero=1 |paginas=58–67 |doi=10.15448/1984-7726.2017.1.25360 |issn=1984-7726}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://alib.ufba.br/divisao-dialetal |titulo=Divisão dialetal {{!}} Projeto Atlas Linguí­stico do Brasil |acessodata=2020-08-24 |website=alib.ufba.br}}</ref>.
 
Foi um dos primeiros dialetos eminentemente brasileiros. Sua formação deu-se graças a influência de [[Salvador (Bahia)|Salvador]],<ref name="Portal Educar" /> a primeira sede do [[Brasil Colônia]], que abrigava a maioria das instituições administrativas do Brasil no período colonial, e por isto sempre sofreu influências de diversas ondas migratórias e contatos com diversos povos, desde [[europeu]]s, até [[povos indígenas do Brasil|indígenas]] e [[africano]]s, sendo dialeto brasileiro regional com a maior influência destes últimos, sobretudo em relação ao léxico e à entonação. Com o passar dos anos ganhou identidade própria e acabou influenciando na formação de alguns outros do país, com exceção do [[dialeto nordestino|nordestino]] que tem raiz no [[Recife]].<ref name="Portal Educar" /><ref>{{citar web|url=http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/edicoesanteriores/4publica-estudos-2006/sistema06/shl.pdf |título=Sobre as vogais pré-tônicas no Português Brasileiro |publicado=Universidade Federal de Minas Gerais |autor=LEE, Seung Hwa.}}</ref>
 
Atualmente é considerado um dialeto muito rico socioculturalmente,<ref name="Unimep">{{citar web|url=http://www.unimep.br/phpg/mostraacademica/anais/7mostra/4/282.pdf |título=O Dialeto Baiano |publicado=UNIMEP}}</ref> mas estigmatizado,<ref name="Unimep"/> principalmente pela mídia brasileira, que chega a ridicularizá-lo; em certas ocasiões.<ref name="Unimep"/> Todavia, tal como ocorre em outros lugares, o dialeto baiano é um dos elementos centrais da identidade baiana e motivo de orgulho para muitos baianos.<ref>CASTRO, Jânio.
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musicalidade: um olhar geográfico". In: GeoTextos, vol. 10, n. 1, jul. 2014, pp 107-109.</ref>
 
Tem como costume abreviar palavras e acabar criando outras com significado que pode ser até diferente do inicial. ''Oxe'', que é uma abreviação de ''oxente'', que também é uma abreviação de ''ô gente'', perdeu significado original e hoje é utilizado para situações de não entendimento, espanto ou reprovação. Já ''opaió'' é uma abreviação de ''olhe para aí, olhe'', a palavra ''olhe'' é comumente abreviada para ''ó'' ou ó''ioi'' (pronunciada em ditongo aberto) e ''para'' é comumente abreviado para ''pá'', juntando ''ó'', ''pá'', ''aí'' e ''ó'', a palavra ''opaió'' surgiu.
 
Segue algumas palavras e expressões e o significado delas:<ref name="A Bahia e Seus Encantos">{{citar web |url=http://www.juraemprosaeverso.com.br/HumorDoPovoBrasileiro/Dicionariodebaianes.htm |título=A Bahia e Seus Encantos |acessodata=2013-02-09 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20121220002001/http://www.juraemprosaeverso.com.br/HumorDoPovoBrasileiro/Dicionariodebaianes.htm |arquivodata=2012-12-20 |urlmorta=yes }}</ref>
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| Painho || Pai
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| Aonde || InterjeiçãoAdvérbio de negação, também pode ser utilizado no lugar de ''onde''
|-
| Pão de Sal || Pão francês
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|[[Fricativa palatoalveolar surda|ʃ]] (ch, s, x, z) [[Fricativa palatoalveolar sonora|ʒ]] (g, j, s, x)
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|[[Fricativa glotal surda|h]] (r, rr) [[Fricativa glotal sonora|ɦ]] (r, rr)
|-
![[Consoante aproximante|Aproximante]]
| colspan="2" |
|  [[Aproximante palatal|j]] (i semivocálico)
[[:en:Nasal_palatal_approximant|j̃]] (nh, -m)
|  [[Aproximante velar|ɰ]] (u semivocálico)
[[Aproximante velar labializada nasal|w̃]] (u, o, -m,-n)
|
|-
![[Consoante africada|Africada]]
|[[Africada alveolar surda|t͡s]] (tes, zz) [[Africada alveolar expressa|d͡z]] (des)
|[[Africada pós-alveolar surda|t͡ʃ]] (t, tch) [[Africada pós-alveolar sonora|d͡ʒ]] (d, dj)
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* /t͡ʃ / e /c/ antes de /i/, como em "an'''t'''igamen'''t'''e";
*/t͡ʃis/, /t͡ʃɪs/, /t͡ʃs/ e /t͡s/ no fim de palavras como em “an'''tes'''”;
* /d͡ʒ/ e /ɟ/ antes de /i/, como em "'''d'''ígito";
*/d͡ʒis/, /d͡ʒɪs/, /d͡ʒz/ e /d͡z/ no fim de palavras como em “pare'''des'''’’;
* /s/, /z/, /ʃ/ e /ʒ/ em final de palavras, como em "dia'''s'''";
* /s/ e /ʃ/ antes de consoantes surdas (c, f, k, p, q, s, t), como em "se'''x'''ta";
* /zl/ e /ʒʎ/ antes de consoantes sonoras(g, v, b, z, d, m, n,l)/i/, como em “e"'''sl'''lavo”imão";
* /lj/n e /ʎɲ/ antes de /i/ ou /j/, como em "famía'''ln'''iaimal";
* em algumas formas do dialeto, como no catingueiro<ref>{{Citar web |url=http://www.itaucultural.org.br/origens-do-dialeto-catingueiro-ocupacao-elomar-2015 |titulo=Origens do Dialeto Catingueiro – Ocupação Elomar (2015) |acessodata=2020-08-21 |website=Itaú Cultural |lingua=pt-br}}</ref>, o '''t''' antes de qualquer vogal possui alofonia com o /tʃ/, /t͡ʃj/ e o /c/ caso seja precedido de /j/, como na palavra mui'''t'''o, pronunciada ''muntcho.''; o mesmo fenômeno pode acontecer com o '''d''', tornando-se em /dʒ/, /d͡ʒj/ ou /ɟ/ como na palavra cui'''d'''ar, pronunciada ''cudjá''.
*/l/, /ʎ/ e /j/ como em “mu'''lh'''er”;
* /n/ e /ɲ/ antes de /i/, como em "a'''n'''imal";
*/ɲ/, /j̃/ e /j/ como em “ma'''nh'''ã”;
*/ʎ/ e /j/ sobretudo em variações das zonas rurais; como em “ve'''lh'''o”;
*/a/ e /ɐ/ em posição pré e pós-tônica, como em “'''a'''migo’’ e ‘‘nad'''a'''’’;
*/o/, /ɔ/, /ʊ/ e /u/ em posição pré-tônica, como em “c'''o'''lher”;
*/u/ e /ʊ/ no fim da palavra, como em “casament'''o'''”;
*/e/, /ɛ/, /ɪ/ e /i/ em posição pré-tônica, como em “p'''e'''dinte”;
*/e/ e /ɛ/ em posição pós-tônica,como em “carát'''e'''r”;
*/i/ e /ɪ/ no fim da palavra, como em “governant'''e'''”;
* em algumas formas do dialeto, como no catingueiro<ref>{{Citar web |url=http://www.itaucultural.org.br/origens-do-dialeto-catingueiro-ocupacao-elomar-2015 |titulo=Origens do Dialeto Catingueiro – Ocupação Elomar (2015) |acessodata=2020-08-21 |website=Itaú Cultural |lingua=pt-br}}</ref>, o '''t''' antes de qualquer vogal possui alofonia com o /tʃ/, /t͡ʃj/ e o /c/ caso seja precedido de /j/, como na palavra mui'''t'''o, pronunciada ''muntcho''; o mesmo fenômeno pode acontecer com o '''d''', tornando-se em /dʒ/, /d͡ʒj/ ou /ɟ/ como na palavra cui'''d'''ar, pronunciada ''cudjá''.
 
==== Outras particularidades fonéticas ====
 
* Em coda(fim de sílaba), o '''s''' sempre é pronunciado como se houvesse um /j/ antes de si: “médicas” /′mɛ.d͡ʒi.kajs/.
* Em coda, o '''s''' é pronunciado com o som “chiado”(/ʃ/ ou /ʒ/) antes de consoantes dentais(/t/, /t͡ʃ/, /t͡s/, /d/, /d͡ʒ/, /d͡z/, /n/, /ɲ/) em todas as variações do dialeto, mas antes de outras consoantes ou sem consoantes depois de si, sua pronúncia pode variar de falante para falante: “estados” /eʃ.ʼta.dus/ ou /iʃ.ˈta.duʃ/;
* É também comum omitir o '''s''' no fim das palavras como em vários outros dialetos: “vamos” /ʼva.mu/;
* Em coda, as demais consoantes são quase sempre omitidas, pronunciadas como se houvesse um /i/ ou /e/ depois de si ou pronunciadas como vogais ou semivogais:
 
# ‘'''L’ ⇒''' /'''w'''/: “jornal” ⇒ /ʒɔh.ʼnaw/;
# ‘'''M’''' e '''‘N’ ⇒''' /'''w̃'''/, /'''j̃'''/ ou /('''~''')'''-'''/: “cantam” ⇒ /ʼkã.tãw̃/; “cantem” ⇒ /ʼkã.tẽj̃/;
# ‘'''R’ ⇒''' /'''h'''/(se no meio da palavra) ou /'''(´)-'''/(se no final): “armar” ⇒ /ah.ʼma:/
# As restantes são sempre pronunciadas como se possuíssem um ‘'''i'''’ ou um ‘'''ê'''’ depois delas: “advogado” ⇒ /a.d͡ʒi.vo.ʼga.du/ ou /a.de.vo.ʼga.du/; “internet” ⇒ /ĩ.tɛh.ʼnɛ.t͡ʃi/;
 
* Hiatos geralmente são pronunciados como ditongos ou sofrem supressão até virarem vogais simples: ‘‘ruim’’ /hʊ̃j̃/; ‘‘série’’ /ʼsɛ.ɾɪ/;
* O '''r''' em início de palavra e depois de consoante geralmente tem o som da fricativa glotal surda (/h/) mas pode ter o som da sua contraparte sonora (/ɦ/) e mais raramente o da fricativa uvular sonora(/ʁ/); já entre vogais(e muito incomumente em coda, talvez por influência do sotaque paulistano) o '''r''' tem sempre o som de tepe: “rara” /′ha.ɾa/;
* Tal qual no dialeto cearense, é comum em certas variações do baianês(principalmente ao se falar muito rápido e com pessoas próximas) a substituição de /ʒ/, /v/ e /z/(este ultimo só em final de sílaba) por /h/ ou /ɦ/: “a gente” /a ’ɦẽ.t͡ʃɪ/;
* A última vogal das palavras por vezes pode ser omitida, talvez por influência do dialeto mineiro: “gente” /ʒẽt͡ʃ/;
* Os ditongos "ei" e "ou" não raramente sofrem monotongação quando ocorrem em sílabas tônicas e antes de /a/, /b/, /v/, /ʒ/ e /ɾ/, tornando-se respectivamente /e/ e /o/ (geralmente em palavras com mais de uma silaba): “teia” /ʼte.a/; roupa /ʼho.pɐ/;
* Devido à influência dos sotaques africanos ser mais forte nesse dialeto, o ritmo da fala do baianês é bem mais silábico, demarcado e compassado que o das outras variações, além de possuir certos aspectos na entonação que lembram os tons, característicos de certas famílias linguísticas africanas;
 
=== Vogais <ref>{{Citar periódico|ultimo=Pacheco|primeiro=Vera|ultimo2=Oliveira|primeiro2=Marian|ultimo3=de Jesus Ribeiro|primeiro3=Priscila|data=2013-06|titulo=EM BUSCA DA MELODIA NORDESTINA: AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS DE UM DIALETO BAIANO|url=http://www.scielo.edu.uy/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S2079-312X2013000100008&lng=es&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Lingüística|volume=29|numero=1|paginas=165–187|issn=2079-312X}}</ref> ===
 
* /a/ (a);
*/ɐ/ (a)
* /e/ (e);
* /ɛ/ (e);
*/ɪ/ (i);
* /i/ (e, i);
* /o/ (o);
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* /ʊ/ (o);
* /u/ (o, u).
 
Obs.: cada uma dessas possui uma variante nasal.
*
 
== Gramática ==
Algumas peculiaridades gramaticais do português falado na Bahia são: a omissão do artigo definido antes de possessivosnome (p. ex.:“''minha mãe''” em vez de “''a minha mãe''”) para evitar redundâncias e antes de [[Antroponímia|antropônimos]], nestespróprio com a função implícita e instintiva de diferenciar objetos, animais e coisas de pessoas e animais(quando referidos pelo próprio nome)afins, poupando assim artigos que seriam desnecessários e demasiadamenteem demasiado "artificialescos" (forçados, algo não naturaisnatural, nem espontâneosespontâneo), dee acordo com os falantes dessa variação (p. ex.: ''"Maria foi à/na/pra feira"'' em vez de ''"A Maria foi à/na/pra feira"'') e a inversão da colocação da partícula negativa (p. ex.: ''"Sei não"'' em vez de ''"Não sei"''). Essa peculiaridade influenciou alguns dialetos do Nordeste.{{Carece de fontes|Brasil=sim|data=abril de 2017}}
 
Também são características desse dialeto o uso do pronome ''tu'' conjugado na terceira pessoa alternadamente com ''você'', principalmente com pessoas com quem se tem intimidade(p. ex.:“''tu é de mais.''” ou “''você é de mais.''”; provavelmente por influência do sotaque carioca) e a inversão da colocação da partícula negativa (p. ex.: ''"Sei não."'' em vez de ''"Não sei."'') e dos advérbios e pronomes interrogativos (p. ex.:“''Você tá onde/aonde?''” em vez de “''Onde você está?''”). Essa peculiaridade influenciou alguns dialetos do Nordeste.
 
O futuro do pretérito dificilmente e usado, em seu lugar usa-se o pretérito imperfeito(p. ex.: “''se eu pudesse, eu te ajudava.''”,em vez de “''se eu pudesse eu te ajudaria.''”). Isso acontece porque esses tempos verbais são muito parecidos nos verbos da 2° e da 3° conjugação(regulares), com o pretérito imperfeito levando vantagem por ter duas letras a menos(exs.: ″comia″/″comeria″, ″agia″/″agiria″)
 
Além disso, em algumas variações, os adjetivos são sempre invariáveis em número(p. ex.:“''As crianças sempre tão feliz''”){{Carece de fontes|Brasil=sim|data=abril de 2017}}
 
{{Referências}}